segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A CIDADANIA, A LUZ DA ARTE DIGITAL NA EDUCAÇÃO E AS ONDAS DE LAMA

“A arte digital na educação
        Começou como um desafio, aliar tecnologia e arte e ter como resultado a possibilidade de enxergar e documentar as mais diversas manifestações culturais. Essa é a proposta do TIM ArtEducAção Digital, projeto idealizado pela ONG Humanizante e que oferece a jovens oficinas de arte digital que estimulam a criação e transformação de conhecimentos para dispositivos de tecnologia digital. Hoje não conseguimos imaginar o mundo sem toda a tecnologia disponível. E na educação não poderia ser diferente.
         Por isso, apostamos na oficina de arte digital com objetivo de desenvolver uma metodologia específica de ensino, que amplia o conhecimento digital como meio de criação cultural e artística. E os resultados são encantadores nas 13 cidades em que o programa TIM ArtEducAção está presente. As oficinas são o registro audiovisual das manifestações artísticas captadas pelos alunos através de equipamentos de mídias móveis como câmeras portáteis, amadoras e de celulares. Algumas atividades desenvolvidas pelos alunos são a criação de microdocumentários sobre as suas cidades, a documentação de pílulas videográficas e o registro das demais atividades desenvolvidas pelas oficinas do programa. Nas aulas, a tecnologia é trazidas para a discussão como ferramenta para leitura, produção de textos e interpretação de imagens e produção de conteúdo. A oficina ArtEducAção Digital faz interagir a linguagem tecnológica que o jovem gosta com todas as demais modalidades artísticas. Mostramos a eles o que essa nova linguagem digital pode acrescentar em suas vidas, ampliando o olhar e enriquecendo o aprendizado. A forma de educar estará sempre em constante transformação, e por isso é tão importante que os educadores estejam abertos às novas tecnologias disponíveis, que agregam valor e encantam os alunos. Durante alguns anos, trabalhei como professor de matemática em Viçosa e foi o momento em que vivenciei de perto o verdadeiro poder transformador da arte. Comecei a fazer a fazer leitura de poesias e crônicas no início das minhas aulas, o que relaxava a tensão causada pela matéria. Com isso, a emoção aflorava, os sentimentos fluíam e a criatividade se manifestava. O resultado foi estarrecedor: 95% de aprovação. Sem dúvida, temos muito que caminhar para transformar a educação. Mas pequenos gestos e progressos são essenciais e devem ser considerados grandes avanços. Acredito que um bom começo para essa transformação seja por meio da quebra dos paradigmas e inserção da interatividade nas aulas, que contribuem para o aprendizado dos alunos. E A arte digital é uma ferramenta multidisciplinar ideal para dar o start necessário para essa mudança.
         O que se vê hoje é um nível elevado de informações que chegam de todos os lugares, com um ritmo tão acelerado que os jovens não sabem como absorver tudo o que chega até eles. E a arte tem o poder de mudar esse cenário, pois, quando entra nas escolas, leva prazer aos alunos, permitindo concentração, desenvolvimento do conhecimento e reflexão. É gratificante perceber o brilho no olhar dos alunos, que se encantam com seus trabalhos desenvolvidos nas oficinas de arte digital, nos motivando ainda mais a trilhar um dos mais belos caminhos, o da construção do conhecimento."

