segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A CIDADANIA, A REVOLTA DOS MISERÁVEIS E AS LIÇÕES DA JORNADA DA JUVENTUDE

“A revolta de todos: os miseráveis brasileiros
        
         Peço licença para dizer, depois de várias pesquisas e com a dignidade que sempre presidiu às minhas ideias, que o recente movimento social brasileiro é o maior movimento social do mundo e de todos os tempos, justamente porque não tem nenhuma liderança; sem cor política e sem pragmatismo; porque é um movimento ditado e conduzido por Deus, e, portanto, não necessita de compassos, prumos, formas e nem de martelos.
         Lembro-me, obedecidas as proporções, da revolta social contida e descrita no livro Os miseráveis, de Vitor Hugo, talvez a maior obra humanitária e social de todos os tempos, cujo valor intangível fez cair o véu dos olhos daquele grande contingente miserável, escrutando a pobreza material, social e moral a que estavam, diariamente, submetidos.
         Agora, nós, os miseráveis brasileiros, estamos a nossa pobreza material, moral e social que os escroques impuseram à nação brasileira durante tantos e tantos anos. Não é mais possível que numa república que diz assegurar, constitucionalmente, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, que a maior parte de sua sociedade seja constituída de escravos.
         Nós, os miseráveis brasileiros, buscando alcançar a alma da nação brasileira, acordamos em inédito movimento social, fazendo com que a mesma recebesse na fronte rajadas de luz e presenciasse uma chuva de estrelas. Agora, estamos aprofundando nas galerias subterrâneas do nosso sofrimento, para que a nossa mente não se afogue mais nas galerias da mentira, e fazendo com que a ventilação chegue perto das janelas e possamos respirar, descansando e renovando o nosso espírito.
         Buscamos, agora, a verdade, que, como disse Epimênides, “é aquela que alumia a terra, sustenta a justiça, governa a república, confirma o que é claro e aclara o que é duvidoso”.
         Como já disse, o inédito movimento social brasileiro é obra ditada por Deus, repleta de misericórdia e, como tal, um alívio ou um remédio para a miséria humana brasileira, material, social e moral e para que a dignidade humana não continue sendo enganada pela voz dos canalhas e daqueles que sempre se alimentaram nas maminhas da corrupção.
         A verdade veio à tona, com o inédito movimento social brasileiro e ainda que no mar da mentira a assaltar os corsários da traição, do engano, da maldade e da aleivosia, não conseguirão rendê-la. Por mais que a falsidade faça por afogá-la, não conseguirá, porque quanto mais as águas da tormenta quiserem sumi-la, ela se levantará dentro das ondas, como o sol nascente quando se eleva sobre o horizonte, descobrindo seu rosto iluminado.
         Por meio do inédito movimento social brasileiro, gritamos à nação, num grito único e estrondoso: somos contra a mentira perene dos déspotas políticos! Contra a maior carga tributária do mundo! Contra a humilhação e desonra que somos submetidos todos os dias! Onde estão os meus direitos constitucionais à saúde e à educação? Onde estão os meus direitos constitucionais à segurança pública e à segurança jurídica? Não aguentamos mais essa famigerada “ditadura bancária!” Não aguentamos mais a desfaçatez de se tentar calar a imprensa séria do nosso país! Não aguentamos mais aquela imprensa corrupta, estrategicamente calada e que sempre mamou nas tetas do poder corrupto, cujo paroxismo da bajulação já atingiu a raia do ridículo! Não aguentamos mais a incúria de se tentar, a qualquer preço, a destruição das instituições sérias do nosso país! Não aguentamos helicópteros voando às custas do dinheiro público.
         Destarte, o inédito movimento social brasileiro tem como sua principal virtude a magnificência que, agora, há de ser medida pela grandeza de nossa nação e pela grandeza do seu povo, que sabe não ser a política uma atividade profana, mas um instrumento para a realização duradoura daquelas condições necessárias aos cidadãos para o fortalecimento de suas qualidades pessoais; de suas funções; de sua vida material, intelectual, religiosa e moral. Certo é que, apesar de ter ganho a batalha, ainda não ganhamos a guerra, na medida em que não se fez, estrategicamente, a leitura do inédito movimento.
         Na verdade, como resposta às nossas reivindicações, estão tentando nos oferecer verdadeiros factóides políticos. Absurdos inconstitucionais. Mentiras, somente mentiras, tais como plebiscito para a reforma política; o direito do pré-sal (que não se sabe quando vai aparecer); e a contratação de médicos estrangeiros, tudo para salvar a saúde brasileira. Não vou reduzir o número dos ministérios porque isso não é necessário para frear a “gastança” desenfreada do dinheiro público, e que a inflação brasileira está dentro da meta governamental.
         Miseráveis, também, aqueles cujas almas são repletas de hipocrisia, porque no alto de seu absolutismo a paciência é fingida, a prudência é a malícia e a temperança é a pior das corrupções: a da alma. Oportuno lembrar o imperador Gordiano quando, presenciando às escuras como andavam muitos chefes de governo, costumava dizer: “Miserável é o rei a quem se calam as verdades”.
         Devemos continuar gritando: não aguentamos que a desgraça continue sopesando sobre os nossos ombros, desesperando as nossas almas e despedaçando os nossos corações. Temos motivos de sobra para continuar lutando, para, afinal, conseguir que a virtude e o amor ao nosso Brasil sejam infundidos em todas as veias de nosso Estado como seiva e sangue reparadores.”

