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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, UMA HOMENAGEM AOS PROFESSORES E A VERDADE NA EDUCAÇÃO

“Aos professores, com carinho
        
         Queridos mestres, me perdoem a falta de jeito, o estilo saudoso de enviar-lhes esta cartinha. Coisa de aluno antigo, do tempo que os mestres eram sagrados, respeitados, admirados por todos nós. As coisas mudam, mas nunca mudará a importância e nobreza de quem transfere conhecimentos e cultura.
         Ao me ver hoje, sei que sou uma extensão de um universo em que fui apresentado por vocês. Indescritível a emoção de começar a ler e, na mesma medida após esforço e luta, ser recompensado com uma nota máxima.
         Na minha ante-sala da memória, quadros afetivos povoam a galeria de heroicos e dedicados mestres: dona Guilhermina e Violeta, professoras da pré-escola, são lembranças vivas do entusiasmo de lecionar.
         E como descrever os rígidos Dalmi ou Maria Helena? Um imenso desejo de que aprendêssemos, iluminando o caminho do saber. Dona Marina de biologia, ou o Zé Mauro, mascarado e achista!
         A beleza e ingenuidade da Amélia dando a química, uma tabela periódica charmosa e o desejo da alquimia que nos transformasse em mocinhos em busca da musa.
         Ensinar é uma arte, uma missão cada vez mais árdua e heroica. Olhando para trás, revejo os milagres que o Português trouxe à minha vida ao ensinar que o sujeito, se usar um verbo sagrado, agirá direta ou indiretamente sobre o objeto, que pode muito bem ser promovido ou destratado por um adjetivo, e olhe que uma única vírgula pode atrapalhar tudo!
         Aprendi com dona Emília que palavras têm alma, e lamento que o estudo delas tenha abolido o latim e o grego.
         Quisera eu dizer a uma musa que ela me “inspira” (“ins”: dentro de, “piros”: chama sagrada! Ou saber que o universo é “um Deus derramado” ou que entusiasmo significa, na sua etimologia, “trazer um Deus dentro de si”.
         Agradeço ao professor Dalmi esta revelação de que palavras são códigos que traduzem as três energias da mente: o que eu penso, o que eu sinto, o que eu desejo fazer. Pensar, sentir, agir e então me apresentar ao mundo.
         Lamento quando mostra-se que um adolescente atual sabe e convive com no máximo 200 palavras, são analfabetos funcionais, vivem sem poesia, sem expressão, sem inspiração.
         E falar de história, desvendando todo o caminho que meus antepassados percorreram, guerreando, inventando, construindo o mundo que habitamos.
         Pensar na biologia, que mostra que cada célula minha é uma cópia de mim mesmo e se clonado me ressuscitará daqui a mil anos.
         Ou a física, que me faz matéria e energia e a química, que mostra que somos nada mais que uma tabela periódica de elementos universais: carbono, hidrogênio, oxigênio, ferro, cálcio e por aí vai, portanto, do “pó vieste e ao pó voltará”. Não há ouro que sobreviva ao fim certo e a eternidade esperada.
         Termino esta coluna após ver um estudo que mostra que cada vez menos pessoas querem ser professores e que já faltam docentes em milhares de escolas. E lamento que nós, alunos, os pais, a comunidade em geral, estejamos tão viciados em celulares e eletrônicos.
         Lamento que pessoas reais não recebam um abraço, um cumprimento carinhoso, o respeito mínimo de quem nos forma e, generosamente, doa conhecimentos.
         Que nesta volta a mais um ano letivo, desejo do fundo do meu coração que todos os professores sejam abençoados com a saúde, a paz, a serenidade e, assim, sejam reconhecidos como patrimônio da humanidade!
         Agradeço aos mestres citados e perdão aos que não o foram pois homenageei professores de mais de 40 anos atrás sem os quais esta coluna não teria sido escrita!”

(Eduardo Aquino. Escritor e neurocientista, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 12 de janeiro de 2014, caderno CIDADES, página 4, coluna Crônicas sobre o comportamento e o relacionamentos humano).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2356 – ano 47 – nº 3, de 15 de janeiro de 2014, páginas  76 e 77, de autoria de Gustavo Ioschpe, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Por que não falar a verdade, ministro?
        
