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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA ÉTICA NA POLÍTICA E A LUZ DA ESPERANÇA

“Ética na
POLÍTICA
        
         O momento atual é dos mais propícios para se falar de ética na política. Convivi durante muitos anos com esta questão, em conversas, reflexões, discussões e atitudes, na companhia de Célio de Castro, ex-prefeito de Belo Horizonte e meu mestre na matéria. Através de sua sensibilidade e coerência, muito aprendi com ele, com sua incrível disposição de participar da política, sempre resguardando a ética. Graças a nossos diálogos, construí minha visão pessoal sobre as relações entre ambas.
         Hoje, a palavra “política” tem conotações bastante negativas. Costumamos relacioná-la a episódios recorrentes em nosso País, ligados à corrupção e à falta de senso moral de alguns políticos. Quando analisamos o desenvolvimento do estado, principalmente nos últimos 50 anos, observa-se como se desenrolou sua proteção social. Ela se deu num contexto de esforço mundial de reconstrução econômica do pós-guerra nos países destruídos, especialmente o Japão. Nos anos 50 do século XX, criou-se a necessidade premente de conhecimentos e tecnologia que pudessem dar conta não só dessa reconstrução, mas de um novo patamar de desenvolvimento.
         “Desenvolvimento” tornou-se uma palavra emblemática nos anos posteriores, marcados pela emergência de uma nova espécie de idolatria da razão. Nesse contexto, a humanidade se sentiu perplexa diante dos feitos da ciência e da tecnologia, que conseguiam equacionar satisfatoriamente a economia dos países envolvidos na reconstrução. Os esforços racionais do homem sobre a natureza e sobre si mesmo, no que se refere ao desenvolvimento da capacidade de controle do mundo, levaram ao endeusamento da razão. Tais esforços foram excepcionalmente bem sucedidos. Não existia mais a capacidade metafísica dos gregos para a transcendência do sentido da vida, na procura do bom, do belo e do verdadeiro. Não mais se valorizava a transcendência renascentista da arte. Já não se dava o mesmo valor ao ser humano capaz de transcender infinitamente a própria racionalidade.
         No Brasil, o desenvolvimento da cultura e da ética ocorre no Estado Novo, tutelador e paterno. Sua marca foi a resposta dada à necessidade de distribuição da enorme capacidade de produção de riqueza, através da expansão de sindicatos, ainda que corporativos. Em inúmeros movimentos sociais surgem indagações sobre as causas e a finalidade do desenvolvimento econômico sem a distribuição da riqueza. Surge, também, o chamado comunismo legalizado, e, depois a Glasnost, a queda do Muro de Berlim. Agenciam-se as palavras de Gandhi: “Façamos em nós a mudança que queremos que os outros façam neles.” Incrementa-se a orientalização filosófica do Ocidente, no geral caricaturada e capenga.
         Tudo isso revela uma necessidade de se encontrar sentido para a vida, muito além do consumo e do prazer, da mediocridade da vida social e familiar que olha apenas para o próprio umbigo. O emblema da ética na cultura é a luz do fim do túnel para o ceticismo, o niilismo e a depressão – trilogia que o ex-prefeito observou por tantos anos em seus pacientes, combatendo-a com crença e otimismo.
         Quantos de nós podemos dizer que acreditamos em ética na política? Poucos seriam os braços levantados. Eu mesma, se não tivesse sido intensamente influenciada pela crença de Célio, teria hesitado em levantar meu braço. Ou, no mínimo, levantaria o braço direito e taparia o nariz com a mão esquerda. Em 1992, ante o movimento dos caras-pintadas, sugeriu-se que a ética deveria ser introduzida não só na política como também na economia: “A bandeira da ética e da dignidade levantada nas ruas não termina no combate à corrupção. Essa ética passa por pão, casa, trabalho, educação, saúde e segurança para todos os brasileiros.”
         Assim, ser um grande ícone da ética é acreditar no ser humano, na sociedade civil organizada ou não, pois na política se pode encontrar a expressão de nossa responsabilidade social. A crença do nosso ícone na política e nos políticos nasce de uma profunda crença em si mesmo, na sua natureza, que transcende a razão e a experiência. A metáfora dessa natureza corresponde a uma pequenina e ofuscante luz, surgida muito mais muito mais do que além do tempo em que aconteceu o Big Bang, há 150 milhões de anos.
         A pequenez desta luz, tão distante no tempo, nos fala das milhares de mudanças que foram necessárias para que ocorresse o surgimento do planeta, do ser humano e dos fantásticos acontecimentos dos últimos 50 anos. Esses acontecimentos, na verdade, tornam-se insignificantes quando colocados numa linha do tempo tão extensa. É na consideração desta aparentemente inexpressiva história da humanidade e suas conquistas que nasce a perplexidade que possibilita a crença nas transformações ainda passíveis de serem construídas pelo homem. Principalmente, se levada em conta a unidade de grandeza dessa linha do tempo em direção ao futuro. É refletindo na relatividade do tempo humano que o nosso mestre fundamenta a crença em si mesmo, no ser humano e, por conseqüência, na ética e na política.”

