quarta-feira, 26 de março de 2014

A CIDADANIA, A EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE E A INSPIRAÇÃO DE FRANCISCO

“A universidade além das aulas
        
         Nossas universidades são quase sempre lembradas apenas pelas aulas, cursos e diplomas. Não deve ser assim. Elas também desenvolvem pesquisas, especialmente as públicas, que geram novos conhecimentos, novas tecnologias, renovam nossa cultura e contribuem para a solução de problemas que afetam a qualidade de vida de todos nós. As pesquisas científicas e tecnológicas resultam em produtos, processos e serviços inovadores. Criam uma nova economia, com novos e melhores empregos e mais renda para nossa gente. Evitam, ainda, a perda de divisas com importações, por exemplo, da China, e podem conferir competitividade à nossa indústria. Daí a importância absoluta das pesquisas desenvolvidas nas universidades, que devemos conhecer muito mais. Em Minas, elas são 11 federais e duas estaduais, e desenvolvem pesquisas básicas e aplicadas, que encantam os olhos e as mentes daqueles que delas tomam conhecimento. São pesquisas que melhoram os alimentos, os medicamentos, os diagnósticos das doenças, as edificações, as comunicações e quase tudo mais que nos cerca. Pouco sabemos dessas conquistas. E, por conhecer tão pouco o seu processo de geração e transferência para a sociedade, submetemos o desenvolvimento e o aproveitamento das pesquisas a um marco legal totalmente inadequado, que obriga, por exemplo, a compra de materiais e serviços, que não são rotineiros na pesquisa científica, à Lei 8.666, das licitações, emperrando o processo e tirando a competitividade internacional da ciência brasileira. A ignorância sobre o que fazem as universidades públicas, além das aulas, tem, assim, sérias consequências sobre o avanço industrial do país.
         Somente a UFMG responde por mais de 5% da produção científica brasileira, sendo líder em número de patentes e, mais importante ainda, em número de contratos de licenciamento de tecnologias, muitas já no mercado, impactando positivamente o cotidiano da população. Tais avanços se devem à excelência da sua pós-graduação, que na última avaliação da CAPES reconheceu 31 dos seus 63 cursos de doutorado com o conceito de excelência internacional. A expansão da oferta de cursos foi, assim, acompanhada da melhoria deles. Uma boa notícia que demonstra a força da universidade pública brasileira.
         A UFMG, hoje com cerca de 52 mil estudantes, é, seguramente, uma das três melhores universidades do Brasil e, em função das tecnologias que desenvolve, é parceira de empresas como a Petrobras, a Cemig e inúmeras outras, apoiando empreendedores que geram negócios tecnológicos inovadores e fortalecem nossa economia. Recentemente, foram implantados os Centros de Tecnologias (CTs) a partir de pesquisas de ponta em execução na UFMG, em áreas extremamente importantes para o país, como nanotubos de carbono, web, vacinas, fármacos e medicina molecular, que, a partir da pesquisa básica patrocinada pela Fapemig e pelo CNPq, irão possibilitar  o surgimento de empresas intensivas em conhecimento – as startups, de enorme relevância para o Brasil. Por tudo isso, devemos interessar-nos mais sobre o que está em andamento na universidade, principalmente a classe empresarial, que precisa se aproximar dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) aparelhados pela Fapemig para auxiliar na interação universidade-empresas.
         Há muito, as universidades aprenderam a estabelecer parcerias estratégicas com o governo estadual, Sebrae, Fiemg, órgãos do governo federal e sociedade em geral, como ocorreu na implantação de seus Parques Tecnológicos. Assim fizeram UFV, UFLA, UFJF, UNIFEI e UFMG, criando um dos mais promissores ambientes de inovação do país, viabilizando a transferência de conhecimento, de know-how e de tecnologias da pesquisa para o mercado. Com um ambiente de inovação mais articulado o protagonismo da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas, tem sido possível atrair importantes centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para o estado, como os da Embraer, Ericsson e o Centro de Tecnologia Senai/Cetec, entre outros.
         Nestes dias, assistimos a troca na reitoria da UFMG, com o término do mandato do reitor Clélio Campolina. E poucos entre nós se deram conta desse momento. E não deveria ser assim. A qualidade do nosso futuro depende da força das nossas universidades, não apenas pelos profissionais qualificados que formam, mas também pelos mais que fazem. O legado do reitor Campolina, em tempos conturbados, é um exemplo de probidade, de compromisso com a construção coletiva de uma universidade de qualidade, inclusiva e parceira do empreendedorismo inovador. Assume o professor que, certamente, fará jus à tradição de reitores comprometidos com as causas maiores e intransigentes quanto aos princípios da universidade pública. Uma história que merece ser mais conhecida, pois nos anima como brasileiros.”

