“Despertar
de competências e habilidades
O Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) provocou uma grande revolução na forma de entrada dos
alunos da educação básica nas universidades brasileiras e, consequentemente,
gerou uma mudança no perfil do professor em sala de aula. Os cursos de
licenciatura não acompanham as mudanças que têm sido feitas, levando em conta
novos estudos e resultados de pesquisa. Isso fez com que os docentes
manifestassem a mesma prática pedagógica, isto é, não fazendo de sua sala de
aula um grande espaço de diálogo. Ensinava-se um conteúdo extenso em um curto
período, esperando que os estudantes fossem capazes de decorá-lo para os antigos
vestibulares.
A
Teoria de Resposta ao Item (TRI), utilizada para correção do Enem, leva em
conta, entre outras coisas, as competências e habilidades usadas pelo candidato
para responder cada questão, ou seja, os alunos devem saber problematizar as
disciplinas. Atualmente, pensar o ensino por habilidades e competências é
estabelecer uma metodologia de trabalho que privilegie a aprendizagem
significativa por parte dos estudantes. A situação não é simples, pois requer
esforços de todos os envolvidos no processo educativo, exigindo profundas
alterações no foco do ensino para a aprendizagem, procurando construir um novo
significado para os conteúdos trabalhados em sala de aula. O cenário obriga a
refletir que um ensino para a transmissão de conhecimento pronto e fechado não
é mais válido. Apesar de ser esse um modelo muito utilizado, pois facilita a
vida e o grande elo entre as famílias e a escola, ele não atende mais às
demandas sociais. Não basta somente reter diversas informações. É necessário
que essas informações se transformem em conhecimento e possam ser articuladas
para a resolução de problemas. Portanto, é fundamental professores que
perguntem e famílias que não busquem apenas respostas quando, por exemplo,
ajudam seus filhos a resolver um “para casa” ou a estudar para provas. A
formação de competências e habilidades multidisciplinares deve ser promovida
antes e, acima de tudo, adotando uma postura incondicional de investigador e de
aprendiz. Promovendo uma educação dialógica em que nós, professores, nos livremos
do estigma de “senhores do saber” e possamos exercer a postura de construtores
de cidadãos. Uma educação que não tema os “nãos” a serem enfrentados e crie
ecos na mente de cada estudante. Também não podemos esquecer a época em que
fazer um curso de datilografia era importante. O mundo mudou com o acesso a uma
tecnologia que não tínhamos anteriormente. É preciso, então, entender essa
evolução como uma aliada, sendo um instrumento para transformar informação em
conhecimento, avaliar a razoabilidade de um argumento, estabelecer comparações
e fazer estimativas, habilidades essenciais para o homem do século 21. A
educação por competências e habilidades pode ser uma alternativa ao modelo
positivista, deslocando o foco do ensino para o aprendizado e colocando
professores e alunos na posição de agentes investigadores, possibilitando que o
alune se torne agente de seu próprio conhecimento e o professor um mobilizador
da pesquisa e das perguntas e problemas.
É no
ensino básico que o estudante começa a compreender fenômenos, a enfrentar
problemas e construir argumentos. É quando se constrói um cidadão capaz de
pensar os problemas em seu entorno e elaborar propostas de intervenção
solidária na sociedade. Assim, pensar a formação integral nessa fase da
educação é pensar um indivíduo que seja consciente. Trata-se de uma função para
todos nós, professores da educação básica: despertar consciências. A nossa
missão e o nosso dever.”
(CHRISTINA
FABEL. Diretora pedagógica do Colégio ICJ, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 12 de
novembro de 2015, caderno OPINIÃO, página
7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de ROBERTO
DE SOUZA PINTO, presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos
Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindivel), e que
merece igualmente integral transcrição:
“Indústria
competitiva
O Brasil é um país com
enorme potencialidades, diversidades e riquezas, que, se bem aproveitadas e
incentivadas, são decisivas para a construção de uma estrutura econômica,
social e cultural mais sólida e eficiente. Na formação de nossa identidade
nacional, no âmbito macroeconômico, o Brasil ficou conhecido por ser um país
exportador de commodities, principalmente porque os principais produtos que vão
para o exterior são minério de ferro, soja, óleos brutos de petróleo, café e
açúcar. Mas isso não basta. Precisamos assumir um protagonismo no cenário
internacional e construir uma identidade que mostre a nossa força no
desenvolvimento e fabricação de produtos de transformação.