(ISABEL DE OLIVEIRA HORTA, é médica homeopata, presidente da ONG Instituto Ethica – Desenvolvimento de Projetos e Pesquisas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de julho de 2004, caderno PENSAR, página principal).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 30 de novembro de 2007, caderno OPINIÃO, página 15, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Uma esperança fidedigna
        O Santo Padre, o papa Bento XVI, mais uma vez, se dirige aos membros da Igreja Católica e a todos os homens e mulheres na sociedade contemporânea, de modo brilhante e monumental, brindando a todos com uma nova carta encíclica SPE Salvi, sobre a esperança cristã. O brilhantismo desta carta encíclica não é referência a um enfeite para encher os olhos com a força de uma imagem, impressionando, como sempre acontece, com muitas coisas, nos andamentos da sociedade atual. A carta encíclica é brilhante e monumental porque Bento XVI oferece elementos essenciais e indispensáveis para uma profunda radiografia do que está se passando em torno da esperança e da fé. Um procedimento radiográfico que traz uma insubstituível resposta para as questões existenciais mais candentes nos inícios deste terceiro milênio.
         Na verdade, a reflexão incita e proporciona autocrítica da idade moderna bem como do cristianismo, na vivência de sua fé. Uma autocrítica da idade moderna em diálogo com o cristianismo. Os cristãos são chamados a rever sua esperança, sua oferta ao mundo. Basta pensar que há um entendimento a respeito de progresso que está comprometendo valores e deteriorando de modo irreversível a compreensão e a vivência da vida. Basta pensar. O papa aborda, de maneira profunda e questionadora, o comprometimento da consciência ética e a erosão na capacidade e na propriedade da decisão moral. Na verdade, essa carta encíclica, publicada hoje, na festa do apóstolo Santo André, enfrenta a questão gravíssima do déficit de fé que se abate sobre a humanidade, corroendo culturas e esterilizando estruturas institucionais, mesmo aquelas eclesiais e eclesiásticas. Um déficit de fé que produz uma linguagem equivocada a respeito de muitos temas e de muitas questões fundamentais.
         Está ocorrendo um grande desvio de direção a partir de entendimentos que estão sendo produzidos e articulados em linguagens que abrem mão ou mesmo desconhecem questões fundamentais e básicas para modelar adequadamente a própria existência. Esse déficit de fé tem sido terrível. Ele é a causa do desgoverno nos rumos da sociedade e na incapacidade ética de correções de condutas e de posturas comunitárias e sociais. Bem assim, é um veneno que vai tornando estéril a vivência da riqueza da fé cristã, lançando muitos nas valas do desânimo, da amargura, da reclamação e da desesperança. A inteligência do intelectual brilhante e a lucidez do pastor põem o papa em cena, descortinando um horizonte que precisa ser olhado e afrontado para abrir caminhos novos para a Igreja e para a humanidade.
         É indispensável e insubstituível, portanto, como possibilidade de um novo passo, abordar, compreender e vivenciar a esperança. Sem uma esperança fidedigna não é possível enfrentar o caminho que é difícil e custoso. Ao abordar a esperança, pela qual se é salvo, como proclama o apóstolo Paulo em Romanos 8,24, toca o núcleo da compreensão e da vivência da fé. Ora, afirma o Santo Padre, a fé é esperança. A plenitude da fé é imutável profissão da esperança (Hb 10,22-33). Quando o apóstolo Pedro (I Pdr 3,15) fala do cristão como aquele capaz de dar a razão de sua esperança, fala da sua fé vivida e testemunhada. Assim, essa esperança tem uma referência fundamental e insubstituível. É Deus. É uma pessoa que é verdade e amor. A experiência do encontro com Ele é fonte da esperança fidedigna. Assim, um mundo sem Deus é um mundo sem esperança. É um mundo que põe sua esperança meramente no progresso ou nas leis da matéria como governo único do planeta. Ora, sem Deus, o mundo é obscuro, tenebroso. Diz bem o que isto significa, relembra o Santo Padre, o dito de um epitáfio antigo: “No nada, do nada, tão cedo recaímos”.
         O cristão tem um futuro. Por isso, a mensagem cristã é performativa, e não simplesmente informativa. Quem tem esperança vive de modo diferente. O papa recorda, entretanto, o exemplo de Santa Josefina Bahkita, sudanesa, nascida em 1869, canonizada em 1998 pelo então papa João Paulo II. Sua vida de escrava foi terrível. Conheceu patrões que a exploravam. Seu corpo estava marcado de dezenas de cicatrizes. Sua vida não tinha horizontes. Conheceu Jesus Cristo. Seu patrão supremo levou-a a encontrar a verdadeira liberdade, razão para a vida, alimentada pela esperança vivida na fé. Essa esperança vivida na fé realiza grandes mudanças, interferindo e qualificando culturas com valores pouco nobres. O cristianismo não trouxe mensagem sócio-revolucionária. Trouxe o mais importante, com força de mudanças radicais e com propriedades para capacitações singulares, ao propor o encontro com uma pessoa, transformando a vida por dentro. O Santo Padre indica o caminho para se compreender a verdadeira fisionomia da esperança cristã, sedimentada no amor que redime, de verdade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A CIDADANIA, A FORÇA DOS SONHOS E A UTOPIA DE MORUS