         Em dezembro, foram divulgados os resultados do Pisa, o mais importante teste de qualidade da educação do mundo, realizado a cada três anos com alunos de 15 anos. Como vem ocorrendo desde a primeira edição, no ano 2000, os resultados do Brasil foram péssimos. Ficamos em 58º lugar em matemática, 59º em ciências e 55º em leitura, entre os 65 países que participaram. Caímos no ranking nas três áreas, em relação à prova anterior. Como já havia acontecido em edições passadas, nem nossa elite se salvou: os 25% mais ricos entre os alunos brasileiros tiveram desempenho pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos (437 pontos versus 452 pontos em matemática).
         A Alemanha, assim como o Brasil, também participa do Pisa desde 2000. Quando os resultados daquele ano foram divulgados, os alemães descobriram que o país de Goethe, Hegel e Weber tinha ficado em 21º lugar entre os 31 participantes daquela edição, abaixo da média dos países da OCDE. Os dados caíram como uma bomba. A presidente da Comissão de Educação do Parlamento alemão disse que os resultados eram uma “tragédia para a educação alemã”. A Der Spiegel, a mais importante revista do país, refletiu a tragédia com a seguinte manchete de capa: “Os alunos alemães são burros?”. O alvoroço levou inclusive à criação de um game show na TV alemã.
         No dia do anúncio dos resultados da última edição do Pisa, a reação brasileira foi bem diferente. Nosso ministro da Educação, Aloizio Mercadante, convocou uma coletiva de imprensa para declarar que o Pisa era uma “grande vitória” da educação brasileira e um sinal de que “estamos no caminho certo” (rumo ao fundo do poço?). Recorreu à mesma cantilena de seu antecessor, Fernando Hadad: “A foto é ruim, mas o filme é muito bom”. Ou seja, a situação atual ainda não é boa, mas o que importa é a evolução dos resultados. E nesse quesito Mercadante fez um corte bastante particular dos resultados (focando apenas matemática, e só de 2003 para cá) para afirmar que o Brasil era “o primeiro aluno da sala”, o país que mais havia evoluído. Sem mencionar, é claro, que evoluímos tanto porque partimos de uma base baixíssima. Quando se parte de quase nada, qualquer pitoco é um salto enorme.
         Essas reações são tão previsíveis que escrevi um artigo, disponível em VEJA.com, um dia antes da fala do ministro, não só prevendo o teor da resposta como até o recurso à sétima arte (todos os links disponíveis em twitter.com/gioschpe). Mas, apesar de esperada, a resposta do ministro me causa perplexidade e espanto. Ela é muito negativa para o futuro da educação brasileira.
         Eis o motivo da minha perplexidade: Mercadante e seu MEC não administram as escolas em que estudam nossos alunos de 15 anos. Dos mais de 50 milhões de estudantes da nossa educação básica, mero 0,5% está na rede federal. No Brasil, a responsabilidade por alunos do ensino médio é fundamentalmente de estados (85% da matrícula) e da iniciativa privada (13%). O MEC administra as universidades federais e cria alguns balizamentos para a educação básica, além de pilotar programas de reforço orçamentário para questões como transporte e merenda escolar, entre outras funções. A tarefa de construir as escolas, contratar e treinar os professores e estruturar o sistema é dos estados. No ensino fundamental, dos municípios. Portanto, os resultados do Pisa não representam um atestado de incompetência do Ministério da Educação. A maior parte da responsabilidade está certamente com estados e municípios. Além do mais, a tolerância do brasileiro para indicadores medíocres na área educacional é sabida e, ao contrário da Alemanha em 2000, não havia nenhuma expectativa de que tivéssemos um desempenho estelar no Piso. Por que, então, o ministro não pode vir a público e dizer a verdade: que nossa situação é desastrosa, e