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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A REVOLUCIONÁRIA LIÇÃO DO SERMÃO DA MONTANHA E OS ADOLESCENTES NOS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE

“Há 122 anos
        Conhecido como um autor de romances famosos no século XIX, Leon Tolstói passou por uma fulguração comparável àquela de São Paulo no caminho de Damasco. Depois de um consagrador sucesso, renegou seu modo de viver que lhe dava trânsito nos salões dourados das aristocracias russa e europeia, virou a página, escrevendo a obra-prima “O Reino de Deus Está em Vós”.
         Rompeu, com antecedência de alguns séculos, os paradigmas sociais, políticos e culturais de seu tempo. Sem inventar nada. Apenas adotando o Sermão da Montanha como filtro de seu olhar, fez uma crítica penetrante ao sistema vigente em sua época, à forma de governar e dominar as massas. Mostrou que as vias da não violência e o respeito à verdade são imprescindíveis para uma sociedade harmoniosa.
         Imediatamente excomungado pela Igreja Ortodoxa Russa e banido pelo governo do czar, Tolstói passou a sofrer perseguições em toda a Europa. Seu livro profético, entretanto, chegou ao cidadão indiano Gandhi, depois reconhecido como Mahatma (grande e excelso homem), transformando radicalmente o curso de sua vida, despojando-o de qualquer ambição material e colocando-o a serviço de uma missão superior, social e política aqui, na terra. Especialmente na subjugada e miserável Índia, fracionada em classes intransponíveis e explorada pelo império inglês.
         O livro desapareceu de circulação, queimado nas fogueiras, e foi reeditado apenas em 1988, quando inspirou os movimentos de ecologistas, pacifistas, intelectuais do bem que anseiam pela sobrevivência da humanidade num modelo sustentável e universal. O livro se mantém atual como nunca, mereceria ser estudado nas escolas e estar na cabeceira dos homens de poder, especialmente os políticos que, ao assumirem um mandato, anseiam pelo bem-estar de uma nação sem prejudicar as demais.
         “Veja quanto é inútil e injusto recolher impostos do povo trabalhador para enriquecer funcionários (ocupantes de cargos públicos) ociosos”, apostrofou Tolstói.
“Quanto mais alta é a posição de um homem na hierarquia corrompida, tanto mais instável (e nociva) sua presença, pois ele tem fé na duração ilimitada da organização (criminosa) existente, que lhe permite cometer barbaridades com a maior e a mais perfeita tranquilidade de espírito, como se não agisse em seu proveito (para se locupletar)... Essa é a situação quase comum dos funcionários (do Estado) que ocupam posições mais lucrativas (e estratégicas) de quanto poderiam ocupar em outra organização (por mérito real e pessoal)”, escreveu no ano de 1894.
         “Na função pública, a tendência (de exploração do poder) se estende do mais humilde policial à mais alta autoridade”, anotando, infelizmente, que o poder se presta aos interesses pessoais. O governo defende a cobrança de impostos para atender a saúde pública, mas não se esforça para livrar-se da corrupção que o devasta. Insistem em cobrar mais, quando poderia primeiramente gastar menos cortando os desvios monumentais.
         Bilhões são subtraídos na forma de impostos para aplicar em aposentadorias injustas, privilégios descabidos para autoridades. Práticas que apenas sobrevivem no Brasil quebrado e castigado por filas infindáveis no atendimento.
         Outros bilhões são desviados cinicamente, com juros da dívida, de obras públicas desnecessárias, da merenda escolar, do programa Bolsa Família, num país que enfrenta parcela assustadora de crianças e jovens sem alimentação suficiente e que, bem por isso, pagam com graves prejuízos em sua formação.
         Escreveu Tolstói há 122 anos: “A corrupção consiste em tomar do povo suas riquezas por meio de impostos e distribuí-las às autoridades constituídas, que se encarregam de manter e aumentar a opressão (e o desserviço). Essas autoridades compradas, desde os ministros até os escreventes, formam uma invencível união pelo mesmo interesse: viver em detrimento do povo. Enriquecer, tanto mais quanto maior é a submissão” aos esquemas perversos que exploram o poder.
         Para chegar a isso, observa que é o “hipnotismo” do povo, que consiste em deter o desenvolvimento moral dos homens, com diversos métodos, inserindo o arcaico conceito de vida materialista, apegada a vícios, superstições e prazeres ilusórios.
         Faleceu como “subversivo excomungado”, pregando que os “deveres de cidadão devem ser subordinados aos deveres superiores da vida eterna de Deus” e lembrando, do Atos dos Apóstolos (5,29): “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens”.”.

