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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A CIDADANIA, A LUCIDEZ DO VOTO E A LIDERANÇA TRANSFORMADORA

“O voto, arma do cidadão
        O dramaturgo alemão Bertolt Brecht, crítico mordaz da sociedade burguesa, dizia que “o pior analfabeto é o analfabeto político”. É aquela pessoa que, numa espécie de empáfia entre arrogante e burra, estufa o peito para dizer “detesto política”.
         Nas palavras do papa Francisco, são os “indiferentes orgulhosos”. Anulam a cédula eleitoral ou não votam. Não percebem que são eles que permitem, com seu afastamento, ou inconsciência, ou falta de cidadania e humanismo, a existência dos maus políticos, dos desonestos na vida pública, das mazelas dos governos e assim por diante.
         Insensíveis e omissos, esquecem-se de que a política é atividade que permite a construção da vida republicana e da democracia e que é pelo seu exercício que os cidadãos elegem e sustentam os governos. E mudam maus governos e maus políticos.
         Se a vida pública, em todo o mundo, em todos os tempos, tem desvios, com os corruptos e os incompetentes, exploradores dos mandatos populares, não quer dizer que simplesmente deva o cidadão, que vive em sociedade, negar inteiramente essa atividade, omitindo-se ou negando-se a participar, interagir, opinar, votar.
         Na verdade, abdica de sua condição de ser social, inserido num processo histórico, que indispensavelmente tem vida compartilhada com seus congêneres, vizinhos, colegas de trabalho e de vida, cidadãos de uma mesma comunidade, interdependentes de normas, leis, ações governamentais. Na verdade, o omisso é pior do que o crítico negativista. Este, pelo menos, tem opinião.
         Política, na sua melhor definição, é a busca de caminhos consensuais em prol do bem público. Busca meios para consumação dos interesses coletivos. Esse é conceito originário da velha e sábia Grécia, que surge no auge da civilização helênica e dos seus melhores pensadores. Nas a ideia de república. A pólis grega é a política e também a cidade. É o exercício interligado e essencial da cidadania, pela ação política. A não ser que a pessoa viva numa caverna e tenha vida ermitã, isolada e sozinha, não tem consistência lógica ou sentido renegar a política como atividade imanente à vida em sociedade.
         Evitar e condenar os maus políticos é parte do próprio exercício político tanto quanto é da essência dessa atividade o debate de ideias. Cabe ao cidadão consciente de seu papel, do seu tempo, da sua responsabilidade histórica, evitar os maus políticos, aqueles que traem a confiança popular, que submetem seus mandatos aos interesses próprios escusos e desviantes do verdadeiro sentido da representação popular.
         Os maus políticos se elegem e se perpetuam justamente em razão da omissão dos “analfabetos políticos”. O voto, que tem peso igual para ricos e pobres, doutores e iletrados, colhido por sufrágio universal, é a melhor arma para afastar os maus políticos. É a arma do cidadão. Precisa ser respeitado.”