“Os sonhos podem mostrar nossa realidade com maior clareza
        
         Geralmente somos mais livres nos sonhos, de modo que eles podem colocar-nos em contato com níveis mais elevados do nosso ser, de onde podem vir orientações precisas.
         Todos os que passaram pela experiência de um sonho marcante sabem que depois de vivenciá-lo não continuaram a ser os mesmos.
         No nível da consciência de vigília, de desperto, temos a ilusão de que somos separados uns dos outros, de que somos uma coisa e o universo é outra, como algo distante e fora de nós. Todavia, um sonho pode mostrar que essa não é a realidade.
         Um sonho pode apresentar o que vem realmente do nosso lado interno, profundo, e não da nossa parte mais superficial, aparente ou racional. Num sonho, isso pode ser liberado, e então ficamos diante da realidade, vendo-a com mais clareza.
         Quanto mais nos aprofundamos nesse assunto, mais temos sonhos simbólicos, ligados a fatos não concretos, conforme costumamos pensar. Em vários casos, esses sonhos simbólicos podem ser considerados a linguagem da nossa alma, a qual não se atinge com a mente comum.
         Na vida de desperto, um mais um é igual a dois; ao passo que, na linguagem da alma, não é assim. Na vida espiritual, se interpretarmos um sonho simbólico em termos lógicos e racionais, dificilmente chegaremos a uma conclusão correta. Para sabermos o que ele está manifestando, é preciso despir-nos de toda preocupação de ver as coisas logicamente, de querer introjetar nossas ideias sobre o significado que possa ter. É preciso que nos liberemos de conceitos; do contrário, não compreenderemos o símbolo.
         Diante de um sonho, convém ficarmos imparciais, tanto ao passá-lo a outros, se for o caso, como para a nossa própria compreensão. Devemos registrá-lo com fidedignidade, com detalhes, mas sem acrescentar-lhe nada. Se me coligo em silêncio com o símbolo que vi e fico quieto, isentando-me de formar uma opinião, provavelmente outros elementos surgirão na minha consciência. Esses elementos podem ter um significado específico que emergirá de dentro de mim, não através de explicações mentais, mas de estados de ânimo que me transformam.
         Ainda que, quieto e imparcial diante do símbolo, eu não consiga chegar a conclusão alguma, não tem importância; pelo simples fato de ter ficado nessa atitude, impassível e impessoal, permito que o símbolo me transforme. Por ser ele um concentrado de energias de um outro nível, com minha atitude de imparcialidade acabo entrando em contato com a energia que traz, mesmo sem compreendê-lo.
         Se um símbolo for muito abstrato, de tal modo que meu grau de compreensão atual não me permita atingi-lo, basta eu ficar relaxado para ser tocado por sua energia. Talvez o símbolo visto ou sonhado, mais profundo o nível do qual terá vindo. Cada vez que o recordo, e que nele penso com gratidão e afeto, sou energizado e me coligo com um nível mais interno do meu ser. Tal nível está sendo representado pelo símbolo e, por isso, quando minha mente se volta para ele, sou colocado em contato com meu ser interno, na proporção em que isso pode ser feito na atual fase da minha existência.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de fevereiro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de fevereiro de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, escritor, autor de O Calendário do poder (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Utopia de Morus
        
         João Paulo II consagrou, em 2000, o inglês Thomas Morus (1478-1535) padroeiro dos políticos. Fez boa escolha, considerada a ambiguidade da maioria dos políticos. Canonizado em 1935 pelo papa Pio XI e pouco conhecido por sua suposta santidade, Morus é famoso por ser autor de um livro clássico, Utopia (1516), termo que cunhou a partir do grego utopos, que significa “lugar nenhum”.
         Morus inspirou-se em Luciano, satírico grego do século 2, autor de História verdadeira , e em Erasmo, de quem era amigo, autor de Elogio da loucura (1511), que, em carta enviada a Morus, afirmou que “gracejos podem levar a algo mais sério”. É o que faz a boa literatura de nosso Veríssimo.
         Em sua obra, Morus descreve a comunidade de uma ilha onde não havia dinheiro nem propriedade privada; admitiam-se adoradores do Sol e da Lua. “Todos eram livres para praticar a religião que bem entendessem, e tentar converter as outras pessoas para a sua própria fé, desde que o fizessem traquila e educadamente, por meio de argumento racional.”
         Tinha o autor por objetivo protestar contra as injustiças da Inglaterra de sua época: pobreza generalizada, criminalidade (e apelos à redução da maioridade penal...),  pena de morte para quem furtava para matar a fome. “Vocês ingleses” – diz o narrador da Utopia – “me fazem lembrar os professores incompetentes, que preferem reprovar os seus alunos que ensinar-lhes. Em vez de infligir essas punições horríveis, seria muito mais adequado proporcionar a todos algum meio de sobrevivência, de modo que ninguém se encontrasse sob a horripilante necessidade de se tornar, primeiramente, um ladrão, e depois um cadáver.”
         Na ilha de Morus “todos recebem uma porção justa, de modo a não haver jamais pobres ou mendigos. Ninguém é proprietário de nada, mas todos são ricos – afinal, que riqueza maior pode haver que a alegria, a paz de espírito e estar livre da angústia?”
         Dois fatores fizeram Morus renegar suas antigas ideias: a Reforma de Lutero e a sua nomeação a funcionário real, em 1518. Picado pela mosca azul, o poder lhe subiu à cabeça. Logo foi promovido a “conselheiro teológico” e, em 1529, nomeado lorde chanceler de Henrique VIII.
         O que ele antes via como desejável, agora que chegara ao poder lhe parecia perigoso. Preferiu esquecer o que pregou e escreveu. Embora a comunidade da Utopia assemelhe-se ao comunismo, Morus, inimigo da Reforma, passou a atacar a vida comum dos anabatistas como terrível heresia, e tomou a defesa dos ricos proprietários de terras.
         Lorde Morus proibiu mais de 100 livros, perseguiu quem não professava a fé católica, entre os quais o teólogo protestante William Tyndale, que traduziu a Bíblia para o inglês. Segundo seu biógrafo, John Guy, Morus aplicava severamente as leis que decretava: “Vendedores de livros eram multados e presos, e seus estoques de literatura herética queimados em praça pública”, e eles obrigados a desfilar em feiras livres, cavalgando de costas, para que o povo lhes atirasse frutas podres.
         No epitáfio que cunhou para si mesmo, Morus afirmava orgulhoso ter sido um “perseguidor de ladrões, assassinos e hereges”. O último termo foi suprimido na reforma de seu túmulo, no século 19.
         Em 1533, Henrique VIII separou-se de Catarina de Aragão, apaixonado que estava por Ana Bolena. Como Roma lhe negou a anulação do casamento, a fim de legalizar seu divórcio e sacramentar o novo matrimônio perante a Igreja, o rei transferiu para si a autoridade do papa e fundou a Igreja Anglicana. Por se recusar a aceitar Ana Bolena como rainha da Inglaterra e ficar do lado do lado do papa Clemente VII, que excomungou Henrique VIII, Morus foi decapitado em 1535.
         O poder é antiutópico ou distópico por natureza? Por que, hoje, tantos que outrora elevavam sua voz contra a exploração do capital e desfraldavam bandeiras progressistas, de leões bravios tornaram-se dóceis cordeiros do rebanho neoliberal?
         Penso que o poder, devido às premências do presente, faz com que se perca a visão de futuro. E, como o poderoso tende a perpetuar-se no cargo (vide as velhas raposas da política brasileira), procura reduzir o processo histórico a seu momento pessoal. Julga-se início e fim, sem consciência de que não passa de mediador (meio) de um mandato popular.
         Daí o risco de transformar-se numa figura ridícula, sem honra biográfica, merca caricatura de suas ambições desmedidas. Em sua pobre topia, não há mais lugar para a utopia.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas  educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (transporte, trânsito, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. E ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...