(VITTORIO MEDIOLI, em artigo publicado no jornal SUPER NOTÍCIA, edição de 22 de janeiro de 2017, caderno OPINIÃO, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de janeiro de 2017, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de ARISTIDES JOSÉ VEIRA CARVALHO, médico, mestre em medicina, especialista em clínica médica e em medicina de família e comunidade, e que merece igualmente integral transcrição:

“Adolescentes: segurar ou soltar?
        A forma de lidar com os adolescentes tem despertado discussões frequentes entre os pais. Nas rodas de conversa, é muito comum ouvirmos que os “filhos são todos iguais, o que muda é o endereço”. É uma frase que abranda a ansiedade. Traz consolo. Alivia. E tem a sua importância nos momentos críticos, quando as relações ou as situações causam surpresa, perplexidade ou dificuldade.
         Sabemos da diversidade dos relacionamentos entre pais e adolescentes. Em alguns casos, há enorme dificuldade para que a convivência se harmonize. Em outros, nem tanto. O fato é que, em um número expressivo de situações, nós, pais, devemos ter habilidade para lidar com as demandas dos nossos filhos. Muitas vezes precisamos pedir ajuda profissional ou de pessoas mais próximas, o que deve ser feito sempre que necessário. Essa afirmativa pode não ser devidamente valorizada por alguns, mas é importante dizer que a postura de segurar a barra sozinho quando “o leite está entornando”, assumindo a radicalidade do provérbio popular de que “quem pariu Mateus que o embale”, não nos parece ser uma medida sensata. Precisamos uns dos outros.
         É muito comum idealizarmos nossos filhos. Não há, a princípio, erro nisso. Temos os nossos sonhos e neles os incluímos, quase sempre com palavras e atitudes previsíveis e “politicamente corretas”. Mas as particularidades de cada filho e as influências do contexto sociocultural, muitas vezes comprometem essa imagem idealizada e nos geram sofrimentos. Isso é importante destacar porque teremos variações nos comportamentos e na forma de lidar com os nossos filhos e com as nossas expectativas.
         Não obstante as muitas pesquisas sobre o tema, não há uma “receita de bolo” para lidar com os adolescentes. As orientações podem surtir efeito em determinados momentos, mas na dependência da sua característica (autoritárias, liberais, democráticas, entre outras) e das particularidades do adolescente envolvido não serão eficazes, podendo, inclusive, ter consequências não muito positivas.
         É sabido que o adolescente quer conduzir a sua vida, fazer suas escolhas, o que significa ser sujeito. No relacionamento com ele vale o ensinamento dos antigos sobre o equilíbrio. O papel de chamar para o equilíbrio cabe sobretudo aos pais. A partir do diálogo é fundamental estabelecer limites. Alguns adolescentes não querem receber “não” como resposta, o que faz com que certas conversas sejam tensas e alguns “nãos” sofridos, mas necessários.
         A importância do exemplo que damos e dos princípios/valores que passamos aos nossos filhos deve ser sempre destacada e repetida. Mas os seus frutos não são colhidos no curto prazo, o que nos angustia e nos pede paciência.
         Essas pontuações nos remetem a uma aproximação e a uma tentativa de resposta à pergunta apresentada no título deste artigo: segurar ou soltar?. Novamente temos que admitir que não há uma única resposta. Dependerá da situação. O que podemos afirmar sem receio de errar é que os adolescentes devem ser preparados – e constantemente lembrados – para a autonomia, para o respeito e para a responsabilidade. Na verdade, essa formação provavelmente já se iniciou bem antes da adolescência. Mas fizemos questão de destacar essas palavras, porque elas se implicam e se interagem. E são fundamentais.
         Caberá a nós, pais, ao exercer nosso papel de educadores, trabalhar de forma equilibrada essa condução, sabendo que algumas vezes teremos que “segurar e em outras soltar”. Não é tarefa fácil. Acertaremos algumas vezes e erraremos em outras.
         Provavelmente, alguns pais dirão que nunca tiveram problemas com os seus filhos adolescentes. Que bom. Que bênção! Entretanto, sabemos que há um grande número de pais que convivem com sérios problemas na relação com os seus filhos. É para eles que fazemos as pontuações deste artigo e queremos destacar a importância da paciência, do carinho, do diálogo, de pedir ajuda quando necessária e de manter sempre acesa a chama do amor. E mais: que não desistam de seus filhos. Aos poucos o caminho vai ficando mais claro e a vida mais leve.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em novembro a ainda estratosférica marca de 482,05% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 330,65%; e já em dezembro o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 6,29%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 946,4 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        
 

  

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, O PODER DA ÉTICA NA SAÚDE E A VIVÊNCIA DA TOLERÂNCIA NA SUSTENTABILIDADE

“O avanço da ética
        Com a recente instalação do Conselho Consultivo do Instituto Ética Saúde, em julho passado, finalizamos a composição de um modelo de governança que reúne todos os elos da cadeia para discutir ética e integridade na comercialização de dispositivos médicos implantáveis. Chegar até esse ponto exigiu esforço e muita seriedade para mostrar que o sistema de autorregulação é de fato um mecanismo eficaz para o banimento de práticas antiéticas e ilegais no segmento, que tanto comprometem a decência e a sustentabilidade da saúde em geral.
         Essa credibilidade chegou e veio acompanhada de um cenário de mais de 1.700 denúncias recebidas. Muitas em tratamento, outras tantas já encaminhadas às autoridades, mas nosso conforto se dá ao constatarmos que este elevado número de denúncias reflete, na mesma proporção, as mudanças do mercado e os significativos avanços.
         Foram dezenas de investigações, em âmbito federal, estadual e municipal, e a mais recente que tivemos notícia foi no Distrito Federal. Sem contar aquelas operações que, já em andamento, recolhem provas sigilosamente e que ainda virão à tona. É um caminho sem volta em direção à integridade e nos orgulhamos por contribuir e fomentar essas ações e discussões.
         Um importante sinal de que a situação está mudando é o resultado de um recente levantamento feito pelo Instituto Ética Saúde com as empresas afiliadas. A pesquisa, respondida por todas as 267 empresas que fazem parte do instituto, constatou uma ampla adesão aos programas de compliance e implantação interna de códigos de ética e conduta. O levantamento revelou que 32% das empresas já têm um programa de compliance estruturado e 42% estão implantando. Já em relação aos códigos de ética ou conduta, 43% das companhias têm regras estruturadas e em execução e 36% estão em andamento para concluir a implantação.
         Ainda temos uma longa trajetória e conforme vamos avançando, as discussões vão se tornando mais complexas e passam a tocar em pontos sensíveis do segmento, como, por exemplo, a necessidade de reconhecimento da chamada corrupção privada na área da saúde. Existem práticas reiteradas que ocorrem em âmbito privado e que ficam sem proteção legal, sendo consideradas apenas infrações de natureza ética.
         Apresentamos na Enccla – Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro algumas propostas que podem impactar positivamente o setor, além da proposta de alteração legislativa com vistas a penalizar práticas relevantes de corrupção privada (sem a presença de agente público). Sugerimos, também, a elaboração do Estatuto do Paciente ou Usuário de Serviços de Saúde e a proposta de elaboração do Plano de Integridade para Órgãos e Entes do Poder Público envolvidos em ações e serviços de saúde do SUS. As ações da Enccla têm impacto muito rápido no mercado e esse olhar focado para a saúde representará uma grande conquista.
         Seguimos na luta imbuídos de um espírito agregador, confiantes em que a movimentação da sociedade civil é capaz de mudar o país e de promover um setor de saúde baseado em ética, integridade e direcionado à sustentabilidade.”.

