segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A CIDADANIA, A CONSCIÊNCIA DA VERDADE E A BUSCA DE UMA NOVA ORDEM POLÍTICA

“A tarefa de levar a própria 
consciência para a verdade
        Certo dia, estando em quietude, encontrei-me diante de um lago de grande paz e magnífica beleza. Reinavam um profundo silêncio e uma calma imperturbável. Permanecendo ali quieto, começaram a emergir algumas impressões em minha consciência. Via que, diante da iminência do despertar para a vida imaterial, o indivíduo deve despir-se de todos os conceitos, até mesmo daqueles que até então lhe serviram de guia. É necessária a coragem de estar no vazio para se chegar à plenitude das esferas que existem além da vida material. Não se pode tocar o chão ardente dos reinos espirituais se o peso dos conceitos que o ser humano carrega não for diminuído, até desaparecer por completo. Esses conceitos mantêm a consciência em níveis vibratórios densificados, ao passo que a ausência de programas estabelecidos humanamente lhe permite a liberdade de voar como pássaro que desliza por alturas ilimitadas.
         A manifestação do reino espiritual na superfície da Terra por si mesma uma realização superior à vida humana; a vida externa, entretanto, deveria ser capaz de espelhá-lo. Para que ao menos uma fração da energia interior possa refletir-se nos mundos formais, é preciso que ela seja desejada, buscada, assim como uma pessoa com sede busca a água.
         A vida interior revela-se aos puros e inocentes. É fruto do trabalho que a perfeição divina realiza sobre as consciências, polindo-lhes as arestas e purificando-as. Ela a conduz a sucessivas metamorfoses, que levarão o barro a se transformar em ouro, ou seja, farão com que o ser deixe o estado de identificação com a forma e se reconheça como ente divino, imaterial.
         Existem aqueles que, tendo realizado em si essa transformação, estão visando à Perfeição da Vida; e tendo despertado em si o dom da compaixão, compartilham a profunda magnitude desse dom com todas as pessoas que necessitam de clareza para prosseguir em seus caminhos.
         A consciência que foi tocada pelo espírito vive um contínuo plasmar e soltar, não se fixando em ponto algum. Esse estado pode parecer distante e inatingível para a mente humana que necessita ver as margens da estrada por onde caminha. Em silêncio, no entanto, esse estado se aproxima e, por obra da compaixão e da influência da vida espiritual, inesperadamente se lhe descortina uma realidade maior, que transcende os seus limites normais e se traduz na totalidade da Vida.
         Atualmente, a tarefa de voltar a própria consciência para o espírito deveria ser cumprida de maneira simples e despojada. Em ciclos anteriores, muitas estruturas foram criadas para conduzir esse processo – o que pode ter prestado seu serviço, apesar da pequena resposta humana. Mas hoje a dinâmica transição pela qual o planeta está passando permite apenas por um tempo mínimo que o ensinamento e a formação espirituais permaneçam restritos a fórmulas, organizações, regras, exercícios ou ritos. O dinamismo dessa fase por si só impossibilita o aprisionamento em formas rígidas. Assim, a vida interior, fruto de uma aproximação secreta da consciência à verdade essencial, tem início.
         Nesse sentido, o homem nasce só, morre só, e também sozinho deve encontrar a Vida. Por mais que seja útil o serviço de transmitir aos outros a experiência interna, isso jamais os isentará dos passos que eles mesmos devem dar. Pode-se despertá-los para a meta superior, impulsioná-los a seguir adiante, mas não se pode caminhar por eles.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de outubro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de novembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Nascedouro das crises
        As crises que afetam a sociedade brasileira têm muitos nascedouros. As análises técnicas, políticas e antropológicas apontam as causas que levam o povo a pagar alto preço. Narrativas acadêmicas a esse respeito, contudo, não bastam. Corre-se o risco de ficar apenas na descrição teórica, sem a necessária revisão moral. Deixar-se afetar moralmente é um remédio indispensável para alcançar providências oportunas capazes de levar à superação dos graves desvios. Há de se conseguir uma boa articulação entre as análises acadêmicas, que produzem a lucidez, e as respostas alicerçadas na moralidade.
         É preciso projetar luzes sobre um dos âmbitos historicamente mais desafiadores da sociedade brasileira: o mundo da política. Quando se fala de corrupção não é interessante fazer generalizações. Embora seja uma dolorosa realidade, é equívoco afirmar que esse mal é alimentado por todos os políticos ou cidadãos. Há de se respeitar quem é sério e as instituições que operam com exemplar discernimento moral. Ilustrativa é a passagem bíblica narrada no capítulo 18 do Livro do Gênesis, quando Abraão dialoga com Deus intercedendo por Sodoma e Gomorra. Deus o havia escolhido para edificar uma nação grande e forte, para ensinar aos seus filhos e à sua casa a guardar os caminhos do Senhor, praticando o direito e a justiça. Havia crescido o clamor contra Sodoma e Gomorra. Abraão intercede, dialogando com Deus para não pesar a mão no castigo se fossem encontrados 50, 40, 10 justos, honestos, entre os destinatários da fatalidade.
         Esse respeito por quem age honestamente é lição. Assim, importa na sociedade brasileira, em vista de uma conversão indispensável, olhar para cada pessoa e segmento, sem generalizações. Nessa direção, deve-se tratar mais incisivamente a classe política no que se refere à geração das crises amargadas pela sociedade. Embora muito importante, não é suficiente apenas um trabalho educativo que qualifique o exercício cidadão de escolher ocupantes dos cargos eletivos pelo voto. No atual cenário, os políticos de todas as esferas, no Legislativo e no Executivo, são chamados a reconhecer responsabilidades na produção dos escândalos de corrupção. É verdade que esses lamentáveis episódios não têm como atores simplesmente integrantes de um segmento específico da sociedade. Porém, a classe política está em maior evidência, pois é formada a partir das escolhas do povo, exerce o poder pela representação.
         Negociatas partidárias, distribuição de cargos, prevalência de interesses cartoriais e indevidas apropriações comprometem a credibilidade dos representantes do povo. No âmbito da política, aqueles que agem com seriedade devem inspirar o modelo para o exercício do poder. O caso é de radical conversão. Há remédios para isso. Embora se reconheça que o “vício do cachimbo entortou a boca”, não se pode perder a esperança, até mesmo porque a sociedade precisa da política para construir avanços e conquistas.
         A conversão necessária não será desencadeada a partir dos partidos, pois eles se configuram em ambientes de “ar altamente viciado”. O ponto de partida mais eficaz é o confronto da própria consciência, para dar-lhe parâmetros de moralidade que eliminem os vícios dos cartórios políticos. Esse exame precisa envolver cada pessoa, em todos os segmentos responsáveis pela construção da sociedade. Desse modo, será possível debelar a fonte de corrupção e evitar a repetição de escândalos que atrasam o desenvolvimento do Brasil. Especificamente, o exame de consciência deve ser vivido pelos políticos, para que sejam capazes de criar gosto por uma representatividade sem negociatas e, por consequência, renunciem, espartanamente, às vantagens oferecidas em troca de “favores”.
         Sem pretensão de receituário, um exercício ajudará a classe política a vivenciar o necessário confronto da própria consciência, neste momento difícil. O convite é para a leitura e estudo da carta encíclica Louvado sejas – sobre o cuidado da casa comum, do papa Francisco. Trata-se de oportunidade para aprender o que significa ecologia integral, conceito que ajudará a fazer correções não apenas nos discursos, mas na conduta pessoal, nascedouro das crises.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  


      


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