Mostrando postagens com marcador Jürgen Habermas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jürgen Habermas. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A CIDADANIA, A FONTE DE ENERGIA INTERIOR, A LUZ NA DEMOCRACIA E A SUSTENTABILIDADE

“A cura que advém do silêncio e 
do contato com a Fonte interior
        O real trabalho que pode ser feito em benefício da evolução e da cura de indivíduos, que estejam mental ou emocionalmente envolvidos com alguma situação, é aquele que ocorre por meio da irradiação de energia.
         Depois de esgotarmos a nossa aprendizagem nos vários campos de serviço externo, chegamos, pela vivência do silêncio, a esse caminho, o da irradiação da energia.
         A fonte de todo impulso criativo apenas pode ser conhecida quando o silêncio é o estado da matéria. A irradiação da energia, como cura, como elevação e como preenchimento de todos os espaços do universo – irradiação que se traduz em vida, amor, luz e poder –, só se faz no silêncio dos sentidos, das necessidades e dos movimentos, enfim, no silêncio do eu humano.
Quando se atinge esse estágio, é pela irradiação que as tarefas se cumprem. Nesse sentido, um segundo de puro contato com a Fonte interior tem mais valor que qualquer obra humana. Ao contatar com a energia da Essência fundamental, divina, origem de todas as essências, ao mergulhar na vibração da própria realidade interior e ao conhecer sua qualidade imanente, o indivíduo se une com o que não tem nome, não tem cor, não é definível e não é compreensível; une-se com aquilo que por nada pode ser contido, une-se com o Absoluto e o Vazio. Nos planos que estão acima da razão e do sentimento, sem nada ser, sua consciência penetra na plenitude da existência. É nesse estado de Graça que ele recebe a tarefa de irradiar a energia.
         A irradiação não é, pois, dirigida por forças humanas, não se destina a determinado ponto ou pessoa e em todos alimenta a sementa da Luz. Não é conduzida conscientemente pelo homem (e, se o fosse, não diferiria da magia), mas se esparge por todo o Cosmos, acolhe e permeia toda a Vida. Filha da sabedoria, não se restringe a tendências. Fruto do amor, não conhece separação. Sopro do Criador, eleva todas as criaturas.
         A energia de cura não tem dono; nada e ninguém a possui. Ela se doa por meio daqueles que podem prestar o serviço de irradiá-la. Esse serviço vem da comunhão com reinos espirituais, e quanto mais a energia de cura for absorvida pelos homens maior será, entre eles, a abertura para o contato com a energia divina. A irradiação é uma das principais chaves que guardam os portais de realidades sutis elevadas, mas a humanidade, em grande voltada para o nível material da vida, ainda desconhece a cura que ela promove e a finalidade desse serviço.
         O impulso que conduz uma pessoa à verdadeira cura é aquele que leva a sua consciência a desbravar universos interiores, a libertar-se da vida comum e ir ao encontro do Espírito. Enquanto os homens buscarem a cura visando a um ajuste ou reequilíbrio físico, mental ou emocional, não poderão sequer conhecer os objetivos que o Criador tem para eles. Não poderão compartilhar a Graça, uma das mais puras expressões da energia de cura.
         Como conhecer um sabor sem tê-lo provado? Como trazer a cura ao mundo sem se haver curado?
         A Água da Vida não é encontrada quando se tenta chegar à fonte, mas si quando brota do íntimo do indivíduo, saciando-lhe a sede, mergulhando-o em profundeza e abundância. Receber a Graça dessa torrente de amor infinito é saber sem ter aprendido, é ver sem ter olhado, é escutar sem ter buscado ouvir, é ser sem se lembrar do que se é.”.

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 30 de agosto de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de dezembro de 2007, caderno PENSAR, página principal, de autoria de MAURICIO ANDRÉS RIBEIRO, autor dos livros Ecologizar e Tesouros da Índia para a civilização sustentável, e que merece igualmente integral transcrição:

“DHARMA E
Sustentabilidade
        A cada dia, torna-se mais evidente que as atividades humanas causam a crise ecológica e climática atual, que ameaça a proteção e as garantias para a vida. Nesse contexto, torna-se pertinente conhecer como as diversas matrizes da civilização concebem as responsabilidades, interesses e direitos que visam, justamente, a dar proteção e garantias à vida.
         Herdeiro da civilização greco-romana, o mundo ocidental inventou o Estado democrático de direito: democracia orientada para a justiça, para a transformação, evolução, projetos de liberdade, para o novo e a modernização, o trabalho produtivo e com resultados, a esperança e o futuro. Tudo isso valoriza a razão e o analítico.
         Dos direitos individuais – à liberdade, à vida. à expressão – evoluiu-se para os direitos sociais, econômicos e culturais voltados para a saúde, o trabalho e a greve. Daí se passa para a terceira dimensão, ou geração, a dos direitos e interesses difusos que ultrapassam a perspectiva individual e incluem a proteção da coletividade, da paz e da segurança públicas, do patrimônio histórico e cultural e do meio ambiente.
         Estudiosos da democracia dos direitos, ao mesmo tempo em que apregoam suas virtudes como o regime político mais avançado já alcançado pelas sociedades humanas, apontam suas fragilidades. O filósofo Jürgen Habermas ressalta as tensões que permanentemente desafiam o Estado democrático de direito, especialmente com o terrorismo do início do século 21. O sociólogo Manuel Castells fala da necessidade de a democracia se reinventar.
         Grandes impérios enfatizaram o direito: o império romano, o direito romano; o império americano, a democracia dos direitos. Usados com estratégia de dominação efetiva, não se impõe pela força, mas pela adesão voluntária dos indivíduos e pela persuasão de argumentos jurídicos e legais. Entretanto, ao primeiro sinal de ameaça, as conquistas da democracia (direitos civis, direito individual, direito à privacidade e mesmo direitos difusos, como o ambiental) são relegadas a segundo plano, como ocorreu com os Estados Unidos depois do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. Além disso, quando se atingem os limites da capacidade de o planeta suportar agressões e se anunciam catástrofes climáticas, a proteção e as garantias para a vida passam a ser ameaçadas por novos fatores de risco.

CIVILIZAÇÃO INDIANA
         
         Nesse contexto, buscamos o conceito de e a prática do dharma, centrais para a compreensão da civilização da Índia. Eles nos permitem refletir sobre o desenvolvimento e a sustentabilidade. O lema é unidade na diversidade. Trata-se de uma nação multinacional, culturalmente variada. A civilização indiana absorveu de forma seletiva as pressões culturais trazidas por diversos povos que invadiram o subcontinente durante sua longa história. O dharma pode ser visto como fator de agregação, que evita a fragmentação de uma pessoa ou sociedade.
         Heinrich Zimmer nota que dharma é substantivo proveniente da raiz do sânscrito dhr, que significa sustentar, carregar. “É a lei, aquilo quem sustenta, mantém unido ou erguido”. A aceitação do próprio dharma se manifesta em algumas características associadas ao povo e à sensibilidade indianos: resignação, fatalismo, docilidade, passividade, reduzida inveja, convicção de que as adversidades expressam a vontade de Deus. Isso não impediu que, sob a liderança de Mahatma Gandhi, o país alcançasse a independência política em 1947 por meio de métodos não-violentos e da resistência passiva. Isso fez da Índia uma das sociedades com menor pegada ecológica per capita, que menos obrigam o ambiente a suportar agressões.
         O pensador Sri Aurobindo produziu extensa obra sobre temas políticos e sociais. Ele estudou na Inglaterra e é profundo conhecedor da cultura indiana. “Já se disse que a democracia é baseada nos direitos do homem; respondeu-se que ela deveria se basear nos deveres do homem; mas tanto direitos como deveres são idéias européias. Dharma é a concepção indiana na qual direitos e deveres perdem o antagonismo artificial criado pela visão de mundo que faz do egoísmo a raiz da ação e restabelece profunda e eterna unidade. Dharma é a base da democracia que a Ásia deve reconhecer, porque nisso está a distinção entre a alma da Ásia e a alma da Europa”, explica Sri.
         A imagem usada pelo pensador para definir o dharma busca a unidade diante do antagonismo artificial entre direitos e deveres. Como na fita de Moebius, aquilo que aparentemente se opõe se torna o mesmo. No dharma, exercer uma ação é, ao mesmo tempo, direito e responsabilidade.

DIREITOS HUMANOS
         
         A dharmacracia, uma forma de reinventar a democracia que vai além da defesa de direitos, integra a ética à política e articula as relações a padrões de conduta e comportamento individuais, fazendo a ponte entre o psicológico o social. A democracia será “dharmacrática” quando complementar a visão dos direitos humanos com padrões aceitáveis de cuidado na relação com a natureza e na vida individual e social.
         A dharmacracia realça a importância da compaixão, da liberdade de projeto, de valorização do natural e do indígena, da celebração comunitária e da presença convivial. Valoriza o contemplativo, a intuição e a síntese. A dharmacracia é projeto virtual que pode evoluir a partir do patamar alcançado pela democracia dos direitos. “Dharmacratizar” a política pode ser uma forma de reduzir a descrença nos políticos e nas enfraquecidas democracias dos direitos.
         Ao exercer o dharma, a espécie humana – que enfrenta impasses quanto à viabilidade de sua sobrevivência – pode buscar meios para se superar, sustentando-se por milênios na era ecozóica, que ora se inicia.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
            

 

     

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A CIDADANIA, O SENTIDO DA FÉ E OS NOVOS TEMPOS

“Sem fé é mais difícil
        
         Depois da política, a religião. A sociedade brasileira parece ter, durante toda a sua existência, balançado entre dois pólos – e nem sempre de forma equilibrada. A mistura de negócios do mundo com compromissos com a fé gerou descaminhos e injustiças que se tornaram matriz de muita infelicidade ao longo da história. No entanto, parece que o par político e religião tem força para atrair várias oposições das quais somos feitos: ciência e dogma; fé e razão; alma e corpo; o céu e a terra.
         A visita do papa Francisco ao Brasil, semanas depois da onde de mobilização que tomou conta do país, parecia, até pelo perfil dos personagens, ato distinto da afirmação de duas formas de ver o mundo. Os jovens que foram às ruas protestar não se pareciam com os que se preparavam para as celebrações da fé católica. E não se tratava apenas da forma e da linguagem, mas de uma distinção mais profunda. Além disso, os temas eram outros e a forma de organização diferente.
         Houve, claro, momentos de intercessão, sobretudo na hora de programar a segurança: o que parecia dar feição única aos movimentos era apenas o fato de se tratar, nos dois casos, de multidões reunidas por objetivos comuns. No primeiro caso, a massa conduziu o sentido; no segundo evento, deu-se o contrário. O movimento das ruas tinha dimensão política, ainda quando negava esse fato; a reunião religiosa, que sempre se apresentou com explicitamente ideológica (não existe instituição mais política que a Igreja Católica), não se traduzia na prática como tal.
         A movimentação religiosa foi antecedida de muitas análises sobre a crise da religiosidade do brasileiro, sobre a perda da importância quantitativa do catolicismo no país, pelos diagnósticos sobre a mudança do mapa da fé no país. Além disso, ganharam destaque temas importantes ligados ao comportamento, à liberdade e à tolerância, ao lado de certo esquentamento do debate teológico, sempre tão rico no país, e que vinha sendo deixado de lado em nome de consensos impostos autoritariamente.
         Não deixou de ser curiosa a forma como a jornada católica foi tratada no âmbito dos negócios: um evento entre outros. Foram muitas as reportagens sobre mobilidade, investimentos, negócios, hotelaria etc., tendo como elemento de comparação grandes torneios esportivos e festejos laicos, da polêmica Copa das Confederações ao réveillon de Copacabana. Em fé, esportes, festa e política, parece que a quantidade vem dando as cartas.
         Por fim, a atenção aos temas religiosos traz ainda para o debate os recentes fatos lamentáveis da onde conservadora evangélica neopentecostal, com episódios como o projeto da “cura gay” e a diminuição da importância da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, tornada moeda de troca entre partidos de menor expressão. A moralização da questão política, além de retrocesso, é um perigo ao qual a sociedade precisa estar alerta, sob o risco de viabilizar outros projetos obscurantistas em moral e reacionários em termos sociais.
         Se a bancada ruralista, por exemplo, tem dificultado o encaminhamento de soluções dos problemas fundiários e da política de produção de alimentos no Brasil com sua atuação cerrada em comissões de seu interesse, a expressiva bancada evangélica, ao partir da indistinção republicana entre interesses de fé e de Estado, pode encaminhar propostas que atentem ainda mais gravemente contra a sociedade. E fará isso a partir da anulação de preceitos ligados aos direitos humanos e à dignidade da pessoa, sem falar nos entraves de ordem científica no que tange às pesquisas no campo da saúde humana.
         
DEUS NÃO É CANDIDATO Religião é um assunto importante. Há muitos equívocos em torno do tema, sobretudo no que diz respeito a questões éticas. Durante muito tempo houve identificação entre crença e moralidade, como se apenas quem tivesse fé na existência de Deus fosse digno de consideração. Todos se lembram da pergunta feita em forma de pegadinha aos candidatos de esquerda em várias campanhas eleitorais: “Você acredita em Deus?”. Era uma forma de desqualificar o pretendente ao cargo público, como se ateus e agnósticos fossem incapazes de habitar o terreno da moralidade.
         No entanto, quando se pensava que essa bobagem havia perdido sentido, a pergunta foi sendo modificada para temas de ordem moral e familiar (esse bastião da resistência conservadora), principalmente sobre o aborto. Trata-se de experiência sutil para desqualificar o debate da ordem da política, dos direitos da mulher e da saúde pública, desviando-o para o campo da religião.
         Em outras palavras, foi a forma de permitir que se continuasse perguntando aos candidatos se acreditavam em Deus e de condená-los por meio de subterfúgios. A questão do casamento gay e outras referentes ao comportamento são subsidiárias da mesma estratégia desonesta.
         O crescimento do ateísmo e a defesa da racionalidade e da ciência em temas públicos geraram outro cisma. Desta vez, em direção oposta. A religião passou a ser vista apenas como ideologia preconceituosa e não como visão de mundo. O que de melhor a teologia legou à humanidade, o senso de mistério e a busca da transcendência, acabou jogado fora com o lado obscurantista de algumas religiões em sua expressão fundamentalista. Para ser honesto, os riscos da incompreensão e cerceamento do diálogo são ameaças que vêm dos dois lados. O ateísmo também corre o risco do fundamentalismo no que ele tem de pior: a incapacidade em ouvir o outro.

HABERMAS É possível conciliar fé e razão? O filósofo Jürgen Habermas acredita que sim. Em Fé e razão (Editora Edusp), que acaba de ser lançado no Brasil, ele defende a relação dialógica  da filosofia com as tradições religiosas e a releitura sobre a posição do pensamento pós-metafísico entre ciências e religião. Ou seja, ainda que a separação entre os dois universos seja radical, sobretudo na inauguração  da modernidade e na construção do campo político, as doutrinas religiosas fazem parte da genealogia da razão como a concebemos, que se nutre tanto do manancial grego (filosofia) quanto das grandes crenças do que Jaspers chamou de era axial (religiões monoteístas e espiritualidade oriental). Há tensão produtiva entre fé religiosa e saber filosófico.
         Bertrand Russel discordaria. O filósofo inglês, no ensaio “O mal que os homens bons fazem”, lembra que nossa moralidade é feita de superstição e racionalismo. Para ele, a defesa da moral convencional é sempre restritiva, uma série de “não deverás” que acaba por compor um código de conduta mesquinho e repressivo, onde deveria comandar a liberdade. Os bonzinhos são, além de chatos, injustos quando se trata de grandes questões. Pragmático, Russel defendia outra escala de valores, que permitisse aos homens crescer e buscar a felicidade para todos, ainda que em franco desrespeito às normas. Estas, como sabemos, muitas vezes dão forma a interesses de quem tem mais poder e dinheiro.
         A bondade e a maldade, para o filósofo, precisam ser  revistas. É fácil ser piedoso, ir à missa, não cometer desvios morais, ainda que à custa de hipocrisia. O difícil não é controlar os desejos, mas querer a felicidade para todos e combater as injustiças. As palavras de Russel, escritas há mais de 70 anos, parecem endereçadas aos nossos “bons” homens públicos, religiosos e empresários de sucesso (às vezes as três encarnações na mesma pessoa): “Um homem deveria ser considerado bom se fosse feliz, expansivo, generoso e alegre quando os outros estivessem felizes; se fossem assim, uns poucos pecadilhos seriam considerados de importância menor. No entanto, um homem que adquire fortuna por meio de crueldade e exploração deveria ser visto como hoje vemos o chamado homem imoral; e assim deveria ser julgado, mesmo que frequentasse igreja com regularidade e desse uma parte de seus ganhos ilícitos com propósitos públicos”.
         Ser ético é compromisso fundamental de quem não tem fé. Sem Deus, só assim é possível pensar uma vida em comum e um projeto democrático de aprimoramento social. Nessas horas, a política é sempre melhor do que a religião. Essa poderia ser a lição que uniria as duas faixas de jovens que não se encontraram nas ruas por umas poucas semanas de diferença. Uma teria muito o que aprender com a outra.
         Aliás, achar que se pode aprender é também uma forma de diferenciar as boas das más pessoas.”

(JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de julho de 2013, caderno PENSAR, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 26 de julho de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Novos tempos e sentidos
        
         A temática “Novos tempos e novos sentidos” configurou o horizonte de análises, partilhas e debates no Congresso Mundial de Universidades Católicas (CMUC), realizado na PUC Minas, no contexto jovial da Semana Missionária na Arquidiocese de Belo Horizonte. Nesse período preparatório que antecedeu a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, os participantes do congresso se debruçaram sobre discussões e reflexões, com a finalidade de aperfeiçoar e proporcionar, especialmente aos jovens, ensino técnico e formação humanística, numa sociedade em constante transformação.
         A Igreja sabe, assim como outras instituições devem saber, que os jovens são “a janela para o futuro”, conforme disse o papa Francisco, ao chegar ao Brasil. E a JMJ é demonstração clara desse entendimento. Por isso mesmo, o empenho da Igreja em realizar um evento marcado pela universalidade e a riqueza de oportunidades. Decisão que vai ao encontro do protagonismo jovem, mostrado nas recentes manifestações populares. Iniciativas que, decisivamente, introduziram a sociedade brasileira na exigência de uma nova etapa, marcada pelo modo de se fazer a política. Indo além, pois influenciou funcionamentos de instâncias e procedimentos configuradores dos rumos e cenários entre nós.
         De fato, são novos tempos e novos sentidos e o CMUC firma a educação católica em posição de vanguarda e chama a atenção da sociedade, particularmente de governos, para sua grave responsabilidade, na condição de promotores e guardiões de uma educação de qualidade. Afinal, a educação qualificada é o suporte para alavancar o imprescindível desenvolvimento na sociedade brasileira, que não pode exilar-se na simples, embora insubstituível, formação técnica. Há um sentido humanístico integral indispensável sem o qual se compromete os recursos aplicados. Eles são transformados em desperdício quando se opta por uma formação parcial. O mesmo ocorre quando se tem compreensão estreita dos valores das instituições de ensino que não estejam estritamente sob a batuta governamental.
         Aliás, o perfil isento de perspectivas ideológicas de caráter partidário das instituições não governamentais mostra-se mais propício ao processo formativo. Além do técnico e do formal, o conceitual assegura aos estudantes a observação de valores que, de fato, formam lideranças lúcidas e profissionais cidadãos. Esse diferencial que só vem do humanismo integral é próprio da educação católica por sua tradição e, particularmente, por sua fonte referencial, o evangelho de Jesus Cristo. Tal contribuição precisa ser mais reconhecida, respeitada e destinatária de suporte, inclusive econômico, por aqueles que, oficialmente, são responsáveis pela educação no país.
         Ao contrário de programas que exijam das instituições sérias que alavanquem processos qualificados de formação na sociedade, os governos deveriam sim, investir e dar suporte a esses centros acadêmicos, como ocorre em outras partes do mundo. É preciso haver o reconhecimento de que, dessa forma, o país poderá avançar mais rapidamente no ouro essencial para o desenvolvimento da sociedade, que é o conhecimento integral, capaz de garantir-lhe competitividade no cenário mundial. A educação não pode ser tratada, nos âmbitos federal, estadual e municipal apenas pela satisfação de alguns índices. Talvez, sejam dados que apenas apazigúem consciências e deveres executivos.
         É incontestável que a grave crise política na sociedade brasileira se deve também à superficialidade da formação humanística integral. Outra não é a razão da crise de lideranças em todos os campos. Política não se faz simplesmente com artimanhas, jogos, articulações ou conchavos para se conseguir vitória. Essa é a compreensão apreendida nas recentes manifestações populares. Como janela para o futuro – e é peculiaridade do tempo da juventude – que não são boas as perspectivas para seu presente e futuro sem mudanças mais profundas nos processos educativos, no aperfeiçoamento de procedimentos e nos funcionamentos participativos na sociedade.
         A PUC Minas hospedou durante o CMUC reitores, gestores, colaboradores, estudantes, especialistas e conferencistas de mais de 30 países. Com organização e funcionamento primoroso e preciso, projetou Minas Gerais com o qualificado da educação, das preocupações em torno dela e das perspectivas abertas a serem transformadas em compromissos. O que foi discutido e analisado nesse Congresso impulsiona a educação católica para nova etapa. Por isso é preciso voltar a esses conteúdos e debates. Esperamos que os setores responsáveis pela educação se disponham à partilha dessas questões para melhorar o cenário educacional no Brasil, como oportunidade de introduzi-lo em novos tempos e novos sentidos.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, na pré-escola) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades (por exemplo, “... Há um sentido humanístico integral indispensável sem o qual se compromete os recursos aplicados. Eles são transformados em desperdício quando se opta por uma formação parcial...”), também a ocasionar inestimáveis perdas e danos;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte e acessibilidade); emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; turismo; comunicações; esporte, cultura e lazer; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A CIDADANIA, A DEMOCRACIA, A COMUNICAÇÃO E A INDIGNAÇÃO

“Democracia e comunicação: confronto ou parceria?

O vídeo do movimento Gota d’Água, que circulou nas mídias sociais, deu o que falar nas últimas semanas. No molde do documento norte-americano Don’t vote (Não vote), a versão brasileira (estrelada por atores globais) colocava-se contrária à construção da hidrelétrica de Belo Monte, uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que será construída no Rio Xingu, no Pará. No ambiente digital, o vídeo se espalhou de maneira viral e a resposta a ele veio na mesma medida.

Polêmica à parte, o fenômeno reforça o debate sobre os usos políticos dessas ferramentas interativas. Em dezembro do ano passado, os protestos iniciados na Tunísia com a autoimolação de Mohamed Bouazizi frente à corrupção e maus-tratos de policiais, inauguraram uma sequência de ocupações do espaço público no mundo árabe, que ficou conhecida com o sugestivo nome de Primavera Árabe.

Depois de manifestações nos países ocidentais, os protestos tomaram as ruas nos Estados Unidos, com o movimento Occupy Wall Street, com dezenas de manifestações questionando os mercados financeiros e seus descaminhos. O que assuntos tão díspares como a construção de uma hidrelétrica no Brasil, as reivindicações políticas dos árabes e os protestos contra o mercado financeiro têm em comum? Por trás de todas essas manifestações estaria a potência de mobilização das mídias sociais (Facebook, Twitter), bem como as chamadas mídias sociais locativas (aparelhos celulares, tables, entre outros). Por meio de mensagens, compartilhamento de fotos, criação de eventos públicos, os manifestantes deram visibilidade aos protestos de forma ágil e com amplo alcance.

Para entender o fenômeno atual das mídias sociais, há esforço de pensadores em todo o mundo, que fazem uso dos mais diferentes aportes teóricos. Tratar da questão é desafiador, sob o risco de não se aprofundar diante de tanto que já se falou ou, ao contrário, frente à vasta produção, não conseguir enxergar nada revelador sobre o fenômeno.

Diante desse risco, gostaria de propor um encontro inusitado entre dois pensadores que influenciam muito as pesquisas contemporâneas: o teórico canadense Marshall McLuhan – que completaria 100 anos em julho – e o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, um dos mais importantes pensadores contemporâneos. Pela originalidade de pensamento, ambos são alvos de defesas e ataques apaixonados.

É possível pensar uma aproximação entre dois conceitos: o de “meio”, de McLuhan, presente no livro Understanding media: the extensions of man (1964), e o de “esfera pública”, proposto por Habermas em Mudança estrutural da esfera pública (1962).As duas obras ainda repercutem tanto do ponto de vista das polêmicas que geraram, quanto pelo fato de terem revelado questões ainda instigantes.

Embora o autor canadense seja, muitas vezes, lembrado – e também criticado – por certo determinismo tecnológico, a afirmativa “o meio é a mensagem” é importante para avaliação das mídias sociais. McLuhan chama a atenção para o advento de novos meios e sua influência na percepção de tempo e espaço, bem como no processo de cognição. A partir dessa premissa, muito da obra de McLuhan foi contestado ou corroborado.

Já Habermas, ao discutir o processo de formação da opinião pública, lança luz sobre conceito de esfera pública, que está relacionado às trocas argumentativas em torno de questões de interesse público. O pensador faz recorte histórico e geográfico – a Europa no período de formação dos estados modernos – e pontua como os jornais que surgem pelas mãos da burguesia têm importância fundamental na estruturação desse âmbito discursivo que caracteriza a esfera pública.

ESFERA PÚBLICA De lá para cá, são inúmeros autores que buscam as interfaces entre os meios de comunicação e o processo democrático e, sem dúvida, as mídias sociais reforçam a necessidade e importância de entender essa relação. A busca pelo bem comum e os mecanismos políticos usados para alcançá-lo são temas relevantes da atualidade.

Não nos propomos a fazer uma retrospectiva da evolução da teoria democrática, bem como não é nossa intenção aprofundar nas teorias da comunicação. No entanto, interessa-nos pensar que as mudanças na comunicação reconfiguram o campo da política. Mais do que respostas, as mídias sociais vêm acompanhadas de uma série de perguntas. Elas potencializam a participação política? Fortalecem as democracias? Substituem instâncias clássicas da participação? Desconfio que as respostas a essas perguntas estejam na interface entre o entendimento da especificidade da natureza desses dispositivos midiáticos, como propõe McLuhan com a afirmativa “o meio é a mensagem”, e a compreensão proposta por Habermas de que os meios de comunicação mudam a estrutura da esfera pública, que é vista como essencial no processo de discussão dos temas de interesse público e na consequente tomada de decisão pelas instâncias políticas.

Por fim, alguns consensos entre os pesquisadores da relação entre internet e política são essenciais. As tecnologias não são boas ou ruins, como já bem disse McLuhan. A rede não é outro universo, apartado da vida, que muitos chamam de off-line, com regras e dinâmicas independentes. Por último, não se pode ignorar o fenômeno que se apresenta diante de nós com a crescente digitalização das coisas.

Frente a esses pressupostos, podemos dizer que a tarefa de entender o papel das mídias sociais nos protestos atuais é bem complexo, pois não se deve focar o olhar no que aparentemente tais ferramentas possibilitam. No entanto, desconsiderar o que elas trazem de diferente em relação a outros meios de comunicação, do ponto de vista da interatividade e da possibilidade de coprodução e compartilhamento, entre outros aspectos, é ver de maneira míope a realidade.”
(MÁRCIA MARIA CRUZ, Jornalista e mestre em comunicação social pela UFMG, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 3 de dezembro de 2011, Caderno PENSAR, página 2).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 5 de dezembro de 2011, Caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de ROBERTO LUCIANO FAGUNDES, Engenheiro, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas, que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“Dia da indignação

Sexta-feira, 9 de dezembro, é comemorado, no mundo inteiro, o Dia Internacional do Combate à Corrupção, data instituída pela ONU em 2003, quando foi firmada a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, um maçudo documento que, enumerando minuciosamente as circunstâncias em que podem ser cometidos suborno, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa, tornou obrigatório aos países signatários o cumprimento de suas prescrições. No Brasil, um dos primeiros a aderir, a convenção originou o Decreto Legislativo nº 348, de 18 de maio de 2005, que, seguido pela promulgação do Decreto Presidencial nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006, tipificou como crimes as variadas formas de corrupção.

E daí? Daí que quatro dias antes do decreto legislativo, ou seja, em 14 de maio de 2005, as emissoras de TV divulgavam imagens de um alto funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos recebendo propina de R$ 3 mil. Em 6 de junho, o então deputado Roberto Jefferson denunciava o mensalão. E, ainda , em 2005, mais escândalos: o dos bingos, o dos vampiros do Ministério da Saúde. E muitos outros que culminaram com as recentes falcatruas nos ministérios dos Transportes, do Turismo, da Agricultura, do Esporte, do Trabalho e, agora, das Cidades, além do suspeito enriquecimento do ex-ministro da Casa Civil.

O fato é que, a despeito da convenção, dos decretos legislativo e presidencial, a corrupção continua a comer solta em variados escalões da administração pública, do Congresso e também no setor privado. Tanto numa quanto nos outros, infelizmente, os funcionários, parlamentares e empresários de conduta ilibada, mesmo sendo certamente maioria, não são capazes de deter as práticas, por já sedimentadas, e nem de estancar o ralo por onde anualmente se esvaem, por desvios, nada menos de R$ 70 bilhões.

Não é segredo para ninguém que na origem desses crimes estão dois fatores principais. Primeiro, o aparelhamento da administração pelos partidos aliados do governo federal. É difícil encontrar num ministério, e mesmo na mais modesta repartição pública, uma função que não seja de propriedade de alguns desses partidos. Segundo, a quase certeza da impunidade, causada tanto pelo corporativismo existente, por exemplo, na Câmara Federal (onde após as CPIs de praxe os inquéritos dificilmente deixam de ser arquivados – e disso é emblemático o caso recente da deputada Jacqueline Roriz), quanto pela morosidade da Justiça. Segundo o próprio ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, o ponto fraco do Brasil no combate à corrupção é a pouca efetividade do Judiciário em relação às condenações e às prisões.

Essa ineficácia, a meu ver, não resulta apenas da propalada insuficiência de tribunais, de magistrados e de recursos para o Judiciário, mas da própria sistemática processual que, legitimada pelos códigos civil e criminal, abre enormes e sucessivas possibilidades para os mais diversos recursos. Em 2010, dos mais de 26 mil processos em tramitação nos tribunais da Justiça Federal, do STJ, do STF e dos estados, menos de 7 mil foram julgados. Não conheço estatísticas oficiais a respeito de investigações que se transformam em processos e efetivamente geram condenações. Mas entrevista recente de um delegado da Polícia Federal, Ricardo Andrade Saadi, diretor do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), dá uma pista. Segundo ele, num universo de 512 mil presos ou investigados por corrupção passiva, em 2010, não mais que 76 foram condenados. E, mesmo assim, ainda com direito a recursos. Diante de tudo isso, é difícil acreditar que as medidas institucionais contra a corrupção sejam capazes de produzir resultados concretos com a rapidez que sua escalada requer.

Tenho para mim que o único caminho capaz de mudar esse estado de coisas, de contra ele resistir, é a pressão da sociedade, a mobilização dos cidadãos, a manifestação da indignação. Li sobre isso, recentemente, um pequeno livro – Indignai-vos – escrito há alguns anos por Stéphane Hessel, um herói da Resistência Francesa que nele registrou as muitas experiências de uma vida dedicada a fazer valer a vontade da sociedade. Ele sintetizou, numa simples frase, a essência de seu pensamento: “O motivo da resistência é a indignação”. Quem sabe, o 9 de dezembro pode ser também o Dia da Indignação.”

Eis, portanto, mais páginas contendo IMPORTANTES, CÍVICAS e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES que acenam para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS transformações que levem à inserção do PAÍS no concerto das POTÊNCIAS mundiais DESENVOLVIDAS, SOBERANAS, LIVRES, ÉTICAS e DEMOCRÁTICAS...

E, assim, é exigido um profundo ESFORÇO para a PROBLEMATIZAÇÃO de questões CRUCIAIS na busca incessante do BEM COMUM e da QUALIDADE DE VIDA, entre outras:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;
b) a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância;
c) a CORRUPÇÃO, que campeia por TODAS as esferas da vida NACIONAL, acarretando INCALCULÁVEIS prejuízos à ECONOMIA e comprometimentos também INESTIMÁVEIS nos nossos VALORES e PRINCÍPIOS e na CONFIANÇA em nossas INSTITUIÇÕES;
d) o DESPERDÍCIO, em TODAS as suas MODALIDADES;
e) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, que já consome em torno de R$ 200 BILHÕES anualmente, a título de ENCARGOS e SERVIÇOS, dos nossos já escassos RECURSOS PÚBLICOS, a exigir também uma qualificada, competente e transparente AUDITORIA...

Sabemos, e bem, que são GIGANTESCOS DESAFIOS mas que, de forma alguma, ABATEM o nosso ÂNIMO nem ARREFECEM nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, SOBERANA, LIVRE, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para EVENTOS como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO + 20) em 2012; a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE no RIO DE JANEIRO em 2013; a COPA DAS CONFEDERAÇÕES em 2013; a COPA DO MUNDO de 2014; a OLIMPÍADA de 2016, as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNACIONALIZAÇÃO das EMPRESAS, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...