que enquanto não melhorarmos a qualidade do nosso ensino continuaremos a chafurdar no pântano do subdesenvolvimento e da desigualdade? Não haveria custo político para Mercadante nem para o PT, já que o problema da nossa educação vem de antes da era lulista, e estados administrados por partidos de oposição tiveram resultados tão ruins quanto os da situação. Até entendo que seu antecessor se valesse dessa patacoada, pois teve uma gestão sofrível e era um neófito político em busca de divulgação, mas Mercadante já é um político consagrado e está fazendo uma boa gestão, a melhor da era petista; não era preciso disso.
         Antes que os patrulheiros venham com suas pedras, eu me adianto: o ministro não mentiu em suas declarações, apenas tapou o sol com a peneira. Fez uma seleção de dados destinada a conferir uma pátina brilhante a um cenário que na verdade é calamitoso. E esse malabarismo político, longe de ser apenas mera questão de conveniência pessoal, é muito ruim para o país.
         Vocês que me leem há algum tempo sabem que estou convencido de que o grande entrave para a melhoria da qualidade educacional brasileira é o fato de que nossa população está satisfeita com nossa escola (em pesquisa do Inep com amostra representativa de pais de alunos da escola pública, a qualidade do ensino da escola do filho teve uma inacreditável nota média de 8,6. Realidade africana, percepção coreana...). Enquanto a população não demanda nem apoia mudanças, os governantes não têm capital político para encarar a força obstrucionista dos sindicatos de  professores e funcionários (um contingente absurdamente inchado de 5 milhões de pessoas). Excetuando VEJA, este colunista e mais meia dúzia de quixotes, toda a discussão nacional sobre o tema é dominada por mantenedores do status quo. Canais de TV buscam sempre alguma história de superação individual, para dar um contorno feliz a uma história triste. Rádios estão preocupadas com debates inflamados, a despeito da veracidade do que é discutido, quer o assunto seja educação, política ou futebol. Jornais acham que aprofundar um assunto é dar os dois lados da moeda, como se a educação fosse questão de opinião, não de pesquisa. Empresários não querem falar nada que gere conflito; a maioria dos intelectuais é também professor e tem interesses pecuniários; políticos em geral querem se tornar prefeitos ou governadores. Nesse cenário, quem é que vai falar para o brasileiro aquilo que ele não quer ouvir? O candidato natural é o ministro da Educação. Imaginem que fantástico seria se o Mercadante tivesse vindo a público para dizer: “O Brasil foi muito mal no Pisa. Nossos alunos não estão aprendendo o que precisam. Está na hora de encararmos essa realidade. Temos uma enorme crise educacional – o que, na Era do Conhecimento, significa que enfrentamos um gravíssimo problema. Para vencê-lo, todos teremos de arregaçar as mangas e trabalhar mais. Este ministério não administra as escolas, mas estamos à disposição de todos os prefeitos, governadores e secretários de Educação que querem melhorar”.
         Essas palavras poderiam marcar o início de uma nova era. E isso não traria custo político ao ministro. Acho até que geraria benefícios. São palavras de um estadista, de alguém que se preocupa com o futuro de milhões de alunos que hoje estão sendo massacrados por uma sistema educacional inepto.
         P.S.: Depois da comoção de 2000, a Alemanha deu um salto. Neste último Pisa, ficou bem acima de média obtida pelos países da OCDE, abocanhando o 12º em ciências, o 16º em matemática e o 19º em leitura.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irrecuperáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional  –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade; entre  outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

