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sexta-feira, 25 de maio de 2018

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A LUZ DOS SONHOS NO ALTRUÍSMO E A HUMANIDADE NA QUALIFICAÇÃO DA SAÚDE INFANTOJUVENIL NA SUSTENTABILIDADE


“A vida de sonhos pode ser fator de 
equilíbrio energético do planeta
        É comum as pessoas dizerem que não têm tempo para dormir um certo número de horas por dia devido a afazeres mais sérios. Não percebem que o sono é uma parte da existência tão importante quanto as horas de desperto, pois, por intermédio dele, entramos em contato com vibrações mais elevadas, mudando para melhor a tônica da vida.
         A falta de concentração na vida de vigília é causada quase sempre por uma noite maldormida e mal-organizada, em que não seguimos o ritmo cósmico básico. Mas qual é o ritmo da noite? Para ajudar as pessoas a mergulharem no sono profundo – aquele que nos conduz ao mundo dos sonhos – mais facilmente, faremos algumas observações sobre o ritmo cósmico, permitindo decisões mais conscientes com relação ao adormecer.
         O crepúsculo representa um momento de relaxamento geral, que corresponde ao período em que começamos a nos entregar à necessária soltura. Nesta fase do dia, seria bom irmos diminuindo o ritmo das tarefas diárias. Até as 22h30 ainda não é noite, mas sim um período intermediário. A noite profunda vai das 22h30 até as 2h30 da madrugada. Na noite profunda estão presentes energias que nos conduzem à atividade interna, à reunião das forças no centro da consciência. Considerando este fato, se for possível estarmos adormecidos no período que compreende a noite profunda, estaremos mais harmonizados com as circunstâncias energéticas desse período, facilitando não apenas o sono profundo como a vivência correta de todas as etapas do sono.
         Uma recusa, ainda que inconsciente, em querer saber a verdade sobre nós mesmos, pode impedir-nos de tomar consciência da vida onírica, em que nos vemos exatamente como somos.
         Alguns fatores aparentemente independentes da vida onírica são determinantes para termos acesso ao conteúdo dos sonhos. Usar de candura com os demais seres viventes é um exemplo disso: este é um dos pontos-chave para tornarmo-nos conscientes dos sonhos. Ao contrário, a tendência a um olhar crítico carrega a mente de tensões que a enrijecem, afetando sua sensibilidade e dificultando a compreensão dos símbolos.
         Para termos acesso aos códigos contidos na simbologia dos sonhos é necessária a simplicidade de coração, que surge quando mantemos nossa consciência com o foco na alma, lembrando dela com frequência durante o dia. Com a prática ativa de manter a alma em foco, afastamos o orgulho e a vaidade e nos transformamos em pessoas mais simples e humildes.
         A generosidade é uma qualidade cujo desenvolvimento é de sua importância para que a vida interior expressa através de sonhos se torne útil e acessível à consciência. Ela nos coliga a níveis de consciência elevados e dissolve o egocentrismo, que é um dos maiores obstáculos à clareza de visão diante dos símbolos oníricos. Quem assume uma atitude egocêntrica, só pensando em si mesmo e em seus interesses pessoais, distancia-se do mundo superior. Este mundo está dentro de cada um de nós, bastando abrirmo-nos para ele para o percebermos.
         Condição fundamental para que a vida de sonhos seja equilibrada e sadia é termos clara a importância do serviço altruísta – indispensável para o equilíbrio das novas energias que estão permeando hoje o planeta Terra – e nos ofertarmos a servir.”.

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 20 de maio de 2018, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de maio de 2018, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de ZIYAD ABDEL HADI, psiquiatra e diretor clínico da Clínica Maia (especializada em saúde mental e dependência química) e médico da Maia Jovens, unidade especializada em crianças e adolescentes, e que merece igualmente integral transcrição:

“Geração em risco
        Exigências familiares, somadas a um mundo cada vez mais competitivo, consumista, em detrimento de uma valorização do ser, de seus conteúdos humanos e emocionais, têm contribuído para que os jovens se tornem mais pressionados e ressentidos. Esses jovens se sentem derrotados, caso não alcancem o padrão estabelecido pela sociedade.
         O sociólogo Zygmunt Bauman dizia que, na nossa época, o único produto perene é o lixo, pois os produtos já se tornam obsoletos, envelhecidos, no exato momento em que são fabricados. Necessitamos sempre do mais recente modelo de celular, do último automóvel lançado, das novas roupas que acabaram de chegar às vitrines. As crianças são doutrinadas pela babá eletrônica que fez doutorado em vendas na Universidade de Harvard, isto é, os comerciais de televisão.
         É curioso lembrar que há muito tempo estabeleceu-se o período de 50 minutos para uma aula na escola, tempo máximo em que um indivíduo era capaz de se manter concentrado. Hoje, desenhos animados têm duração de cinco minutos, pois a capacidade de concentração caiu para essa faixa de tempo. Desenhos animados, comerciais, desenhos animados, comerciais. Estaria a arte de tocar piano, destinada a desaparecer de nosso tempo? Quantos anos são necessários, quanta persistência requer para tocar um instrumento?
         A repercussão das recentes notícias sobre casos de suicídios entre alunos de escolas de elite, em São Paulo, deixaram alertas pais, professores e instituições de ensino sobre um problema que tem aumentado no país. Em pesquisa do Ministério Público em 2017, o suicídio foi apontado como a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Para reverter o quadro, é preciso atuar preventivamente desde a infância. Uma possível saída é fortalecer a resiliência de nossos filhos em idades precoces, estando presente, dando afeto, estabelecendo limites, escutando suas angústias, estimulando o diálogo.
         Hoje, presenciamos o mundo digital invadindo precocemente a vida das crianças. Se em um restaurante, por exemplo, a criança começa a chorar, os pais entregam imediatamente um celular nas mãos para que ela se distraia e, finalmente, o silêncio impera e eles podem fazer a refeição, tranquilamente. Assim, nasce uma geração menos tolerante ao tédio, à frustração. Uma geração mais imediatista, com tendência a valorizar o menor esforço.
         A adolescência em si já é uma crise, uma fase de transição entre alguém que não deixou de ser totalmente criança, mas que ainda não é um adulto. Um conflito entre a dependência dos pais e a autonomia. Na verdade, o cérebro do adolescente ainda não está pronto para a vida. O córtex pré-frontal, estrutura nobre do cérebro, amadurece por volta dos 21 anos e é o responsável pela capacidade de julgamento, previsão de riscos, controle dos impulsos. Por este motivo, é preciso que os pais “emprestem seus cérebros” aos filhos, por meio do diálogo, estabelecendo sempre um canal aberto de comunicação e de confiança. Quanto mais se treinar o diálogo desde os anos iniciais da educação (ao redor dos 7 anos), menos trabalhoso será orientar os filhos no futuro. Quanto mais investimento pais e escola fizerem no desenvolvimento emocional dessa criança que está crescendo, menos turbulenta será essa fase.
         É importante dizer que há alguns fatores de riscos ao suicídio que podemos identificar e aos quais devemos ficar atentos: alteração de comportamento; perda de interesse; baixo rendimento escolar; isolamento social; baixa autoestima; bullying; uso de álcool, maconha e outras drogas; histórico de suicídio na família e pais com doença mental. É bom destacar, aqui, também dois mitos muito ouvidos em conversa quando alguém tenta ou tira a própria a vida: “Quem deseja se suicidar não avisa”. Não é verdade, pois muitos suicidas comunicam o desejo antes de cometer o ato e “conversar sobre suicídio pode levar o adolescente ao ato”. É muito importante, sim, conversar abertamente sobre o assunto, demonstrando interesse e preocupação com o jovem.
         Fora do núcleo familiar, a escola é o local onde os jovens passam a maior parte de suas vidas, por isso é tão importante a parceria entre famílias e escola para apoiar o adolescente em seu desenvolvimento saudável, procurando identificar fatores de risco e, sobretudo, estimular o desenvolvimento de novos repertórios intelectuais e emocionais.
         A maior parte dos adolescentes que tentam ou cometem suicídio apresentam associação com outras doenças mentais, por isso é necessária a avaliação psiquiátrica e psicológica. Família, escola e profissionais de saúde devem estar alinhados na promoção da saúde do adolescente, reduzindo os fatores de risco e fortalecendo os fatores de proteção ao suicídio.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 128 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em fevereiro a ainda estratosférica marca de 333,9% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial em históricos 324,1%; e já o IPCA, também no acumulado dos últimos doze meses, em abril, chegou a 2,76%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade    “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2018, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,847 trilhão (52,4%), a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,106 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
56 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2017)

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...  

Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...      

E P Í L O G O

CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO

“Oh! Deus, Criador e Legislador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios,
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.




  

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A BUSCA DA ESSÊNCIA DA POLÍTICA E AS INADIÁVEIS TRANSFORMAÇÕES DA SOCIEDADE NA SUSTENTABILIDADE

“Monetização da política
        Entre as ciências sociais, a economia foi a que fez os maiores avanços analíticos no desenvolvimento de teorias para descrever o comportamento humano, valendo-se do conceito de utilidade para explicar as escolhas. Em seus conceitos esteticamente elegantes e matematicamente precisos, a economia é capaz de explicar como um agente toma decisões na compra de um entre vários bens heterogêneos. Dada sua restrição orçamentária, a escolha será a que maximizará sua utilidade, ou, em linguagem comum, a que dará a ele maior satisfação ao consumir.
         Outros economistas foram além, utilizando o mesmo modelo na análise do comportamento das pessoas em decisões que não ocorrem no âmbito do mercado de produto ou de serviços. Gary Becker (1930-2014), Prêmio Nobel de Economia, estendeu o uso do aparato da análise  microeconômica para processos de decisão nas relações sociais, como a escolha de ter um filho, a decisão de cometer um crime, ou em casos de discriminação racial.
         James Buchanan Jr. (1919-2013), outro Prêmio Nobel de Economia, aplicou os modelos da teoria microeconômica às escolhas públicas, reconhecendo que o político é um ser humano comum e, como tal, está sempre buscando satisfazer seus interesses pessoais.
         Em todos esses desenvolvimentos analíticos há em comum a ideia de que valores éticos não são relevantes nos processos decisórios.
         Pois bem, ponha-se você na situação de um presidente de um pequeno partido político aqui, no Brasil, que nas eleições majoritárias, sem viabilidade eleitoral para lançar um candidato à Presidência, está diante da decisão de coligar com outro partido. Sua opção A seria apoiar um candidato cujo programa de governo se alinha às convicções e às propostas aprovadas na convenção de seu próprio partido. Sua opção B seria apoiar candidato de outro partido, cujo programa de governo é muito semelhante  ao anterior, mas que adicionalmente lhe oferece uma valiosa quantia em dinheiro para compensar o preço do tempo de televisão que seu partido cederia para a coligação que se formaria. Esse pagamento seria importante para financiar a campanha dos candidatos a deputado.
         Há um pequeno problema. Como a legislação não permite esse tipo de transação, você receberia a quantia acordada em espécie ou em conta bancária no exterior.
         Enfim, os dois programas são semelhantes e estão alinhados com os ideais de seu partido. Qual decisão seria a mais certa? Por que não aceitar o pagamento, se há alinhamento nos programas?
         Michael Sendel, professor da Universidade de Harvard, tem criticado a pura transferência da lógica do mecanismo de preços, que deve ficar restrita ao âmbito do mercado, para as outras esferas da vida social e política. Segundo ele, a monetização das relações sociais e políticas abandona a moralidade ao desconhecer que são os valores éticos que dão equilíbrio e estabilidade à sociedade. A monetização da política desconhece a moral e a ética e destrói a democracia.”.

(Paulo Paiva. Professor associado da Fundação Dom Cabral, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de agosto de 2017, caderno O.PINIÃO, página 19).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de agosto de 2017, caderno OPINIÃO, página 7), de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, e que merece igualmente integral transcrição:

“Abrir mão e abrir a mão
        O alcance simbólico destas duas expressões populares – “abrir mão” e “abrir a mão” – evidencia especial desafio para boa parte das pessoas, considerando que o exercício da solidariedade é necessário para a construção de um mundo melhor. Do mesmo modo que é grande a resistência para se “abrir mão” de privilégios, ganhos, comodidades, não é menor a dificuldades para se “abrir a mão”, em um gesto sincero de doação. Nesses casos, há um travamento que parece insuperável. E quase sempre, quando é proposto um gesto que signifique “abrir mão”, é o forte que impõe o sacrifício ao fraco, o rico ao pobre, o político às camadas populares, ou seja: a “justiça” é praticada em favor dos que dominam e os prejuízos socializados entre os indefesos e inocentes.
         A atitude de não querer “abrir mão” contribui decisivamente para que várias instituições afundem, como uma barca em naufrágio, sem que seus ocupantes percebem o perigo. Poucos aceitariam mudanças na situação em que se encontram para promover o bem coletivo, quando isso significa deixar de receber privilégios. Nesses casos, a resposta é imediata e negativa. Por isso, é preciso verificar e reavaliar o tecido cultural que está subjacente nos processos a que as instituições foram submetidas ao longo de anos. Na quase totalidade dos casos, a irresponsabilidade e os interesses cartoriais configuram funcionamentos e procedimentos que geram prejuízos, impedindo avanços e o enfrentamento das crises.
         Percebe-se, assim, que a revisão de direitos sociais conquistados pode não ser o caminho indicado para as reformas, tanto as de incidência mais abrangente, nas dinâmicas sociais, quanto as que devem ser promovidas nas instituições de ensino, empresariais, de serviços e religiosas. Mas, o que se deve buscar é o desapego a partir de nova dinâmica cultural capaz de nortear as instituições e os segmentos da sociedade brasileira, comprometida nas dimensões político, social e moral. Basta observar o que ocorrer nas altas esferas dos três poderes, desorientando os rumos do país.
         São alarmantes, por exemplo, as cifras destinadas à manutenção das instâncias do poder na capital federal, nos demais estados e municípios brasileiros. Um tipo de burocracia que trava o desenvolvimento da sociedade. As direções escolhidas são suicidas ou impõem processos que produzem a morte lenta e perversa de pessoas, de segmentos sociais e das instituições que precisam de força para cumprir com suas responsabilidades. Dificuldades que se sustentam em uma triste realidade: poucos aceitam “abrir mão”.
         Essa incapacidade de “abrir mão” se agrava ainda mais pela mediocridade de posturas, pelos resultados pífios nos desempenhos, e pela voracidade de ter e querer sempre mais. Desse modo, ocorre verdadeira cristalização das percepções. Consequentemente, perde-se a indispensável capacidade para se readaptar a uma vida mais simples, sem privilégios, preguiças ou justificativas, com o engajamento para produzir e fazer mais em benefício de todos. A raiz de todo esse mal tem origem em uma cultura tecida pelo interesse mesquinho e distante do sentido da solidariedade, empurrando a cidadania a ficar de costas para o que realmente poderia salvar instituições, preservar e ampliar postos de trabalho e, sobretudo, permitir o cumprimento da missão própria de cada uma delas.
         A mesquinhez obscurece a razão humana e, consequentemente, em situações de dificuldade, como a que se vive neste tempo, não são encontradas soluções inteligentes, exequíveis, para os muitos problemas. Sem novas respostas, as pessoas permanecem reféns de seus propósitos tacanhos e pessoais, do consumismo e da ambição desmedida. Um comportamento que revela e comprova a superficialidade dos atuais estilos de vida.
         Muitos se escoram nas organizações, amparados por culturas que resultam em altos passivos, impedindo as instituições de sobreviver. Não conseguem perceber – a exemplo do que a ocorreu com os habitantes de Sodoma e Gomorra – que estão a caminho do fracasso e da desolação e que só têm uma saída: disporem-se, altruisticamente, a encontrar razões para “abrir mão”. Buscar vivenciar a generosidade e as readequações, sob pena de, paralisados, esperarem cair sobre suas cabeças as pesadas pedras produzidas pela própria mesquinhez.
         Irresponsabilidades de diversas pessoas que exercem a representação política, de agentes que deveriam se dedicar à justiça, seduzidos pelo poder e pela facilidade de usufruir do erário, criam a gigantesca onda de corrupção. Na raiz desse mal está a incapacidade para o gesto solidário de “abrir a mão”. O mais pobre que “abre a mão”, mesmo possuindo pouco, deve ser exemplo e referência da solidariedade. Um contraponto aos que muito possuem, mas fecham a mão, com medo de perder o que têm. Quanto mais fecham a mão, mais aumentam as grades da jaula em que estão. Esbanjam seus bens e usufruem de privilégios, mas vivem sem o gosto da liberdade.
         Há um longo e exigente caminho de aprendizagem para transformar a sociedade brasileira, constituindo um cultura exemplar que contemple a solidariedade, o desenvolvimento integral, a convivência fraterna e civilizada. Sem trilhá-lo, tornarão mais graves as estatísticas da violência e as perdas, inscrevendo o país nos mesmo parâmetros dos muitos focos destruidores e homicidas das guerras. O único caminho possível é aprender, em casa, para influenciar globalmente, o valor de se “abrir a mão” e a urgente necessidade de saber “abrir mão”.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em julho/2017 a ainda estratosférica marca de 399,05% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 321,30%; e já o IPCA também no acumulado dos últimos doze meses chegou a 2,71%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 946,4 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

