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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, O PODER DAS PEQUENAS LIÇÕES DE GRANDEZA E A TRANSCENDÊNCIA DAS QUESTÕES DA AMAZÔNIA NA SUSTENTABILIDADE


“Pequenas lições de grandeza
        Em ‘Seis Propostas para o Próximo Milênio’, palestras que pronunciaria em 1985 na Universidade de Harvard – se a morte não tivesse interrompido sua obra –, Ítalo Calvino, o grande escritor de família italiana, tratou de objetos literários que gostaria de ver preservados. É uma bela coletânea sobre a complexidade das estruturas narrativas. Apesar do foco literário, podemos projetá-la para a vida social e política.
         Roguemos para que nossos governantes e políticos se comprometam com a leveza, primeira das seis propostas. Ao constatar que o esforço do governo para resgatar a economia quase não alterou o desemprego nem a vida da população, resta a prece para que se corrija a monstruosidade registrada pelo IBGE: o rendimento total dos 10% mais ricos supera a soma dos 80% mais pobres; em 2018, o rendimento médio mensal do 1% da classe mais rica foi de R$ 27.744; os 50% mais pobres receberam R$ 820, valor 33,8 vezes menor. Pede-se a leveza de um cotidiano tranquilo, seguro e farto na cozinha. Não dá para postergar.
         O segundo valor, a rapidez, deve responder ao povo nas ruas nesse ciclo explosivo das comunicações. Brasileiros estão cansados da conhecida lenga-lenga: “Vamos construir a pátria dos nossos filhos”. Urge construí-la nas cidades devastadas por más administrações. Lincoln ensinava: “Podeis ludibriar uma parte do povo durante o tempo todo, ou o povo durante algum tempo; mas não podereis ludibriar todo o povo durante todo o tempo”.
         O Brasil que ressurgiu da última eleição espera por exatidão, valor massacrado nestes tempos de fake News. Precisamos banir o refrão nazista de que uma mentira repetida três vezes torna-se verdade no quarto relato. Precisamos banir a falta de escrúpulo, a mentira, a hipocrisia.
         Bobbio, outro italiano, chama a atenção para dois fenômenos adversos e estritamente ligados: o poder oculto e o que oculta, que se esconde, escondendo. O poder invisível deve ser escancarado. Daí a necessidade da visibilidade para que se possa acreditar nos representantes. O país não aceita mais o Estado visível e o invisível, com estruturas corrompidas, gabinetes secretos, decisões longe do público, “o poder mascarado” destruindo a nação.
         Nossa cultura abriga valores nobres, como respeito, lealdade, dignidade, ética. A vontade plural merece ser respeitada. Trata-se, então, de promover a multiplicidade (quinto valor) dos olhares sobre a realidade. A pluralidade social, econômica e cultural constitui referência para o planejamento e administração de políticas públicas, o que recomenda a mobilização de classes e categorias profissionais.
         A última lição de Calvino trata da consistência. No caso, o resgate da responsabilidade, que implica seriedade, densidade. O contraponto é o improviso irresponsável.
         Nesta parte do milênio, o Brasil precisa praticar a humanidade como Confúcio definiu: “A humanidade é mais essencial para o povo do que água e fogo. Vi homens perderem sua vida por se entregarem à água ou ao fogo; nunca vi alguém perder a vida por se entregar à humanidade”.”.

(Gaudêncio Torquato. Jornalista, professor (USP) e consultor político, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de outubro de 2019, caderno O.PINIÃO, página 19).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no site www.domtotal.com, edição de 25 de outubro de 2019, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente integral transcrição:

“Verdade sobre o Sínodo para a Amazônia
        O Sínodo para a Amazônia, convocado pelo papa Francisco há dois anos, em 17 de janeiro de 2017, e que está sendo realizado no Vaticano neste mês de outubro, movimentou internamente a Igreja Católica, interpelou outras confissões religiosas, correu nas veias dos cristãos, encheu de esperança o coração dos povos tradicionais e habitantes deste precioso território. Ganhou lugar pauta mundial – ambientalistas, meios de comunicação, governantes e diferentes segmentos da sociedade dedicam toda a atenção ao sínodo, que lança novas luzes sobre a história e sobre os preocupantes contextos social, religioso e ambienta. Também, lamentavelmente, o sínodo serviu de pauta para muitos que se dedicam a propagar notícias falsas. Foi alvo de interpretações equivocadas, inclusive dentro da própria Igreja, alimentou medos e preconceitos, distanciamentos e fechamentos a respostas que precisam ser buscadas para se alcançar necessárias transformações. Contudo, o transcurso dessa experiência sinodal tem sido fecundo e vencedor. É uma evangélica réplica às interpretações inadequadas, com a partilha em torno da verdade sobre o sínodo.
         Não se pode desconsiderar, de maneira alguma, que a Igreja é sinodal. Isso significa que trilha o seu caminho com a participação e o envolvimento de todos, desafiados sempre a se abrir à ação amorosa e transformadora do Espírito Santo, mestre e guia da Igreja. Nunca é demais lembrar e ler, mais uma vez, o capítulo 15 dos Atos dos Apóstolos, sobre a primeira experiência sinodal da Igreja Católica, há mais de dois mil anos. O ponto de partida dessa primeira experiência da Igreja nascente foi marcado pela tensão que, inevitavelmente, faz parte dos processos de entendimentos quando se busca novos rumos, novas resposta à luz do Evangelho de Jesus, fiel aos princípios e às tradições inegociáveis que sustentam a Igreja. Uma assembleia sinodal que parte da escuta uns dos outros, porta-vozes de clamores dos pobres e dos injustiçados. Sensíveis às interpretações vindas da realidade em permanente mutação.
         Contracenando nesses processos, homens e mulheres são desafiados ao diálogo, de modo a clarear novas direções, a avaliar sua abertura de coração para se deixar interpelar pela voz de Deus, pelos clamores dos sofridos e pela contribuição em busca da verdade. Essa é uma experiência que exige escutas. Um processo que agrega riquezas e permite reconhecer limites, ao submeter-se a confrontos na elaboração da lucidez que faz entrever e encontrar o modo novo de se viver a verdade do Evangelho que não muda. É imutável a verdade do Evangelho, que tem força, propriedade e razão para transformar mentes e corações. Para gerar a sabedoria indispensável a respostas novas, próprias a cada época. Por isso, é oportuno retomar o magnífico processo sinodal descrito nos Atos dos Apóstolos, pois comprova que escutar uns aos outros e a Deus é o único caminho seguro na busca diária e permanente da verdade, a se conhecer com sua força libertadora.
         Assim, numa Igreja sinodal, isto é, aquela que prima sua vida e testemunho pela escuta permanente de Deus, dos irmãos e, particularmente, dos clamores dos pobres e sofredores, dinâmica a ser vivida em toda a Igreja, em todas as suas instâncias, e em todas as relações, realiza-se o Sínodo dos Bispos para a Amazônia. Uma convocação de quem tem a autoridade para escutar bispos, padres, cristãos, leigos, peritos, convidados, mas especialmente os representantes dos povos da Amazônia: o papa Francisco. O papa faz esse caminho sinodal precedido por uma longa preparação, a partir de ampla participação de diferentes setores e um concentrado esforço para o entendimento da realidade.
         A esperançosa realização do Sínodo para a Amazônia, emoldurada por espiritualidade, respeito fraterno mútuo e solidário, pela dedicação a um trabalho sério – qualificado do ponto de vista teológico, pastoral e científico –, reunirá agora indicações, linhas e aportes aos necessários e urgidos novos caminhos para a Igreja em missão na região. Será, ainda, referência, lição e compromisso com uma nova ordem na Casa Comum, no horizonte da ecologia integral. Ser sinodal é condição fundamental para que a Igreja avance, a exemplo da família, da sociedade ou de qualquer outra instituição. Depende sempre da competência humana e espiritual e requer o equilíbrio que abre as portas para a escuta. Não há outro caminho para ser destinatário da verdade revelada por Deus e do amor que ele esparge. E o papa Francisco é admirável referência, sinal visível da unidade na Igreja nessa competência humana e espiritual de escuta. Quem não escuta ataca: quem não escuta se defende com acusações; quem não escuta se entrincheira, ilusória e agressivamente, em ataques desrespeitosos, na semeadura de cizânias, da discórdia e da confusão. Realidade muito diferente da referência de sinodalidade, presente nos Atos dos Apóstolos.
         A experiência do Sínodo para a Amazônia, mesmo revelando os limites humanos, os confrontos nos embates dos entendimentos, num percurso que continua a exigir de todos a condição de aprendizes, apontará novos caminhos para a Igreja e para homens e mulheres de boa vontade, no compromisso com a vida plena, em todas as suas etapas, da concepção ao declínio natural. Lição a ser aprendida sempre e praticada em todas as circunstâncias: escutar a Deus e uns aos outros. E o desafio: abrir-se a novos caminhos fiéis à verdade que não muda e ao inegociável dos princípios. Uma esperança: novos modos e dinâmicas no horizonte imutável dos valores do Evangelho de Jesus. Um dever: acolher com humildade, fecundando a unidade. Um convite: participação e compromisso missionário para que a Igreja cumpra sua tarefa de fazer de todos, discípulos e discípulas abertos ao novo que vem de Deus. Uma indicação aos que se fecham e se encapam como defensores da verdade, atacando e dividindo: a conversão. No mais, agradecer, celebrar e praticar as luzes novas que em si trazem, por ser fruto da escuta de Deus e uns dos outros, o amor que unicamente tudo pode. A hora é esta: acolher, pelas do papa Francisco, a verdade sobre o Sínodo para a Amazônia.”.
        
