quarta-feira, 12 de março de 2014

A CIDADANIA, A ALMA FEMININA E A PRIMAZIA DA DIGNIDADE

“A outra beleza da mulher
        
         A palavra “mãe”, em qualquer lugar do mundo, desperta em quase todas as pessoas um sentimento de tão alta hierarquia que linda o estatuto  da santidade. Igualmente, a beleza feminina, segundo o padrão dominante, enche os olhos da mídia. Paradoxalmente, a mulher, mesmo que seja mãe, quando exerce o seu papel em outros espaços da sociedade, tende a se colocar em plano datado e subalterno e sofre limitações e restrições comuns de dois gêneros, para cuja superação há longo caminho a percorrer.
         Para enfrentar a desconsideração e a discriminação que, por séculos, oprime as mulheres, foi que a ONU instituísse, em 1977, com ponderável atraso histórico, o dia que amanhã celebramos e cujo nome oficial é designado como Dia Internacional dos Direitos das Mulheres – mais que calendário, uma declaração destinada a fazer avançar a estrutura jurídica e política da igualdade de gênero.
         É o caso de perguntar: por que se valoriza tanto a maternidade potencial ou efetiva e a beleza estética temporalizada e se depreciam, em idêntica proporção, os demais atributos do ser feminino? Essa pergunta nos remete, sem dúvida, a um desvio observado no curso da história humana, que confluiu, no século XX, para a coisificação da mulher como objeto sexual, simbolizado, por exemplo, na sensualidade de uma Marilyn Monroe, ela própria vítima infeliz dessa mesma inversão de valores. Tal distorção projetou o que hoje pode ser chamado de urgência da maternidade das balzaquianas que temem a frustração da vocação feminina.
         A beleza da mulher não reside na sua estética física ou nas expressões de idade em seu corpo, mas acompanha, por indissociável afinidade, sua condição de gênero feminino, nas dimensões da sensibilidade e do cuidado com a alteridade que lhe são inerentes, impregnadas pela vocação de desafiar obstáculos e, às vezes, pela coragem de transgredir.
         São esses atributos que lhe emprestam, nas relações de poder, por exemplo, maior capacidade de colaboração, em contraponto à índole competitiva do homem, como também mais disposição para riscos e capacidade de harmonização.
         E hoje, numa sociedade competitiva e agressiva, mais se necessita do belo e do criativo que a alma feminina guarda na intimidade de sua criação, e que transcende o tempo.
         Necessitamos, como nunca, dos valores expressos nos versos de Cora Coralina, escritos no “Saber viver” da velha dama de Goiás: “Muitas vezes baste ser:/ Colo que acolhe,/ braço que envolve,/ palavra que conforta,/ silêncio que respeita,/ alegria que contagia,/ lágrima que corre,/ olhar que acaricia,/ desejo que sacia,/ amor que promove”.
         Características como essas dão beleza ao gênero feminino – no “colo que acolhe” em solidariedade e na “lágrima que corre” – e não podem ser descartadas para falsear a igualdade com o masculino. Ao contrário, devem expandir-se em busca de uma sociedade de paz. E precisamos mais: da afirmação de um (re)encontro do par humano em condições de verdadeira igualdade dentro e fora do lar, arrimado, também, na consideração da beleza que transcende a temporalidade das estreitas convenções.”

(Maria Coeli Simões Pires. Professora; secretária de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais de Minas Gerais, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 7 de março de 2014, caderno O.PINIÃO, página 19).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Primazia da dignidade
        
         O compromisso com a promoção e o respeito à dignidade humana são a possibilidade real de mudanças nos rumos da sociedade contemporânea e nos cenários que envergonham a humanidade. A primazia da dignidade das pessoas é a meta mais importante na vivência séria da cidadania. Lamentavelmente, a luminosidade da inteligência humana contracena e é obscurecida por irracionalidades, que submetem homens e mulheres  a condições degradantes, ofensivas e prejudiciais  à liberdade e à autonomia.  É preciso promover mudanças e uma nova compreensão capaz de impedir que a humanidade caminhe para o caos. Vivemos um tempo propício para isso, a Quaresma, quando a Igreja Católica convida a humanidade para ouvir Deus, fixando o olhar em Cristo Jesus, o Salvador e Redentor, preparando-se para a celebração da Páscoa.
         Exercício de espiritualidade, o caminho quaresmal é marcado pela experiência de amorosa escuta da palavra de Deus. Caracteriza-se também por uma disposição para rever gestos e assumir atitudes mais condizentes com a dignidade humana. Trata-se de oportunidade singular para fazer crescer a solidariedade e a fraternidade, promovendo a qualificação pessoal e comunitária. A conversão do coração possibilita a cada um assumir uma conduta digna, percebendo todos como filhos e filhas de Deus, irmãos uns dos outros. No itinerário quaresmal, a Igreja enriquece o horizonte com a promoção da Campanha da Fraternidade, que, neste ano, é iluminada pela palavra de Deus com o lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou”, da Carta de São Paulo aos Gálatas. Assim, convoca todos para a coragem de reconhecer, compreender e atuar no horizonte da gravíssima situação gerada pelo tráfico humano.
         “Fraternidade e tráfico humano” é o tema campanha, que focaliza uma realidade chamada pelo papa Francisco de “atividade ignóbil, uma vergonha para nossas sociedades que se dizem civilizadas”. O texto base da Campanha da Fraternidade 2014, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sublinha também o absurdo desse atentado contra os filhos e filhas de Deus, limitando suas liberdades, desprezando sua honra, agredindo seu amor próprio pela exploração de sua vulnerabilidade social e econômica. Os traficantes geralmente são aliciadores que se aproximam das vítimas e de seus familiares, agindo como se fossem amigos. A pessoa é abordada com uma oferta irrecusável de trabalho, mas, levada a lugares distantes, é escravizada e torna-se prisioneira.
         Esses aliciamentos se camuflam pelo recrutamento de pessoas para atividades diversas, a partir da promessa de um futuro promissor em diferentes carreiras, como as de modelo, jogador de futebol, enfermeira, babá, garçonete, cortador de cana, dançarina, pedreiro e tantas outras. As vítimas são homens e mulheres, crianças e adolescentes. São reais as histórias de jovens aliciadas por redes de prostituição, levadas para lugares distantes de suas famílias, com a promessa de altos salários semanais, mas que são mantidas em cativeiro, em péssimas condições.
         É hora de colocar cotidianamente na pauta de nossas ações a questão do tráfico humano, dedicando maior atenção aos acontecimentos para efetivamente oferecermos nossa contribuição cidadã aos organismos estatais. Também é preciso maior cooperação entre países na tarefa de se investir na solução desse grave problema. Torna-se cada vez mais urgente a união de esforços para fortalecer o enfrentamento dessas organizações criminosas que, entrelaçadas, se tornam cada vez mais eficientes. O passo importante nesse enfrentamento será sempre o crescimento da consciência da primazia da dignidade humana.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

      
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência (o que é da essência da República – coisa pública), eficiência, eficácia, efetividade,economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

                  

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