sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A CIDADANIA, A SABEDORIA E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

“Deus e ecologia: dignidade de vida a ser cultivada

A onda ecológica veste-se facilmente de religiosidade. Toca-lhe fortemente a aura sagrada. Fala-se de mistério, de espírito, de totalidade, enfim, de termos que ressudam religião. Que há realmente de verdade nesse discurso? Encontra-se realmente a pessoa de Deus no cosmos ou projetam-se sobre ele aspirações sacralizantes tipicamente humanas. Não valeria aqui a acre crítica ateia de L. Feurbach de que Deus não passa de projeção do ser humano? A “morte de Deus” significaria então o encontro do ser humano com a sua verdade. Deus falseia-lhe a percepção e mascara-lhe a autoconsciência.

Vamos devagar. Existe uma sacralidade cósmica que beira o panteísmo. Tudo é Deus. Ele não passa de uma realidade humana na totalidade do criado. O conjunto do cosmo é divino, mas não Deus. Existe o adjetivo e o substantivo. O adjetivo reflete o sentimento que temos. O substantivo aponta para a realidade existente. Não afirmamos nada de Deus, mas sentimo-nos maravilhados em face do cosmos, atribuindo-lhe respeito e admiração que raia o divino.

A visão cristã caminha em outra direção. Na origem está o ato criador. Ressoam-nos as primeiras palavras da Escritura: “No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1). Esse princípio tem dois sentidos bem diferentes. A criação inicia o tempo. Nesse princípio, que antecede o tempo, está Deus a criá-lo juntamente com o mundo. Princípio significa ainda algo mais profundo. Denota origem, fonte primeira, sustentáculo fundamental. Não termina nunca. Não conota continuidade. Permanece continuamente princípio de existência.

Assim Deus faz saltar para dentro do tempo a energia fundamental que se cria simultaneamente com ele. Essa explode no big-bang das galáxias até hoje em expansão. Deus não abandona, porém, essa criação. Mantém-na sob a sua força criativa de modo que se a subtraísse, um instante sequer, tudo voltaria ao nada abissal.

A fé bíblica continua e a teologia reflete. Esse mundo criado e sustentado por Deus está entregue à liberdade, à autonomia, à razão humana. Também ela se sustenta em Deus que não lhe deixa de ser o primeiro e último princípio a iluminá-la de modo misterioso, embora real. E nessa conjugação de razão e fé, o ser humano caminha defrontando-se com o cosmos. A ecologia significa, então, esforço de pôr a razão a serviço da harmonia do ser humano com tudo o que o cerca e nisso realiza o projeto primeiro de Deus.

A razão se rege pela ética responsável pela sustentabilidade do criado. A fé acolhe a autocomunicação de Deus que se revela como a última fonte da beleza de toda a criação a impelir-nos a respeitá-la, amá-la e torná-la companheira de caminhada até a plenitude da vida eterna. Esse Deus pessoal, dialogante e interpelante, paradoxalmente dessacraliza e sacraliza o cosmos. Dessacraliza-o, ao colocá-lo sob nossa responsabilidade ética. Sacraliza-o, ao arrancá-lo da simples condição de mero objeto de nossa exploração, para dar-lhe dignidade de vida a ser cultivada.”
(J. B. LIBÂNIO, Teólogo, escritor e professor; padre jesuíta, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 13 de novembro de 2011, Caderno O.PINIÃO, página 19).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de janeiro de 2012, Caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de SACHA CALMON, Advogado, coordenador de especialização em direito tributário das faculdades Milton Campos, presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro (ABDF) no Rio de Janeiro, e que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“Sobre a sabedoria

Para Mahatma Gandhi, a quem Churchill chamava de homúnculo e ave pernalta e disforme, pois não era belo fisicamente – o que importa pouco –, ante a elevação do seu espírito o ser humano desce quando faz política sem princípios, busca o prazer sem compromisso, a riqueza sem trabalho, a sapiência sem caráter, os negócios sem moral, a ciência sem humanidade e a oração sem caridade. É de se meditar. O mesmo Churchill, tão valoroso na defesa da Inglaterra contra a sanha nazista – inobstante Hitler contar com o apoio de 70% da população alemã, austríaca e dos sudetos (parte alemã da Tchecoslováquia) –, fez o mesmo que seu antagonista odioso, ao destruir sem fins estratégicos duas belas cidades alemãs: Colônia e Dresden, vitimando civis covardemente sob toneladas de bombas.

Por falar de guerra e paz, tema de grandes escritores, Gandhi arrancou, depois da Segunda Guerra Mundial, a liberdade da Índia, submetida à arrogância e ganância do império britânico, com a doutrina da resistência pacífica, plena de atos sustentados pela força do espírito. A recente crise que assola o mundo nasceu da inobservância de dois preceitos de Gandhi: a política sem princípios e os negócios sem moral. Os governos Bush, na esteira da doutrina Reagan-Thatcher, levou até o limite do suportável políticas internas e externas hipócritas e à total desregulamentação dos mercados financeiros, para gáudio de Wall Street. Dois filmes e vários documentários de roteiristas anglófonos estão a denunciar a imoralidade, a desumanidade e a desonestidade que levaram ao colapso de Wall Street e, na sequência, ao emparedamento do mundo inteiro, especialmente das economias dos EUA e da Europa Ocidental.

Os filmes Tudo pelo poder e O dia antes do fim estão ligados a essas temáticas. O último narra a safadeza dos poderosos executivos de Wall Street a venderem deliberadamente tranches de créditos apodrecidos ou se se quiser tóxicos, com absoluta desfaçatez, embora o filme seja de um cinismo irritante. No fim, tudo fica explicado pela teoria dos ciclos e da vantagem de safar-se em primeiro lugar (autojustificação). Urge que o direito penal internacional tipifique doravante as condutas irresponsáveis dos banqueiros de Wall Street e da City londrina, pelos malfeitos às pessoas e empresas levadas à bancarrota mundo afora, de modo que não se repitam, em que pese a resistência da City e de Wall Street a qualquer forma de regulamentação de suas atividades.

Crimes que tais são graves como os advindos do terrorismo, da intolerância religiosa ou étnica e de governantes ditatoriais. O mundo hoje olha para todos os seus cantos e inquieta-se. A matança na Síria, para exemplificar, nos inquieta. Queremos intervir. No direito internacional duas tendências se digladiam: o princípio da autodeterminação dos povos, segundo o qual cada povo decide o seu destino sem intervenção de terceiros (princípios da não intervenção). Outro princípio se opõe a este, o da dignidade da pessoa humana, urbi et orbi.

Precisamos de um meio-termo, a resistência ao governo ilegítimo impõe que ele tenha desdenhado ou aviltado o voto popular. Há lugar para a intervenção da ONU, nunca de outro Estado. Lado outro, onde houver fome, como na Somália, a ONU deve intervir. A igualdade e o humano se sobrepõem ao econômico, prescreve a ética da globalização.

Ela não é tão somente negócios. Permitiu ao mundo inteiro a emergência da pessoa e de sua dignidade. O que acontece no mundo árabe e na Rússia vai se intensificar. A escritora e ativista libanesa senhora Haddad dá-nos uma mostra. “Para se aquilatar o teor de uma democracia, veja-se primeiro a quantas anda a igualdade entre os gêneros. Uma sociedade que submete e inferioriza as mulheres não tem ideia do que seja democracia e dignidade do ser humano.”

Decerto se perguntam uns tantos por que não mencionei a China milenar. Por três razões. Em primeiro lugar, os anos de comunismo no país criaram uma mentalidade igualitária. Em segundo lugar, pela razão simples de o partido comunista chinês incentivar (e não reprimir) a mulher, coisa que religiões reveladas gostam de fazer, pela origem patriarcal comum nos desertos semitas. Em terceiro lugar, porque o desenvolvimento econômico e laicismo arraigado levarão inevitavelmente à igualdade e à liberdade. Cada dia com sua agonia. Certo, não podemos ocultar que um ror de pessoas quer riqueza sem trabalho, fazendo do ter o princípio do ser (grifes, gastronomia, nome noticiado, viagens etc.). Os homens serão sempre assim. Haverá egoico e os tenteios do ser, nas zonas de alta pressão, seja da riqueza, seja da miséria. Quem diria que no país do sonho americano surgiria o “nós somos 99%, ocupem Wall Street”? O que nos reserva esta primeira metade do milênio? Façam suas apostas. Fantasias fúteis ou a relevância crescente dos seres humanos?”.

Eis, pois, mais páginas contendo IMPORTANTES, ADEQUADAS e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES que apontam para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS MUDANÇAS em nossas estruturas EDUCACIONAIS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS, ECONÔMICAS e AMBIENTAIS de forma a promovermos a inserção do PAÍS no concerto das POTÊNCIAS mundiais LIVRES, SOBERANAS, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDAS...

Assim, URGE a efetiva PROBLEMATIZAÇÃO de questões CRUCIAIS tais como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, desde a EDUCAÇÃO INFANTIL até a PÓS-GRADUAÇÃO (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;
b) o COMBATE, implacável e sem TRÉGUA, aos três dos nossos MAIORES e mais DEVASTADORES inimigos: I – a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância, de modo a se manter em patamares CIVILIZADOS; II – a CORRUPÇÃO, câncer que se espalha por TODAS as esferas da vida NACIONAL, gerando INCALCULÁVEIS prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o DESPERDÍCIO, em TODAS as suas MODALIDADES, também ocasionando INESTIMÁVEIS perdas e danos;
c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO, de ASTRONÔMICO e INTOLERÁVEL desembolso da ordem de
R$ 1 TRILHÃO, a título de JUROS, ENCARGOS, AMORTIZAÇÃO e REFINANCIAMENTO da DÍVIDA, igualmente a exigir IMEDIATA, ABRANGENTE, QUALIFICADA e eficaz AUDITORIA...

Isto posto, torna-se absolutamente INÚTIL lamentarmos a FALTA de RECURSOS diante de tanta SANGRIA, que MINA a nossa ECONOMIA e a nossa capacidade de INVESTIMENTO e de POUPANÇA e, mais GRAVE ainda, afeta a CONFIANÇA em nossas INSTITUIÇÕES, ao lado de extremas NECESSIDADES, CARÊNCIAS e DEFICIÊNCIAS...

Sabemos, e bem, que são GIGANTESCOS DESAFIOS mas que, de maneira alguma, ABATEM nosso ÂNIMO nem ARREFECEM nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para EVENTOS como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO+20) neste ano; a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE no RIO DE JANEIRO em 2013; a COPA DAS CONFEDERAÇÕES de 2013; a COPA DO MUNDO de 2014; a OLIMPÍADA de 2016; as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNCIONALIZAÇÃO das EMPRESAS, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INOVAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

O BRASIL TEM JEITO!...

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