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas, civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 129 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a ainda estratosférica marca de 307,82% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial chegou em históricos 307,58%; e já o IPCA, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 2,89%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade    “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2019, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,422 trilhão (43,6%), a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 758,672 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
58 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2019)

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação ...  

Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...        

E P Í L O G O

CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO

“Oh! Deus, Criador, Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.


        

 




segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A CIDADANIA, A SUPERAÇÂO DA MEDIOCRIDADE E AS LIÇÕES DA CHINA

“Medíocres distraídos

Leio com tristeza sobre quanto países como Coreia do Sul e outros estimulam o ensino básico, conseguem excelência em professores e escolas, ótimas universidades, num crescimento real, aquele no qual tudo se fundamenta: a educação, a informação, a formação de cada um. Comparados a isso, parecemos treinar para ser medíocres. Como indivíduos, habitantes desde Brasil, estamos conscientes disso, e queremos – ou vivemos sem saber quase nada? Não vale, para um povo, a desculpa do menino levado que tem a resposta pronta: “Eu não sabia”, “Não foi por querer”. Pois, mesmo com a educação – isto é, a informação – tão fraquinha e atrasada, temos a imprensa para nos informar. A televisão não traz só telenovelas ou programas de auditório: documentários, reportagens, notícias, nos tornam mais gente; jornais não têm só coluna policial ou fofocas sobre celebridades, mas nos deixam a par e nos integram no que se passa no mundo, no país, na cidade.

Alienação é falta grave; omissão traz burrice, futilidade é um mal. Por omissos votamos errado ou nem votamos, por desinformados não conhecemos os nossos direitos, por fúteis não queremos lucidez, não sabemos da qualidade na escola do filho, da saúde de todo mundo, da segurança em nossas ruas. O real crescimento do país e o bem da população passam ao largo de nossos interesses. Certa vez escrevi um artigo que deu título a um livro: “Pensar é transgredir”. Inevitavelmente me perguntam: “Transgredir o quê?”. Transgredir a ordem da mediocridade, o deixa pra lá, o nem quero saber nem me conte, que nos dá a ilusão de sermos livres e leves como na beira do mar, pensamento flutuando, isso é que é vida. Será? Penso que não, porque todos, todos sem exceção, somos prejudicados pelo nosso próprio desinteresse.

