“A
tarefa de levar a própria
consciência para a verdade
Certo dia, estando em
quietude, encontrei-me diante de um lago de grande paz e magnífica beleza.
Reinavam um profundo silêncio e uma calma imperturbável. Permanecendo ali
quieto, começaram a emergir algumas impressões em minha consciência. Via que,
diante da iminência do despertar para a vida imaterial, o indivíduo deve
despir-se de todos os conceitos, até mesmo daqueles que até então lhe serviram
de guia. É necessária a coragem de estar no vazio para se chegar à plenitude
das esferas que existem além da vida material. Não se pode tocar o chão ardente
dos reinos espirituais se o peso dos conceitos que o ser humano carrega não for
diminuído, até desaparecer por completo. Esses conceitos mantêm a consciência
em níveis vibratórios densificados, ao passo que a ausência de programas
estabelecidos humanamente lhe permite a liberdade de voar como pássaro que
desliza por alturas ilimitadas.
A
manifestação do reino espiritual na superfície da Terra por si mesma uma
realização superior à vida humana; a vida externa, entretanto, deveria ser
capaz de espelhá-lo. Para que ao menos uma fração da energia interior possa
refletir-se nos mundos formais, é preciso que ela seja desejada, buscada, assim
como uma pessoa com sede busca a água.
A vida
interior revela-se aos puros e inocentes. É fruto do trabalho que a perfeição
divina realiza sobre as consciências, polindo-lhes as arestas e purificando-as.
Ela a conduz a sucessivas metamorfoses, que levarão o barro a se transformar em
ouro, ou seja, farão com que o ser deixe o estado de identificação com a forma
e se reconheça como ente divino, imaterial.
Existem
aqueles que, tendo realizado em si essa transformação, estão visando à
Perfeição da Vida; e tendo despertado em si o dom da compaixão, compartilham a
profunda magnitude desse dom com todas as pessoas que necessitam de clareza
para prosseguir em seus caminhos.
A
consciência que foi tocada pelo espírito vive um contínuo plasmar e soltar, não
se fixando em ponto algum. Esse estado pode parecer distante e inatingível para
a mente humana que necessita ver as margens da estrada por onde caminha. Em
silêncio, no entanto, esse estado se aproxima e, por obra da compaixão e da
influência da vida espiritual, inesperadamente se lhe descortina uma realidade
maior, que transcende os seus limites normais e se traduz na totalidade da
Vida.
Atualmente,
a tarefa de voltar a própria consciência para o espírito deveria ser cumprida
de maneira simples e despojada. Em ciclos anteriores, muitas estruturas foram
criadas para conduzir esse processo – o que pode ter prestado seu serviço,
apesar da pequena resposta humana. Mas hoje a dinâmica transição pela qual o
planeta está passando permite apenas por um tempo mínimo que o ensinamento e a
formação espirituais permaneçam restritos a fórmulas, organizações, regras,
exercícios ou ritos. O dinamismo dessa fase por si só impossibilita o
aprisionamento em formas rígidas. Assim, a vida interior, fruto de uma
aproximação secreta da consciência à verdade essencial, tem início.
Nesse
sentido, o homem nasce só, morre só, e também sozinho deve encontrar a Vida.
Por mais que seja útil o serviço de transmitir aos outros a experiência
interna, isso jamais os isentará dos passos que eles mesmos devem dar. Pode-se
despertá-los para a meta superior, impulsioná-los a seguir adiante, mas não se
pode caminhar por eles.”
(TRIGUEIRINHO.
Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de outubro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 16).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de
novembro de 2015, caderno OPINIÃO, página
9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Nascedouro
das crises
As crises que afetam a
sociedade brasileira têm muitos nascedouros. As análises técnicas, políticas e
antropológicas apontam as causas que levam o povo a pagar alto preço.