Temos
exemplos concretos de companhias brasileiras que ganharam destaque internacional,
exportando tecnologia 100% nacional para todo o mundo, como a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Empresa Brasileira de
Aeronáutica (Embraer), líder do mercado global de jatos comerciais. Mas
precisamos multiplicar esses exemplos para que as nossas forças não sejam
apenas as belezas naturais, carnaval e futebol (enquanto ainda podemos). Apesar
desses casos de sucesso, o Brasil ainda precisa avançar a passos largos para
criar subsídios para o desenvolvimento constante da nossa indústria. E isso
passa, necessariamente, pelo aprimoramento das nossas tecnologias de produção,
para fazermos frente às maiores potências do planeta, como a Alemanha. O país
europeu ocupa, hoje, o terceiro lugar na lista de países exportadores de café
(atrás do Brasil e do Vietnã), tendo conseguido esse feito sem cultivar uma
muda. Por meio do investimento em soluções tecnológicas, infraestrutura e
logística (facilitada por uma eficiente malha ferroviária), os alemães se
tornaram os maiores compradores do grão brasileiro e passaram a revender uma
parte do volume importado para outros países por um preço mais elevado. A outra
parcela começou a ser transformada em cápsulas, cujo destino também é o
exterior.
Um
artigo publicado recentemente pela revista inglesa The Economist diz que, em vez de construir indústrias e investir na
ampliação da nossa produção e na formação de mão de obra qualificada, o Brasil
optou por erguer shoppings e outros espaços destinados ao consumo final. É
verdade. Precisamos investir em capital humano, necessitamos de uma indústria
inovadora e arrojada e do apoio do governo para transformar esse cenário. E
esse modelo já existe no país, conhecido como tríplice-hélice, que traz
resultados incríveis, uma vez que cria uma sinergia perfeita e uma atuação
conjunta de três agentes: as instituições de ensino, que formam pessoas, a
indústria, que absorve a mão de obra e estimula o seu constante aprimoramento,
e o governo, que cria subsídios e políticas de apoio e incentivo a esses
atividades.
A tríplice-hélice
é empregada, por exemplo, no Vale da Eletrônica, um dos maiores polos de
tecnologia do país, localizado em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas
Gerais. A estrutura de gestão permitiu que o Arranjo Produtivo Local (APL)
construísse uma identidade própria e consolidasse a imagem de um cluster que é sinônimo de qualidade,
inovação e que compete diretamente com os principais players no Brasil e no mundo. Com isso, o APL criou uma ambiência
propícia para que as 153 empresas da região desenvolvessem 45 novos produtos
com alta tecnologia a cada 30 dias, que concorrem, por exemplo, com os
eletrônicos chineses. O Vale da Eletrônica, atualmente, é referência em
diversos segmentos, como radiodifusão e segurança. Abriga empresas líderes de
mercado e fabrica soluções que se destacam em todo o mundo, como o Integrated Services
Digital Broadcasting – Terrestrial (ISDB-T), modelo nacional de TV Digital, que
é um dos mais avançados do mercado internacional e o segundo mais utilizado no
planeta, alcançando 562 milhões de pessoas em 16 países.
O APL
também possui um dos mais importantes programas de incubação de empresas do
Brasil, que oferece capacitação e consultorias para que jovens empreendedores
montem o seu próprio negócio, resultando no surgimento de novas empresas todos
os anos no polo. Somado à atuação dos agentes envolvidos no modelo da
tríplice-hélice, também está o trabalho de entidades que realizam a gestão e
desenvolvem iniciativas para alavancar ainda mais o potencial da produção
industrial local, como o Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos,
Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindivel), que está completando
25 anos de atuação em Santa Rita do Sapucaí.
A
indústria brasileira precisa se reinventar. Para isso, é necessário desenvolvermos
novas tecnologias e pensarmos modos de produção e gestão mais eficientes, como
a tríplice-hélice, para tornar nossos produtos e processos mais inteligentes e
competitivos no cenário internacional. Por meio da atuação estratégica e da
integração entre governo, empresas e instituições de ensino, é possível haver
um melhor aproveitamento dos nossos recursos, com o objetivo de tornar a nossa
atividade industrial mais moderna e complexa. Somente dessa forma iremos
construir de fato uma identidade de país protagonista no mundo, que também
exporta tecnologia e que possui uma economia estruturada, sólida e
sustentável.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a
estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, também
em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a
corrupção, há séculos, na mais
perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan
Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de
corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem
mostrando também o seu caráter transnacional;
eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos
borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um
verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque,
rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim,
é crime...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O
Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança
das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI, OUVI
E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
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