          

quarta-feira, 13 de março de 2013

A CIDADANIA, O RESGATE DO ESPÍRITO E O VÉU DA VIRTUDE


“O resgate do espírito, apesar de sua exploração pela cultura atual

Na cultura atual, a palavra “espírito” é desmoralizada em duas frentes: na cultura letrada e na cultura popular.
Na cultura letrada dominante, “espírito” é o que se opõe à matéria. A ciência moderna se construiu sobre a investigação e a dominação da matéria. Penetrou até as suas últimas dimensões, as partículas elementares, até o campo Higgs, no qual se teria dado a primeira condensação da energia originária em matéria: os tão buscados bósons e hádrions e a chamada “partícula de Deus”. Einstein comprovou que matéria e energia são equipotentes. Matéria não existe. É energia altamente condensada e um campo riquíssimo de interações.
         Os valores espirituais situam-se na superestrutura e não cabem nos esquemas científicos. Seu lugar é o mundo da subjetividade, entregue ao arbítrio de cada um ou a grupos religiosos. Ou, então, pertence ao repertório do discurso eclesiástico moralizante, espiritualizante e em relação hostil com o mundo moderno.
         Em razão disso, a expressão “valores espirituais” surge com mais frequência na boca de padres e de bispos de viés conservador. Deles se ouve amiúde que a crise do mundo contemporâneo reside fundamentalmente no abandono do mundo espiritual. Mas, diante dos escândalos havidos nos últimos tempos com os padres pedófilos e dos financeiros ligados ao Banco do Vaticano, o discurso oficial dos “valores espirituais” se desmoralizou. Não perdeu valor, mas a instância oficial que os anuncia conta com muito pouca audiência.
         Na cultura popular, a palavra “espírito” possui grande vigência. Ela traduz certa concepção mágica do mundo, à revelia da racionalidade aprendida na escola. O espiritismo codificou essa visão de mundo pela via da reencarnação. Possui mais adeptos do que se suspeita.
         No entanto, nos últimos decênios, nos demos conta de que o excesso de racionalidade em todas as esferas e o consumismo exacerbado geraram saturação existencial e, também, muita decepção. A felicidade não se encontra na materialidade das coisas, mas em dimensões ligadas ao coração.
         Por toda parte, buscam-se experiências espirituais novas, sentidos de vida que vão além dos interesses imediatos e da luta cotidiana pela vida. Eles abrem uma perspectiva de iluminação e de esperança no meio do mercado de ideias e de propostas convencionais. Elas ganharam força através dos programas de TV e dos grandes “shows” religiosos. Numa sociedade de mercado, a religião e a espiritualidade  se transformaram também em mercadorias à disposição do consumo geral. E rendem muito dinheiro.
         Não obstante a referida mercantilização do religioso, o mundo espiritual começou a ganhar fascínio, embora, na maioria das vezes, na forma de esoterismo e de literatura de autoajuda. Mesmo assim, ele abriu uma brecha na profanidade do mundo e no caráter cinzento da sociedade de massa. Nos meios cristãos emergiram as Igrejas pentecostais, os movimentos carismáticos e a centralidade da figura do Espírito Santo.
         Esses fenômenos supõem um resgate da categoria “espírito” num sentido positivo e até antissistêmico. O “espírito” constitui uma referência consistente e não mais colocada sob suspeita pela crítica da modernidade, que somente aceitava o que passava pelo crivo da razão. Ocorre que a razão não é tudo nem explica tudo. Há o irracional e o arracional. No ser humano, há o universo do sentimento, que se expressa pela inteligência cordial e emocional. O espírito não se recusa à razão, mas vai além, englobando-a num patamar mais alto. Em termos da nova cosmologia, ele seria tão ancestral quanto o universo, este, também portador de espírito. A era do espírito?”
(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 22 de fevereiro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de A mosca azul – reflexão sobre o poder (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“O véu da virtude
        