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sexta-feira, 4 de abril de 2014

A CIDADANIA, A TRAVESSIA DO PÓS-DITADURA E A UNIVERSIDADE DO FUTURO

“Brasil pós-ditadura
        
         Faz 50 anos que o golpe militar, respaldado pela Casa Branca, implantou uma ditadura no Brasil. E 29 que os generais voltaram às casernas. E agora, José, vivemos uma verdadeira democracia?
         Devagar com o andor, pois o santo é de barro. Cracia, sim; mas demo... Os generais deixaram o poder. Não de ter poder. Falam grosso nos quartéis e ainda têm a petulância de batizar turmas de formandos de Agulhas Negras com o nome de “Emílio Garrastazu Médici”, o mais sanguinário de todos os ditadores.
         Comissões da Verdade trabalham arduamente para apurar os crimes da ditadura. Como não são também da Justiça, atuam manietadas. Não têm poder nem projeto de punir ninguém. “Homem mau dorme bem”, intitula-se um filme de Akira Kurosawa. O que dá às Forças Armadas a prerrogativa de não prestar satisfações à nação e manter sob sigilo os arquivos do regime militar, como fazem os documentos da Guerra do Paraguai. Mas ninguém escapa de prestar contas à história.
         Passadas quase três décadas do fim da ditadura, o Brasil nem sacudiu a poeira nem deu a volta por cima. Quem é hoje a figura majestática do PMDB, o maior partido do Brasil e principal aliado do governo petista? José Sarney. Quem era o presidente da Arena, partido de respaldo à ditadura e aos crimes por ela cometidos? José Sarney.
         Nossas estruturas ainda conservam fortes resquícios dos 21 anos (1964-1985) de atrocidades. Em especial na política, que mantém o mesmo número de senadores por estado, malgrado a desproporção populacional, e aprova o financiamento de campanhas eleitorais por empreiteiras, bancos e empresas. Sei que nem tudo é como dantes – temos pluripartidarismo e a Constituição de 1988 – mas ainda trafegamos à sombra do quartel de Abrantes.
         Houve mudanças! O impossível aconteceu: Lula eleito presidente e o PT há 11 anos no poder. Lá chegou graças aos movimentos sociais que minaram os alicerces da ditadura. Como já disse, o poder, a cracia, ganhou novos protagonistas. Porém, a demo... o povo, ficou de fora!
         Nossa democracia ainda é predominantemente delegativa (delega-se, pelo voto, poder ao eleito), tendenciosamente representativa (vide os lobbies do agronegócio e dos grandes meios de comunicação); e nada participativa.
         A social-democracia chegou ao Brasil, paradoxalmente, pelas mãos do PT, e não do PSDB. A pobreza extrema sofreu significativa redução; a escolaridade ampliou-se; a saúde socorreu-se na importação de médicos estrangeiros. No Nordeste, trocou-se o jegue pela moto. A inflação ficou sob controle; o salário mínimo teve crescimento expressivo; a linha branca, desonerada e facilitada pelo crédito, encheu os domicílios populares de geladeiras, fogões e máquinas de lavar.
         Quem nunca comeu melado... Cadê os benefícios sociais? Transporte coletivo precário e congestionado; saúde pública infeccionada por falta de recursos; educação sem qualidade; segurança despreparada e insuficiente.
         Em 11 anos de governo petista, nenhuma reforma de estruturas. Nem a agrária, nem a política, nem a tributária. Como fazia a ditadura,os megaprojetos atropelam as exigências ambientais (transposição do São Francisco; hidrelétricas como Belo Monte; Copa), enquanto a Amazônia perde o fôlego asfixiada por lavouras movidas a agrotóxicos e ampliação dos pastos abertos a serra elétrica.
         Eis que, de repente, o Brasil se dá conta de que não está deitado em berço esplêndido. E o gigante adormecido acorda nas manifestações de rua!
         Se os 11 anos de governo petista promoveram considerável inclusão econômica, falta propiciar a participação política. Ao contrário, temos um governo despolitizante, que acredita que só de pão vive o homem. Nada de estranho que haja arruaças em manifestações. Ainda somos o país do futuro. O presente requer um novo projeto Brasil.”