(Mauro Werkema. Jornalista, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 8 de dezembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 17).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de dezembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Conservação ou saída?
        A falta de líderes com lucidez para ajudar na superação das muitas crises é um peso sobre os ombros de todos. Liderar, na contramão de mandos ou manipulações em prol de interesses próprios, partidários e mesquinhos, exige posturas cidadãs, altruísmo, generosidade e clareza sobre as direções a serem tomadas para promover o bem comum. A carência de líderes autênticos compromete instituições. Não são poucos os segmentos que simplesmente buscam explorar as riquezas e o potencial daquilo que pertence ao povo, sem oferecer a contrapartida necessária à coletividade. Anomalias antropológicas minam a cultura da solidariedade, impedem desdobramentos construtivos e inovadores em benefício de todos.
         O que mais se vê é o aumento de conluios e conivências, acordos em favor de interesses abrigados no território da mesquinhez e da indiferença em relação ao bem de todos. Vale analisar o conjunto de ações e os projetos existentes na sociedade brasileira, com atenção especial para a própria cidade, o bairro e a comunidade onde se vive. Constata-se, com frequência, certo marasmo, a inexistência de projetos arrojados com o propósito de atender às necessidades importantes do povo. É preciso conduzir a cultura para longe da nefasta mediocridade que impera. Hoje, quando alguém faz alarde a respeito de um feito ou de uma obra, desconfia-se de que é uma resposta atendida com décadas de atraso. Para que governantes, administradores e profissionais diversos não fiquem ancorados no estreitamento da mediocridade, é necessário inteligência assertiva e sensibilidade nascida da sabedoria.
         Muitos se contentam com um volume de afazeres e mesmo obras que são “o feijão com arroz” de cada dia. No entanto, o compromisso social de buscar a inovação e a inventividade, em benefício de todos, é um quadro de carência. A preocupação predominante relaciona-se à acumulação de bens, fortalecida pelo medo de não ter. Por isso não há coragem para investir. O receio de perder aprisiona líderes políticos, empresariais, culturais, religiosos na mediocridade do óbvio. Isso inviabiliza o crescimento e as respostas novas. Se esse aprisionamento é consequência da tensão econômica, política ou de outra ordem qualquer, muito mais se relaciona a uma terrível crise cultural.
         As correções precisam ser feitas na raiz. Não bastam transformações pontuais sem gerar nova mentalidade. As tragédias humanas e ambientais, as exigências e a rapidez de mudanças próprias deste terceiro milênio gritam por novas respostas. Oportuna é a interpelação que a Igreja Católica se faz quando se confronta com o binômio “conservação-saída”. Já em 2007, como expressão de inquietações nascidas nas décadas anteriores, o Documento de Aparecida, importante referência da Igreja Católica, destacou determinante exigência: é necessária uma ação missionária que vá além da mera conservação. Logo em seguida, o papa Francisco marca seu serviço com a convocação para que a Igreja esteja sempre “em saída”, indo ao encontro de todos, para ser capaz de traçar adequadamente os desafios das culturas urbanas.
         Assim, tornam-se ainda mais fundamentais a inventividade e a competente leitura dos sinais dos tempos. Essas capacidades são indispensáveis para planejar e conceber, nos dias atuais, experiências com força para regenerar a subjetividade. Constata-se a necessidade de uma verdadeira reformulação, a compreensão adequada e audaciosa de que é preciso trilhar rumos novos. Isso vale para a Igreja, para governos, para o empresariado, formadores de opinião, todos nos seus exercícios profissionais e na gestão de seus empreendimentos. A exigência é alcançar uma nova cultura, capaz de sensibilizar cada pessoa para reconhecer o próprio valor e se comprometer, de modo nobre, com a defesa do meio ambiente e de suas tradições. É preciso encontrar novas formas de intervenção que não sejam a exploração sem limites dos recursos da sociedade e do meio ambiente.
         Minas Gerais tem essências históricas, religiosas e culturais, tradições, experiências, personagens e natureza que merecem, mais do nunca, um mutirão capitaneado por todos os líderes, orientados por gestos de altruísmo. Essa união é necessária para que sejam possíveis apoios, ações, valorização e investimentos em projetos capazes de consolidar o estado mineiro no lugar que lhe é próprio no cenário nacional. Oportunidades para superar as muitas crises. Isso requer a coragem para viver a dinâmica da “saída”, superando a mera conservação. Eis o caminho para inovar e participar de grandes projetos.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em novembro a também estratosférica marca de 378,76% para um período de doze meses; e mais, ainda em novembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 10,48%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  

 
        

  

   

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A CIDADANIA, A ARTE DE CUIDAR DOS ENFERMOS, BRECHT E A ARTE DE CUIDAR DO POVO