(CLAUDIA SCARPIM. Diretora-executiva do Instituto Ética Saúde, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de novembro de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Evangelho da tolerância
        O mundo celebra, todos os anos, o Dia da Tolerância, oportunidade para que cada pessoa reconheça a necessidade de vivenciá-la no cotidiano. A tolerância é valor necessário para o equilíbrio da sociedade. Quando se desconsidera esse valor, crescem na humanidade as inimizades, os revanchismos e muitas outras ameaças às relações pessoais, políticas e institucionais. Por isso, tolerância não pode ser compreendida apenas como uma questão governamental, relacionada ao tratamento das religiões que se diferem daquela que é partilhada pela maior parte de uma nação. O Ocidente inaugurou, a partir da Reforma Protestante e das guerras motivadas por disputas religiosas, uma grande modificação no entendimento desse conceito, tornando-o mais abrangente.
         A evolução da tolerância, enquanto valor social, pode ser percebida a partir das reflexões de muitos filósofos, que advertem a respeito da existência de uma prisão: por muitas vezes, pessoas se enjaulam na própria opinião quando se encontram com alguém que pensa diferente. Uma rigidez alicerçada na desconsideração de conceitos morais, na estreiteza de horizontes, na mediocridade de intuições e inventividade. Essa dureza traz impactos na dimensão relacional e gera o malefício terrível da intolerância. Mata diálogos, tenta justificar autoritarismos, fomenta discriminações e permite que sejam erguidas as bandeiras da exclusão, da desconsideração de raças, culturas e povos. É, assim, base para preconceitos e abusos de poder.
         A intolerância inviabiliza entendimentos e gera o caos, por obscurecer princípios básicos e, consequentemente, dar lugar às tiranias e à impiedades. Condutas que são alicerçadas nas razões afetivas contaminadas por desvios éticos e morais. Entre os desdobramentos estão as concessões de todo tipo oferecidas aos próprios pares, enquanto se trata, impiedosamente, os diferentes. Antídoto para esse mal é a tolerância compreendida a partir de sua evolução conceitual, política e social, que se relaciona à compreensão mútua entre os que partilham perspectivas divergentes. Uma atitude indispensável para não inviabilizar o funcionamento social e político, como também as relações familiares e institucionais.
         Da tolerância de governos, apontada pelo filósofo Locke, na sua Carta sobre a Tolerância, “escancaram-se as portas” para uma compreensão mais ampla e determinante na vida da sociedade: agir com tolerância evita um caos social e político que recai sobre a cabeça de todos. É conduta imprescindível para se conquistar a paz, o bem, o respeito à dignidade humana e o progresso nas relações que tecem a cultura. Assim, quando a tolerância norteia atitudes, alcança-se um grau admirável de civilidade, com desdobramentos na organização social e política. Já a direção oposta a esse qualificado modo de agir leva ao crescimento das segregações, do ódio e das disputas que alimentam os focos de guerra, gerando xenofobias e massas de refugiados perseguidos. As consequências também são percebidas nos lares, nos escritórios e nas repartições públicas, frequentemente contaminados pela desarmonia.
         No horizonte amplo e fundamental do conceito de tolerância, é urgente exercê-la, especialmente, trilhando os caminhos de uma espiritualidade que pode, com mais eficácia e rapidez, qualificar cada pessoa para conviver com quem é diferente. Essa espiritualidade sustenta a tolerância que fecunda projetos, respeita e promove dignidades, salva a sociedade da violência e de outras ameaças. Nesse sentido, oportunidade de ouro é conhecer o Evangelho da Tolerância, que reflete o jeito de uma pessoa: Jesus Cristo, o Mestre de Nazaré.
         A vida de Jesus é o Evangelho da Tolerância, escrito para nortear os gestos cotidianos de todos e, assim, sustentar grandes transformações. A luz desse evangelho balizou a essencialidade das práticas do cristianismo em interface com outras religiões e escolhas confessionais. Encontros guiados por valores que superam a mesquinhez do egoísmo e permitem compreender que qualquer tipo de discriminação é inadmissível. Parâmetros a partir dos quais se reconhece que o mundo é de Deus e deve ser partilhado, igualmente, por todos.
         Nesse rico Evangelho da Tolerância há um núcleo fundamental, nascido no coração de Jesus e eternamente desenhado por suas palavras: o Sermão da Montanha, capítulos cinco a sete, apresentado pelo evangelista Mateus. Trata-se de uma leitura a ser adotada diariamente, fecundando a meditação que orienta as práticas do dia a dia. A preciosidade desse núcleo pode ser reconhecida a partir do comentário instigador e provocante de Mahatma Gandhi, ao dizer que se os cristãos levassem a sério o Sermão da Montanha, operariam uma radical revolução no mundo, nas relações e nos propósitos, desencadeando uma civilização fundamentada no amor e na paz.
         O exercício diário de ler o Sermão da Montanha é simples e custa muito pouco – somente o tempo do silêncio restaurador, que também é fonte de sabedoria e de saúde. Por isso, todos são convidados para, individualmente, em família, no trabalho, ou mesmo na roda de amigos, ler um trecho, ainda que seja um só versículo. Assim é possível exercitar o coração e a vida no Evangelho da Tolerância.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em outubro a ainda estratosférica marca de 475,8% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial  registrou históricos 328,9%; e também no mesmo período, o IPCA acumulado  chegou a 7,87%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        
 
 



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA ÉTICA NA POLÍTICA E A LUZ DA ESPERANÇA