Narrativas acadêmicas a esse respeito, contudo, não bastam. Corre-se o risco de
ficar apenas na descrição teórica, sem a necessária revisão moral. Deixar-se
afetar moralmente é um remédio indispensável para alcançar providências
oportunas capazes de levar à superação dos graves desvios. Há de se conseguir
uma boa articulação entre as análises acadêmicas, que produzem a lucidez, e as
respostas alicerçadas na moralidade.
É
preciso projetar luzes sobre um dos âmbitos historicamente mais desafiadores da
sociedade brasileira: o mundo da política. Quando se fala de corrupção não é
interessante fazer generalizações. Embora seja uma dolorosa realidade, é
equívoco afirmar que esse mal é alimentado por todos os políticos ou cidadãos.
Há de se respeitar quem é sério e as instituições que operam com exemplar
discernimento moral. Ilustrativa é a passagem bíblica narrada no capítulo 18 do
Livro do Gênesis, quando Abraão dialoga com Deus intercedendo por Sodoma e
Gomorra. Deus o havia escolhido para edificar uma nação grande e forte, para
ensinar aos seus filhos e à sua casa a guardar os caminhos do Senhor,
praticando o direito e a justiça. Havia crescido o clamor contra Sodoma e
Gomorra. Abraão intercede, dialogando com Deus para não pesar a mão no castigo
se fossem encontrados 50, 40, 10 justos, honestos, entre os destinatários da
fatalidade.
Esse
respeito por quem age honestamente é lição. Assim, importa na sociedade
brasileira, em vista de uma conversão indispensável, olhar para cada pessoa e
segmento, sem generalizações. Nessa direção, deve-se tratar mais incisivamente
a classe política no que se refere à geração das crises amargadas pela
sociedade. Embora muito importante, não é suficiente apenas um trabalho
educativo que qualifique o exercício cidadão de escolher ocupantes dos cargos
eletivos pelo voto. No atual cenário, os políticos de todas as esferas, no
Legislativo e no Executivo, são chamados a reconhecer responsabilidades na
produção dos escândalos de corrupção. É verdade que esses lamentáveis episódios
não têm como atores simplesmente integrantes de um segmento específico da
sociedade. Porém, a classe política está em maior evidência, pois é formada a
partir das escolhas do povo, exerce o poder pela representação.
Negociatas
partidárias, distribuição de cargos, prevalência de interesses cartoriais e
indevidas apropriações comprometem a credibilidade dos representantes do povo.
No âmbito da política, aqueles que agem com seriedade devem inspirar o modelo
para o exercício do poder. O caso é de radical conversão. Há remédios para
isso. Embora se reconheça que o “vício do cachimbo entortou a boca”, não se
pode perder a esperança, até mesmo porque a sociedade precisa da política para
construir avanços e conquistas.
A
conversão necessária não será desencadeada a partir dos partidos, pois eles se
configuram em ambientes de “ar altamente viciado”. O ponto de partida mais
eficaz é o confronto da própria consciência, para dar-lhe parâmetros de
moralidade que eliminem os vícios dos cartórios políticos. Esse exame precisa
envolver cada pessoa, em todos os segmentos responsáveis pela construção da
sociedade. Desse modo, será possível debelar a fonte de corrupção e evitar a
repetição de escândalos que atrasam o desenvolvimento do Brasil. Especificamente,
o exame de consciência deve ser vivido pelos políticos, para que sejam capazes
de criar gosto por uma representatividade sem negociatas e, por consequência,
renunciem, espartanamente, às vantagens oferecidas em troca de “favores”.
Sem
pretensão de receituário, um exercício ajudará a classe política a vivenciar o
necessário confronto da própria consciência, neste momento difícil. O convite é
para a leitura e estudo da carta encíclica Louvado
sejas – sobre o cuidado da casa comum, do papa Francisco. Trata-se de
oportunidade para aprender o que significa ecologia integral, conceito que
ajudará a fazer correções não apenas nos discursos, mas na conduta pessoal,
nascedouro das crises.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a
estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, também
em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a
corrupção, há séculos, na mais
perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
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