Nosso país tem tamanhos problemas que não dá para fingir que está tudo bem, que somos os tais, que somos modelo para os bobos europeus e americanos, que aqui está tudo funcionando bem, e que até crescemos. Na realidade, estamos parados, continuamos burros, doentes, desamparados, ou muito menos burros e doentes e desamparados do que poderíamos estar. Já estivemos em situação pior? Claro que sim. Já tivemos escravidão, a mortalidade infantil era assustadora, os pobres sem assistência, nas ruas reinava a imundície, não havia atendimento algum aos necessitados (hoje há menos do que deveria, mas existe). Então, de certa forma, muita coisa melhorou. Mas poderíamos estar melhores, só que não parecemos interessados. Queremos, aceitamos, pão e circo, a Copa, a Olimpíada, a balada, o joguinho, o desconto, o prazo maior para nossas dívidas, o não saber de nada sério: a gente não que se incomodar. Ou pior: nós temos a sensação de que não adianta mesmo.

Mas na verdade temos medo de sair às ruas, nossas casas e edifícios têm porteiro, guarda, alarmes e medo. Nossas escolas são fraquíssimas, as universidades péssimas e o propósito parece ser o de que isso ainda piore. Pois, em lugar de estimularmos os professores e melhorarmos imensamente a qualidade de ensino de nossas crianças, baixamos o nível das universidades, forçando por vários recursos a entrada dos mais despreparados, que naturalmente vão sofrer ao cair na realidade. Ma a esses mais sem base, porque fizeram uma escola péssima ou ruim, dizem que terão tutores no curso superior para poder se equilibrar e participar com todos. Porque nós não lhes demos condições positivas de fazer uma boa escola, para que pudessem chegar ao ensino superior pela própria capacidade, queremos band-aids ineficientes para fingir que está tudo bem.

Não se deve baixar o nível em coisa alguma, mas elevar o nível em tudo. Todos, de qualquer origem, cor, nível cultural e econômico ou ambiente familiar, têm direito à excelência que não lhes oferecemos, num dos maiores enganos da nossa história. Não precisamos viver sob o melancólico império da mediocridade que parece fácil e inocente, mas trava nossas capacidades, abafa a lucidez, e nos deixa tão agradavelmente distraídos.”

(LYA FUFT, que é escritora, em artigo publicado na revista VEJA – edição 2298 – ano 45 –nº 49, de 5 de dezembro de 2012, página 26).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 12 de janeiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de JOÃO CAMILO PENNA, Engenheiro, ex-ministro de Indústria e Comércio, ex-presidente de Furnas e da Cemig, e que merece igualmente integral transcrição:

“Lições da China para competir

A China, grande e profunda, em 4 mil anos de história registrada, passou por invasões, fomes, humilhações e retomadas. Com bambus, os chineses vergam e voltam. Em 18 dos últimos 20 séculos, foi a maior economia do mundo, logo voltará a ser a primeira em PIB, mas não em poder. Hoje, é a segunda, com 12% do PIB e 20% da população mundial em território da grandeza dos EUA e nas mesma faixa de latitudes.

Não buscam os chineses colônias, contentam-se com comércio mundial e investimento externo. Seguem os ensinamentos de Aprendizado e harmonia, de Confúcio, e da constatação de que o poder baseia-se em recursos econômicos e científico-tecnológico. Crescem com visão milenar e esperança sem ânsia. Realizam trabalhos coletivos superando tempos de vida individual. O Partido Comunista pratica socialismo chinês, um quase capitalismo. Planejam ir de uma economia de baixos salários para uma de alta tecnologia.

Presente no Conselho de Segurança da ONU e na Organização Mundial do Comércio (OMC), a China tem o maior comércio, US$ 3 trilhões. Cresceu de 7% na indústria mundial em 2000 para 17% em 2011, enquanto o Brasil ficou parado em 1,7%.

São características da China: um governo autocrático; ampla mão de obra; escala de produção, inovação, ciência e tecnologia; atração de capitais estrangeiros; boa infraestrutura, grande crescimento, excesso de Estado, má distribuição de renda; desemprego, um filho por casal; corrupção, poluição. Desvaloriza a moeda em até 25%, atrai capitais, inclusive pela busca de salário baixo. Investiu fora US$ 250 bilhões e recebeu US$ 150 bilhões. Falta água. Investe muito com sua mão de obra na África, onde o Brasil emprega africanos e leva a Embrapa.