“Ética na
POLÍTICA
        
         O momento atual é dos mais propícios para se falar de ética na política. Convivi durante muitos anos com esta questão, em conversas, reflexões, discussões e atitudes, na companhia de Célio de Castro, ex-prefeito de Belo Horizonte e meu mestre na matéria. Através de sua sensibilidade e coerência, muito aprendi com ele, com sua incrível disposição de participar da política, sempre resguardando a ética. Graças a nossos diálogos, construí minha visão pessoal sobre as relações entre ambas.
         Hoje, a palavra “política” tem conotações bastante negativas. Costumamos relacioná-la a episódios recorrentes em nosso País, ligados à corrupção e à falta de senso moral de alguns políticos. Quando analisamos o desenvolvimento do estado, principalmente nos últimos 50 anos, observa-se como se desenrolou sua proteção social. Ela se deu num contexto de esforço mundial de reconstrução econômica do pós-guerra nos países destruídos, especialmente o Japão. Nos anos 50 do século XX, criou-se a necessidade premente de conhecimentos e tecnologia que pudessem dar conta não só dessa reconstrução, mas de um novo patamar de desenvolvimento.
         “Desenvolvimento” tornou-se uma palavra emblemática nos anos posteriores, marcados pela emergência de uma nova espécie de idolatria da razão. Nesse contexto, a humanidade se sentiu perplexa diante dos feitos da ciência e da tecnologia, que conseguiam equacionar satisfatoriamente a economia dos países envolvidos na reconstrução. Os esforços racionais do homem sobre a natureza e sobre si mesmo, no que se refere ao desenvolvimento da capacidade de controle do mundo, levaram ao endeusamento da razão. Tais esforços foram excepcionalmente bem sucedidos. Não existia mais a capacidade metafísica dos gregos para a transcendência do sentido da vida, na procura do bom, do belo e do verdadeiro. Não mais se valorizava a transcendência renascentista da arte. Já não se dava o mesmo valor ao ser humano capaz de transcender infinitamente a própria racionalidade.
         No Brasil, o desenvolvimento da cultura e da ética ocorre no Estado Novo, tutelador e paterno. Sua marca foi a resposta dada à necessidade de distribuição da enorme capacidade de produção de riqueza, através da expansão de sindicatos, ainda que corporativos. Em inúmeros movimentos sociais surgem indagações sobre as causas e a finalidade do desenvolvimento econômico sem a distribuição da riqueza. Surge, também, o chamado comunismo legalizado, e, depois a Glasnost, a queda do Muro de Berlim. Agenciam-se as palavras de Gandhi: “Façamos em nós a mudança que queremos que os outros façam neles.” Incrementa-se a orientalização filosófica do Ocidente, no geral caricaturada e capenga.
         Tudo isso revela uma necessidade de se encontrar sentido para a vida, muito além do consumo e do prazer, da mediocridade da vida social e familiar que olha apenas para o próprio umbigo. O emblema da ética na cultura é a luz do fim do túnel para o ceticismo, o niilismo e a depressão – trilogia que o ex-prefeito observou por tantos anos em seus pacientes, combatendo-a com crença e otimismo.
         Quantos de nós podemos dizer que acreditamos em ética na política? Poucos seriam os braços levantados. Eu mesma, se não tivesse sido intensamente influenciada pela crença de Célio, teria hesitado em levantar meu braço. Ou, no mínimo, levantaria o braço direito e taparia o nariz com a mão esquerda. Em 1992, ante o movimento dos caras-pintadas, sugeriu-se que a ética deveria ser introduzida não só na política como também na economia: “A bandeira da ética e da dignidade levantada nas ruas não termina no combate à corrupção. Essa ética passa por pão, casa, trabalho, educação, saúde e segurança para todos os brasileiros.”
         Assim, ser um grande ícone da ética é acreditar no ser humano, na sociedade civil organizada ou não, pois na política se pode encontrar a expressão de nossa responsabilidade social. A crença do nosso ícone na política e nos políticos nasce de uma profunda crença em si mesmo, na sua natureza, que transcende a razão e a experiência. A metáfora dessa natureza corresponde a uma pequenina e ofuscante luz, surgida muito mais muito mais do que além do tempo em que aconteceu o Big Bang, há 150 milhões de anos.
         A pequenez desta luz, tão distante no tempo, nos fala das milhares de mudanças que foram necessárias para que ocorresse o surgimento do planeta, do ser humano e dos fantásticos acontecimentos dos últimos 50 anos. Esses acontecimentos, na verdade, tornam-se insignificantes quando colocados numa linha do tempo tão extensa. É na consideração desta aparentemente inexpressiva história da humanidade e suas conquistas que nasce a perplexidade que possibilita a crença nas transformações ainda passíveis de serem construídas pelo homem. Principalmente, se levada em conta a unidade de grandeza dessa linha do tempo em direção ao futuro. É refletindo na relatividade do tempo humano que o nosso mestre fundamenta a crença em si mesmo, no ser humano e, por conseqüência, na ética e na política.”