(MARCELO SOARES DE ANDRADE. Ator, diretor de teatro, produtor cultural, presidente da ONG Humanizante, idealizador do programa TIM ArtEducAção, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 13 de novembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 15).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Ondas de lama
        As ondas de lama vindas do desastre ambiental no arrasado Subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, afetam não apenas pontos específicos dos estados diretamente atingidos. Atolam toda a sociedade. Uma tragédia anunciada que ultrapassa os limites do município de origem e as divisas do estado. Invade todo o ecossistema, sufoca a vida. A crueldade com a natureza é atingida e, sobretudo, a dor dos pobres que perdem familiares e o pouco que têm contracenam com a terrível destruição de casas e de outros cenários urbanos.
         Os desdobramentos dessa tragédia exigem repensar definitivamente a vocação e o destino das Minas Gerais, diante do risco de novas irresponsabilidades recaírem sobre a população em forma de desastres ainda mais graves. Impõe-se a necessidade de um direcionamento novo, fora dos parâmetros da ganância e até mesmo da justificativa de que a economia do estado só se sustenta e avança por meio dessas atividades. Tarefa que deve ser assumida, com urgência, pelo governo do estado, prefeituras. Poder Legislativo e setores privados – especialmente o minerário – mas, principalmente, pelos órgãos de controle público. É indispensável que sejam ouvidas as vozes sensatas de igrejas e outros segmentos sérios e representativos da sociedade.
         Agir a partir de compreensão simplista sobre a geração de riquezas e empregos, sem considerar a complexidade da realidade, gera consequências devastadoras. É, incontestavelmente, “assinar atestado de incompetência”. É comodismo e falta de inventividade para a necessária produção de bens.
         No horizonte desenhado por essa tragédia, os representantes do povo no poder público têm o compromisso moral de redirecionar a história minerária do estado de Minas Gerais. Uma história controversa. Para além da lucratividade e dos benefícios apresentados como decorrentes da mineração, exige-se um ordenamento jurídico novo, não apenas fundamentado no rigor das burocracias para licenciamentos, mas fruto de um entendimento que a lucidez da carta encíclica ‘Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum do papa Francisco, trata com inigualável propriedade. O documento traça o horizonte de transformações radicais e de mudanças urgentes em procedimentos e atividades, e no compromisso de consertar, no ambiente e na vida das pessoas, o que absurdamente já se tem produzido.
         A voracidade das atividades minerárias, fermentada pelo entendimento que configura a economia – com os royalties pífios em comparação com outras atividades, como a petroleira bilionária que cega a honestidade de políticos, empresas e outros –, há de ser controlada definitivamente. Há caminhos para isso. Ações são possíveis. Segmentos da sociedade têm voz e poder para intervir e dar novos rumos a essa história, agora, ainda mais, reforçados pelo ocorrido no subdistrito de Bento Rodrigues. Tragédia que também anuncia outras catástrofes, como bombas-relógio a explodir a qualquer hora.
         É exigência lançar o olhar compassivo e politicamente indignado sobre esses cenários todos, para garantir atuação corajosa de movimentos e instituições em defesa e salvaguarda do ambiente. Caso contrário, ao satisfazer os ditames cegos da economia, a consequência será a destruição e o caos. As possibilidades de vitória são reais. São exemplares a conquista do Movimento SOS Serra da Piedade, o comprometimento da Arquidiocese de Belo Horizonte e o ato de lucidez governamental impedindo o absurdo da continuidade da atividade mineradora na região. Pode-se ver, hoje, os cenários de desolação, verdadeiras ameaças ao mais importante monumento histórico, paisagístico, cultural e religioso dos mineiros, a Serra da Piedade, o Santuário da Mãe da Piedade, Padroeira de Minas.
         Uma grande frente de solidariedade cuida dos que sofrem as consequências do desastre, atendendo urgências e necessidades. E os responsáveis pela tragédia? Devem ressarcir as perdas. Parem tudo, não importam os prejuízos econômicos. Que encontrem outros meios mais justos para a sustentação da economia. Parem tudo e busquem a lucidez capaz de compreender a ecologia integral, inteligentemente indicada no capítulo quarto da encíclica interpelante do papa Francisco. Diante dos problemas atuais, é necessário “um olhar que leve em conta todos os aspectos da crise mundial e que nos detenhamos a refletir sobre os diferentes elementos de uma ecologia integral, que inclua, claramente, a dimensões humanas e sociais”. Essa deve ser a palavra de ordem para que o povo não sofra com outras ondas de lama.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  



  

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