“No
caminho da vida é preciso aprender a amar o laborioso
Em nosso caminho
ascendente é preciso aprender a amar o laborioso, amar o que exige adaptações e
transformações. Não se trata apenas de aceitar o que destino traz, mas de
verdadeiramente amar as provas da vida. Quando se chega a amar a dificuldade,
recebe-se um toque do espírito. E isso é o que dá segurança para viver a vida
tal qual é, sem jamais retroceder. O elevado toque do espírito cancela toda
possibilidade de fuga e liberta a alma que decide não abandonar o labor.
O
prazer que se tem por coisas materiais obscurece o entendimento das coisas do
espírito. Para que a personalidade possa colaborar com a alma, deve assumir um
trabalho ativo de purificação dos sentidos materiais, da memória, da imaginação
e da vontade.
Para a
purificação dos sentidos materiais precisamos:
1-Não se inclinar ao
mais fácil nem fugir do trabalhoso. Não buscar o saboroso, mas reconhecer no
insípido um campo de treinamento da adaptabilidade. 2-Não alimentar a inércia.
Buscar o equilíbrio entre dar o necessário repouso ao corpo e não procurar
sempre por descanso. 3-Não almejar consolo nem compensações, pois ajudas vêm
por si, no momento certo, enviadas pelo espírito. 4-Nada acumular em
quantidade, nem observar em tudo a qualidade – e nisso incluem-se as
companhias.
Para a purificação da
memória e da imaginação:
1-Saber em que momentos
é necessário cuidar das coisas da vida externa e em que momentos se deve
esquecer delas. Discernir que conhecimento deve ser absorvido pelo próprio ser,
tendo em conta que assuntos alheios ocupam o lugar de coisas mais profundas.
Para a purificação da
vontade:
1-Perder o interesse
por tudo o que leva à desunião. Dirigir a vontade para o mundo espiritual. Se
for dirigida erroneamente apenas para coisas externas, a pessoa pode tornar-se
presunçosa e soberba, vulnerável a elogios e adulações o que é um descaminho.
2-Não se distrair com a mente nem permitir que criaturas a povoem, pois isso
tira a atenção do essencial.
O espírito nos envia
continuamente ajuda para essa purificação. Leva a nossa personalidade à
incerteza pelo resultado dos trabalhos que realiza. Isso é saudável, pois a
torna humilde e pronta a invocar a ajuda do mundo inteiro.
Todo verdadeiro instrutor
espiritual indica a necessidade de não abandonarmos as provas da vida, de
amá-las e de trabalharmos com empenho para permanecer neutros diante delas.
Assim, essas ajudas chegam e transformam a nossa vida. Seguindo esse mesmo
caminho ascendente, lembramos que, para conhecer a realidade interior, temos de
nada pretender. Nesse caminho não podemos saltar etapas, pois cada uma tem sua
nota característica e prova básica. Temos de atravessá-las uma a uma e ir
adiante, com inabalável fé e perseverança.
É fundamental abrir mão
de todas as expectativas. O caminho requer total despojamento interior. Devemos
aprender a conviver unicamente com a Lei de Deus e segui-la em todos os passos.
O valor da solidão será assim reconhecido, e o uso correto do tempo advirá do
correto falar e do correto ouvir.
O contato com a nossa realidade interior é um bálsamo
supremo, eleva-nos às alturas. Cura nossas dores; traz-nos a certeza da
impermanência; mostra-nos o verdadeiro valor de cada situação e, encontro após
encontro, faz-nos descobrir a essência secreta de todas as coisas.”
(TRIGUEIRINHO.
Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 15 de junho de 2014, caderno O.PINIÃO, página 18).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de junho
de 2014, caderno OPINIÃO, página 7,
de autoria de FREI BETTO, escritor,
autor, em parceria com Leonardo Boff, de Mística
e espiritualidade (Vozes), entre outros livros, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Sinfonia
de corpos
Na festa do Corpo de
Cristo, deixarei o meu flutuar em alturas abissais. Acariciarei uma por uma
minhas rugas, desvelarei histórias em meus cabelos brancos, apreenderei, na
ponta dos dedos, meu perfil interior. Não recorrerei ao bisturi das falsas
impressões. Nem ao espectro da magreza anoréxica. O tempo prosseguirá
massageando meus músculos até torná-los flácidos como as delicadezas do
espírito.
Suspenderei
todas as flexões, exceto as que aprendo na academia dos místicos. Beberei do
próprio poço e abrirei o coração para o anjo da faxina atirar, pela janela da
compaixão, iras, invejas e amarguras. Pisarei sem sapatos o calor da terra
viva. Bailarino ambiental, dançarei abraçado à Gaia ao som ardente de canções
primevas. Dela receberei o pão; a ela darei a paz.
Acesas as estrelas,
contemplarei na penumbra do mistério esse corpo glorioso que nos funde, eu e
Gaia, em um único sacramento divino. Seu trigo brotará como alimento para todas
as bocas, e suas uvas farão correr rios inebriantes de saciedade. Na mesa
cósmica, ofertarei as primícias de meus sonhos. De mãos vazias, acolherei o
corpo do Senhor no cálice de minhas carências.
Dobrarei os joelhos ao
mistério da vida e contemplarei o rosto divino na face daqueles que nunca
souberam que cosmo e cosmético são gregas palavras, e deitam raízes na mesma
beleza. Despirei os meus olhos de todos os preconceitos e rogarei pela fé acima
de todos os preceitos. Como Ezequiel, contemplarei o campo dos mortos até ver a
poeira consolidar-se em ossos, os ossos se juntarem em esqueletos, os
esqueletos se recobrirem de carne, e a carne inflar-se de vida no Espírito de Deus.
Proclamarei o silêncio
como ato de profunda subversão. Desconectado do mundo, banirei da alma todos os
ruídos que me inquietam e, vazio de mim mesmo, serei plenificado por Aquele que
me envolve por dentro e por fora, por cima e por baixo. Suspenderei da mente a
profusão de imagens e represarei no olvido o turbilhão de ideias. Privarei de
sentido as palavras. Absorvido pelo silêncio, apurarei os ouvidos para escutar
a brisa de Elias e, os olhos, para admirar o que tanto extasiou Simeão.
Não mais farei de meu
corpo mero adereço estranho ao espírito. Serei uma só unidade, onda e
partícula, verso e reverso, anima e animus. Recolherei pelas esquinas todos os
corpos indesejados para lavá-los no sangue de Cristo, antes que se soltem de
seus casulos para alçar o vôo salvífico das borboletas. Curarei da cegueira os
que se miram no olhar alheio e besuntarei de cremes bíblicos o rosto de todos
que se julgam feios, até que neles transpareça o esplendor da semelhança
divina.
Arrancarei do chão de
ferro os pés congelados da dessolidariedade e farei vir vento forte aos que
temem o peso das próprias asas. Ao alçar o topo do mundo, verão que todos somos
um só corpo e um só espírito. Farei do meu corpo hóstia viva; do sangue, vinho
de alegria. Ébrio de efusões e graças, enlaçarei num amplexo cósmico todos os
corpos e, no salão dourado da Via Láctea, valsaremos até que a música sideral
tenha esgotado a sinfonia escatológica.
Na concretude da fé
cristã, anunciarei aos quatro ventos a certeza de ressurreição da carne e de
todo o universo redimido pelo corpo místico de Cristo. Então, quando a morte
transvivenciar-me, o que é terno tornar-se-á eterno.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta
de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados,
ou seja, próximos de zero; II – a corrupção,
como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente
irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir permanente,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a educação; a saúde; o saneamento
ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados,
macrodrenagem urbana, logística reversa); meio
ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte,
acessibilidade); minas e energia;
emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema
financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança
alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal;
defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e
inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências
do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações,
da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da
sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da
paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...