(ISABEL DE OLIVEIRA HORTA, é médica homeopata, presidente da ONG Instituto Ethica – Desenvolvimento de Projetos e Pesquisas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de julho de 2004, caderno PENSAR, página principal).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 30 de novembro de 2007, caderno OPINIÃO, página 15, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Uma esperança fidedigna
        O Santo Padre, o papa Bento XVI, mais uma vez, se dirige aos membros da Igreja Católica e a todos os homens e mulheres na sociedade contemporânea, de modo brilhante e monumental, brindando a todos com uma nova carta encíclica SPE Salvi, sobre a esperança cristã. O brilhantismo desta carta encíclica não é referência a um enfeite para encher os olhos com a força de uma imagem, impressionando, como sempre acontece, com muitas coisas, nos andamentos da sociedade atual. A carta encíclica é brilhante e monumental porque Bento XVI oferece elementos essenciais e indispensáveis para uma profunda radiografia do que está se passando em torno da esperança e da fé. Um procedimento radiográfico que traz uma insubstituível resposta para as questões existenciais mais candentes nos inícios deste terceiro milênio.
         Na verdade, a reflexão incita e proporciona autocrítica da idade moderna bem como do cristianismo, na vivência de sua fé. Uma autocrítica da idade moderna em diálogo com o cristianismo. Os cristãos são chamados a rever sua esperança, sua oferta ao mundo. Basta pensar que há um entendimento a respeito de progresso que está comprometendo valores e deteriorando de modo irreversível a compreensão e a vivência da vida. Basta pensar. O papa aborda, de maneira profunda e questionadora, o comprometimento da consciência ética e a erosão na capacidade e na propriedade da decisão moral. Na verdade, essa carta encíclica, publicada hoje, na festa do apóstolo Santo André, enfrenta a questão gravíssima do déficit de fé que se abate sobre a humanidade, corroendo culturas e esterilizando estruturas institucionais, mesmo aquelas eclesiais e eclesiásticas. Um déficit de fé que produz uma linguagem equivocada a respeito de muitos temas e de muitas questões fundamentais.
         Está ocorrendo um grande desvio de direção a partir de entendimentos que estão sendo produzidos e articulados em linguagens que abrem mão ou mesmo desconhecem questões fundamentais e básicas para modelar adequadamente a própria existência. Esse déficit de fé tem sido terrível. Ele é a causa do desgoverno nos rumos da sociedade e na incapacidade ética de correções de condutas e de posturas comunitárias e sociais. Bem assim, é um veneno que vai tornando estéril a vivência da riqueza da fé cristã, lançando muitos nas valas do desânimo, da amargura, da reclamação e da desesperança. A inteligência do intelectual brilhante e a lucidez do pastor põem o papa em cena, descortinando um horizonte que precisa ser olhado e afrontado para abrir caminhos novos para a Igreja e para a humanidade.
         É indispensável e insubstituível, portanto, como possibilidade de um novo passo, abordar, compreender e vivenciar a esperança. Sem uma esperança fidedigna não é possível enfrentar o caminho que é difícil e custoso. Ao abordar a esperança, pela qual se é salvo, como proclama o apóstolo Paulo em Romanos 8,24, toca o núcleo da compreensão e da vivência da fé. Ora, afirma o Santo Padre, a fé é esperança. A plenitude da fé é imutável profissão da esperança (Hb 10,22-33). Quando o apóstolo Pedro (I Pdr 3,15) fala do cristão como aquele capaz de dar a razão de sua esperança, fala da sua fé vivida e testemunhada. Assim, essa esperança tem uma referência fundamental e insubstituível. É Deus. É uma pessoa que é verdade e amor. A experiência do encontro com Ele é fonte da esperança fidedigna. Assim, um mundo sem Deus é um mundo sem esperança. É um mundo que põe sua esperança meramente no progresso ou nas leis da matéria como governo único do planeta. Ora, sem Deus, o mundo é obscuro, tenebroso. Diz bem o que isto significa, relembra o Santo Padre, o dito de um epitáfio antigo: “No nada, do nada, tão cedo recaímos”.
         O cristão tem um futuro. Por isso, a mensagem cristã é performativa, e não simplesmente informativa. Quem tem esperança vive de modo diferente. O papa recorda, entretanto, o exemplo de Santa Josefina Bahkita, sudanesa, nascida em 1869, canonizada em 1998 pelo então papa João Paulo II. Sua vida de escrava foi terrível. Conheceu patrões que a exploravam. Seu corpo estava marcado de dezenas de cicatrizes. Sua vida não tinha horizontes. Conheceu Jesus Cristo. Seu patrão supremo levou-a a encontrar a verdadeira liberdade, razão para a vida, alimentada pela esperança vivida na fé. Essa esperança vivida na fé realiza grandes mudanças, interferindo e qualificando culturas com valores pouco nobres. O cristianismo não trouxe mensagem sócio-revolucionária. Trouxe o mais importante, com força de mudanças radicais e com propriedades para capacitações singulares, ao propor o encontro com uma pessoa, transformando a vida por dentro. O Santo Padre indica o caminho para se compreender a verdadeira fisionomia da esperança cristã, sedimentada no amor que redime, de verdade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     



sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A CIDADANIA, A FONTE DE ENERGIA INTERIOR, A LUZ NA DEMOCRACIA E A SUSTENTABILIDADE

