sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A CIDADANIA, A CHUVA, A POLÍTICA E OS NOVOS PARADIGMAS

“Tudo começou na Grécia e tudo começa a acabar na Grécia?

A civilização ocidental tem sua origem histórica na Grécia do século VI a. C. Ruíra o mundo do mito e da religião que era o eixo organizador da sociedade. Para pôr ordem àquele momento crítico fez-se, num lapso de pouco mais de 50 anos, uma das maiores criações intelectuais da humanidade. Surgiu a era da razão crítica, que se expressou pela filosofia, pela política, pela democracia, pelo teatro, pela poesia e pela estética. Figuras exponenciais foram Sócrates, Platão, Aristóteles, Péricles, Fídias, Sófocles, Eurípedes e Ésquilo.

Esse paradigma se caracteriza pelo predomínio da razão, que deixou para trás a percepção do Todo, o sentido da unidade da realidade que caracterizava os pensadores pré-socráticos, portadores do pensamento originário. Introduzem-se os dualismos: mundo-Deus, homem-natureza, razão-sensibilidade, teoria-prática. A razão criou a metafísica, que na compreensão de Heidegger faz de tudo objeto e se instaura como instância de poder sobre esse objeto. O ser humano deixa de se sentir parte da natureza para se confrontar com ela e submetê-la ao projeto de sua vontade.

Esse paradigma ganhou sua expressão acabada mil anos depois, com os fundadores do mundo moderno, Descartes, Newton, Bacon e outros. Com eles se consagrou a cosmovisão mecanicista e dualista: a natureza de um lado e o ser humano de outro, em cima dela, como seu “mestre e dono” (Descartes). Elaborou-se o ideal do progresso ilimitado, que supõe a dominação da natureza, no pressuposto de que esse progresso poderia caminhar infinitamente na direção do futuro.

Nos últimos decênios, a cobiça de acumular transformou tudo em mercadoria a ser negociada e consumida. Esquecemos que os bens e serviços da natureza são para todos e não podem ser apropriados apenas por alguns.

Depois de quatro séculos de vigência desse modo de ser e de ver, verificamos que a natureza teve que pagar um preço alto para custear esse modelo de desenvolvimento. Agora, tocamos nos limites de suas possibilidades. A civilização técnico-científica chegou a um ponto em ela pode pôr um fim si mesma, degradar a natureza, eliminar grande parte do sistema da vida e, eventualmente, erradicar a espécie humana. Seria a realização de um armagedon.

Tudo começou há milênios na Grécia. E agora parece terminar na Grécia, uma das primeiras vítimas do horror econômico, cujos banqueiros, para salvar seus ganhos, lançaram toda a sociedade no desespero.

Estamos assistindo à agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos não tem condições de se reproduzir.

Temos que encontrar outro tipo de relação com a natureza, outra forma de produzir e consumir, desenvolvendo um sentido geral de interdependência face à comunidade de vida e de responsabilidade pelo nosso futuro comum. Ao não encetarmos essa conversão, ditamos para nós mesmos o veredicto de desaparecimento. Ou nos transformamos ou desapareceremos.

Faço minhas as palavras de Celso Furtado, economista e pensador: “Os homens de minha geração demonstraram que está ao alcance do engenho humano conduzir a humanidade ao suicídio. Espero que a nova geração comprove que também está ao alcance do homem abrir caminho de acesso a um mundo em que prevaleçam a compaixão, a felicidade, a beleza e a solidariedade”. É a condição de mudarmos de paradigma.”
(LEONARDO BOFF, filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 13 de janeiro de 2012, Caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 7 de janeiro de 2012, Caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, Editor de Cultura, e que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“O que a chuva tem a ver com a política?

A triste contabilidade de mortes e destruição em razão das chuvas que começaram em dezembro marca o início do ano. Em meio às tarefas urgentes de salvar vidas, evitar tragédias e acudir os desabrigados, começa a brotar um sentimento que mescla indignação e vontade de agir para que isso não mais ocorra. Há o que ser feito para evitar desabamentos – e é preciso reconhecer que são ações que vêm sendo realizadas com responsabilidade por vários anos –, no entanto a cada ano o perigo retorna e, quase sempre, atingindo a população mais pobre.