    

quarta-feira, 6 de março de 2013

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA INFÂNCIA E A MÁGICA DA EDUCAÇÃO


“DESVANTAGEM NA LARGADA

O novo plano do MEC para garantir alfabetização a todas as crianças prevê que elas cheguem lá até os 8 anos – meta que nos coloca atrás das nações mais desenvolvidas

A educação brasileira atravessou os séculos numa zona de sombra em que não se sabia nem mesmo quantas escolas havia no país – muito menos em que nível elas estavam e aonde deveriam chegar. O vasto rol de termômetros e rankings do ensino tratou de sepultar esses tempos mais obscuros e abriu espaço na sala de aula para um hábito ao qual o Brasil ainda não é tão afeito: o de traçar de metas. Na semana passada, uma delas – da mais suma importância – passou pelo crivo da Câmara dos Deputados e agora aguarda a apreciação do Senado. Trata-se da medida provisória federal que estabelece que toda criança seja alfabetizada até os 8 anos de idade – “prioridade das prioridades” para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Com 1,4 milhão de crianças entre 7 e 14 anos ainda iletradas no país, não há dúvida de que a iniciativa, inédita, toca em um nó que, se desatado, terá efeitos positivos de longuíssimo alcance. Mas também lança um ponto de interrogação sobre uma questão à qual pouco se atentou durante todo o debate – e é crucial: por que esperar de crianças de escolas públicas que se alfabetizem até os 8 anos, quando nos colégios particulares, assim como em todo o mundo desenvolvido, elas chegam lá, no máximo, ao 7?
 A diferença de expectativas tende a agravar o abismo que já separa a rede pública da rede privada no Brasil, temem os especialistas ouvidos por VEJA. E essa discrepância pode se fazer sentir não só no princípio, mas por todo o ciclo escolar. Um estudo do americano James Heckman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, mostra que, quanto mais cedo a criança recebe estímulos cognitivos, menos tempo ela precisa para reter novos conhecimentos. Se já reúne um repertório razoável de palavras, suas chances de avançar no saber crescem exponencialmente. “Quem sabe mais aprende mais, num ciclo virtuoso que devemos estender a todos”, resume Heckman. “Aceitar logo de saída que uma criança seja alfabetizada mais tarde do que outra aniquila a ideia de que a sala de aula deve gerar oportunidades iguais para todos. Só agrava o apartheid educacional que já distancia alunos de escolas públicas e privadas”, enfatiza Claudia Costin, secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, onde pais e professores selaram um pacto comprometendo-se a fazer a sua parte para que todos saibam ler até o fim do 1º ano do ensino fundamental – em média, aos 6 anos.
Vista como um todo, a medida provisória, que custará ao governo 2,7 bilhões de reais até 2014, ancora-se em pilares acertados: estabelece prazos, avalia resultados, premia os melhores. No pacote, está sendo formulado um currículo nacional que vai nortear as aulas do 1º ao 3º ano. A existência de um roteiro para o professor ensinar é das iniciativas de maior resultado na sala de aula – mas, por um misto de inépcia de autoridades e resistência de uma ala de educadores que se vê tolhida na sua liberdade de ensinar, é ainda rara nas redes públicas. Também se prevê que os 360 000 professores alfabetizadores sejam remunerados para reforçar seus estudos aos sábados e recebam livretos com estratégias para ensinar, área que boa parte das faculdades de pedagogia apenas tangencia, ou ignora. O MEC aplicará ainda uma prova para aferir o nível de conhecimento dos alunos ao final do 3º ano. E as escolas que se saírem melhor receberão um bônus. Os 26 estados e mais de 5 000 municípios que até agora assinaram o chamado Pacto Nacional pela Alfabetização terão direito a verbas.
Em 2012, o MEC enviou ao Conselho Nacional de Educação o novo currículo para os primeiros anos do ensino fundamental. Seu conteúdo ainda não veio a público, mas especialistas que já se debruçaram sobre o documento alertam para o fato de que lhe falta objetividade. “É confuso e pouco assertivo quanto às exigências”, observa a especialista Ilona Becskeházy, que se deteve sobre currículos de países como Portugal e Canadá, segundo ela muito mais específicos em relação às expectativas  de aprendizado. “Precisamos de uma vez por todas definir quais habilidades devem ser assimiladas, ano a ano”, reforça Maria Helena Guimarães, presidente da Fundação Seade, em São Paulo. Ainda há tempo para lapidar o texto final. Vale o empenho. Hoje, apenas um de cada quatro brasileiros adultos é considerado plenamente alfabetizado – ou seja, consegue depreender sentido de um texto mais complexo. Só com muita ambição acadêmica será possível reverter cenário tão desolador.”
(NATHÁLIA BUTTI, em reportagem da revista VEJA, edição 2311 – ano 46 – nº 10, de 6 de março de 2013, páginas 96 e 97).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo e edição, página 20, de autoria de CLAUDIO DE MOURA CASTRO, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“A mágica da educação
        