         Nos próximos dias, a Igreja Católica terá novo papa. Até que ele seja eleito, os cardeais de 48 países estão reunidos em Roma debatendo, com certeza, os motivos que levaram Bento XVI a renunciar. Para a opinião pública, um gesto corajoso de humildade, sobretudo nesses tempos em que muitos políticos se julgam imortais e não concebem viver fora do poder. É o caso de Berlusconi, na Itália, que de novo busca ser primeiro-ministro, e de tantos políticos aqui no Brasil, acostumados a lotear a República e a tratar ministros e chefes de autarquias indicados por eles assim como um latifundiário trata seus capatazes.
         A Igreja é uma instituição de origem divina, mas formada por seres humanos que, a cada dia, devem orar “perdoai as nossas ofensas  e não nos deixeis cair em tentação”. Mas caem, e provocam escândalos, como os sucessivos casos de pedofilia.
         Quem conhece a história da Igreja sabe quantos abusos e crimes foram cometidos por ela em nome de Deus. Para citar apenas o caso do Brasil, durante o período colonial, bispos e padres se mostraram coniventes com a escravatura; a Inquisição caçou e cassou suspeitos, conduzidos daqui à prisão e à fogueira em Portugal; e a expressão “santo do pau oco” evoca o contrabando de ouro e diamante recheando as imagens devocionais levadas pelos clérigos ao exterior.
         O ser humano padece de duas limitações intransponíveis: prazo de validade (todos haveremos de morrer) e defeito de fabricação (trafegamos entre luzes e sombras). É o que a Bíblia chama de pecado original. Ao transpor sua origem divina ao caráter da instituição, a Igreja comete o erro de tentar cobrir com o véu da virtude os frutos do pecado. Por que chamar o papa de Sua Santidade se até ele é pecador e roga pela misericórdia de Deus? Por que qualificar de “sagradas” as congregações do Vaticano que atuam como ministérios de uma monarquia absoluta?
         Quanto maior a altura, maior o tombo. O véu da virtude rasgou-se diante dos escândalos de pedofilia mundo afora e, nesses dias, com a revelação da rede de prostituição que opera em Roma para oferecer serviços sexuais de seminaristas. Nada disso diminui o mérito de tantos membros da Igreja Católica que dão as suas vidas para que outros tenham vida, como é o caso dos bispos Pedro Casaldáliga, Paulo Evaristo Arns, José Maria Pires, e inúmeros padres e religiosos (as) que, despojados de ambições e conforto, se dedicam aos doentes, aos mais pobres, aos dependentes químicos, aos encarcerados.
         O grave é a Igreja não se abrir ao debate às candentes questões que concernem à condição humana. “Nada do que é humano é estranho à Igreja”, dizia o papa Paulo VI. Infelizmente, não é verdade. Criou-se em torno da sexualidade uma espessa cortina fechada pelo cadeado do tabu e do preconceito.
         Embora na prática o tema seja debatido no interior da instituição eclesiástica, a rigor está oficialmente proibido colocar em questão o celibato obrigatório; a ordenação de mulheres; o uso de preservativos para evitar Aids e outras doenças; a sexualidade por prazer (e não para procriar); o aborto em situações singulares; a união de homossexuais etc.
         O novo papa não poderá fugir dessas questões, sob pena de ver a Igreja esvaziar ou seguir convivendo com a hipocrisia de uma moral vivida pelos fiéis. Além de despir-se do véu da virtude, a Igreja deveria se perguntar que sentido faz o papado proclamar que a Igreja não se mete em política e, no entanto, o Vaticano arvorar-se em Estado soberano, com representação na ONU e núncios com embaixadores em diversos países.
         O papa merece ser apenas o pastor dos fiéis católicos, o bispo de Roma, que serve de parâmetro à comunhão universal na fé, e não um monarca absolutista com poderes de intervenção em todas as dioceses do mundo. O Concílio Vaticano II propôs à Igreja um governo colegiado, o que não foi implementado por Paulo VI nem aceito por João Paulo II e Bento XVI. A mosca azul parece picar também o papado. Essa “embriaguês da vitória”, como dizia Toynbee, fez com a cegueira impedisse o pontífice de evitar a corrupção no banco do Vaticano; o vazamento de documentos sigilosos na Cúria Romana; a traição de seu mordomo; e tantos outros escândalos que, agora, arranham profundamente a imagem da Igreja.
         Jesus não se fez acompanhar por um grupo de perfeitos ou santos. Pedro o negou, Tomé duvidou, Judas traiu, os filhos de Zebedeu ambicionaram o poder temporal. Nem eram todos castos e angélicos. No primeiro capítulo do evangelho de Marcos consta que Jesus curou a sogra de Pedro. Se tinha sogra é porque tinha mulher. Nem por isso deixou de ser indicado como líder da comunidade de apóstolos. Quem caminha sem salto alto tropeça menos. É hora de o papa calçar as sandálias do pescador, abdicar dos títulos honoríferos herdados do Império Romano e assumir, em colegiado com os cardeais de todo o mundo, o mais evangélico de todos os seus títulos: servo dos servos de Deus.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes , graves e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir uma permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tamanha sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 11 de março de 2013

A CIDADANIA, A IGUALDADE E A REVERÊNCIA ÀS MULHERES


“Igualdade de gênero na política externa
        
         Em minha primeira semana como secretário de Estado dos EUA, tive a honra de me encontrar com um grupo de corajosas mulheres de Mianmar. Duas eram ex-presas políticas e, embora tivessem passado por tremendas dificuldades na vida, estavam empenhadas a ir em frente – proporcionando educação e capacitação para meninas, buscando empregos para desempregados e defendendo maior participação na sociedade civil. Não tenho dúvida de que elas continuarão a atuar como poderosas agentes de mudança, levando progresso às suas comunidades e a seu país nos próximos anos.
         São oportunidades como essa que nos lembram por que é tão vital que os EUA continuem a trabalhar com governos, organizações e indivíduos em todo o mundo para proteger e fomentar direitos de mulheres e meninas. Assim como em nosso país, os problemas econômicos, sociais e políticos mais prementes do mundo não podem ser resolvidos sem a plena participação das mulheres.
         Segundo o Fórum Econômico Mundial, países em que homens e mulheres estão mais próximos de desfrutar direitos iguais são muito mais competitivos economicamente do que aqueles onde a diferença de gênero deixou mulheres e meninas com acesso limitado ou sem nenhum acesso a assistência médica, saúde, cargos eletivos e ao mercado.
         No entanto, em um número muito grande de sociedades, mulheres e meninas ainda são subvalorizadas, não têm oportunidade de frequentar a escola e são forçadas a casar ainda criança. Muitas vidas têm sido perdidas ou mudadas para sempre pela violência de gênero.
         Nenhum país pode progredir se deixar meta de sua população para trás. É por isso que os Estados Unidos acreditam que a igualdade de gênero é crucial para nossas metas comuns de prosperidade, estabilidade e paz e é por isso que investir nas mulheres e meninas no mundo é um aspecto crucial da política externa dos EUA.
         Investimos em capacitação e aconselhamento de mulheres empreendedoras para que elas possam não apenas melhorar a situação de sua família, mas também na educação das meninas para que elas possam escapar do casamento precoce forçado, quebrar o ciclo de pobreza e se transformar em líderes comunitárias e cidadãs engajadas.
         Trabalhamos com parceiros em todo o mundo para melhorar a saúde materna, fortalecer agricultoras e impedir a violência de gênero, porque todas as sociedades se beneficiam quando as mulheres são saudáveis, têm segurança e contribuem com seu trabalho, liderança e criatividade para a econômica global.
         Hoje, Dia Internacional da Mulher, é dia de comemoração. É também dia de renovarmos nosso compromisso com o fim da desigualdade que impede o progresso em todos os cantos do globo. Podemos e devemos nos comprometer com isso para que as nossas filhas possam entrar no ônibus para ir à escola sem medo, todas as nossas irmãs alcancem sua total capacidade e todas as mulheres e meninas realizem plenamente seu potencial.”
(JOHN KERRY. Secretário de Estado dos Estados Unidos, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Reverência às mulheres
         
         A comemoração do dia 8 de março projeta maior luminosidade na rica compreensão da dignidade e importância da mulher. Uma clareza que deve impulsionar modificações substanciais e mais rápidas no atual cenário, marcado pelos sucessivos casos de violência conta a mulher, particularmente no âmbito familiar. Uma situação inaceitável que precisa dar lugar à crescente participação das mulheres nos processos políticos, sociais, culturais, religiosos e familiares.
         Na compreensão ajustada do significado da mulher no conjunto de processos da vida repousa uma força dinâmica  com propriedades para mudar instituições e promover avanços significativos. É verdade que desde a Revolução Francesa várias conquistas foram alcançadas no que se refere ao reconhecimento da mulher, configurando, consequentemente, ganhos muito importantes para a vida e história da humanidade. Contudo, em razão de cristalizações nas culturas, fruto de compreensões não adequadas, atrasos ainda impedem uma participação mais efetiva. Assim, permanece o grande desafio de conquistar um entendimento capaz de gerar novas posturas.
         Nessa busca, uma rica referência é a Carta Apostólica sobre a dignidade da mulher, do bem-aventurado João Paulo II, publicada em 15 de agosto de 1988. É bem atual a referência à mensagem final do Concílio Vaticano II profetizando um tempo novo que ainda não acabou de chegar: “A hora vem, a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude, a hora em que a mulher adquire no mundo uma influência, um alcance, um poder jamais alcançados até agora. Por isso, no momento em que a humanidade conhece a mudança tão profunda, as mulheres iluminadas no Evangelho tanto podem ajudar para que a humanidade não decaia”.
         No sínodo dos bispos de 1987, que refletiu a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, sublinhou-se a importância de se aprofundar sobre os fundamentos antropológicos e teológicos para ajudar na compreensão justa do significado da dignidade humana. Particularmente no que se refere à mulher, uma questão central que desafia a humanidade: a sua presença participativa na Igreja e na sociedade.
         Os avanços são grandes. No entanto, ainda não são suficientes. Quando se pensa teologicamente, sabe-se que a mulher está no coração do evangelho salvífico professado pela Igreja. A iluminação desse argumento está condensada na figura da mulher mais admirável: Maria, a mão de Jesus, o Redentor e Salvador. Conhecer a participação de Maria na história da humanidade, obediente e aberta amorosamente a Deus, é estar em contato com significativas lições, que iluminam a dignidade de todas as mulheres. Na condição comum de criatura humana, elas guardam também uma sacralidade advinda da filiação a Deus, sua imagem e semelhança.
         É fascinante aquilo que é próprio da mulher, que constitui o seu ser. Trata-se de um grande dom. Pela condição própria dessa dádiva, muitos são os caminhos percorridos, os enfrentamentos exitosos no combate ao mal e na luta pela justiça, desde o contexto da narrativa bíblica, estendendo-se nas histórias e testemunhos de ontem e da contemporaneidade. Essa sacralidade na figura da mulher é uma inesgotável fonte de ética e de moralidade que não deixa perder a força dos valores, das referências e das tradições que configuram o tecido cultural necessário para garantir uma sociedade mais sã.
         Voltando à carta apostólica referida, a grandeza da dignidade da mulher está em conexão profunda com a ordem do amor. O bem-aventurado João Paulo II lembra que no fundamento do desígnio eterno de Deus, a mulher, na sua feminilidade, é um profetismo com força educativa permanente. Obviamente que essa condição singular confere às mulheres uma especial missão. E, para que possam exercê-la, precisam ganhar mais espaços, em todos os lugares e de variados modos. As mulheres merecem, de todos nós, uma especial reverência.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas nesta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente  justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A CIDADANIA E A VIDA EM PLENITUDE

