terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, UMA REVOLUCIONÁRIA DA EDUCAÇÃO E UM ANO FELIZ

“Helena Antipoff
        
         
         Em um primeiro momento, podemos afirmar que um legado à história da psicologia , focada em ações humanas apoiadas em sérios estudos dirigidos a ideais de harmonia, de ajuda e respeito mútuos entre os indivíduos, desde os mais debilitados até os mais talentosos, constitui o contexto substancial que sempre se manteve na vida e obra de Helena Antipoff.
         Em 1929, dona Helena aceitou o convite do secretário de Educação do Estado de Minas Gerais, Francisco Campos, no governo de Antônio Carlos de Andrada, para organizar o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Minas Gerais. Fundou, então, em Belo Horizonte, o primeiro laboratório de psicologia aplicada da América do Sul.
         Esse laboratório, sob sua direção, promoveu em 1931 e 1932 a homogeneização das classes nos grupos escolares da capital e em diversas outras escolas do interior do Estado, de acordo com os critérios de desenvolvimento mental, idade cronológica e escolaridade. A existência de um grande número de alunos especiais tornou-se patente e daí surgiram as classes especiais e a criação da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais.
         Já na década de 1930, Helena Antipoff fazer ver a necessidade de criar jardins de infância, chegando a fundar alguns em Minas, formando professores especializados, reconhecendo a importância do atendimento pré-escolar, dentro do conceito, hoje cientificamente comprovado, da formação intelectual e emocional da criança realizar-se em seus primeiros anos de vida. Mas sofreu, naquela época, campanha dos que achavam que a criança pequena devia permanecer somente junto aos pais.
         Só mais tarde, em 1954, surgiu a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), hoje presente em todo o Brasil.
         Seu legado evidencia a cientista por excelência que era, contribuindo decisivamente para o progresso da psicologia e da educação no país, não só em aspectos teóricos, mas também práticos. Ela possibilitou uma visão mais realista e científica do desenvolvimento de nossas crianças, tanto aquelas consideradas normais como as com necessidades especiais, portadoras de deficiências ou de altas habilidades, mesmo que carentes ou abandonadas. Fomentou e acompanhou o desenvolvimento de nossas institucionais educacionais regulares e especiais, e participou da renovação do ensino e da atualização dos professores, além de fundar diversas associações em prol dos “excepcionais”.
         Nascida em 25 de março de 1892, em Grodno, na Rússia, Helena Antipoff viveu por mais de 40 anos no Brasil, onde faleceu a 9 de agosto de 1974, na Fazendo do Rosário, no município de Ibirité (MG), deixando um grande legado para a educação brasileira.
         Helena Antipoff demonstrou seriedade, poder de reflexão e confiança na ciência como força para alcançar o progresso e resolver os bloqueios que interceptam o desenvolvimento humano.”

(Wellington Silveira. Vice-Presidente da Fundação Helena Antipoff, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 22 de dezembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 19).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de dezembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Ano novo feliz?
        
         Nos votos tradicionalmente feitos, no desejo de cada coração e, particularmente, nas urgências e demandas que os variados cenários da sociedade estão gritando em alta foz, “feliz ano novo” é o augúrio contido; ano novo pela contagem de um dia após o outro não é novidade. O tempo passa inexoravelmente. Ninguém o detém e ele corre talvez ainda mais veloz na atualidade. São avalanches criadas, mas pouca interioridade.
         Os grandes mestres ensinam que o tempo é, sobretudo, uma questão de interioridade. Se tudo é centrado na exterioridade e nas aparências, o tempo não só passa muito rápido como também de maneira pouco aproveitável. Desse modo, a cidadania fica comprometida, habitua-se a superficialidades e, lamentavelmente, o tempo da vida é compreendido como momento para buscar o atendimento de interesses mesquinhos. Sem interioridade, adota-se um modo egoísta de viver, sem comprometimentos com a ordem social e com a lúcida exigência paras as dinâmicas políticas.
         O desejo de “Feliz ano novo”, para além da formalidade, uma expressão automática, até maquinal, para ser realidade, precisa algo mais. É urgente cultivar uma nova sensibilidade social e política, formatando de maneira nova a cidadania. A “novidade” do “ano novo” depende do sentido social que alavanca e impulsiona a condição cidadã de cada indivíduo. Esse sentido social inclui desde a educação de não jogar um papel de bala fora do cesto de lixo até a esperada competência e velocidade indispensáveis nas ações dos que governam, dos que têm maiores responsabilidades como construtores de uma sociedade  pluralista.
         O profeta Isaías, para despertar a consciência do povo, ação insubstituível para a novidade no tempo, fala do sentimento e do propósito de Deus a ser também assumido por todos os cidadãos de boa vontade. Ele compartilha que Deus, por amor, não descansa enquanto não surgir na sociedade, como luzeiro, a justiça, e não se acender nela, como uma tocha, a salvação. Desse modo se desenha o caminho para desdobramentos que possam trazer o novo, na contramão de interesses meramente grupais, partidários e religiosos, algumas vezes mesquinhos e alienantes.
         O ano que vem chegando não pode se resumir ao período eleitoral, considerada a sua importância decisiva, nem simplesmente à festa da Copa do Mundo. Deve se constituir nesse tempo que se inicia uma chance para que os políticos não esgotem suas ações em meandros partidários, visando a interesses próprios e de apoiadores. O sinal estará dado na qualidade do discurso, que deve ultrapassar o conservadorismo de ataques mútuos ou de armação de ciladas. A hora é de propor ações e programas com comprovada autoridade política, a partir do entendimento de que o povo é o verdadeiro detentor da soberania.
         Essa compreensão inclui, pois, a competência e a sensibilidade requeridas para priorizar as necessidades do povo. Nesse sentido, ainda longo é o caminho e necessários são ajustamentos nas práticas executivas governamentais. Nota-se uma falta de sensibilidade social e embasamento humanístico nos mais diversificados setores, inviabilizando atendimentos básicos, como transporte, moradia, saúde, educação, lazer. A burocratização e a redução de tudo a números, analisados e tratados nos escritórios, comprovam essa falta de sensibilidade. Revelam ausência de formação humanística que estreita a própria cidadania, permitindo uma satisfação a partir de indicadores que, mesmo volumosos, não podem camuflar a aflição dos outros, particularmente dos mais pobres e sofredores.
         As estratégias e metas são importantes nas definições e nas escolhas. Imprescindível é o cultivo da sensibilidade social, à luz da fé e inspirada por um alto sentido de cidadania. Caso contrário, chove-se no molhado e não se verificam avanços globais, com o necessário envolvimento de todos. Em busca do novo para o ano novo, vale ter em conta a indicação do papa Franscisco, para quem crê e para quem quer honrar sua cidadania. Ele sublinha que cada cristão, cidadão e comunidade tem o dever, de quiser gerar o novo, de ser instrumento de Deus e da cidadania, a serviço da libertação e da promoção dos pobres. Essa é a única via de capacitação para contribuições relevantes no diálogo em vista da paz social. Se todos seguirem essa indicação, 2014 poderá ser, efetivamente, um “ano novo”.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
   
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
   
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

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