(EVALDO VILELA. Diretor de CT&I da Fapemig, ex-reitor da Universidade Federal de Viçosa, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 14 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Caminhar com Francisco
        
         Juntos de Francisco, há um ano, estamos trilhando os caminhos missionários da Igreja Católica mundo afora. Um ano de incontáveis novidades e de muitos acontecimentos. Neste período, reacendeu-se uma chama que ilumina os cantos mais diferentes do mundo, especialmente o coração das pessoas. Um fenômeno de presença amorosa, simples, próxima e evangélica, que indica um percurso novo para a vida missionário da Igreja. As palavras, gestos, atitudes e encaminhamentos, no exercício do ministério de sucessor do apóstolo Pedro, fazem do papa Francisco um sinal que convoca todos para um novo tempo. Sua presença faz crescer no mundo a coragem e o empenho desafiador de resgatar o sempre novo tesouro da alegria do evangelho da vida. Uma volta à fonte e um banhar-se nela, saciando a sede  lavando-se, para recompor a força que devolve serenidade misericordiosa aos olhares, alento aos pés cansados no caminhar e livra semblantes da poeira de tudo o que já ficou obsoleto.
         O que está acontecendo, diante das necessidades urgentes – a recuperação de referências morais, religiosas, culturais, políticas e todas as outras carências gritantes –, produz perguntas, ainda sem as respostas completas, reacende esperanças, aguça curiosidades e prova que a força maior vem de Deus, da fidelidade a Ele. Essa lealdade desdobra-se em serviço à vida de todos, particularmente dos pobres e dos que estão nas periferias, especialmente aquelas existenciais. Ao celebrar este primeiro ano de pontificado, a Igreja é desafiada a trilhar as direções indicadas pelo papa Francisco, conclamando todos para um projeto novo, de Igreja e humanidade. Para se efetivar, esse projeto depende daqueles que o testemunham, seguindo o exemplo do papa, com vigor espiritual e simplicidade evangélica, que capacita intuições corajosas e criativas. Percepções e discernimentos diferentes dos que viabilizam artimanhas políticas ou conchavos partidários. São, na verdade, fundamentadas no amor que desconcerta e refaz, aprende e ensina, convence sobre o bem, inspira o gosto pela justiça, deixa envergonhado quem não se faz solidário.
         A surpresa da escolha do nome, Francisco, inspirado pela lembrança, a mais forte, significativa e sempre transformadora de não se esquecer dos pobres, é explicada pelos gestos e palavras do papa Jorge Mario Bergoglio. O santo padre, durante peregrinação a Assis, sublinhou que ser cristão é uma relação vital com a pessoa de Jesus, revestir-se Dele e a Ele se assemelhar. No horizonte, o ensinamento inspirado em São Francisco de Assis que se fez como os últimos, os pobres, não por um amor à pobreza em si, mas porque seguindo os pobres, amando-os, se segue e se ama a Cristo. Um princípio que implica novos ordenamentos faz crescer a fé autêntica, aponta o horizonte de um resgate humanitário e cultural. É, neste sentido, remédio indispensável para que a humanidade seja curada de seus graves problemas existenciais, morais e políticos. Um verdadeiro raio de luz que indica uma possibilidade aparentemente simples, até por isso com o risco de ser desconsiderada pela soberba da racionalidade contemporânea.
         O evangelho de Jesus é o ponto de partida, único e insubstituível, com sua luz simples em meio a tantas luzes, argumento de amor entre tantos argumentos. Permite cultivar um jeito de ser com validade universal no horizonte das mais diversificadas culturas contemporâneas. O papa Francisco, conforme sua exortação apostólica Alegria do Evangelho, está sinalizando para a Igreja sua renovação e fortalecimento missionário, e ao mundo contemporâneo um caminho novo para a cultura da vida e da paz, ao propor que a resposta pode ser encontrada na busca e vivência de uma fraternidade “contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom”.
         O papa alerta, com a força do evangelho e a leveza de seu testemunho, sobre a ferida gritante da desumanização, mostrando um caminho para mudança dos cenários catastróficos que afligem a humanidade, onde a Igreja deve estar sempre presente como servidora, casa de todos, cultivando a fidelidade ao amor pelo qual cada um será julgado. Um ano de pontificado, ação de graças por tudo: é motivo de alegria poder assumir o desafio de caminhar com o papa Francisco.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...   

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