“Os
mil dias de vida
Os mil primeiros dias
de vida, que compreendem o período entre a gravidez e o segundo aniversário da
criança, oferecem uma janela única de oportunidade para a construção de um
futuro mais saudável e próspero. Vão se refletir na qualidade de saúde do pequeno
ser a curto, médio e longo prazo. Durante a gravidez, a desnutrição pode ter um
impacto devastador sobre o crescimento e desenvolvimento saudável de uma
criança. Os bebês que estão desnutridos intraútero têm um risco maior de morrer
na infância e são mais propensos a enfrentar déficits cognitivos e físico ao
longo da vida e problemas crônicos de saúde. A desnutrição continua sendo uma
das principais causas de morte de crianças em todo o mundo e suas consequências
são particularmente graves e muitas vezes irreversíveis em crianças menores de
dois anos de idade. Em muitos casos resultará em depressão do sistema
imunológico, tornando-as mais suscetíveis a morrer devido a doenças comuns,
como pneumonia, diarreia e malária.
Ao se
concentrar em melhorar a nutrição de mães e crianças nos seus primeiros mil
dias de vida, as autoridades governamentais podem ajudar a garantir que uma
criança tenha uma vida mais saudável e produtiva. Dessa forma as famílias,
comunidades e países terão mais chances de quebrar o ciclo de pobreza. O
desempenho escolar de um indivíduo aumenta e com isso seu potencial de ganhos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esses fatores poderiam, por si
só, garantir um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de um país em pelo menos
2% a 3% ao ano.
As
estimativas mais recentes do Ministério da Saúde revelam que a mortalidade
infantil (crianças até um ano de idade) na faixa de 14,6 para cada 1 mil
nascidos vivos; a mortalidade neonatal (bebês do nascimento até um mês de vida)
representa 70% desse total (aproximadamente 10 por mil nascidos vivos). Estudos
realizados pela Sociedade Brasileira de Pediatria demonstram que 10% dos
recém-nascidos de mães sem nenhuma história ou suspeita de complicação durante
a gestação vão necessitar de cuidados especiais e reanimação neonatal. Esse
quadro é muito mais grave quando a criança é prematura, aumentando esse risco
para até 60%. A melhora da atenção perinatal é fundamental para a mudança dessa
triste realidade, que nos deixa
distantes dos países desenvolvidos.
A
priorização de ações desde a gestação inclui atenção prioritária na sala de
parto e a promoção de uma política para tratamento de crianças desnutridas com
alimentos especiais e terapêuticos. Na prevenção da obesidade, o estímulo à
atividade física, com controle do tempo de uso de videogames, TV, computadores
e outras mídias, além da prevenção do uso de tabaco, álcool e outras drogas,
são soluções que farão a diferença. Os principais cientistas, economistas e
especialistas no setor concordam que a melhoria das condições de saúde na
janela crítica dos primeiros mil dias de vida é um dos melhores investimentos
que se podem fazer para alcançar o progresso duradouro na saúde e no
desenvolvimento global.”
(RAQUEL
PITCHON. Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, em artigo publicado
no jornal ESTADO DE MINAS, edição de
25 de dezembro de 2013, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de FREI
BETTO, que é escritor, autor de Um
homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Com
Jesus, faça-se hoje menino
Natal é festa de
infância, ainda que tenhamos 90 ou 100 anos. A criança que fomos jamais morre
em nós. Ao longo do tempo, ela inclusive nos salva da aridez da vida quando, na
memória, a evocamos. São inesquecíveis as pessoas que cobriram nossa infância
de carinho e cuidados. Falo por mim em meados do século 20, criança na Belo
Horizonte com menos de 1 milhão de habitantes, toda arborizada e adornada de
pulseiras de prata: os trilhos dos bondes. O tempo espreguiçava, e com tantas
ladeiras e sem tantos prédios os olhos podiam admirar a policromia do
crepúsculo que faz jus ao nome da cidade.
Na
Serra do Curral, escalávamos o pico, ponteado pela cruz que a mineração
predatória decepou. No Parque Municipal, alugávamos canoas e aprendíamos a
remar. No quintal dos Dolabella, nos fartávamos de mangas. No canteiro gramado
que dividia as pistas da Avenida do Contorno, jogávamos peladas. No Minas Tênis
Clube, seu Macedo nos ensinava a nadar e a dominar cavaletes, barras e argolas
de exercícios físicos. No Cine Pathé, as matinês de domingo protegiam no
escurinho os primeiros namoricos. Ao fim da tarde, o incomparável sorvete de
seu Domingos (que perdura e deveria ser tombado pelo patrimônio gastronômico
mineiro).
O
Natal se revestia de caráter religioso. Eram audíveis os sinos das igrejas,
destacando-se o carrilhão da Igreja do Carmo. Escrevíamos cartas a Papai Noel,
para garantir os presentes, mas tínhamos pleno convicção de que se tratava da
festa do nascimento de Jesus. Na sala de casa, o presépio à luz da árvore toda
enfeitada. No Centro da cidade, a exposição do magnífico Presépio do Pipiripau
(hoje no Museu de História Natural da UFMG), que encanta crianças e adultos. À
noite, Missa do Galo, seguida da ceia em família, na qual jamais faltava
rabanada.
Viramos
adultos, e muitos de nós ficaram indiferentes à religião e insensíveis à
liturgia. Deixamos que a “papainoelização” da data obscurecesse sua origem
cristã. Filhos e netos já nem sabem recitar de cor uma oração. O que era
alegria de uma festa virou ânsia consumista para, inclusive, tentar encobrir
nosso débito com outrem: já que não me faço presente, dou-lhe presente. O que
era expectativa, advento, agora é preocupação de não esquecer ninguém a quem
nos sentimos na obrigação de presentear. O que deveria ser gratuidade torna-se
compulsório. E somos tomados pela fissura de, seis dias depois, celebrar o
réveillon, empanturrando-nos de comidas, bebidas e novos propósitos. Há que
aproveitar o verão e as férias das crianças para sair de casa, viajar,
descansar do trabalho, em busca de lazer na praia, no campo ou em algum recanto
turístico, enfrentando estradas perigosas e preços abusivos.
Que
tal uma viagem à criança que fomos? Se ousássemos, tudo ficaria mais simples.
Livres de preconceitos, seríamos e faríamos os outros mais felizes. Talvez aquele
amigo prefira uma boa conversa ao presente embalado com selo de grife.
Despojados de agressividade, ciúme e inveja, não haveríamos de discriminar
ninguém. Prestaríamos inclusive atenção naqueles que se privam das boas festas
para garantir as nossas: garçons, cozinheiras, camareiras, faxineiras, guardas
rodoviários, porteiros e seguranças. Então, sim, nossos corações, quais
presépios, estariam abertos e prontos a acolher Deus que se fez um de nós no
Menino de Belém.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais –, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idades, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas
políticas públicas;
b)
o combate,
implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores
inimigos que são: I – a inflação, a
exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em
patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c)
a dívida
pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da
União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de
R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários que
contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras
do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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