(FREI BETTO. Escritor, autor de Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de entrevista publicada na revista VEJA, edição 2367 – ano 47 – nº 14, de 2 de abril de 2014, páginas 17 a 21, concedida por STEPHEN KOSSLYN,  à repórter HELENA BORGES, e que merece igualmente integral transcrição:

“A universidade do futuro

O neurocientista americano Stephen Kosslyn, 66 anos, estava com a vida feita. Um dos maiores pesquisadores do mundo em ciência cognitiva – área do conhecimento que combina psicologia, neurociência e sistemas de computação para entender como o cérebro processa informações –, Kosslyn era disputado por instituições de alto nível, como Harvard, onde fez prodigiosa carreira acadêmica durante mais de três décadas. Pois no início do ano passado ele jogou tudo para o alto e aceitou ser reitor de um dos mais ambiciosos projetos de educação na internet: o Minerva, universidade 100% on-line pensada por uma turma egressa do Vale do Silício e financiada pelos mesmos investidores do Twitter e do eBay. A proposta é oferecer ensino de excelência comparado ao das instituições americanas da elite acadêmica. “Pude me afastar, olhar tudo de um novo ângulo e pensar em um modelo de educação superior que seja adequado ao século XXI e que aproveite a revolução feita pela internet”, avalia Kosslyn, que falou a VEJA de seu escritório em São Francisco, na Califórnia.

Sua área de estudo enxerga o cérebro como um músculo que pode ficar mais forte se corretamente exercitado. Não é exagero? Não. A inteligência humana pode ser dramaticamente ampliada. Uma frente fundamental de pesquisas na área da neurociência cognitiva trata justamente de encontrar caminhos para exercitar os, digamos, músculos mentais. Para solucionar uma equação são ativadas diferentes combinações dos sistemas neurais presentes no cérebro humano. Esses sistemas podem ser treinados e sua capacidade, ampliada, da mesma forma que os tríceps de um atleta nas barras paralelas.

Como seria uma sala de ginástica para o cérebro? Até alguns videogames podem ser utilizados. Um exemplo é o Tetris, um clássico, que pode ajudar a potencializar a noção espacial. A mente é exercitada também pelos games que dividem a atenção do jogador entre objetos diferentes, os que exigem a memorização de sequências e aqueles que requerem a absorção gradativa de mais e mais informação. Com a ajuda deles, conseguimos em laboratório estimular sistemas neurais específicos. Os games e, de modo geral, toda atividade interativa têm efeito positivo sobre a inteligência. As pesquisas mostram que o cérebro de uma pessoa pode servir de extensão para o de outra, e vice-versa. Já se sabe que os estímulos mútuos em ambientes sociais são o combustível para a expansão da inteligência. Outro poderoso indutor da inteligência é a interação do cérebro com aparelhos digitais. À medida que a linha de informações no cérebro e nos dispositivos eletrônicos vai ficando mais tênue, mais sutil, a capacidade mental aumenta.

As escolas superiores já se valem dessas descobertas em classe? De modo geral, o ensino continua muito atrelado a técnicas convencionais ultrapassadas, mas a ciência do raciocínio em breve vai fazer uma revolução nessa área.

Poderia dar um exemplo? Muito se fala que, no aprendizado, quanto mais a pessoa pensa sobre alguma coisa, mais se lembra dela, mas pouco se faz para que pensar se torne a regra na sala de aula. Nós conduzimos pesquisas para comprovar cientificamente esse fato. Uma delas, simples mas esclarecedora, envolveu três grupos aos quais foram apresentadas frases que descreviam cenas triviais. Um grupo foi instruído a ficar repetindo as frases para gravá-las. Outro foi orientado a fechar os olhos e tentar visualizar as imagens. Ao terceiro foi pedido que visualizasse cada cena uma vez, rapidamente, e que desse uma nota de quão viva a imagem lhe apareceu, sem se preocupar em gravá-la. Os participantes foram convocados minutos depois a reproduzir as frases, e a memorização dos que tentaram absorvê-las por repetição foi metade da dos outros dois grupos – que, por sua vez, apresentaram desempenho semelhante. Isso reforça a ideia de que não é repetindo teoremas e fórmulas que os alunos vão se lembrar dos ensinamentos, mas sim discutindo e construindo um pensamento crítico sobre o que aprendem. A partir daí, desenvolvemos cursos muito mais interessantes e participativos.

Como se explica, em termos cognitivos, o fato de refletir ser mais eficiente do que repetir? Quanto mais a pessoa refletir sobre algum assunto, quanto mais profundamente ela processar uma informação, mais fácil será lembrar-se dela, porque a reflexão vai desencadear associações mentais entre aquele assunto e o que já está armazenado na memória. Ao ser convocado a reproduzir essa informação, o cérebro usará tais associações para chegar ao local onde ela está armazenada. Por outro lado, repetir uma frase ou uma fórmula diversas não cria conexões com coisas já gravadas na memória, e portanto o cérebro vai ter mais dificuldade para encontrar a frase ou fórmula no seu banco de dados quando isso lhe for solicitado.

Onde o professor entra nisso? Ele não se ver mais apenas como um transmissor de conhecimento. É claro que continua a ter de dominar sua expertise, mas precisa dar uma aula diferente, de aprendizado ativo, envolvendo os alunos. Isso requer treinamento contínuo e muita habilidade interpessoal. As aulas tradicionais são expositivas, o que é uma ótima estratégia para ensinar, porque em pouco tempo o professor alcança vários ouvintes simultaneamente, mas é uma maneira horrível de aprender, porque o aluno se perde com facilidade, sem exercitar sua capacidade de abstração. Enfim, um professor com os olhos para o futuro tem de criar desafios acadêmicos à altura da complexidade do mundo de hoje, motivando o aluno a analisar e a aplicar o que ele aprendeu.

Por que a maioria das escolas ainda está aferrada a um modelo antiquado de sala de aula? Parte desse conservadorismo se deve ao conforto que ele traz; os professores ensinam da maneira a que estão acostumados, como foram treinados, sem avançar um milímetro. Eles não veem motivos para mudar. As universidades, por sua vez, que tanto celebram os progressos na pesquisa, não têm a tradição de valorizar inovações na didática, o que desmotiva a aplicação de métodos mais modernos.

A tecnologia ainda vai revolucionar o ensino? Ela será a chave de tudo. Logo, logo, a maior parte do conhecimento vai ser gratuita. Tudo o quea pessoa quiser conhecer ou aprender estará disponível nas escolas a distância. Essa evolução tecnológica vai resultar em uma mudança significativa no papel das universidades: em vez de só transmitirem o conhecimento, caberá a elas ensinar a raciocinar, a dominar esse conhecimento e a colocá-lo em uso na prática. Esse processo deve ser interpretado de modo amplo, não apenas no sentido de formar um bom profissional, mas também a se tornar uma pessoa que possa aproveitar plenamente a vida – apreciar as artes e a música, ser capaz de enxergar os dois lados de uma questão. O cidadão do futuro, parte desta geração que está agora nos bancos escolares, é aquele que os políticos não conseguem passar para trás, porque conhece a política e é capaz de fiscalizar as ações do candidato em quem votou.

Nesse universo, o ensino on-line vai prevalecer sobre as escolas físicas? Sem dúvida. Vejo o agrupamento de estudantes em um campus como algo cada vez menos importante. As pessoas continuarão a se encontrar para estudar, e isso é bom principalmente para os mais jovens, que precisam interagir, mas os grupos serão menores. O Número de Dunbar, criado pelo antropólogo inglês Robin Dunbar, definiu que, para que todo mundo se conheça dentro de um grupo, ele não pode ter mais que 150 integrantes. Esse é o tamanho ideal para haver socialização efetiva, fazer amigos e criar laços afetivos.

Como o acesso ao ensino gratuito é encarado pelas universidades da elite acadêmica? No século XVIII, as universidades selecionavam as obras que a pessoa tinha de ler para ser considerada educada. Já a universidade voltada para o futuro não é fundamentada em livros, mas em ferramentas cognitivas. Ela dá aos alunos a bagagem intelectual para que consigam se adaptar a qualquer cargo, criar e ter sucesso pelo resto da vida. As escolas de elite americanas, integrantes do grupo conhecido como Ivy League, não se sentem ameaçadas pela internet porque continuam imprescindíveis em outro papel: o de formadores de redes de contatos. Mesmo hoje, as pessoas vão para Harvard, Yale e Stanford, em parte, por causa dos colegas interessantes e das redes de contatos que estabelecem. Esse cenário não vai mudar – só vai ficar mais concorrido e mais elitista. Já as universidades de má qualidade, freqüentadas apenas para obter um diploma, essas vão acabar, até porque o diploma universitário formal está perdendo valor. Ele já não é garantia absoluta de um bom emprego. Também desvaloriza o tradicional canudo o exemplo dos jovens que alcançam sucesso no mundo digital sem ter feito faculdade alguma.

Várias de suas pesquisas tratam da imaginação. Que papel ela tem no cérebro? A visualização mental de imagens de forma espontânea, ou seja, sem estímulos físicos, é importante para desenvolver tanto a memória quanto a noção espacial. Ela também ajuda na compreensão linguística  e no desenvolvimento de habilidades motoras – assistir a um vídeo de si mesmo em ação contribui para o atleta imaginar maneiras de melhorar o desempenho na sua atividade. É essencial ainda no entendimento de símbolos, como comprovam os muitos matemáticos e físicos de imaginação fértil, incluindo Albert  Einstein. A imaginação se coloca nos limites entre percepção, memória, raciocínio e emoções. Estudando-a, poderemos compreender as diferenças e os pontos em comum entre essas áreas.

Como se avalia a capacidade imaginativa de uma pessoa? O estudo dessa questão começou a se desenvolver com o surgimento de testes cognitivos mais modernos e deu um enorme salto com as novas técnicas de escaneamento cerebral. Mas ainda há um imenso potencial a ser explorado nesse universo relativamente pouco conhecido. Na medicina e na psiquiatria, a compreensão da base neural na imaginação não só vai ajudar a elucidar questões fundamentais do cérebro, como também poderá lançar uma luz sobre os déficits mentais que acompanham doenças cerebrais. Na educação, pode aprimorar as aplicações práticas da imaginação no ensino escolar.

Em que o aluno formado as diretrizes da ciência cognitiva será diferente dos outros? Ele saberá analisar problemas e situações com isenção e espírito crítico e passará a vida inteira aprendendo. No Projeto Minerva, nossa universidade on-line recém-inaugurada, partimos da seguinte premissa: o que os alunos vão fazer depois de formados? Isso leva a todo o resto. Queremos formar líderes globais, que gerem inovação, que tenham mente aberta para continuar ampliando seus horizontes intelectuais, que saibam se adaptar a um mercado volátil e que sejam cidadãos do mundo. Para formatar nossos cursos, passei meses entrevistando líderes no Vale do Silício, no mercado financeiro e no mundo empresarial. Assim pude traçar um retrato tanto no plano prático quanto no psicológico, das características que os levaram a chegar aonde chegaram. É esse o tipo de ensinamento que as instituições de ensino devem absorver para conseguir oferecer uma educação verdadeiramente integrada no século XXI.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, 45 bilhões de reais são gastos anualmente com contadores, advogados e toda a estrutura para lidar com a burocracia, segundo estudo da Fiesp...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...