(RONALDO CESAR DE FARIA. Procurador de Justiça, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de agosto de 2013, caderno DIREITO & JUSTIÇA, página principal).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo e edição, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Legado de lições da JMJ
        
          A Jornada Mundial da Juventude 2013 (JMJ), festa da fé realizada no Rio de Janeiro, deixa um legado de lições a serem vivenciadas pela Igreja Católica e por toda a sociedade. Três delas se destacam. Em primeiro lugar e acima de tudo está a evidência da significação da presença e da centralidade de Deus na vida de cada pessoa e da sociedade. Destaca-se também o testemunho luminoso do papa Francisco, configurado em simplicidade, ternura, transparência e proximidade, na sua primeira visita internacional, ainda bem no início de sua missão como sucessor do apóstolo Pedro. E no coração desse cenário, obviamente, a razão da JMJ, a presença maciça e envolvente dos jovens procedentes do mundo inteiro. Essas lições se desdobram em muitas outras constituindo a JMJ como fonte de referência.
         A presença de Deus no coração de cada pessoa e no grandioso coração da multidão reunida nas ruas e praças, no aconchego das famílias, nas igrejas ou nos ambientes de trabalho e lazer, muda tudo. Abre caminhos na direção do bem e fortalece a convicção de que o amor conduz à fundamental afirmação da vida, lugar comum e inegociável do encontro de todos com suas afinidades e diferenças. A análise simples do que ocorreu nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, particularmente nos eventos em Copacabana, especialmente a congregação de mais de 3 milhões de pessoas na missa de envio, encerrando uma verdadeira “maratona da fé”, comprova o diferencial em razão da centralidade de Deus. Sua presença no coração de cada um configurou uma grande comunidade, pela fé e pelo amor, de irmãos e irmãs de diferentes raças, línguas, povos, culturas e procedências. Um nível de unidade e fraternidade, sem incidentes ou violências, que só a presença amorosa de Deus consegue articular e manter.
         Particularmente, merece atenção o admirável silêncio ante o mistério ali celebrado. Silêncio amoroso e de reverência que, certamente, Copacabana jamais presenciou. Essa força de Deus é uma lição para uma nação laica, por suas razões constitucionais, mas com um povo que preza e se sustenta pelo tesouro de sua fé. Uma realidade que adverte e pede atenção de governantes e construtores dessa sociedade pluralista. Que torna imprescindível considerar esse horizonte de lições se quiserem dar consistência a projetos sociais e políticos no atendimento das demandas do povo.
         O testemunho do papa Francisco, luminoso por seu caráter evangélico e pela proximidade do seu jeito de ser ao de nosso mestre Jesus Cristo, ilumina o horizonte do caminho missionário da Igreja. Verdadeiro discípulo do Senhor, Francisco ajuda a sociedade a buscar, de modo imprescindível, a fraternidade e a solidariedade. A proximidade junto a todos, especialmente pobres, sofredores, crianças, sua palavra simples, direta e densa de interpelações, tudo cultivado com a alegria de ser servidor de todos, consolida um rumo novo no caminho evangelizador da Igreja. Oferece muito, ou quase tudo o que a sociedade necessita aprender para ser mais justa e solidária.
         Por isso mesmo, o testemunho do papa Francisco, na gravidade de sua responsabilidade e no peso da repercussão singular de seus gestos e palavras, reafirma o horizonte que deve sempre orientar o caminho da Igreja e de todos os discípulos de Jesus. É primordial essa sua missão como sucessor do apóstolo Pedro, o escolhido por Cristo para presidir o colégio dos primeiros apóstolos. Início do caminho bimilenar da Igreja Católica, que atravessa os tempos pela força de testemunhos como o do papa Francisco.
         Sua missão assim vivida aponta decisivamente o rumo e o rosto de nossa Igreja. Fortalece testemunhos, alarga o comprometimento com uma Igreja simples, pobre, próxima, hospitaleira, que testemunha o evangelho de Jesus Cristo, nele alavancando crescimentos. Virtudes reafirmadas de maneira eloquente na 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos e Caribenhos no Santuário de Aparecida, em 2007, com presença e decisiva contribuição do então cardeal Jorge Bergoglio. Esse testemunho do papa Francisco toca especialmente a juventude, que tem uma presença envolvente, anseios e dinâmicas próprias dessa fase da vida. Lições que indicam um lugar de escuta e de aprendizagem para introduzir todos no tempo novo da Igreja e da sociedade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, isto é, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro nacional; logística; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

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