Em 2011, exportamos-lhe US$ 44 bilhões, 88% em minérios e produtos básicos; enquanto importamos US$ 30 bilhões, sendo 60% de manufaturados. O preço médio da exportação à China é de US$ 120/tonelada, e aos EUA é US$ 800/tonelada. Colonialismo chinês! A China investiu no Brasil cerca de US$ 49 bilhões.

São característica do Brasil: democracia, legislação não competitiva e sem atenção à ciência e tecnologia. Enquanto a China é unipartidária, tem legislação competitiva, inovação, desenvolvimento científico. A China crescia mais de 10% ao ano, hoje, entre 6% e 7%. O Brasil, de 1900 a 1980, teve um dos melhores crescimentos do mundo e a China vivia em revoluções. Em 1981 o Brasil entrar em baixo crescimento e a China acelerar. De 1994 a 2002, o Brasil crescia à média da América Latina, 2,3% ao ano. De 2003 a 2010, a 3,8% ao ano; a AL, a 4,8%. Em 2012, o Brasil a 1%, e a AL, a 3,2%.

O Brasil tem 8,550 mil km2, 195 milhões de habitantes, 1,6 engenheiros por 10 mil habitantes. PIB de US$ 2,5 trilhões. Tributos, 37% do PIB. Poupança, 18% do PIB, PIB per capita US$ 12.800, e 38 ministros, nomeados por indicações políticas. A China tem 9,6 mil km2, 1,33 bilhão de habitantes, 4,6 engenheiros por 10 mil habitantes. PIB de US$ 8,8 trilhões. Tributos representam 24% do PIB, a poupança é de 45% do PIB; e o PIB per capita, US$ 5.800. Tem 22 ministros, com cientistas e engenheiros. Frase do empresário Aguinaldo Diniz: “Queria ver preços de têxteis chineses, se produzidos no Brasil!”.

A China, com superávit em conta-corrente e reservas de US$ 3,2 trilhões, preocupa-se com o abismo fiscal dos EUA, que arrecada US$ 3 trilhões e gasta US$ 4,2 trilhões ao ano – déficit de 8% do PIB –, emite moeda e desvaloriza o dólar. A China investe reservas, compra ativos e commodities, agrega valor, exporta a baixo preço, sofre ações antidumping.

Indústrias daqui, sob impostos altos, moeda valorizada e o custo Brasil, ao competir com custos chineses e moeda desvalorizada, perdem mercado interno e em terceiros países, umas fecham ou vão para lá. Na China, a indústria de transformação atinge 40% do PIB. No Brasil, ela caiu, em tendência mundial, de 25% do PIB a 13% em 2011; a sua exportação caiu. Na expansão industrial entre 2011 e 2012, o Brasil é o 25% dos emergentes. Cabe ao governo desvalorizar o real, prestigiar a defesa comercial, reduzir a despesa pública e a tributação, com diminuição da pressão inflacionária; e prover mais infraestrutura. Cabe ao empresário a competitividade interna.

O governo chinês quer liderança, harmonia e poder brando. Espera-se que cuide do meio ambiente. Hoje, EUA e China, inebriados, apóiam-se mutuamente em um consumismo ameaçador. Já com grande reserva, a China volta ao mercado interno pobre. Investimentos caem de 48% do PIB para 34% em 2025, o consumo vai de 52% do PIB para 66%. Listou em 2012 produtos que poderá comprar aqui. Para competir no mundo, lembremo-nos de que o “conhecimento vem da práxis”. Dialoguemos e negociemos com a China e outros países, com o FMI e a OMC, sobre desvalorizações e distorções no comércio exterior. Façamos o que nos cabe para maior produtividade e a competitividade que dela deriva.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a) a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

b) o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

c) a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso da ordem de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas nesta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; infra-estrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos); educação; saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; moradia; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; ciência, tecnologia e inovação; pesquisa e desenvolvimento; agregação de valor às commodities; turismo; esporte, cultura e lazer; comunicações; minas e energia; sistema financeiro nacional; qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...