        Vale a pena refletir sobre o elo entre a educação e o que acontece com nossa vida profissional. Sabemos que, ao deixar a escola e encontrar um emprego, o número de anos de estudo é o mais poderoso determinante do que vamos ganhar. Como regra geral, quanto mais se estuda, mais o salário inicial é elevado – embora varie de acordo com a oferta e a procura de competências. Se acreditamos que o contracheque reflete a nossa contribuição para a produtividade da empresa, os anos de estudo são a maior fonte de progresso. É o que Adam Smith dizia e que já foi exaustivamente medido.
         De fato, quanto maior o estoque de educação com o qual iniciamos a vida profissional, mais ganhamos. Ou seja, no dia em que pleiteamos um emprego, o mercado valoriza o que aprendemos na escola. Portanto, há boas razões para a escola ensinar bem aquilo que conta para um bom desempenho profissional.
         Mas os números contam mais histórias. Quem estudou pouco ou nada não só começa com um salário medíocre, mas permanece a vida toda atolado no mesmo nível. Já para os que têm mais educação, no curso da sua vida profissional, o salário pode duplicar ou triplicar. Esses aumentos são espantosamente maiores do que o benefício de entrar mais educado no mercado de trabalho – no caso, comparado com quem tem menos escolaridade.
         Nosso primeiro salário reflete aqueles conhecimentos que a escola nos deu e que o mercado valoriza. É fácil entender. Mas o que explicaria o avanço ao longo da carreira, se já havíamos parado de estudar? Como esquecemos muito do aprendido na escola, até não seria absurdo pensar que o salário encolheria.
         Em boa medida, as empresas remuneram de acordo com a capacidade de produzir de cada um – e com a escassez relativa daquele perfil de mão de obra, mas não precisamos aqui entrar nesses complicadores. Se pagam cada vez mais, ao longo da nossa carreira, se o salário segue crescendo, isso significa que nos tornamos mais produtivos. É forçoso concluir que, de alguma forma, continuamos aprendendo. Ficamos mais educados, apesar de não estarmos mais na escola.
         Em outra palavras, os aumentos ao longo dos anos só podem ser explicados pela capacidade de aprender com a experiência vivida. Esse amadurecimento ao longo da vida – fortemente influenciado pela nossa educação formal prévia – metamorfoseia-se em maior produtividade. Eis a mágica da educação!
         Visto de outra maneira, o que aprendemos na escola e tem uso imediato aumenta os salários, mas não tanto. Conta mais o que aprendemos depois. Logo, seja do ponto de vista individual, seja do da empresa, o aprendizado mais valorizado economicamente é aquele que se dá durante a vida profissional, não antes. Essa conclusão, além de curiosa, não é sem consequências.
         Tudo o que puder ser feito para maximizar o aprendizado ao longo de nossa carreira se traduz em avanços nos rendimentos. É importante lembrar, conta a qualidade da educação que tivemos. Não são quantos fatos e fórmulas decoramos, mas a capacidade de ler, escrever, pensar, decifrar o mundo ao nosso redor, bem como identificar e encontrar soluções para os problemas que vão aparecendo.
         Pela vida afora, ajudará tudo o que possa facilitar, incentivar e promover o aprendizado, até o máximo condizente com o potencial de cada um. Ajudam os cursos, mentores, estágios ou grupos de discussão. Essa é a boa tese da Educação Permanente. Mas nem tudo vem de fora. Também funciona o esforço próprio, autodidata, de maneira totalmente informal. E, mais ainda, avançamos mercê de uma insaciável curiosidade e de uma atitude de sempre fazer perguntas e procurar respostas. O que importa é a busca incansável de formas de alimentar a nossa sede de conhecimentos e de novas soluções.
         Nossa carreira depende do esforço para continuar a aprender. O tesouro da educação não está  no diploma e no que ensinou a escola, mas sim no que ela nos permite crescer depois.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação; saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; minas e energia; agregação  de valor às commodities; turismo; logística; sistema financeiro nacional; comunicações; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; qualidade  (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...