(Março = mês 57; faltam 3 meses para a Copa do Mundo)
“A beleza dos ofício manuais
“A beleza dos ofício manuais
Um certo senhor Diouf
escreveu para seu filho, aconselhando-o a evitar a todo custo as profissões
manuais. Havia que escolher trabalhos puramente intelectuais. A curiosidade da
carta é datar do tempo dos faraós, ou seja, o preconceito não é de hoje.
Em
todas as sociedades, trabalhar com as mãos tem menos status. Mas, nos países
avançados, isso não inibe o vicejar de operários, artífices e artesões altamente
qualificados, orgulhosos do que fazem. São exemplos de profissionalismo e
competência. Uma das marcas das sociedades avançadas é a valorização desses
ofícios e a afinidade com a sociedade tecnológica. Aliás, a Revolução
Industrial foi feita por mecânicos, mostrando a convivência da criatividade com
as mãos.
Lamentavelmente,
o Brasil recebeu duas cargas negativas. Herdamos da Península Ibérica o desamor
por trabalhos manuais. E tivemos a escravidão, criando uma clivagem radical e
proclamada entre as ocupações manuais, para os escravos, nas quais não se sujam
as mãos.
No
século XIX, a imigração da Europa continental começou a mudar esse panorama.
Mas o grande empurrão veio do Senai, criado em 1942 e moldado em modelos
alemães e suíços. Graças a ele, não travou a nossa Revolução Industrial –
aliás, muito respeitável para um país que não produzia nem palito. Demos um
salto.
Infelizmente,
os novos ventos não têm sido favoráveis. Aparecem ocupações charmosas,
sobretudo, na informática e nos serviços. O aumento do nível de escolaridade da
nova geração coloca-a próxima das lantejoulas do ensino superior, cujas vagas
deram um enorme salto. Com isso, e mais algumas coisas que não sabemos, aumenta
a rejeição às ocupações tradicionais, como marceneiro, caldeireiro ou
eletricista e, pior àquelas ligadas à construção civil. Nos cursos do Senai, há
vagas não preenchidas nessas ocupações. Há evasão durante o curso e pouco
interesse em trabalhar no ofício aprendido.
Participei
de uma feira de ocupações, visitada por 10 000 alunos do ensino médio. Ali
estavam as faculdades locais e outros empregadores cobiçados. Minha missão era
falar dos ofícios manuais qualificados. Ao iniciar a sessão, o auditório teria
dois terços da capacidade – já prenunciando o desinteresse. Fiz todas as
gracinhas que sei, demonstrei o uso de plainas, falei da beleza e do prazer de
fazer com as mãos. Falei da criatividade e dos desafios intelectuais. Ao
terminar, uma hora depois, de jovens,
havia apenas três moças. Os outros escapuliram durante a apresentação.
Nem uma só pergunta. Vá lá que eu tenha sido um canastrão chato. Mas saírem
quase todos?
O
resultado dessa rejeição é o chamado “apagão da mão de obra”. Pesquisas
recentes mostram que se concentra nesses ofícios. E nas engenharias, por razões
diferentes. De fato, as empresas se queixam de que falta gente qualificada,
sobretudo, na construção civil. As maiores conseguem capengar com um ou outro
profissional competente. As menores improvisam – mal. E quem precisa de alguém
para reparar o cano, o fio ou o armário encontrará pessoas que não sabem nada
de nada, além de terem hábitos de trabalho caóticos. A escassez de mão de obra
qualificada deve ter parte da culpa pela estagnação da nossa produtividade.
O
outro aspecto, inevitável, é que, diante da escassez, os salários para essas
profissões crescerem muito, tornando as empresas menos competitivas. Valeria a
pena pagar o preço se esse incentivo atraísse jovens a essas profissões.
Contudo, os aumentos não trazem nem
alunos nem queira trabalhar nelas. Na época da criação do Senai, grandes
industriais, como Roberto Simonsen, viram a falta de mão de obra qualificada
como um impedimento ao nosso avanço. Criar uma instituição capaz de mitigar
essa escassez foi então uma das batalhas vencidas pela indústria brasileira.
Tenho a impressão de estarmos diante de um desafio da mesma ordem de magnitude.
O que
fazer? Neste momento, o mais importante é aceitar que há um problema sério, não
apenas de flutuação conjuntural. Quando isso acontecer, as soluções aparecerão.