“A arte de cuidar dos enfermos nos momentos mais decisivos da vida
        
         Nos últimos anos tenho trabalhado de forma aprofundada a categoria do cuidado, especialmente nos livros “Saber Cuidar” e “O Cuidado Necessário” (Vozes). O cuidado, mais que uma técnica ou uma virtude, representa uma arte e um paradigma novo de relação para com a natureza e com as relações humanas, amoroso, diligente e participativo. Tenho tomado parte em muitos encontros e congressos de operadores de saúde, com os quais pude dialogar e aprender, pois o cuidado é a ética natural dessa atividade tão sagrada.
         Retomo aqui algumas ideias referentes às atitudes que devem estar presentes em quem cuida de enfermos, seja em casa ou no hospital. Vejamos algumas delas.
         Compaixão: é a capacidade de colocar-se no lugar do outro e sentir com ele. Não dar-lhe a impressão de que está só e entregue à sua própria dor.
         Toque da carícia essencial: tocar o outro é devolver-lhe a certeza de que pertence à nossa humanidade. O toque da carícia é uma manifestação de amor. Muitas vezes, a doença é um sinal de que o paciente quer se comunicar, falar e ser ouvido. Quer identificar um sentido na doença. O enfermeiro ou o médico e a médica podem ajudá-lo a se abrir e a falar. Testemunha uma enfermeira: “Quando te toco, te cuido; quando te cuido, te toco; se és um idoso, te cuido quando estás cansado; te toco quando te abraço; te toco quando estás chorando; te cuido quando não estás mais podendo andar”.
         Assistência judiciosa: O paciente precisa de ajuda, e a enfermeira ou o enfermeiro deseja cuidar. A convergência desses dois movimentos gera a reciprocidade e a superação do sentimento de uma relação desigual. A assistência deve ser judiciosa: tudo o que o paciente pode fazer, incentivá-lo a fazer, e assisti-lo somente quando já não o pode fazer por si mesmo.
         Devolver-lhe a confiança na vida: o que o paciente mais deseja é recuperar a saúde. Daí ser decisivo devolver-lhe a confiança em suas energias interiores, físicas, psíquicas e espirituais,  pois elas atuam como verdadeiras medicinas. Incentivar gestos simbólicos, carregados de afeto. Não raro, os desenhos que a filhinha traz para o pai doente suscitam nele tanta energia e comoção que equivalem a um coquetel de vitaminas.
         Fazê-lo acolher a condição humana: normalmente o paciente se interroga perplexo: “Por que isso foi acontecer comigo, exatamente agora que tudo na vida estava dando certo? Por que, jovem ainda, sou acometido de grave doença?”. Tais questionamentos remetem a uma reflexão humilde sobre a condition humaine que é, em todo o momento, exposta a riscos e a vulnerabilidades inesperadas.
         Quem é sadio sempre pode ficar doente. E toda doença remete à saúde, que é o valor de referência maior. Mas não conseguimos saltar por cima de nossa sombra e não há como não acolher a vida assim como é: sadia e enferma, bem-sucedida e fragilizada, ardendo por vida e tendo que aceitar eventuais doenças e, no limite, a própria morte. É nesses momentos que os pacientes fazem profundas revisões de vida. Não se contentam apenas com as explicações científicas, dadas pelo corpo médico, mas anseiam por um sentido que surge a partir de um diálogo profundo ou da palavra sábia de um parente, de um sacerdote, de um pastor ou de uma pessoa espiritual. Resgatam, então, valores cotidianos que antes nem sequer percebiam.
         Acompanhá-lo na grande travessia: há um momento inevitável em que todos devemos morrer. É a lei da vida, sujeita à morte: uma travessia decisiva. Ela deve ser preparada por toda uma vida que se guiou por valores morais generosos, responsáveis e benfazejos. A tragédia da vida não é a morte, mas aquilo que deixamos morrer dentro de nós enquanto vivemos.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 6 de setembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 22).

Mais uma importa e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de MAURO WERKEMA, que é jornalista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Brecht e o ‘analfabeto político’
        
         O dramaturgo alemão Bertold Brecht, crítico mordaz da sociedade burguesa, dizia que “o pior analfabeto é o analfabeto político”. É aquela pessoa que, numa espécie de empáfia entre arrogante e burra, estufa o peito para dizer: “detesto política”. Nas palavras do papa Francisco, trata-se da “indiferença orgulhosa”. Não votam ou anulam a cédula eleitoral. Não percebem que são elas que justamente permitem, com seu afastamento, ou inconsciência, ou falta de cidadania e de humanismo, a existência dos maus políticos, dos desonestos na vida pública, das mazelas dos governos e assim por diante. Insensíveis e omissos, esquecem-se de que a política é atividade que permite a construção da vida republicana e da democracia e que é pelo seu exercício que os cidadãos elegem e sustentam governos. E podem mudar maus governos e maus políticos.
         Se a vida pública, entre nós, em todo o mundo, em todos os tempos, tem desvios, com os corruptos e incompetentes, exploradores dos mandatos populares, não quer dizer que simplesmente deva o cidadão, aquele que vive em sociedade, negar inteiramente essa atividade, omitindo-se. Ou negando-se a enxergar, participar, interagir, opinar, votar. Na verdade, abdica de sua condição de pessoa, de ser social, inserido num processo histórico, que indispensavelmente tem vida compartilhada com seus congêneres, vizinhos, colegas de trabalho e de vida, cidadãos de uma mesma comunidade, interdependentes de normas, leis, ações governamentais. Na verdade, o omisso é pior do que o crítico negativista. Este, pelo menos, tem opinião e presta atenção mínima na realidade.
         Política, na sua melhor definição, é a busca de caminhos consensuais em prol do bem público. Ou seja, é a construção de caminhos comuns para consumação dos interesses coletivos. Este é conceito originário da velha e sábia Grécia, que floresce por volta dos anos 400 a.C., auge da civilização helênica, sob o ensinamento de filósofos como Aristóteles e Platão. Nasce a ideia de república. A polis grega é a política e também a cidade, é o exercício, portanto, interligado e essencial da cidadania, pela ação política, na ágora (praça), onde todos estavam. Portanto, a não ser que a pessoa fuja da vida urbana, entre para uma caverna e tenha vida ermitã, isolada e sozinha, não tem consciência lógica ou qualquer sentido, renegar a política como atividade imanente à vida humana quando exercida coletivamente.
         Evitar e condenar os maus políticos quanto é da essência desta atividade o debate de ideias. Cabe ao cidadão consciente de seu papel, do seu tempo, da sua responsabilidade histórica, evitar os maus políticos, aqueles que traem a confiança popular, que submetem seus mandatos aos interesses próprios escusos e desviantes do verdadeiro sentido da representação popular. Mas o importante é que os maus políticos se elegem e se perpetuam nos seus mandatos justamente em razão da omissão dos “analfabetos políticos” que, com sua alienação, permitem a existência destas “ervas daninhas”. O voto, que tem peso igual para todos, ricos e pobres, doutores e iletrados, colhido por sufrágio universal, na urna indevassável, é a melhor arma para afastar os maus políticos. É a arma do cidadão, para promover a transitoriedade dos mandatos e dos governos. Os que se recusam a votar estão, na verdade, despindo-se de sua condição cidadã, fugindo de qualquer responsabilidade coletiva, abstraindo-se  da sua própria  condição de ser vivo, consciente, inserido num processo histórico. Deixa de ser gente, ou agente da história, é ser passivo, despido de solidariedade, de fraternidade, de responsabilidade para com si e seus semelhantes.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; logística; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, a informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e  de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A CIDADANIA NA LUTA PELA ELIMINAÇÃO DA POBREZA

“Por amor ao outro

O Fórum das Letras de Ouro Preto, que terminou na segunda-feira, teve como tema a literatura africana de expressão portuguesa. Durante seis dias, dezenas de escritores de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde dialogaram com seus colegas brasileiros. O público, que este ano quase dobrou em relação às edições anteriores, teve à disposição uma gama de debates e temas, que foram da literatura ao cinema, passando pelo jornalismo, história, religião e ecologia. Num tempo que cultua a pressa e a superficialidade, o fórum deu uma lição de calma e conteúdo; num momento em que todos exibem títulos de posse de saber, o encontro se deu a portas abertas, sem necessidade de crachá de qualquer espécie, dos burocráticos aos ideológicos.

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NOVA CHAVE O Fórum de Ouro Preto parece assumir feição própria. E sobre isso cabe uma reflexão de ordem mais política. Na sociedade contemporânea acostumamos a deixar sempre para o outro a função de fazer o mundo funcionar. A responsabilidade é sempre dos políticos, dos dirigentes, da elite, dos pais, dos patrões, dos mandantes. O cidadão, mesmo que cobre espaço de avanço da cidadania, quer tudo garantido pela lei e exercido pela autoridade pública.

Marcuse, num ensaio intitulado “Ultrapassar o conceito de massas”, defendia que o processo social e a revolução se instalavam em indivíduos grávidos de necessidade de libertação. Só os que vão além do egoísmo são capazes de mudanças. O maior desafio revolucionário não se dá em grandes estruturas, mas no indivíduo. A passagem decisiva para transformar o mundo, lendo o filósofo com liberdade, se dá no trajeto do homem solitário para o homem solidário.

Ronald Laing, ao definir o “homem dividido”, alertava para esse duplo vínculo, entre as demandas do individualismo e o compromisso com todos os homens. Não é preciso dizer para que lado anda pesando essa divisão do ego. No nosso cotidiano competitivo, as pessoas só se dispõem a fazer algo que sirva para elas, que lhes dê lucro. A visão de comunidade só é possível para quem também se vê como parte do grupo. A nova chave política deve somar os anseios coletivistas com a mudança da sensibilidade individual.

O que isso tem a ver com o Fórum das Letras? Muito. Organizar um evento que não dá lucro, voltado para temas que não tornam os outros mais poderosos, que não exige mais que interesse e curiosidade, que se esmera em melhorar as pessoas é uma ação política meritória. A isso se soma o cuidado em se fazer o trabalho com cuidado e distinção, dando a todos a sensação de participar de uma situação civilizada. Além disso, dá para imaginar a carga de tarefas, que vão do desenho intelectual ao cumprimento das demandas operacionais de toda ordem.

A organizadora do evento, a escritora Guiomar de Grammont, simbolizou, com seu comportamento eficiente, inteligente, elegante e afetivo, a possibilidade de mobilizar uma equipe em direção a objetivos que vão além do sucesso do Fórum para se tornar um ganho de alma para cada participante. Foi, como toda ação que vale a pena, algo feito pelo amor ao outro.

Que o outro não exista como um número ou patente, mas como um indivíduo que dialoga com seu tempo com mais repertório, informação e compartilhamento, é o mérito maior dessa história toda. Algo que não serve para nada, que não dinheiro para ninguém e que não discrimina. E ainda teve a palavra iluminada e humilde de Adélia Prado e o urgente grito pela salvação da mãe Terra proferido por Leonardo Boff. Além de nos revelar melhor a fraternidade que nos une aos irmãos do outro lado do Atlântico. Não podia ser melhor.”
(JOÃO PAULO, em artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 20 de novembro de 2010, Caderno PENSAR, página 2).

Mais uma IMPORTANTE e também OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 19 novembro de 2010, Caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de MAURO WERKEMA, Jornalista, que merece INTEGRAL transcrição:

“Eliminação da pobreza

A erradicação da pobreza extrema não é tarefa fácil. Na verdade, não há, em todo o mundo, modelos universais para tal tarefa para países com crônicas e gritantes desigualdades, herdadas de cinco séculos de desequilíbrios econômicos e sociais, como o Brasil. Trata-se de ação prioritária, continuada, coletiva, multissetorial, interdisciplinar e sustentada por fortes recursos públicos e privados, se o objetivo é tirar populações da condição de miserabilidade sem que essa intervenção seja mero populismo paternalista. Ou seja: não é só dar o peixe mas garantir que as pessoas aprendam a pescar, o que exige ações integradas e simultâneas de educação, de profissionalização, de geração e criação de empregos, de oferecer moradia e saúde. Enfim, que o ser humano degradado, retirado do mercado de consumo e de produção, possa adquirir as qualidades de cidadão efetivamente em interação ativa na sociedade emergente, em processo de reconstrução psicológica e cultural, como um efetivo agente de mudança.

É claro que é possível. Mas em que tempo, com quais modelos e recursos e com tipo de gestão? São respostas difíceis, possíveis na teoria, mas certamente complexas na prática, especialmente no campo das condutas humanas, de seres vivos desclassificados socialmente, sem visão de perspectiva e sem consciência de que podem mudar. No campo ideológico, em que historicamente sempre se travou esse debate, se crê que não é possível uma sociedade de classes médias sem alteração dos modelos contidos nas ordens política e econômica. De qualquer maneira, a campanha presidencial já teve um grande mérito, que foi colocar o tema da eliminação da pobreza extrema ou, pelo menos, a redução das desigualdades, na agenda das discussões de primeira linha. E a presidente Dilma parece disposta a enfrentar o desafio. Esperamos todos que a promessa de campanha se torne realidade e que a sociedade como um todo, não só a classe política e o governo, mas empresários, igrejas, universidades, entidades de toda natureza, possa se engajar nessa grande, ética e meritória meta.

O Brasil é hoje a oitava economia do mundo e pode ser a quinta, em poucos anos. Mas ocupa a 73ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Hoje, cerca de 30 milhões de brasileiros, equivalentes a 15% da população, vivem com menos de R$ 140 por mês, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Há 10 anos eram 57 milhões. Os indigentes, pobres extremos, são cerca de 11 milhões. Embora a criação de empregos seja o vetor principal na redução da pobreza, outros fatores devem ser conjugados, conforme os especialistas em políticas sociais. Educação e, sobretudo, a vertente da formação profissional são os dois coadjuvantes principais, promotores verdadeiros da elevação social não paternalista, pois possibilitam a mudança humana, a autoestima, a recriação do ser produtivo e com inserção na população economicamente ativa.

Erradicar a miséria tem sido o ideal de todos os sistemas ou ideologias políticas que colocam a justiça social como meta fundamental. Sua conquista perfaz, sem dúvida, toda e qualquer ética política e não só da esquerda idealista, quase sempre romântica e ingênua, mas sempre humanista. Se o Brasil tem a oportunidade de construir uma sociedade mais igualitária e efetivamente caminhar nesta direção, pela via pacífica e institucional, como esforço coletivo de alto conteúdo cívico e ético, mesmo em prazo mais longo, estará dando ao mundo um histórico e formidável exemplo de capacidade de realização, de profundo sentido humanista.”

Eis, pois, mais páginas com RICAS e PROFUNDAS REFLEXÕES que orientam nossos melhores ESFORÇOS no sentido de uma das transformações mais RADICAIS que os tempos hodiernos estão a EXIGIR, e nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, EDUCADA, QUALIFICADA, IGUALITÁRIA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS necessários e previstos para eventos como a COPA DO MUNDO DE 2014, a OLIMPÍADA DE 2016 e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO XXI, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um mundo da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...