“Aborto é contestado

A medicina precisa avançar na pesquisa para determinar o real estado de consciência das crianças nascidas com deformações severas no encéfalo antes de serem definidas políticas sobre a interrupção da gravidez. Anencefalia não é o mesmo que morte encefálica, porque uma pessoa que respira sozinha e que é amamentada pela mãe sem precisar de aparelhos está viva. A ciência ainda encontra importantes desafios na caracterização e conceituação do feto anencéfalo. Anatomicamente, a anencefalia é a ausência de encéfalo, estrutura maior do sistema nervoso central, formado pelo tronco encefálico (cerebral), cerebelo e cérebro. Embora sejam utilizados como sinônimos, os termos cérebro e encéfalo não são sinônimos. O anencéfalo, a rigor, seria o indivíduo com a cavidade craniana completamente oca, mas não é isso o que acontece realmente em inúmeros casos de anencefalia, pois neles são preservadas, pelo menos, as partes mais profundas do encéfalo. Assim, muitas vezes, o diagnóstico de anencefalia é errôneo, indicando a presença do tronco cerebral, ainda que rudimentar.

Existem, por outro lado, níveis diferentes da falta do encéfalo, desde a ausência completa até a falta de algumas partes. É diferente o conceito de feto descortiçado, descerebrado ou somente com tronco cerebral. Observa-se em diversos casos que o feto dito como anencéfalo tem consciência, mas não pode se expressar porque lhe faltam os instrumentos neurais compatíveis com essa forma de manifestação. Avaliamos como equivocadas as opiniões que afirmam não haver possibilidade de vida do anencéfalo porque não há vida sem cérebro. Essas opiniões não têm, metodologicamente, dentro do contexto da neurociência, nenhum embasamento. Pelo contrário, a neurociência vem demonstrar pelo seu conteúdo que, com o diagnóstico equivocado, o anencéfalo pode ter substrato neural para desempenho de funções vitais, o que contraindica o aborto desse feto, bem como a disponibilização do anencéfalo recém-nascido para transplante de órgãos.

Somos a todo momento a favor da vida, da família e contrários à descriminalização do aborto. A vida é um dom de Deus, indivisível, inatingível e emoldurada à semelhança do pai dos céus. A definição da gravidez, a sua evolução balizada na divisão embrionária paulatina e progressiva confere ao ser em desenvolvimento oportunidade única de integrar a gama de bilhões de seres humanos que puderam adquirir a beleza singular do nascer. São nove meses de crescimento e fortalecimento de sistemas corpóreos, integração de células e conexões que hoje nenhum sistema, nem programa de informática conseguiu copiar e duplicar. Até o dia de hoje, a ciência busca compreender ainda mais os critérios de evolução embrionária, seus sinais e formas de associação com o meio e o seu modo de vida. Temos, pois anda muito a descobrir. Mas não podemos nos esquecer que o cerne da vida se estabelece em Deus, nós que somos sua imagem e semelhança.”
(PAULO FRANCO TAITSON, Diácono, pós-doutorado em reprodução humana, coordenador do Conselho Arquidiocesano da Pró-Vida da Arquidiocese de Belo Horizonte e professor de anatomia e reprodução humana da PUC Minas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 11 de abril de 2012, Caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma IMPORTANTE, ADEQUADA e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 13 de abril de 2012, Caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“Vida, dom e compromisso

A graves questão da descriminalização de aborto de anencéfalos não pode deixar a sociedade brasileira, suas instâncias e cidadãos em paz. O caminho interpretativo adotado não pode ser entendido como uma verdade sobre a vida, que precisa ser incondicionalmente respeitada. O poder de decidir não é, em si, a verdade na sua inteireza. Aquela importante cena do Evangelho de São João, narrando a paixão e morte de Jesus Cristo, quando o Senhor da vida contracena com Pilatos, que o condenou à crucificação ouvindo o clamor do povo, mostra isso.

Nesse mesmo evangelho conhecemos a revelação que Jesus faz de sua identidade quando diz ser o caminho, a verdade e a vida. Sua missão o revela não como simples intérprete de sentimentos, tentando conciliar situações, identificando-as como respeito a um direito de decidir, mesmo que esse respeito signifique ferir a integridade e a liberdade de um indefeso, um inocente. Se a análise é necessária como caminho em busca da verdade, é indispensável também ajuizar os critérios e princípios de interpretação adotados, para que não se comprometa o dom da vida.

Oportunamente, assinala o bem-aventurado João Paulo II, na sua carta encíclica “Fé e razão”, de 14 de setembro de 1998: “No âmbito da investigação científica, foi-se impondo uma mentalidade positivista, que não apenas se afastou de toda a referência à visão cristã do mundo, mas sobretudo, deixou cair qualquer alusão à visão metafísica e moral. Por causa disso, certos cientistas, privados de qualquer referimento ético, correm o risco de não manterem, ao centro de seu interesse, a pessoa e a globalidade de sua vida”. A crise atual do racionalismo compromete, incontestavelmente, muitos critérios interpretativos que são adotados em decisões de grande impacto, com tendências a relativizar, particularmente, a importância dada a quem não tem voz para se defender.