O lado bom é que a CNI começa a despertar para o problema.”
(Cláudio de
Moura Castro. Economista, em artigo publicado na revista VEJA, edição 2363 – ano 47 – nº 10, de
5 de março de 2014, página 18).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 28 de fevereiro de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Apostar
na simplicidade
O papa Francisco tem se
consolidado como voz que alerta para a urgência de se combater o crescente
processo de desumanização que assola a sociedade contemporânea. Sua voz ecoa
para além do território da própria Igreja Católica e vai tocando corações e
mentes pelo mundo afora. Na sua exortação apostólica Alegria do Evangelho, o papa Francisco sublinha que “o grande risco
do mundo atual, com múltipla e avassaladora oferta de consumo, é a tristeza do
individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada
dos prazeres superficiais, da consciência isolada”. Quando a pessoa se fecha
nos seus próprios interesses, o resultado é o comprometimento da essencialidade
da vida interior.
Uma
grande indicação do papa Francisco, como retomada das mais genuínas raízes do
evangelho de Jesus, é apostar na simplicidade. Esse caminho supõe exercício
diário e adoção de estilos de vida que
proporcionem e mantenham uma interioridade com a sabedoria para priorizar o que
é digno e bom. A simplicidade de vida, incontestavelmente, é o remédio mais
eficaz no combate à desumanização, que embrutece corações e inviabiliza a
convivência social. Trata-se de antídoto para a sociedade, marcada pela
crescente violência, corrupção venenosa e irreversível despersonalização. É
hora, portanto, de admitir e incluir um discernimento evangélico nas análises e
na busca da compreensão da realidade, desafiadora e complexa, desse início de
terceiro milênio.
A
busca por soluções não pode restringir-se ao crescimento a sofisticações
tecnológicas, indispensáveis quando se pensa no avanço da ciência. É preciso
retomar o processo de humanização, contraponto ao lamentável embrutecimento dos
corações. Nessa tarefa, o ensinamento evangélico tem um poder inigualável de
modulação e educação. Vale sempre lembrar a observação de Mahatma Ghandi, em
referência ao sermão da montanha, evangelho de são Mateus, capítulos 5 a 7,
sublinhando que ali há um tesouro que, praticado pelos cristãos, faria deles
instrumento de radical revolução e transformação da sociedade pelos princípios
enraizados na força inesgotável do amor de Deus.
Não se
pode apenas pensar que definições legislativas e meras providências de
repressão serão suficientes para deter o catastrófico processo de desumanização
em curso, responsável pelo crescimento da violência, aumento assustador da
dependência química e de imoralidades de todo tipo como conseqüência da
relativização nociva de valores e princípios.
Brutalidade
é o lado oposto da indispensável humanização. A falta de raízes humanísticas
conscientes, como aquelas que os valores do evangelho de Jesus Cristo produzem
e modulam nos corações que escutam a voz de Deus, impede o estabelecimento de
uma nova ordem social e política. Sem enraizamento humanístico adequado não
veremos mudanças nas lideranças e continuará baixo o nível da prática política,
muitas vezes dinamizada por interesses partidários tacanhos, conchavos imorais
e busca pelo crescimento próprio a partir da obsoleta prática de atacar o outro
para destruí-lo.
Não se
conseguirá jamais avançar as reformas que a sociedade brasileira precisa sem a
necessária e urgente competência humanística. É em razão da falta dessa
competência que instituições políticas e governamentais fazem sempre muito
menos do que deveriam. Alimentam-se da ilusão de que boa política se faz com
conchavos, com a desmoralização dos outros, com a manipulação ideológica ou com
as negociatas internas e partidárias, que atrasam o progresso e o atendimento
das demandas da população.
Essa
desordem produz o descompasso e baderna que vai compondo cenários preocupantes
de violência, medo e caos. As mudanças estruturais e conjunturais avançarão
pela força do testemunho indispensável de cada cidadão. Nesse caso, apostar na
simplicidade há de ser um compromisso de todos, revendo práticas e hábitos. Não
há lugar para exibicionismos, sofisticações petulantes, esbanjamentos
agressivos e irracionais. É hora de compreender, redimensionar projetos,
práticas pessoais e sociais, sempre apostando na simplicidade.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, severo e sem trégua, aos
três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas
instituições, negligenciando a justiça, a
verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade,
criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016;
as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mudo da justiça, paz, da
liberdade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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