segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A CIDADANIA, AS VIRTUDES E OS INTERESSES

“O MUNDO DESIGUAL

A pobreza maciça e a desigualdade obscena são flagelos tão terríveis dos nossos tempos – nos quais o mundo se gaba de avanços sem precedentes nos campos da ciência, da tecnologia, da indústria e da acumulação de riqueza – que elas devem ser vistas como males sociais tão graves quanto a escravidão e o apartheid. NELSON MANDELA, Londres, 2005.

O mundo como um todo é bem mais desigual do que qualquer país individualmente. Essa injustiça grotesca provavelmente desencadearia uma catástrofe social e política se ocorresse apenas dentro de um único país. Umas das conseqüências da globalização é que o mundo se constitui, cada vez mais, em uma única comunidade unida por meios de transportes e de comunicações cada vez melhores. Entretanto, o preço político da continuidade da desigualdade só pode subir.”
(DUNCAN GREEN, in DA POBREZA AO PODER: Como cidadãos ativos e estados efetivos podem mudar o mundo.São Paulo – Cortez Editora, 2009.

Mais uma IMPORTANTE contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de dezembro de 2009, Caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, Editoria de Cultura, que merece INTEGRAL transcrição:

“As virtudes e os interesses

O que se vê hoje no cenário político nacional, constrangendo o cidadão brasileiro, é a troca de sinais no campo da convivência entre os homens. Entre os antigos, o que valia na política era o reino das virtudes; hoje, é o campo dos interesses. Não se trata de um descaminho, como se o trem da moralidade saísse dos trilhos. A política dos modernos não é pior, é diferente. É preciso entender essa equação para dar conta do fato de políticos pegos em flagrante roubo e corrupção não serem presos imediatamente. Não é o caso de descumprimento da lei, mas a observância de outra forma de se compreender o Estado de Direito.

Entre os antigos, o que valia era o bem comum. Não que os atores da cena pública não tivessem interesses ou motivações psicológicas condenáveis, mas elas precisavam se submeter à lógica de que o bem comum dirigia os negócios públicos. Com a política moderna, o interesse passa a ganhar sinal positivo. Para superar uma certa presunção dos antigos, o político moderno sabe que expor os interesses, numa sociedade de conflitos negociados, limpa a cena de hipocrisia e permite mais realismo. A política antiga era feita de necessidades; a moderna, de contingências.

O senso de realidade da política moderna se traduz na afirmativa de que o crescimento de cada um contribui para o crescimento do conjunto. Em outras palavras, a economia assume o lugar central da política. O grande risco começa a se concretizar quando a contabilização do interesse pessoal não passa mais pelo crivo da ética pública. Crescer, tudo bem, mas não a qualquer custo e a qualquer preço. O senso de oportunidade da lógica do interesse material é tão poderoso que torna todos os outros elementos conseqüência natural do enriquecimento. O dinheiro deixa de ser um referente de troca e passa a ser valor em si.

Quando um agente público é pego roubando, corrompendo, desviando, locupletando, no lugar da atitude direta de condenação e da execução da pena devida pelo ato criminoso se estabelece outro fórum de julgamento, tanto judicial como no imaginário social. No primeiro, por meio das instâncias de privilégios; no outro, pelo descrédito da política em si, e não dos maus políticos tomadas em sua individualidade.

Pode parecer exagero dizer que a sociedade desculpa ações tão hediondas. Mas, em outra medida, não seria o mesmo que ocorre quando um partido, para dar apoio a um governante, exige cargos em troca, não em função de participar do esforço de gestão, mas pela lógica cristalina de que algumas posições dão mais dinheiro e poder? E o jogo, considerado pragmático e realista, faz de diretorias de estatais e órgãos que usam recursos públicos os objetivos prioritários da barganha.

Dinheiro na meia é pouco perto da tomada de funções responsáveis pelo desembolso de verbas para compras e operação de obras. Não há gradação. A situação só seria cabível se os responsáveis por esses cargos fossem recrutados em razão de sua competência, e não de seu jogo de posição. É só acompanhar a trajetória política desses servidores em regime de confiança para perceber que não entendem nada do que gerenciam.

O realismo chama esse jogo de democracia de coalizão. No entanto, não se trata originalmente de democracia (mas de tecnocracia enviesada) e muito menos de coalizão. O arranjo de cooptação, no entanto, não sofre o mesmo constrangimento público que as cenas patéticas de desvio de recursos por agentes privados. A conseqüência é, ao mesmo tempo que se instaura um clima de desmando, a criação de uma cultura de desprestígio da política.

ALTERNATIVAS Ficar só na acusação e no diagnóstico é algo que alimenta o sentimento de desânimo que fortalece ainda mais a alienação. Quem conhece os militantes apaixonados (eles ainda existem, e são muitos) sabe que o risco contrário é a perda da comunicação entre iguais, como se os politizados coubesse a centelha da racionalidade. Geralmente, no entanto, pode ocorrer o inverso. A política, de tão marginal, se torna estilo de vida, forma de estar no mundo, assinatura existencial. São pessoas que se julgam alimentadas por uma missão, mesmo que os outros não o percebam. Geralmente, trombam com a realidade.

A saída está, mais uma vez, numa forma de equilíbrio entre a virtude e o interesse. Não se vence a sociedade de consumo sem entender que a vontade de ter e de progredir materialmente é manifestação da natureza humana, valorizada por elementos contextuais. Esse caminho deu nas práticas de direito do consumidor, que passou de estratégia pré-política a exercício que se avizinha em alguns casos da cidadania. No entanto, gerou um comportamento odioso de competição no terreno onde deveriam ser norma as práticas da solidariedade e cooperação.

As alternativas existem – e no interior do próprio sistema político. Um exemplo vem sendo dado pelo movimento ecológico. Além de perceber o potencial universal, que extrapola a política interna dos países, descobriu que a defesa do meio ambiente só é possível com ataque ao coração do modo de vida que gerou a situação que hoje combatem. Algumas bandeiras, como a diminuição da jornada de trabalho, por exemplo, passam a responder ao mesmo tempo pela lógica da melhoria das condições de vida, do reordenamento da produção e da abertura de novos postos de trabalho.

Há uma corrente de ganhos em cascata que começa e ser considerada com seriedade. Uma sociedade com mais empregados distribui melhor a renda, com isso melhora a educação e saúde, diminui gastos com segurança e proteção social. Mesmo a perda relativa de ganho com a redução da jornada tende a ser compensada com nova relação de consumo. No lugar de objetos suntuosos e desnecessários, as pessoas aumentariam, com a disponibilidade de tempo, os investimentos em cultura, informação e lazer. Assim, uma bandeira aparentemente anticapitalista se torna instrumento de dinamização da sociedade como um todo.

Outro campo onde se percebe a possibilidade de nova cultura pública está na abertura de espaços para o exercício da política. Quem trabalha na área da cultura tem acompanhado um movimento poderoso de criação de centros culturais. Mais que necessários, muitas vezes, no entanto, eles descumprem sua função primordial de duas formas: com a ausência de política de ocupação do espaço social (concentrando-se nas regiões melhor equipadas) e com o desmantelamento de estruturas de poder político. Precisamos tanto de centros de cultura como de centros de cidadania. Esvaziar os espaços públicos em favor de uma lógica meramente administrativa (e, portanto, sem a marca do conflito) não engrandece a cultura nem favorece a boa política.

São alguns exemplos alternativos que podem ganhar o coração da vida pública. Dos interesses para as virtudes.”

Estamos, pois, diante de páginas que, sem dúvida alguma, enriquecem a idéia da grande CRUZADA NACIONAL e nos FORTALECEM e nos MOTIVAM na construção de um PAÍS verdadeiramente JUSTO, ÉTICO, LIVRE, DESENVOLVIDO e SOLIDÁRIO com a PARTILHA de suas RIQUEZAS, quer NATURAIS, ECONÔMICAS e CULTURAIS, a TODOS os BRASILEIROS e a TODAS as BRASILEIRAS...

O BRASIL TEM JEITO!...

Um comentário:

Teka disse...

Sair da inercia e da acomodação, que causa a alienação dos eleitores tem que ser vencida.
É preciso resgatar os movimentos comunitários como integração do povo na vida pública e não apenas como movimentos para lançar os futuros candidatos a vereadores ou cabos eleitorais.
As liderenças hoje são alvo de negociatas de candidatos que cprrompem os movimentos comunitários transformandos as sedes em palanques e bases de apoio, nas quais eles mantem total controle e ditam as regras, dando a falsa ilusão de "mobilização", quando na verdade o que se tem é um exercíto de pessoas sendo manipuladas.
Ações como os movimentos ecológicos sonseguiram siar deste "casulo" politico porque são engajados por pessoas que veem além e pensam do amanhã.
Infelizmente ainda em nossas comunidades as necessidades básicas fazem dos líderes reféns de que políticos que na verdade só pensam neles e no poder....
É preciso resgatar nos movimentos comunitários a essencia que moveu tantas e tantas liderenças nas décadas de setenta e oitenta, para que as virtudes sobreponham os interesses pessoais.