“A
cultura do desperdício
Mais que espanto, causa
indignação o tamanho do desperdício mensurado no país. O Brasil joga no lixo
nada menos que R$ 1 trilhão por ano. Para concretizar a dimensão da cifra,
basta lembrar que o valor equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina.
É como de a soma do trabalho anual dos mais de 40 milhões de moradores da nação
vizinha evaporasse num toque de mágica.
O
ralo, abrangente, não discrimina nem dá a vez à monotonia. Vai da ineficiência
do Estado, passa pela iniciativa privada, chega aos recursos humanos.
Infraestrutura precária, burocracia sufocante, corrupção desenvolta, falhas de
logística, baixa produtividade, desqualificação de mão de obra são sintomas de
um país que não se preparou para crescer.
É como
se os pais de uma criança preparassem o enxoval do recém-nascido, mas se
esquecessem de que o bebê cresce e deixa de caber nas roupas dos primeiros
meses de vida. Sem renovação, o vestuário aperta e não se adapta ao corpo que
se torna adolescente e, inexoravelmente, adulto. O calendário, quer se queira,
que não, avança e cobra alto custo dos incautos.
A
analogia serve para o Brasil. Nos 413 anos de história, o país ganhou
diferentes apostos. Um dos mais conhecidos, cunhados por Stefan Zweig, é país
do futuro. Rico de recursos naturais, deitava em berço esplêndido à espera da
ocasião de atualizar o potencial. A imprevidência, aliada à abundância, criou a
cultura do desperdício – incompatível com o mundo globalizado.
Mantêm-se
lâmpadas acesas em ambientes vazios. Lavam-se carros e calçadas com água
tratada. Esquece-se o passar das horas com o chuveiro ligado. Deixa-se o fogo
alto quando o baixo traria o mesmo efeito. Renovam-se livros didáticos que
poderiam ser aproveitados por mais de um ano. Perdem-se em depósitos remédios
com o prazo de validade vencido.
Joga-se
no lixo o alimento que faz falta a brasileiros e estrangeiros. Segundo
levantamento do Instituto Acatu, 26,3 milhões de toneladas de comida deixam de
ir para a mesa. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO) calcula que tal volume de grãos, carnes, laticínios, verduras e legumes
seria suficiente para matar a fome dos 13 milhões de cidadãos que ainda passam fome
nas cinco regiões brasileiras.
Com a
perspicácia que o caracterizava, Stefan Zweig com certeza mudaria a frase que o
imortalizou. O país do futuro cederia a vez para o país do desperdício.
Deixamos para o depois que nunca chega o que deveria ter sido feito há anos ou
décadas. As roupas ficaram todas apertadas: a escola não ensina, o hospital não
cura, o trânsito não anda, os impostos não bastam, a excelência não impera, as
reformas não vêm, a produtividade não cresce. Sem planejamento, acreditamos no jeitinho
– sinônimo de improvisação e mãe do desperdício.”
(EDITORIAL publicado
no jornal ESTADO DE MINAS, edição de
25 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página
6).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
26 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página
9, de autoria de AQUILES LEONARDO DINIZ,
que é vice-presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito,
Financiamento e Investimento (Acrefi), e que merece igualmente integral
transcrição:
“Retomar
o crescimento
A responsabilidade
fiscal é um dos cinco pactos propostos pelo governo federal em resposta aos
protestos que tomaram conta do Brasil nos últimos meses. É a responsabilidade
fiscal que irá gerar condições para que os outros pactos como saúde, transporte
público e educação aconteçam. É ela que vai garantir o equilíbrio das contas
públicas e manter a inflação sob controle. O Brasil está precisando de um choque de credibilidade e confiança
neste momento. O governo brasileiro, com a política econômica atual, está
perdendo a confiança do seu próprio povo e também a credibilidade da comunidade
internacional. O anúncio da presidente Dilma Rousseff sobre a proposta gerou
matérias nos principais veículos internacionais. Mas o jornal britânico Financial Times, por exemplo, noticiou
com descrédito os pactos anunciados.
Os
investidores externos estão absolutamente feridos com o mercado brasileiro. Em
média, 80% dos recursos captados no Brasil via oferta pública inicial de ações (IPO,
na sigla em inglês) vieram de investimentos estrangeiros, que perderam muito
dinheiro com isso. A OGX, por exemplo, tem mais de US$ 3,6 bilhões em títulos
de dívida em circulação no mercado internacional, que praticamente estão
virando pó. Perderam também bilhões com ações da Petrobras, das elétricas, das
empresas do EBX e em tantas outras. Em razão das manifestações nas ruas, em
junho o mercado financeiro entrou em ebulição e, sem um sinal definitivo e duro
do governo, o “espírito animal” dos empreendedores continua acuado desde então
esperando o melhor momento para sair da “toca”.
O
Brasil tem uma baixa capacidade produtiva, baixo volume de poupança interna,
baixa taxa de investimento e, portanto, necessita de recursos externos para
financiar aquilo que é necessário, como investimentos em infraestrutura. É
preciso dar uma virada nesse clima econômico negativo e, para isso, o país tem
que deixar claro a sua opção econômica por uma política de longo prazo rígida,
de austeridade, comprometida com equilíbrio fiscal.
Precisamos
pensar e preparar o Brasil para os próximos 100 anos e não para cada eleição
que ocorre a cada dois anos. Vivemos hoje uma conjuntura econômica cruel, pois
o conjunto de juros em alta, inflação em alta, desempenho do PIB pífio e
capacidade de endividamento quase nula nos coloca na beira da pior situação que
um país pode enfrentar: a estagflação, que é a inflação em alta combinada com
recessão.
Não
adianta o país elaborar projetos se faltam recursos. Para que os investimentos
possam acontecer, o Brasil deve reduzir seus gastos, em todos os âmbitos –
federal, estadual e municipal. O Brasil tem que mostrar ao mundo que a economia
vai tomar um rumo certo e promover uma mudança no modelo de desenvolvimento. Em
2012, pesquisa da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal)
mostrou que o crescimento superou apenas o do Paraguai.
Outra
consequência grave é a inflação. Mesmo com uma baixa taxa de desemprego, causando
elevação de salários e acesso ao crédito, a inadimplência está subindo. A renda
do trabalhador está sendo corroída devida à elevação dos preços, especialmente
nos supermercados. A desvalorização do real frente ao dólar também contribui
para a alta da inflação, assim como para o aumento do déficit público
brasileiro, que chegou a R$ 132,2 bilhões nos 12 meses encerrados em abril. Não
podemos continuar com essa história de déficit nas contas públicas. As contas
públicas precisam de obrigatoriedade e responsabilidade fiscal. Sem isso, não
vamos a lugar nenhum.
O
Brasil tem que gerar negócios, estimular produtividade e investimento, fatores
que irão contribuir para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). É
preciso urgentemente investir em infraestrutura e qualificação de mão de obra,
diminuir a carga tributária e criar um ambiente de negócios sólido, estável e
com marcos regulatórios intocáveis. Com isso, o país vai gerar riqueza e
consequentemente distribuir riqueza.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas.
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados,
ou seja, próximos de zero; II – a corrupção,
como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente
irreparáveis (por exemplo, a pirataria e a informalidade geraram, somente no
ano passado, perdas ao país da ordem de R$ 730 bilhões, segundo cálculo do
Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) em conjunto com o Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir uma imediata,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; segurança alimentar e nutricional;
segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística;
pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e
lazer; turismo; comunicações; assistência social; previdência social; qualidade
(planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades
e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...