Os critérios usados para elaborar pareceres decisórios, como nessa grave questão do aborto de anencéfalos, parecem ceder a lógicas bafejadas por relativismos que não consideram os sentimentos de todos os envolvidos. É preciso continuar ecoando nas conseqüências que as deficiências não diminuem a dignidade da vida humana em gestação. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em posicionamento para reafirmar o compromisso com a moral cristã católica, em nota, sublinha que os princípios da inviolabilidade do direito à vida, da dignidade da pessoa humana e da promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação, conforme determina a Constituição Federal, referem-se também aos fetos anencéfalos.

Ora, não respeitar a vida é porta aberta para desrespeitar os outros direitos. A descriminalização de aborto de fetos anencéfalos será, sem dúvida, entrada para desqualificação da pessoa humana, podendo justificar práticas contra doentes e indefesos. Nossa posição precisa ser permanentemente reafirmada, não admitindo relativizações. A vida tem que ser acolhida como dom e compromisso, mesmo quando seu percurso natural for presumivelmente breve. Portanto, em qualquer circunstância, provocar a morte é crime.

Como é possível admitir que uma legislação possa tornar lícito o que é intrinsecamente ilícito? Não matarás é um importante mandamento da Lei de Deus. Exige fidelidade daqueles que creem. A Igreja Católica não pode fazer concessões quanto ao entendimento dos mandamentos de seu mestre e senhor, Jesus Cristo, que veio ‘para que todos tenham vida e vida em abundância’. O esplendor da verdade que brilha em todas as obras do Criador cintila especialmente no homem criado à imagem e semelhança de Deus.

Esse princípio é inegociável e exige incondicional obediência de todos, especialmente dos que professam a sua fé em Cristo, o salvador. É indispensável continuar a reflexão e a luta pela vida. Os critérios interpretativos usados para justificar votos que permitem a descriminalização de abortos de fetos anencéfalos precisam ser confrontados com os ensinamentos da Igreja Católica, propiciando o conhecimento e a argumentação de verdades fundamentais que não podem ser deformadas ou até negadas. Há um patrimônio moral que não pode ser desconhecido ou suplantado por certas concepções antropológicas e éticas, que desconectam a liberdade humana de sua relação essencial com a verdade. A comunidade cristã está convocada a continuar essa importância luta a favor da vida.”

Eis, portanto, mais páginas contendo IMPORTANTES, ADEQUADAS e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES que acenam, em meio à MAIOR crise de LIDERANÇA de nossa HISTÓRIA, para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS MUDANÇAS em nossas estruturas EDUCACIONAIS, GOVERNAMENTAIS, JURÍDICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS, ECONÔMICAS, FINANCEIRAS e AMBIENTAIS, de modo a promovermos a inserção do PAÍS no concerto das POTÊNCIAS mundiais LIVRES, CIVILIZADAS, SOBERANAS, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDAS...

Assim, URGE ainda a efetiva PROBLEMATIZAÇÃO de questões deveras CRUCIAIS como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, desde a EDUCAÇÃO INFANTIL (0 a 3 anos, em creches; 4 e 5 anos, em pré-escolas) até a PÓS-GRADUAÇÃO (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;

b) o COMBATE, implacável e sem TRÉGUA, aos três dos nossos MAIORES e mais AVASSALADORES inimigos que são: I – a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância, de forma a manter-se em patamares CIVILIZADOS; II – a CORRUPÇÃO, como um CÂNCER a se espalhar por TODAS as esferas da vida NACIONAL, gerando INCALCULÁVEIS e INTOLERÁVEIS prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o DESPERDÍCIO, em TODAS as suas MODALIDADES, também a ocasionar INESTIMÁVEIS perdas e danos, inexoravelmente IRREPARÁVEIS;

c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO, de ASTRONÔMICO e INSUPORTÁVEL desembolso da ordem de R$ 1 TRILHÃO, a título de JUROS, ENCARGOS, AMORTIZAÇÃO e REFINANCIAMENTOS, a exigir igualmente uma IMEDIATA, ABRANGENTE, QUALIFICADA e eficaz AUDITORIA...

Isto posto, torna-se absolutamente INÚTIL lamentarmos a FALTA de RECURSOS diante de tanta SANGRIA, que DILAPIDA o DINHEIRO PÚBLICO, e MINA a nossa ECONOMIA e a nossa capacidade de INVESTIMENTO e de POUPANÇA e, mais CONTUNDENTE ainda, AFETA a confiança em nossas INSTITUIÇÕES, negligenciando a JUSTIÇA, a VERDADE e o AMOR da PÁTRIA, ao lado de extremas e crescentes DEMANDAS, NECESSIDADES, CARÊNCIAS e DEFICIÊNCIAS...

São, e bem o sabemos, GIGANTESCOS DESAFIOS mas que, de maneira alguma, ABATEM o nosso ÂNIMO nem ARREFECEM nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, CIVILIZADA, QUALIFICADA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS e abundantes RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos e que contemplam EVENTOS como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO+20) em junho; a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE no RIO DE JANEIRO em 2013; a COPA DAS CONFEDERAÇÕES de 2013; a COPA DO MUNDO de 2014; a OLIMPÍADA de 2016; as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERCIONALIZAÇÃO das EMPRESAS, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INOVAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um POSSÍVEL e NOVO mundo, da PAZ, da JUSTIÇA, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e da FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA... e PERSEVERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...