Quando a situação catastrófica atinge a classe média, como se viu em BH em dois edifícios, no Buritis e no Caiçara, os danos parecem sobrelevados. Um prédio em área nobre parece valer por 100 casas à beira de um córrego na periferia. Não se trata de desfazer do sofrimento da classe média, mas de reconhecer que o valor da moradia é o mesmo para todas as pessoas.

A imprensa tem um papel na construção desse imaginário. Ligado a seus leitores, majoritariamente pertencentes às chamadas classes A e B (em termos de consumo e faixa de renda), o jornalismo criou um padrão que repercute de forma perversa a distinção de classes na sociedade. Há uma contabilidade que faz com que os dramas da classe média sejam considerados mais trágicos que dos que habitam a faixa inferior da tabela de consumo.

A situação vivida pela cidade aponta alguns limites de nossa concepção de política. Para muitas pessoas, cabe aos detentores de cargos públicos a responsabilidade por recuperar a ordem, reconstruir as casas, amparar os penalizados pelas enchentes. Por isso, simbolicamente, a presença dos governantes é tão importante. Ao colocar os pés na lama, eles reconhecem o território ao qual prometeram devotar seus esforços.

Essa visão de política, amparada em uma ideologia que distancia povo de poder, muitas vezes funciona contra a própria concepção de democracia. A palavra inventada pelos gregos precisa se alimentar em duas formas de igualdade. A primeira é aquela que coloca todos frente à urna para decidir quem serão seus governantes. A segunda é a que iguala os detentores do poder com cada um dos cidadãos. No primeiro caso, estamos no terreno da democracia que delega; no segundo, da que propõe que a participação não cessa com a contagem dos votos.

O que isso tem a ver com a chuva? Tudo. A mescla de momentos de delegação com práticas de participação é o que dá equilíbrio à política democrática. Em momentos de crise essas duas formas complementares são testadas em seus limites. Numa situação de emergência, como o lado popular está enfraquecido e as soluções precisam ser emergenciais, vale a competência da execução das ações, para as quais os governantes foram eleitos (e se venderam no mercado eleitoral). A máquina pública precisa entrar em ação com urgência e sensibilidade – o que mais uma vez reforça a indicação de pôr os pés na lama.

Passada a situação de risco, a balança entre participação e representação precisa ser novamente aferida em nome de novas prioridades que são disparadas com a situação de crise. Um coisa é executar política urbana em tempos de calmaria, outra é se preparar para os momentos de tempestade. É por isso que as ações preventivas ganham sempre mais atenção depois de eventos catastróficos. A chuva de hoje é o fermento da reivindicação de amanhã. Sofrer é aprender. Este é o único ganho da dor.

OUTRO MUNDO Tudo que uma sociedade vive em nível próximo parece ecoar uma dimensão mais ampla. Microcosmo dentro do macrocosmo, a política local é sempre um evento fractal, como se trouxesse em si todas as mazelas – e virtualidade – da chamada grande política. O que o mundo vive hoje em sua crise de opções ideológicas tem tradução direta na gestão do drama das chuvas em Belo Horizonte e em outras cidades mineiras.

A Europa e os EUA padecem de indefinição ideológica clara sobre o futuro que querem construir. Há movimentos amplos de protesto, consciência da financeirização da crise, crítica ao centralismo, combate a todas as formas de corrupção. O recurso à esquerda, que parecia esgotado há algumas décadas, ressurge em torno da defesa de bandeiras sociais. O que foi social-democracia um dia hoje se traduz como ganhos de civilização que precisam ser recuperados como horizonte mínimo.

Na América Latina, em outro diapasão histórico, as esquerdas chegaram ao poder abdicando d herança mais radical pela conveniência da participação no poder. Há um enfraquecimento da ideologia em nome do realismo em algumas nações, como o Brasil, e uma radicalização em outras, como a Venezuela, mas que podem ser lidas com o mesmo sinal de certa autonomização em relação ao capitalismo central.

