“A
universidade além das aulas
Nossas universidades
são quase sempre lembradas apenas pelas aulas, cursos e diplomas. Não deve ser
assim. Elas também desenvolvem pesquisas, especialmente as públicas, que geram
novos conhecimentos, novas tecnologias, renovam nossa cultura e contribuem para
a solução de problemas que afetam a qualidade de vida de todos nós. As
pesquisas científicas e tecnológicas resultam em produtos, processos e serviços
inovadores. Criam uma nova economia, com novos e melhores empregos e mais renda
para nossa gente. Evitam, ainda, a perda de divisas com importações, por
exemplo, da China, e podem conferir competitividade à nossa indústria. Daí a
importância absoluta das pesquisas desenvolvidas nas universidades, que devemos
conhecer muito mais. Em Minas, elas são 11 federais e duas estaduais, e
desenvolvem pesquisas básicas e aplicadas, que encantam os olhos e as mentes
daqueles que delas tomam conhecimento. São pesquisas que melhoram os alimentos,
os medicamentos, os diagnósticos das doenças, as edificações, as comunicações e
quase tudo mais que nos cerca. Pouco sabemos dessas conquistas. E, por conhecer
tão pouco o seu processo de geração e transferência para a sociedade,
submetemos o desenvolvimento e o aproveitamento das pesquisas a um marco legal
totalmente inadequado, que obriga, por exemplo, a compra de materiais e
serviços, que não são rotineiros na pesquisa científica, à Lei 8.666, das
licitações, emperrando o processo e tirando a competitividade internacional da
ciência brasileira. A ignorância sobre o que fazem as universidades públicas,
além das aulas, tem, assim, sérias consequências sobre o avanço industrial do
país.
Somente
a UFMG responde por mais de 5% da produção científica brasileira, sendo líder
em número de patentes e, mais importante ainda, em número de contratos de
licenciamento de tecnologias, muitas já no mercado, impactando positivamente o
cotidiano da população. Tais avanços se devem à excelência da sua
pós-graduação, que na última avaliação da CAPES reconheceu 31 dos seus 63
cursos de doutorado com o conceito de excelência internacional. A expansão da
oferta de cursos foi, assim, acompanhada da melhoria deles. Uma boa notícia que
demonstra a força da universidade pública brasileira.
A
UFMG, hoje com cerca de 52 mil estudantes, é, seguramente, uma das três
melhores universidades do Brasil e, em função das tecnologias que desenvolve, é
parceira de empresas como a Petrobras, a Cemig e inúmeras outras, apoiando
empreendedores que geram negócios tecnológicos inovadores e fortalecem nossa
economia. Recentemente, foram implantados os Centros de Tecnologias (CTs) a
partir de pesquisas de ponta em execução na UFMG, em áreas extremamente
importantes para o país, como nanotubos de carbono, web, vacinas, fármacos e
medicina molecular, que, a partir da pesquisa básica patrocinada pela Fapemig e
pelo CNPq, irão possibilitar o
surgimento de empresas intensivas em conhecimento – as startups, de enorme relevância para o Brasil. Por tudo isso,
devemos interessar-nos mais sobre o que está em andamento na universidade, principalmente
a classe empresarial, que precisa se aproximar dos Núcleos de Inovação
Tecnológica (NITs) aparelhados pela Fapemig para auxiliar na interação
universidade-empresas.
Há
muito, as universidades aprenderam a estabelecer parcerias estratégicas com o
governo estadual, Sebrae, Fiemg, órgãos do governo federal e sociedade em
geral, como ocorreu na implantação de seus Parques Tecnológicos. Assim fizeram
UFV, UFLA, UFJF, UNIFEI e UFMG, criando um dos mais promissores ambientes de
inovação do país, viabilizando a transferência de conhecimento, de know-how e de tecnologias da pesquisa
para o mercado. Com um ambiente de inovação mais articulado o protagonismo da
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas, tem sido possível
atrair importantes centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para o
estado, como os da Embraer, Ericsson e o Centro de Tecnologia Senai/Cetec,
entre outros.
Nestes
dias, assistimos a troca na reitoria da UFMG, com o término do mandato do
reitor Clélio Campolina. E poucos entre nós se deram conta desse momento. E não
deveria ser assim. A qualidade do nosso futuro depende da força das nossas
universidades, não apenas pelos profissionais qualificados que formam, mas
também pelos mais que fazem. O legado do reitor Campolina, em tempos
conturbados, é um exemplo de probidade, de compromisso com a construção
coletiva de uma universidade de qualidade, inclusiva e parceira do
empreendedorismo inovador. Assume o professor que, certamente, fará jus à
tradição de reitores comprometidos com as causas maiores e intransigentes
quanto aos princípios da universidade pública. Uma história que merece ser mais
conhecida, pois nos anima como brasileiros.”
(EVALDO
VILELA. Diretor de CT&I da Fapemig, ex-reitor da Universidade Federal
de Viçosa, em artigo publicado no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 22 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
14 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página
9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Caminhar
com Francisco
Juntos de Francisco, há
um ano, estamos trilhando os caminhos missionários da Igreja Católica mundo
afora. Um ano de incontáveis novidades e de muitos acontecimentos. Neste
período, reacendeu-se uma chama que ilumina os cantos mais diferentes do mundo,
especialmente o coração das pessoas. Um fenômeno de presença amorosa, simples,
próxima e evangélica, que indica um percurso novo para a vida missionário da
Igreja. As palavras, gestos, atitudes e encaminhamentos, no exercício do
ministério de sucessor do apóstolo Pedro, fazem do papa Francisco um sinal que
convoca todos para um novo tempo. Sua presença faz crescer no mundo a coragem e
o empenho desafiador de resgatar o sempre novo tesouro da alegria do evangelho
da vida. Uma volta à fonte e um banhar-se nela, saciando a sede lavando-se, para recompor a força que devolve
serenidade misericordiosa aos olhares, alento aos pés cansados no caminhar e
livra semblantes da poeira de tudo o que já ficou obsoleto.
O que
está acontecendo, diante das necessidades urgentes – a recuperação de
referências morais, religiosas, culturais, políticas e todas as outras
carências gritantes –, produz perguntas, ainda sem as respostas completas,
reacende esperanças, aguça curiosidades e prova que a força maior vem de Deus,
da fidelidade a Ele. Essa lealdade desdobra-se em serviço à vida de todos,
particularmente dos pobres e dos que estão nas periferias, especialmente
aquelas existenciais. Ao celebrar este primeiro ano de pontificado, a Igreja é
desafiada a trilhar as direções indicadas pelo papa Francisco, conclamando
todos para um projeto novo, de Igreja e humanidade. Para se efetivar, esse
projeto depende daqueles que o testemunham, seguindo o exemplo do papa, com
vigor espiritual e simplicidade evangélica, que capacita intuições corajosas e
criativas. Percepções e discernimentos diferentes dos que viabilizam artimanhas
políticas ou conchavos partidários. São, na verdade, fundamentadas no amor que
desconcerta e refaz, aprende e ensina, convence sobre o bem, inspira o gosto
pela justiça, deixa envergonhado quem não se faz solidário.
A
surpresa da escolha do nome, Francisco, inspirado pela lembrança, a mais forte,
significativa e sempre transformadora de não se esquecer dos pobres, é
explicada pelos gestos e palavras do papa Jorge Mario Bergoglio. O santo padre,
durante peregrinação a Assis, sublinhou que ser cristão é uma relação vital com
a pessoa de Jesus, revestir-se Dele e a Ele se assemelhar. No horizonte, o
ensinamento inspirado em São Francisco de Assis que se fez como os últimos, os
pobres, não por um amor à pobreza em si, mas porque seguindo os pobres,
amando-os, se segue e se ama a Cristo. Um princípio que implica novos
ordenamentos faz crescer a fé autêntica, aponta o horizonte de um resgate
humanitário e cultural. É, neste sentido, remédio indispensável para que a
humanidade seja curada de seus graves problemas existenciais, morais e
políticos. Um verdadeiro raio de luz que indica uma possibilidade aparentemente
simples, até por isso com o risco de ser desconsiderada pela soberba da
racionalidade contemporânea.
O
evangelho de Jesus é o ponto de partida, único e insubstituível, com sua luz
simples em meio a tantas luzes, argumento de amor entre tantos argumentos.
Permite cultivar um jeito de ser com validade universal no horizonte das mais
diversificadas culturas contemporâneas. O papa Francisco, conforme sua
exortação apostólica Alegria do Evangelho,
está sinalizando para a Igreja sua renovação e fortalecimento missionário, e ao
mundo contemporâneo um caminho novo para a cultura da vida e da paz, ao propor
que a resposta pode ser encontrada na busca e vivência de uma fraternidade
“contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir
Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência
agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para
procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom”.
O papa
alerta, com a força do evangelho e a leveza de seu testemunho, sobre a ferida
gritante da desumanização, mostrando um caminho para mudança dos cenários
catastróficos que afligem a humanidade, onde a Igreja deve estar sempre
presente como servidora, casa de todos, cultivando a fidelidade ao amor pelo
qual cada um será julgado. Um ano de pontificado, ação de graças por tudo: é
motivo de alegria poder assumir o desafio de caminhar com o papa Francisco.”
Eis, pois, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente
e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja,
próximos de zero; II – a corrupção, como
um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016;
as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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