“A cura que advém do silêncio e 
do contato com a Fonte interior
        O real trabalho que pode ser feito em benefício da evolução e da cura de indivíduos, que estejam mental ou emocionalmente envolvidos com alguma situação, é aquele que ocorre por meio da irradiação de energia.
         Depois de esgotarmos a nossa aprendizagem nos vários campos de serviço externo, chegamos, pela vivência do silêncio, a esse caminho, o da irradiação da energia.
         A fonte de todo impulso criativo apenas pode ser conhecida quando o silêncio é o estado da matéria. A irradiação da energia, como cura, como elevação e como preenchimento de todos os espaços do universo – irradiação que se traduz em vida, amor, luz e poder –, só se faz no silêncio dos sentidos, das necessidades e dos movimentos, enfim, no silêncio do eu humano.
Quando se atinge esse estágio, é pela irradiação que as tarefas se cumprem. Nesse sentido, um segundo de puro contato com a Fonte interior tem mais valor que qualquer obra humana. Ao contatar com a energia da Essência fundamental, divina, origem de todas as essências, ao mergulhar na vibração da própria realidade interior e ao conhecer sua qualidade imanente, o indivíduo se une com o que não tem nome, não tem cor, não é definível e não é compreensível; une-se com aquilo que por nada pode ser contido, une-se com o Absoluto e o Vazio. Nos planos que estão acima da razão e do sentimento, sem nada ser, sua consciência penetra na plenitude da existência. É nesse estado de Graça que ele recebe a tarefa de irradiar a energia.
         A irradiação não é, pois, dirigida por forças humanas, não se destina a determinado ponto ou pessoa e em todos alimenta a sementa da Luz. Não é conduzida conscientemente pelo homem (e, se o fosse, não diferiria da magia), mas se esparge por todo o Cosmos, acolhe e permeia toda a Vida. Filha da sabedoria, não se restringe a tendências. Fruto do amor, não conhece separação. Sopro do Criador, eleva todas as criaturas.
         A energia de cura não tem dono; nada e ninguém a possui. Ela se doa por meio daqueles que podem prestar o serviço de irradiá-la. Esse serviço vem da comunhão com reinos espirituais, e quanto mais a energia de cura for absorvida pelos homens maior será, entre eles, a abertura para o contato com a energia divina. A irradiação é uma das principais chaves que guardam os portais de realidades sutis elevadas, mas a humanidade, em grande voltada para o nível material da vida, ainda desconhece a cura que ela promove e a finalidade desse serviço.
         O impulso que conduz uma pessoa à verdadeira cura é aquele que leva a sua consciência a desbravar universos interiores, a libertar-se da vida comum e ir ao encontro do Espírito. Enquanto os homens buscarem a cura visando a um ajuste ou reequilíbrio físico, mental ou emocional, não poderão sequer conhecer os objetivos que o Criador tem para eles. Não poderão compartilhar a Graça, uma das mais puras expressões da energia de cura.
         Como conhecer um sabor sem tê-lo provado? Como trazer a cura ao mundo sem se haver curado?
         A Água da Vida não é encontrada quando se tenta chegar à fonte, mas si quando brota do íntimo do indivíduo, saciando-lhe a sede, mergulhando-o em profundeza e abundância. Receber a Graça dessa torrente de amor infinito é saber sem ter aprendido, é ver sem ter olhado, é escutar sem ter buscado ouvir, é ser sem se lembrar do que se é.”.

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 30 de agosto de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de dezembro de 2007, caderno PENSAR, página principal, de autoria de MAURICIO ANDRÉS RIBEIRO, autor dos livros Ecologizar e Tesouros da Índia para a civilização sustentável, e que merece igualmente integral transcrição:

“DHARMA E
Sustentabilidade
        A cada dia, torna-se mais evidente que as atividades humanas causam a crise ecológica e climática atual, que ameaça a proteção e as garantias para a vida. Nesse contexto, torna-se pertinente conhecer como as diversas matrizes da civilização concebem as responsabilidades, interesses e direitos que visam, justamente, a dar proteção e garantias à vida.
         Herdeiro da civilização greco-romana, o mundo ocidental inventou o Estado democrático de direito: democracia orientada para a justiça, para a transformação, evolução, projetos de liberdade, para o novo e a modernização, o trabalho produtivo e com resultados, a esperança e o futuro. Tudo isso valoriza a razão e o analítico.
         Dos direitos individuais – à liberdade, à vida. à expressão – evoluiu-se para os direitos sociais, econômicos e culturais voltados para a saúde, o trabalho e a greve. Daí se passa para a terceira dimensão, ou geração, a dos direitos e interesses difusos que ultrapassam a perspectiva individual e incluem a proteção da coletividade, da paz e da segurança públicas, do patrimônio histórico e cultural e do meio ambiente.
         Estudiosos da democracia dos direitos, ao mesmo tempo em que apregoam suas virtudes como o regime político mais avançado já alcançado pelas sociedades humanas, apontam suas fragilidades. O filósofo Jürgen Habermas ressalta as tensões que permanentemente desafiam o Estado democrático de direito, especialmente com o terrorismo do início do século 21. O sociólogo Manuel Castells fala da necessidade de a democracia se reinventar.
         Grandes impérios enfatizaram o direito: o império romano, o direito romano; o império americano, a democracia dos direitos. Usados com estratégia de dominação efetiva, não se impõe pela força, mas pela adesão voluntária dos indivíduos e pela persuasão de argumentos jurídicos e legais. Entretanto, ao primeiro sinal de ameaça, as conquistas da democracia (direitos civis, direito individual, direito à privacidade e mesmo direitos difusos, como o ambiental) são relegadas a segundo plano, como ocorreu com os Estados Unidos depois do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. Além disso, quando se atingem os limites da capacidade de o planeta suportar agressões e se anunciam catástrofes climáticas, a proteção e as garantias para a vida passam a ser ameaçadas por novos fatores de risco.

CIVILIZAÇÃO INDIANA
         
         Nesse contexto, buscamos o conceito de e a prática do dharma, centrais para a compreensão da civilização da Índia. Eles nos permitem refletir sobre o desenvolvimento e a sustentabilidade. O lema é unidade na diversidade. Trata-se de uma nação multinacional, culturalmente variada. A civilização indiana absorveu de forma seletiva as pressões culturais trazidas por diversos povos que invadiram o subcontinente durante sua longa história. O dharma pode ser visto como fator de agregação, que evita a fragmentação de uma pessoa ou sociedade.
         Heinrich Zimmer nota que dharma é substantivo proveniente da raiz do sânscrito dhr, que significa sustentar, carregar. “É a lei, aquilo quem sustenta, mantém unido ou erguido”. A aceitação do próprio dharma se manifesta em algumas características associadas ao povo e à sensibilidade indianos: resignação, fatalismo, docilidade, passividade, reduzida inveja, convicção de que as adversidades expressam a vontade de Deus. Isso não impediu que, sob a liderança de Mahatma Gandhi, o país alcançasse a independência política em 1947 por meio de métodos não-violentos e da resistência passiva. Isso fez da Índia uma das sociedades com menor pegada ecológica per capita, que menos obrigam o ambiente a suportar agressões.
         O pensador Sri Aurobindo produziu extensa obra sobre temas políticos e sociais. Ele estudou na Inglaterra e é profundo conhecedor da cultura indiana. “Já se disse que a democracia é baseada nos direitos do homem; respondeu-se que ela deveria se basear nos deveres do homem; mas tanto direitos como deveres são idéias européias. Dharma é a concepção indiana na qual direitos e deveres perdem o antagonismo artificial criado pela visão de mundo que faz do egoísmo a raiz da ação e restabelece profunda e eterna unidade. Dharma é a base da democracia que a Ásia deve reconhecer, porque nisso está a distinção entre a alma da Ásia e a alma da Europa”, explica Sri.
         A imagem usada pelo pensador para definir o dharma busca a unidade diante do antagonismo artificial entre direitos e deveres. Como na fita de Moebius, aquilo que aparentemente se opõe se torna o mesmo. No dharma, exercer uma ação é, ao mesmo tempo, direito e responsabilidade.

DIREITOS HUMANOS
         
         A dharmacracia, uma forma de reinventar a democracia que vai além da defesa de direitos, integra a ética à política e articula as relações a padrões de conduta e comportamento individuais, fazendo a ponte entre o psicológico o social. A democracia será “dharmacrática” quando complementar a visão dos direitos humanos com padrões aceitáveis de cuidado na relação com a natureza e na vida individual e social.
         A dharmacracia realça a importância da compaixão, da liberdade de projeto, de valorização do natural e do indígena, da celebração comunitária e da presença convivial. Valoriza o contemplativo, a intuição e a síntese. A dharmacracia é projeto virtual que pode evoluir a partir do patamar alcançado pela democracia dos direitos. “Dharmacratizar” a política pode ser uma forma de reduzir a descrença nos políticos e nas enfraquecidas democracias dos direitos.
         Ao exercer o dharma, a espécie humana – que enfrenta impasses quanto à viabilidade de sua sobrevivência – pode buscar meios para se superar, sustentando-se por milênios na era ecozóica, que ora se inicia.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”