A esquerda, nos dois casos, se deslocou para o centro.

E nem mesmo o centro se sustenta.

Como analisou recentemente Serge Halimi, “embora atravessada por toda uma parafernália institucional e midiática, a república do centro balança. Há uma disputa entre o endurecimento do autoritarismo liberal e uma ruptura com o capitalismo”. A sequência dessa história aponta para o risco da descrença do jogo político. Quando o cidadão percebe que os governos foram despojados de sua soberania e se tornaram reféns de bancos, surge a irrefreável vontade de mudar tudo, mesmo antes do calendário eleitoral.

MAIS ÁGUA A comparação entre os dois cenários, um de crise imediata e outro mais estrutural, parece não possuir elo. No entanto são realidades muito próximas no que indicam desequilíbrio, função da política e papel do cidadão. Há um patente clima de percepção dos limites da política representativa e da forma de definição de suas prioridades. Além disso, a própria lógica que distanciava as pessoas das decisões tomadas em seu nome entrou em colapso com as denúncias de corrupção, por um lado, e com a submissão aos agentes financeiros de outro.

A chuva em nossa cidade, a cada ano, encontra fragilidades que não são mais entendidas como destino, mas como irresponsabilidade e incompetência. O amadurecimento da crítica tem funcionado, como mostram obras que impediram que a tragédia fosse maior. O que mostra que o bom governo é aquele que sabe ouvir e dirigir suas ações para a busca de igualdade. Tratar diferentemente os diferentes.

O ano que começa com chuva e destruição é ano eleitoral. Na hora certa, isso vai ter que aparecer.”

Eis, pois, mais páginas, contendo IMPORTANTES, ADEQUADAS e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES que acenam para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS TRANSFORMAÇÕES em nossas estruturas EDUCACIONAIS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS, ECONÔMICAS e AMBIENTAIS de modo a promovermos a inserção do PAÍS no concerto das POTÊNCIAS mundiais LIVRES, SOBERANAS, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDAS...

Isto posto, URGE a efetiva PROBLEMATIZAÇÃO de questões CRUCIAIS como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, desde a EDUCAÇÃO INFANTIL até a PÓS-GRADUAÇÃO, como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;
b) o COMBATE, implacável e sem TRÉGUA, aos três dos nossos MAIORES e mais DEVASTADORES inimigos: I – a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância, de forma a se manter em níveis CIVILIZADOS; II – a CORRUPÇÃO, câncer que se espalha por TODAS as esferas da vida NACIONAL, gerando INCALCULÁVEIS prejuízos e comprometimentos de variada ordem: III – o DESPERDÍCIO, em TODAS as suas MODALIDADES, também ocasionando INESTIMÁVEIS perdas e danos;
c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO, de desembolso da ordem ASTRONÔMICA e INTOLERÁVEL de R$ 1 TRILHÃO, a título de JUROS, ENCARGOS, AMORTIZAÇÃO e REFINANCIAMENTO da DÍVIDA, e a exigir igualmente uma IMEDIATA, ABRANGENTE, QUALIFICADA e eficaz AUDITORIA...

Assim, torna-se absolutamente INÚTIL a FALTA de RECURSOS diante de tanta SANGRIA, que MINA a nossa ECONOMIA e a nossa capacidade de INVESTIMENTO e POUPANÇA e, mais GRAVE ainda, afeta a CONFIANÇA em nossas INSTITUIÇÕES, ao lado de extremas NECESSIDADES, CARÊNCIAS e DEFICIÊNCIAS...

São, e sabemos bem, GIGANTESCOS DESAFIOS mas que, de forma alguma, ABATEM o nosso ÂNIMO nem ARREFECEM nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para EVENTOS como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO+20) neste ano; a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE no RIO DE JANEIRO em 2013; a COPA DAS CONFEDERAÇÕES de 2013; a COPA DO MUNDO de 2014; a OLIMPÍADA de 2016; as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNACIONALIZAÇÃO das EMPRESAS, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INOVAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

Nenhum comentário: