segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A CIDADANIA, CULTURA DO ENCONTRO E DA SOLIDARIEDADE E O DESAFIO DA EDUCAÇÃO

“Encontro e solidariedade
        
         As palavras do papa Francisco no Brasil, pronunciadas durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com simplicidade e de forma direta, entrelaçaram conceitos. Apresentaram a importância de um comprometimento de todos na busca de uma cultura do encontro e da solidariedade. O discurso do papa convida cada um a seguir na contramão de uma globalização da indiferença, risco terrível do contexto contemporâneo. Os pobres são os mais sacrificados. Suas urgências são desprezadas e continua aberta a ferida do desrespeito à dignidade humana. O convite à cultura da solidariedade e do encontro é um grito profético na suavidade da voz de quem não se deixa levar por pretensões e poderes, mas pauta as vida na simplicidade do evangelho e nos respeito pelo outro.
         Tornam-se ainda mais interpeladoras as palavras do papa Francisco graças aos seus gestos, à serenidade do seu sorriso, à atenção com todos. Uma autenticidade própria de quem não faz de si o centro, mesmo com a importância e singularidade de sua pessoa e de sua missão de sucessor do apóstolo Pedro. Já no voo de vinda ao Rio de Janeiro, conversando com os jornalistas, o papa sublinha um horizonte imprescindível para a cultura do encontro e da solidariedade, quando se refere ao jovem, que não pode ser isolado da sociedade, compreendendo-o como o verdadeiro futuro de um povo.
         A essa compreensão, sem demora, também faz referência aos idosos. Ensina que um povo tem futuro se caminha com a força dos jovens, impulsionando adiante as dinâmicas e projetos, e com a sabedoria insubstituível  carregada no coração e na experiência de vida dos mais velhos. Esses aspectos da mensagem do papa Francisco iluminam muitas sombras da sociedade brasileira, agora mais despertada para a preciosidade do jovem, mas ainda muito indolente nas suas estruturas e funcionamentos quanto à valorização e respeito aos idosos.
         Ao afirmar que a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo, o papa Francisco desafia os brasileiros, particularmente governantes e dirigentes, a não relativizar, com análises inadequadas e, sobretudo, com um esfriamento proposital, o sentido positivo das manifestações populares alavancadas pelos jovens nas ruas do Brasil. A juventude merece mais contundência nas respostas. Obviamente, elas não podem reduzir-se à diminuição de tarifas de ônibus ou às propostas apressadas que caem rapidamente no descaso e na inviabilidade.
         A cultura da solidariedade é o único caminho que não permitirá apagar essa chama que já sinalizou a necessidade de mudanças mais profundas e de respostas mais urgentes. Por isso o papa Francisco deixou uma bela advertência, exatamente durante a cerimônia de boas-vindas, ante uma plateia de dirigentes governamentais, ao dizer que “a nossa geração se demonstrará à altura do promessa contida em cada jovem, quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida; assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem”.
         Essas palavras do papa Francisco mostram que é urgente revisar as dinâmicas institucionais da nossa sociedade. É preciso uma transformação profunda que inclui governos, escolas e universidades, criando círculos de solidariedade pela singularidade educativa do encontro entre amigos e irmãos. A riqueza e densidade das palavras do papa Francisco, em vista da superação da globalização da indiferença e cultivo da cultura do encontro e da solidariedade, encontra um momento significativo nas indicações dadas na homilia da missa no Santuário da Mãe Aparecida: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria. Importa a ousadia de ter uma visão positiva da realidade, tornando-se cada um, indica o papa, luzeiro de esperança, deixando-se conduzir por Deus. Assim brota a condição de viver na alegria. A confiança em Deus, a esperança e a alegria por tantos dons impulsionam a sociedade na conquista e vivência da cultura do encontro e da solidariedade.”

(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 3 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de VIVINA DO C. RIOS BALBINO, que é psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará, autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, e que merece igualmente integral transcrição:

“O desafio da educação
        
         O recente Índice do Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e Fundação João Pinheiro (FJP) revela um expressivo avanço do Brasil nos últimos 20 anos – crescimento de 47,5%. O IDHM é composto por três dimensões: renda, longevidade e educação, e todas elas evoluíram positivamente nestes 20 anos. O IDHM do Brasil passou de muito baixo para alto. Dado extremamente positivo. É considerado muito baixo o IDHM inferior a 0,499, enquanto a pesquisa chama de alto o indicador que varia de 0,700 a 0,799.
         Porém, a educação continua sendo o principal desafio do país. O índice poderia até ser melhor, mas ela puxou para baixo o desempenho do Brasil. Embora seja a pior marcação, foi na educação que houve maior avanço nas duas últimas décadas, tendo dado um salto de 128%. O quadro era muito pior. O dado positivo na educação é que escola de ensino fundamental já consegue em algumas regiões até 91% de matriculados. O grande desafio é o ensino médio. Entre jovens de 18 a 20 anos, a proporção com ensino médio completo aumentou  de 13% para 41% apenas ao longo das duas décadas. Além disso, os números mostram que de cada 100 jovens na faixa de 18 a 20 anos, 59 ainda não tinham terminado essa etapa. A evasão é muita alta.
         Os maiores desafios são evitar a evasão escolar, aumentar a matrícula e retenção no ensino médio e principalmente melhorar a qualidade da educação brasileira em todos os níveis. Recursos existem, mas por falta de boa gestão há corrupção e desvios de dinheiro público nos municípios. A CGU acaba de descobrir desvios e má aplicação dos recursos do Fundeb na educação básica em 70% das cidades. Isso é muito grave e precisa ser apurado e corrigido. O quesito longevidade – expectativa de vida da população é a área que apresenta melhor pontuação. É o único componente que está na faixa classificada pela pesquisa como um IDHM muito alto, quando o índice ultrapassa 0,800. A cada ano os brasileiros vivem mais em todo o país. Dos 5.565 municípios brasileiros, 3.176 têm o IDHM longevidade muito alto. Nenhuma cidade está na faixa baixo ou muito baixo. A expectativa de vida no Brasil, hoje, varia de 65 anos, nas cidades de Cacimbas, na Paraíba, e Roteiro, em Alagoas, a 79 anos, nos municípios catarinenses Balneário de Camboriú, Blumenau, Brusque e Rio do Sul. O crescimento na expectativa de vida nos últimos 10 anos – 46% no Brasil e 58% no Nordeste – poderia ser ainda maior se não fosse o impacto da violência entre os jovens. Outro desafio.
         Já a renda mensal per capita saltou 14,2% no período, o que corresponde a um ganho de R$ 346,31 em 20 anos. Cerca de 73% dos municípios avançaram acima do crescimento médio nacional, mas a pesquisa evidenciou a concentração de renda do país, embora mostre redução na desigualdade entre Norte e Sul. As regiões Sul (64,7%, ou 769 municípios) e Sudeste (52,2%, ou 871 municípios têm uma maioria de municípios concentrada na faixa de alto desenvolvimento humano. No Centro-Oeste (56,9%, ou 265 municípios) e no Norte (50,3%, ou 226 municípios), a maioria está no grupo de médio desenvolvimento humano. Sul, Sudeste e Centro-Oeste não têm nenhum município na faixa de muito baixo desenvolvimento humano. Por outro lado, as regiões Norte e Nordeste não contam com nenhum município na faixa de muito alto desenvolvimento humano. O DF tem o IDHM mais elevado (0,824) e se destaca também como o único a figurar na faixa de muito alto desenvolvimento humano.
         Brasília tem o maior IDHM renda (0,863), o maior IDHM educação (0,742) e o maior IDHM longevidade (0,873). Na outra ponta, Alagoas (0,631) e Maranhão (0,639) são os estados com menor IDHM do país. O Ceará registrou crescimento de 68,4% em seu IDHM em 20 anos, sendo o segundo melhor do Nordeste, atrás apenas do Rio Grande do Norte. De modo geral, o Brasil melhorou muito, mas precisa ter acima de tudo uma gestão mais competente e fiscalizadora dos recursos públicos para oferecer uma educação de qualidade em todos os níveis, diminuição das desigualdades sociais e oferecer também outros serviços públicos de qualidade. Somente dessa forma podemos coibir desvios de dinheiro público e corrupção. Com recursos bem aplicados e fiscalizados, com certeza o Brasil pode ser muito melhor.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas  abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urgente ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia;emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; sistema financeiro nacional; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

Nenhum comentário: