sexta-feira, 4 de abril de 2014

A CIDADANIA, A TRAVESSIA DO PÓS-DITADURA E A UNIVERSIDADE DO FUTURO

“Brasil pós-ditadura
        
         Faz 50 anos que o golpe militar, respaldado pela Casa Branca, implantou uma ditadura no Brasil. E 29 que os generais voltaram às casernas. E agora, José, vivemos uma verdadeira democracia?
         Devagar com o andor, pois o santo é de barro. Cracia, sim; mas demo... Os generais deixaram o poder. Não de ter poder. Falam grosso nos quartéis e ainda têm a petulância de batizar turmas de formandos de Agulhas Negras com o nome de “Emílio Garrastazu Médici”, o mais sanguinário de todos os ditadores.
         Comissões da Verdade trabalham arduamente para apurar os crimes da ditadura. Como não são também da Justiça, atuam manietadas. Não têm poder nem projeto de punir ninguém. “Homem mau dorme bem”, intitula-se um filme de Akira Kurosawa. O que dá às Forças Armadas a prerrogativa de não prestar satisfações à nação e manter sob sigilo os arquivos do regime militar, como fazem os documentos da Guerra do Paraguai. Mas ninguém escapa de prestar contas à história.
         Passadas quase três décadas do fim da ditadura, o Brasil nem sacudiu a poeira nem deu a volta por cima. Quem é hoje a figura majestática do PMDB, o maior partido do Brasil e principal aliado do governo petista? José Sarney. Quem era o presidente da Arena, partido de respaldo à ditadura e aos crimes por ela cometidos? José Sarney.
         Nossas estruturas ainda conservam fortes resquícios dos 21 anos (1964-1985) de atrocidades. Em especial na política, que mantém o mesmo número de senadores por estado, malgrado a desproporção populacional, e aprova o financiamento de campanhas eleitorais por empreiteiras, bancos e empresas. Sei que nem tudo é como dantes – temos pluripartidarismo e a Constituição de 1988 – mas ainda trafegamos à sombra do quartel de Abrantes.
         Houve mudanças! O impossível aconteceu: Lula eleito presidente e o PT há 11 anos no poder. Lá chegou graças aos movimentos sociais que minaram os alicerces da ditadura. Como já disse, o poder, a cracia, ganhou novos protagonistas. Porém, a demo... o povo, ficou de fora!
         Nossa democracia ainda é predominantemente delegativa (delega-se, pelo voto, poder ao eleito), tendenciosamente representativa (vide os lobbies do agronegócio e dos grandes meios de comunicação); e nada participativa.
         A social-democracia chegou ao Brasil, paradoxalmente, pelas mãos do PT, e não do PSDB. A pobreza extrema sofreu significativa redução; a escolaridade ampliou-se; a saúde socorreu-se na importação de médicos estrangeiros. No Nordeste, trocou-se o jegue pela moto. A inflação ficou sob controle; o salário mínimo teve crescimento expressivo; a linha branca, desonerada e facilitada pelo crédito, encheu os domicílios populares de geladeiras, fogões e máquinas de lavar.
         Quem nunca comeu melado... Cadê os benefícios sociais? Transporte coletivo precário e congestionado; saúde pública infeccionada por falta de recursos; educação sem qualidade; segurança despreparada e insuficiente.
         Em 11 anos de governo petista, nenhuma reforma de estruturas. Nem a agrária, nem a política, nem a tributária. Como fazia a ditadura,os megaprojetos atropelam as exigências ambientais (transposição do São Francisco; hidrelétricas como Belo Monte; Copa), enquanto a Amazônia perde o fôlego asfixiada por lavouras movidas a agrotóxicos e ampliação dos pastos abertos a serra elétrica.
         Eis que, de repente, o Brasil se dá conta de que não está deitado em berço esplêndido. E o gigante adormecido acorda nas manifestações de rua!
         Se os 11 anos de governo petista promoveram considerável inclusão econômica, falta propiciar a participação política. Ao contrário, temos um governo despolitizante, que acredita que só de pão vive o homem. Nada de estranho que haja arruaças em manifestações. Ainda somos o país do futuro. O presente requer um novo projeto Brasil.”

(FREI BETTO. Escritor, autor de Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de entrevista publicada na revista VEJA, edição 2367 – ano 47 – nº 14, de 2 de abril de 2014, páginas 17 a 21, concedida por STEPHEN KOSSLYN,  à repórter HELENA BORGES, e que merece igualmente integral transcrição:

“A universidade do futuro

O neurocientista americano Stephen Kosslyn, 66 anos, estava com a vida feita. Um dos maiores pesquisadores do mundo em ciência cognitiva – área do conhecimento que combina psicologia, neurociência e sistemas de computação para entender como o cérebro processa informações –, Kosslyn era disputado por instituições de alto nível, como Harvard, onde fez prodigiosa carreira acadêmica durante mais de três décadas. Pois no início do ano passado ele jogou tudo para o alto e aceitou ser reitor de um dos mais ambiciosos projetos de educação na internet: o Minerva, universidade 100% on-line pensada por uma turma egressa do Vale do Silício e financiada pelos mesmos investidores do Twitter e do eBay. A proposta é oferecer ensino de excelência comparado ao das instituições americanas da elite acadêmica. “Pude me afastar, olhar tudo de um novo ângulo e pensar em um modelo de educação superior que seja adequado ao século XXI e que aproveite a revolução feita pela internet”, avalia Kosslyn, que falou a VEJA de seu escritório em São Francisco, na Califórnia.

Sua área de estudo enxerga o cérebro como um músculo que pode ficar mais forte se corretamente exercitado. Não é exagero? Não. A inteligência humana pode ser dramaticamente ampliada. Uma frente fundamental de pesquisas na área da neurociência cognitiva trata justamente de encontrar caminhos para exercitar os, digamos, músculos mentais. Para solucionar uma equação são ativadas diferentes combinações dos sistemas neurais presentes no cérebro humano. Esses sistemas podem ser treinados e sua capacidade, ampliada, da mesma forma que os tríceps de um atleta nas barras paralelas.

Como seria uma sala de ginástica para o cérebro? Até alguns videogames podem ser utilizados. Um exemplo é o Tetris, um clássico, que pode ajudar a potencializar a noção espacial. A mente é exercitada também pelos games que dividem a atenção do jogador entre objetos diferentes, os que exigem a memorização de sequências e aqueles que requerem a absorção gradativa de mais e mais informação. Com a ajuda deles, conseguimos em laboratório estimular sistemas neurais específicos. Os games e, de modo geral, toda atividade interativa têm efeito positivo sobre a inteligência. As pesquisas mostram que o cérebro de uma pessoa pode servir de extensão para o de outra, e vice-versa. Já se sabe que os estímulos mútuos em ambientes sociais são o combustível para a expansão da inteligência. Outro poderoso indutor da inteligência é a interação do cérebro com aparelhos digitais. À medida que a linha de informações no cérebro e nos dispositivos eletrônicos vai ficando mais tênue, mais sutil, a capacidade mental aumenta.

As escolas superiores já se valem dessas descobertas em classe? De modo geral, o ensino continua muito atrelado a técnicas convencionais ultrapassadas, mas a ciência do raciocínio em breve vai fazer uma revolução nessa área.

Poderia dar um exemplo? Muito se fala que, no aprendizado, quanto mais a pessoa pensa sobre alguma coisa, mais se lembra dela, mas pouco se faz para que pensar se torne a regra na sala de aula. Nós conduzimos pesquisas para comprovar cientificamente esse fato. Uma delas, simples mas esclarecedora, envolveu três grupos aos quais foram apresentadas frases que descreviam cenas triviais. Um grupo foi instruído a ficar repetindo as frases para gravá-las. Outro foi orientado a fechar os olhos e tentar visualizar as imagens. Ao terceiro foi pedido que visualizasse cada cena uma vez, rapidamente, e que desse uma nota de quão viva a imagem lhe apareceu, sem se preocupar em gravá-la. Os participantes foram convocados minutos depois a reproduzir as frases, e a memorização dos que tentaram absorvê-las por repetição foi metade da dos outros dois grupos – que, por sua vez, apresentaram desempenho semelhante. Isso reforça a ideia de que não é repetindo teoremas e fórmulas que os alunos vão se lembrar dos ensinamentos, mas sim discutindo e construindo um pensamento crítico sobre o que aprendem. A partir daí, desenvolvemos cursos muito mais interessantes e participativos.

Como se explica, em termos cognitivos, o fato de refletir ser mais eficiente do que repetir? Quanto mais a pessoa refletir sobre algum assunto, quanto mais profundamente ela processar uma informação, mais fácil será lembrar-se dela, porque a reflexão vai desencadear associações mentais entre aquele assunto e o que já está armazenado na memória. Ao ser convocado a reproduzir essa informação, o cérebro usará tais associações para chegar ao local onde ela está armazenada. Por outro lado, repetir uma frase ou uma fórmula diversas não cria conexões com coisas já gravadas na memória, e portanto o cérebro vai ter mais dificuldade para encontrar a frase ou fórmula no seu banco de dados quando isso lhe for solicitado.

Onde o professor entra nisso? Ele não se ver mais apenas como um transmissor de conhecimento. É claro que continua a ter de dominar sua expertise, mas precisa dar uma aula diferente, de aprendizado ativo, envolvendo os alunos. Isso requer treinamento contínuo e muita habilidade interpessoal. As aulas tradicionais são expositivas, o que é uma ótima estratégia para ensinar, porque em pouco tempo o professor alcança vários ouvintes simultaneamente, mas é uma maneira horrível de aprender, porque o aluno se perde com facilidade, sem exercitar sua capacidade de abstração. Enfim, um professor com os olhos para o futuro tem de criar desafios acadêmicos à altura da complexidade do mundo de hoje, motivando o aluno a analisar e a aplicar o que ele aprendeu.

Por que a maioria das escolas ainda está aferrada a um modelo antiquado de sala de aula? Parte desse conservadorismo se deve ao conforto que ele traz; os professores ensinam da maneira a que estão acostumados, como foram treinados, sem avançar um milímetro. Eles não veem motivos para mudar. As universidades, por sua vez, que tanto celebram os progressos na pesquisa, não têm a tradição de valorizar inovações na didática, o que desmotiva a aplicação de métodos mais modernos.

A tecnologia ainda vai revolucionar o ensino? Ela será a chave de tudo. Logo, logo, a maior parte do conhecimento vai ser gratuita. Tudo o quea pessoa quiser conhecer ou aprender estará disponível nas escolas a distância. Essa evolução tecnológica vai resultar em uma mudança significativa no papel das universidades: em vez de só transmitirem o conhecimento, caberá a elas ensinar a raciocinar, a dominar esse conhecimento e a colocá-lo em uso na prática. Esse processo deve ser interpretado de modo amplo, não apenas no sentido de formar um bom profissional, mas também a se tornar uma pessoa que possa aproveitar plenamente a vida – apreciar as artes e a música, ser capaz de enxergar os dois lados de uma questão. O cidadão do futuro, parte desta geração que está agora nos bancos escolares, é aquele que os políticos não conseguem passar para trás, porque conhece a política e é capaz de fiscalizar as ações do candidato em quem votou.

Nesse universo, o ensino on-line vai prevalecer sobre as escolas físicas? Sem dúvida. Vejo o agrupamento de estudantes em um campus como algo cada vez menos importante. As pessoas continuarão a se encontrar para estudar, e isso é bom principalmente para os mais jovens, que precisam interagir, mas os grupos serão menores. O Número de Dunbar, criado pelo antropólogo inglês Robin Dunbar, definiu que, para que todo mundo se conheça dentro de um grupo, ele não pode ter mais que 150 integrantes. Esse é o tamanho ideal para haver socialização efetiva, fazer amigos e criar laços afetivos.

Como o acesso ao ensino gratuito é encarado pelas universidades da elite acadêmica? No século XVIII, as universidades selecionavam as obras que a pessoa tinha de ler para ser considerada educada. Já a universidade voltada para o futuro não é fundamentada em livros, mas em ferramentas cognitivas. Ela dá aos alunos a bagagem intelectual para que consigam se adaptar a qualquer cargo, criar e ter sucesso pelo resto da vida. As escolas de elite americanas, integrantes do grupo conhecido como Ivy League, não se sentem ameaçadas pela internet porque continuam imprescindíveis em outro papel: o de formadores de redes de contatos. Mesmo hoje, as pessoas vão para Harvard, Yale e Stanford, em parte, por causa dos colegas interessantes e das redes de contatos que estabelecem. Esse cenário não vai mudar – só vai ficar mais concorrido e mais elitista. Já as universidades de má qualidade, freqüentadas apenas para obter um diploma, essas vão acabar, até porque o diploma universitário formal está perdendo valor. Ele já não é garantia absoluta de um bom emprego. Também desvaloriza o tradicional canudo o exemplo dos jovens que alcançam sucesso no mundo digital sem ter feito faculdade alguma.

Várias de suas pesquisas tratam da imaginação. Que papel ela tem no cérebro? A visualização mental de imagens de forma espontânea, ou seja, sem estímulos físicos, é importante para desenvolver tanto a memória quanto a noção espacial. Ela também ajuda na compreensão linguística  e no desenvolvimento de habilidades motoras – assistir a um vídeo de si mesmo em ação contribui para o atleta imaginar maneiras de melhorar o desempenho na sua atividade. É essencial ainda no entendimento de símbolos, como comprovam os muitos matemáticos e físicos de imaginação fértil, incluindo Albert  Einstein. A imaginação se coloca nos limites entre percepção, memória, raciocínio e emoções. Estudando-a, poderemos compreender as diferenças e os pontos em comum entre essas áreas.

Como se avalia a capacidade imaginativa de uma pessoa? O estudo dessa questão começou a se desenvolver com o surgimento de testes cognitivos mais modernos e deu um enorme salto com as novas técnicas de escaneamento cerebral. Mas ainda há um imenso potencial a ser explorado nesse universo relativamente pouco conhecido. Na medicina e na psiquiatria, a compreensão da base neural na imaginação não só vai ajudar a elucidar questões fundamentais do cérebro, como também poderá lançar uma luz sobre os déficits mentais que acompanham doenças cerebrais. Na educação, pode aprimorar as aplicações práticas da imaginação no ensino escolar.

Em que o aluno formado as diretrizes da ciência cognitiva será diferente dos outros? Ele saberá analisar problemas e situações com isenção e espírito crítico e passará a vida inteira aprendendo. No Projeto Minerva, nossa universidade on-line recém-inaugurada, partimos da seguinte premissa: o que os alunos vão fazer depois de formados? Isso leva a todo o resto. Queremos formar líderes globais, que gerem inovação, que tenham mente aberta para continuar ampliando seus horizontes intelectuais, que saibam se adaptar a um mercado volátil e que sejam cidadãos do mundo. Para formatar nossos cursos, passei meses entrevistando líderes no Vale do Silício, no mercado financeiro e no mundo empresarial. Assim pude traçar um retrato tanto no plano prático quanto no psicológico, das características que os levaram a chegar aonde chegaram. É esse o tipo de ensinamento que as instituições de ensino devem absorver para conseguir oferecer uma educação verdadeiramente integrada no século XXI.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, 45 bilhões de reais são gastos anualmente com contadores, advogados e toda a estrutura para lidar com a burocracia, segundo estudo da Fiesp...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...    

quarta-feira, 2 de abril de 2014

A CIDADANIA, O EXERCÍCIO DA SOLIDARIEDADE E AS MUDANÇAS GLOBAIS (58/2)

(Abril = mês 58; faltam 2 meses para a Copa do Mundo)

“Exercício da solidariedade
        
         Se existe uma seara em que minha esperança se renova é a da solidariedade. O impulso de ajudar o outro em momentos difíceis não é novo, mas continua sendo o princípio mais desafiador para cada pequeno ser em sua passagem pela Terra. Não se deve esquecer, contudo, o potencial transformador que essas atitudes representam para o crescimento interior do próprio indivíduo. Podemos chamar de empatia, caridade, amor ao próximo. O nome importa pouco – o significado é que surpreende. Quem experimenta ser solidário conhece a imensa satisfação de prazer e bem estar que é abandonar seu universo particular e caminhar na direção do outro. Mesmo que pareça um ato pouco significativo em termos de ajuda, é um movimento que provoca mudanças profundas no estado de espírito. Quem recebe um ato solidário conquista benefícios, é claro. Mas quem oferta momentos de afago e carinho ao outro ganha ainda mais. Pesquisas indicam que trabalhos voluntários altruístas estimulam a alegria, aliviam tristezas e aumentam a imunidade, evitando doenças.
         Pessoas que se sentem solidárias expressam mais satisfação pela vida e desenvolvem maior capacidade de lidar com as dificuldades. Em geral se tornam mais felizes e encontram sentido às ações e atitudes. A ajuda desinteressada também reflete na identidade pessoal e social. Aumenta a autoestima e introduz sentido às nossas competências. Recompensa-nos com a alegria de contribuir para a felicidade de nossos semelhantes e nos dá a sensação de participar da melhoria da sociedade. Percebemos que somos um conjunto de seres pequeninos unidos em prol de algo maior. Atraída pela vontade de fazer alguma coisa, mínima que fosse, em 2003, segui o conselho de um amigo a apadrinhei uma criança do ChildFund Brasil – Fundo para Crianças. Uma organização cuja atuação é reconhecida internacionalmente na erradicação da pobreza infantil no país. A experiência de 11 anos de apadrinhamento me ensinou que é preciso muito pouco para fazer a diferença na vida de uma criança em situação de risco ou vulnerabilidade social. Entendi isso definitivamente quando, depois de alguns anos como madrinha, pude conhecer o trabalho do ChildFund e passei a apoiá-lo também como embaixadora. Realizamos uma visita a Medina, cidade do Vale do Jequitinhonha onde mora meu afilhado Fernando. Conhecê-lo pessoalmente me permitiu compreender a dimensão que minha pequena ajuda tinha em sua vida.
         Cerca de 16 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com até R$ 70 por mês. Mesmo não sendo diretamente responsáveis pelo que acontece na vida desses brasileiros, podemos, sim, ser causadores de uma grande mudança na vida delas. Praticar o bem eleva o espírito e salva o corpo também. Um exercício que todos nós deveríamos priorizar. Como a endorfina da atividade física, o hormônio que se espalha pelo nosso corpo ao dar um pequeno passo na direção de um universo diferente do nosso é transformador porque bombeia o afeto. E, como bem cantaram os Beatles, afeto sempre foi e continua sendo, definitivamente, o que o mundo mais precisa.”

(CRIS GUERRA. Escritora, comunicadora e embaixadora da ONG ChildFund Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 29 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 28 de março de 2014, caderno O.PINIÃO, página 28, de autoria de LEONARDO BOFF, filósofo e teólogo, e que merece igualmente integral transcrição:

“Depois da grande tribulação, a Terra terá seu merecido descanso
        
         Achamos muito oportunas as reflexões do autor Waldemar Boff, formado em filosofia e sociologia nos Estados Unidos e que anima o Serviço de Educação e Organização Popular na Baixada Fluminense. Eis seu texto:
         “Ninguém sabe ao certo o dia e a hora. É que já estamos no meio dela sem notarmos. Mas que está vindo, está, cada vez com mais intensidade e nitidez. Quando acontecer a grande virada, tudo vai parecer como se fosse de surpresa.
         “Embora haja dados seguros que apontam a inevitabilidade das mudanças globais devidas ao clima, os interesses econômicos das grandes nações e a falta de visão em longo termo de seus líderes não lhes permitem tomas as medidas necessárias para mitigar os efeitos e adaptar seu modo de vida ao estado febril da Terra.
“Poderíamos imaginar um cenário plausível em que furacões varrerão regiões inteiras. Ondas gigantescas engolirão cidades e civilizações. Secas prolongadas farão com que se troquem todas as riquezas por um simples copo de água suja. O calor e o frio extremos farão lembrar com saudades as histórias das avós que falavam das brisas da tarde e do aconchego de uma lareira no inverno. Comer-se-á só para sobreviver, sempre pouco e de gosto duvidoso.
         “ Mas tudo isso ainda não será o pior. A mãe, de tão fraca, não conseguirá enterrar a filha, e o neto matará o avô por causa de côdea de pão. A fome chegará a tal ponto que, como na Jerusalém sitiada, os famintos aguardarão a próxima vítima da morte para disputar-lhe a carne esfiapada.
         “‘O país ficará devastado e as cidades se tornarão escombros. Todo o tempo em que ficar devastada, a Terra descansará pelos sábados que não descansou quando nela habitáveis’ (Lev. 26:33-35).
         “Mas será o fim de toda a biosfera? Não. Por causa dos justos e sensatos, Deus abreviará esses dias e não dizimará toda a vida sobre a Terra. Mas é necessário que o ser humano passe por essa tribulação para acordar do seu egocentrismo e reconhecer em definitivo que ele é parte da comunidade da vida e o principal guardador dela.
         “Que fazer para nos prepararmos para esses tempos? Primeiramente, reconhecer que já vivemos neles.
         “Depois, importa ficar quieto, vigiando os sinais que indicam a aceleração dos processos de mudança. E, sobretudo, é imprescindível converter-se, mudar de hábitos de vida, uma mudança profunda, pessoal e definitiva. Só então estaríamos em condições morais de pedir aos outros que façam o mesmo.
         “Deveríamos, ainda, voltar às raízes, recomeçar, como tantas vezes já fez a humanidade arrependida, reconhecendo que somos apenas criaturas, e não Criador, que somos companheiros, e não senhores da natureza.
         “Para esses tempos de carestia que virão, é fundamental recuperar as ancestrais artes e técnicas do plantar, colher, comer; do cuidar dos animais e servir-se deles com respeito; do fazer utensílios e ferramentas, com arte e tecnologia local; do selecionar e plantar as ervas que curam e os grãos que nutrem; do recolher para tecer; do preservar as fontes d’água. Desse saber recuperado e enriquecido surgiria uma civilização do contentamento, uma biocivilização, a Terra da boa esperança.
         “Depois dessa longa temporada de lágrimas e esperanças, superaremos essa estúpida guerra de religiões, essa intolerável disputa de deuses. Para além dos profetas e tradições, quem sabe voltemos a adorar o único Criador de todas as coisas. E poderemos, enfim, organizar verdadeiramente a união de todos os povos do mundo e um autêntico parlamento de todas as religiões”.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, humanas, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, atingindo ondas oceânicas...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos (por exemplo, a quase sempre danosa, lesiva aos cofres públicos, proliferação de aditivos contratuais...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...


Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


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segunda-feira, 31 de março de 2014

A CIDADANIA, O VOTO RACIONAL, OS PACTOS E AS MOBILIZAÇÕES

“O voto racional
        
         Que tal um vestibular para os candidatos à Presidência da República e aos governos dos 27 estados da Federação? Combinemos as três regras principais do concurso. Primeira, os eleitores darão as notas aos candidatos; segunda, os aprovados serão aqueles que obtiverem a melhor média nos quesitos conhecimento das realidades do território que terá de administrar; projetos de governo que contemplem as demandas de áreas, comunidades, classes sociais e categorias profissionais; comprovação de viabilidade das ações propostas e capacidade de realizar os programas nesses tempos de escassez de recursos econômicos; terceira, os candidatos darão conhecimento público de seus planos em tempo adequado para que os julgadores (os eleitores) possam compreender propostas, assimilar ideias, estabelecer comparações, refletir sobre as diferenças e semelhanças e, a partir desse quadro, atribuir o veredito, conferindo aos melhores a nota mais alta.
         Não deveriam ser esses os critérios para selecionar os governantes? A resposta seria afirmativa se o processo de escolha obedecesse a critérios racionais, pelos quais os perfis mais preparados e as melhores propostas deveriam ganhar a preferência do eleitorado. Infelizmente, parcela importante de nossa população eleitoral embasa as escolhas em impulsos emotivos.
         O processo emocional se alastra por todos os grupamentos, sendo mais forte nas margens, por conta das aflições do cotidiano. Mas a ascensão de grupamentos da base da pirâmide ao meio tem contribuído para o alargamento das fronteiras do voto racional.
         A mobilidade social, a interação de grupos até então distantes, o acesso ao consumo e ao lazer, a exposição midiática das demandas comunitárias vão formando correntes que passam a cobrar resultados dos governantes. Nessa teia, expande-se o voto racional. O fato é que o pleito deste ano sugere a aplicação de uma prova para os governantes, até como modelagem para resgatar os escopos a cargo do Estado.
         A competitividade eleitoral, e, mais que isso, a polarização entre petistas e tucanos, arrefeceu, nos últimos tempos, a construção de um projeto nacional, contemplando definição de rumos e linhas de desenvolvimento. Tucanos ainda hoje mostram as retas do Plano Real; petistas continuam a reverberar os feitos do programa de distribuição de renda. Mas onde estão as pistas mais largas para a decolagem da nação? E as metas para o amanhã frentes da infraestrutura técnica?
         Eis o imbróglio da falta d’água. Não adianta culpar são Pedro por não abrir as torneiras celestes para jogar água nos reservatórios do Sudeste. Afinal, que obras se impõem para administrar catástrofes, algumas previsíveis? Qual o papel do Estado para atenuar as intermitentes crises econômicas?
         E nas unidades federativas, o que os atores enxergam nos cenários? Como se pode constatar, o vestibular se faz necessário, principalmente no ciclo de transparência que escancara as malhas administrativas. Dois conselhinhos no pé do caderno de anotações: candidatos, formem equipes competentes para preparar respostas às questões; e falem claro a verdade. Sem firulas.”

(Gaudêncio Torquato. Jornalista e professor (USP), em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 26 de março de 2014, caderno O.PINIÃO, página 21).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 28 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Pactos e mobilizações
        
         A construção cidadã da sociedade civil não pode prescindir da movimentação e dinâmicas próprias dos pactos e mobilizações que emergem fora das instâncias governamentais. Essa necessidade é vital para oxigenar os tecidos tendenciosos da burocratização, do partidarismo e, particularmente, em razão da perda inevitável do genuíno sentido social que mantém acesa a percepção das demandas do povo, especialmente das urgências dos pobres. O papel e responsabilidades governamentais cotidianas precisam contracenar permanentemente com a compreensão e movimentações próprias dos cenários da vida civil comum, sob a pena de perder a competência de fazer o que é prioritário. Sobretudo, fazer com alma, e não simplesmente pelo dever de realizar tarefas. Quando esse processo interativo fica comprometido, é perceptível pelo distanciamento da realidade, a dificuldade no cumprimento de promessas, na verdade, obrigações; o discurso usado já não atinge os destinatários e a interlocução fica comprometida.
         As mobilizações dos mais variados perfis, são determinantes  para que se conheça o sentimento da sociedade, especialmente quando ficam esclerosados os canais de sua expressão popular. Obviamente, a geral condenação de atos violentos e do vandalismo é regra inegociável, até porque obscurecem a percepção da realidade que toda mobilização pode provocar no conjunto da sociedade ou em parte dela.
         Nesse sentido, falar de manifestações pacíficas jamais significa ofuscar suas repercussões, até mesmo em âmbito internacional. O entendimento de pacífico é o lado cidadão contrário ao vandalismo, à expressão de ódios e frutos de possíveis manipulações interesseiras e pagas. A força da mobilização se expressa pela repercussão na consciência cidadã. Na formatação da exigência de novas posturas e atendimento de demandas, fazendo chegar aos gestores públicos e privados a cobrança de respostas urgentes para as questões que afligem a população. Vence, assim, os atrasos criados por causa de disputas partidárias, incompetências administrativas e de pessoal ou por falta de lucidez na escolha de prioridades.
         A sociedade civil precisa de mobilizações de variados tipos para garantir uma ordem social e política que não se torne refém de partidos ou de vaidades, com consequentes comprometimentos  e atrasos como este que ainda pesa, lamentavelmente, sobre os ombros dos cidadãos brasileiros. Um peso que também se explica pelo modo como se faz política, priorizando interesses cartoriais e partidários em instâncias como o Congresso Nacional. Lugar onde, por excelência, devem ecoar, diariamente, os anseios e necessidades do povo. Nesse âmbito, é fundamental avançar, esclarecer e buscar lucidez para não dar passos equivocados e comprometedores do bem conquistado na legislação e na busca da efetivação da reforma política.
         A reforma política é canal importante para repercutir em novas configurações o que melhor pode atender à edificação da sociedade civil, com parâmetros morais e éticos adequados, e ao atendimento mais dinâmico de suas necessidades e direitos. E este é um momento oportuno para grandes e pequenas mobilizações, por ser ano eleitoral e pela realização da Copa do Mundo. Esses eventos de grande porte, e outros tantos, incidem sobre o sentimento popular. Assim, é preciso investir adequada e pacificamente para que o sentimento do povo ganhe força em todas as instâncias e segmentos da sociedade, para provocar a compreensão de suas demandas e gerar a consciência ético-social na edificação de uma sociedade solidária.
         Os pactos sociais constituem outro vetor importante na construção da cidadania e na recomposição do tecido esgarçado da sociedade brasileira contemporânea. O florescimento desses pactos deve envolver as várias instituições e ter papel incidente e provocador de mudanças nos cenários que espelham a morosidade de instâncias nas realidades carentes do compromisso cidadão por parte das instituições privadas que ocupam papel de relevância na sociedade.
         A celebração e efetivação dos pactos sociais também têm força para a permanente oxigenação de setores determinantes, como o da educação. Importante e urgente é, por exemplo, o pacto para a erradicação do analfabetismo.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca d R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro pública, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambienta (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 28 de março de 2014

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO NECESSÁRIA E UM OLHAR SOBRE O GOLPE DE 1964

“A educação necessária
        
         Falar sobre a necessidade de educação no Brasil de hoje é chover no molhado. Nos últimos anos, esse parece ser um dos poucos consensos capazes de unir especialistas, autoridades e opinião pública: a educação é prioritária para a solução dos problemas do país e para a construção de uma rota de progresso.
         Mas, de fato, o que se tem feito nessa direção? Há, sim, conquistas inquestionáveis, como a ampliação  do acesso à educação, mas quase nenhum passo foi dado quanto à melhoria da sua qualidade e tampouco quanto ao envolvimento e à atração dos jovens para engajamento na educação. O que destaco neste artigo é fruto de 50 anos de observação na atividade de professor, consultor e “coach” em algumas das principais universidades e empresas do Brasil.
         Nesta época de deslumbramento com os avanços da tecnologia, costuma-se cada vez mais confundir educação com ensino. A tecnologia é mesmo fascinante e irresistível, mas devemos ter sobre ela um olhar crítico. Por seu impacto em nossas vidas, ela traz dilemas e questões éticas profundas, transforma costumes, valores e paradigmas de forma vertiginosa e favorece as ambições humanas.
         Esse contexto demanda sujeitos com autonomia intelectual e ética para pensar e atuar diante das transformações. Por isso, é preciso pensarmos nas escolas e universidades também como depositárias e formadoras de conhecimento e cultura e não apenas como centros de formação técnico-profissional.
         Ainda que as instituições de ensino, em grande parte por seu caráter comercial, apregoem seu objetivo de formação profissional, elas falham ao não perceberem que formar profissionais não é transmitir aos estudantes apenas e simplesmente conhecimentos técnicos para vestibulares ou para suas profissões.
         A competência dos profissionais de hoje não é medida só pelo conjunto de habilidades técnicas, mas também, e, em muitos casos, principalmente, pelos aspectos ditos comportamentais de seu desempenho, como relacionamento interpessoal, eficácia na comunicação e na persuasão, grau de comprometimento e motivação, empatia, empreendedorismo e iniciativa, criatividade e inovação, autogestão e controle emocional e habilidade de liderança e de trabalho em equipe.
         Este é o campo ideal e indispensável para a educação nas escolas: ensinar conceitos, difundir as descobertas e, acima de tudo, mostrar e demonstrar como utilizá-las de maneira prática e objetiva no desenvolvimento pessoal, em primeiro lugar,  no profissional, como decorrência.
         Obviamente, não se trata de substituir o ensino técnico-profissionalizante que temos hoje por uma educação para a vida e para a cidadania – o ensino técnico-profissional é cada vez mais importante e indispensável –, mas também abrir espaço para a educação, em seu sentido amplo.
         A solução é que cada escola, em todos os níveis, abrace esta responsabilidade: preparar cidadãos e seres humanos a enfrentar os desafios de hoje e de amanhã.”

(Antônio Walter de A. Nascimento. Psicólogo e professor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de março de 2014, caderno O.PINIÃO, página 21).

Mais uma importante  oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, escritor, autor de Cartas da prisão (Agir), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“O golpe
        
         São vivas minhas lembranças da quartelada de 1964. Desde 1962 eu trocara Belo Horizonte pelo Rio. Jânio Quadros, em agosto de 1961, havia renunciado à presidência da República. Jango, seu vice, tomou posse. O Brasil clamava por reformas de base: agrária, política, tributária etc. No Rio Grande do Sul, o deputado federal e ex-governador daquele estado, Leonel Brizola, cunhado de Jango, advertia sobre o perigo de um golpe de Estado.
         Em Pernambuco, Miguel Arraes contrariava usineiros e latifundiários e imprimia a seu governo um caráter popular. Em Angicos (RN), Paulo Freire gestava sua pedagogia do oprimido. O Movimento de Educação de Base (MEB) dava os primeiros passos apoiado pela ala progressista da Igreja Católica. A União Nacional dos Estudantes (UNE) multiplicava, por todo o país, os Centros Populares de Cultura (CPC).
         Novo era o adjetivo que consubstanciava o Brasil: cinema novo; bossa nova; nova poesia; nova capital. A luta heroica dos vietnamitas, o êxito da Revolução Cubana pela Baía dos Porcos (1961) inquietavam a Casa Branca. “A América para os americanos”, rezava a Doutrina Monroe. A maioria dos ianques não entende que está incluído no termo “América” todo o nosso Continente, mas só elas eram considerados “americanos”.
         Era precisa dar um basta à influência comunista, inclusive no Brasil. E tudo que não coincidia com os interesses dos EUA era tachado de “comunista”, até mesmo bispos como Dom Hélder Câmara, que clamava por um mundo sem fome. Foi apelidado de “o bispo vermelho”.
         Trouxeram dos EUA o padre Peyton, pároco de Hollywood. De rosário em mãos e bancado pela CIA, ele arrastava multidões nas Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Manipulava-se o sentimento religioso do povo brasileiro como caldo de cultura favorável à quartelada.
         Em 13 de março de 1964, Jango promoveu um megacomício na Central do Brasil, no Rio, defronte o prédio do Ministério do Exército. Ali, ovacionado pela multidão, assinou os decretos de apropriação, pela Petrobras, de refinarias privadas, e desapropriação, para fins de reforma agrária, de terras subutilizadas. As elites brasileiras entraram em pânico.
         Em 31 de março, terça-feira, as tropas do general Olímpio Mourão Filho, oriundas de Minas Gerais, ocuparam os pontos estratégicos do Rio. Jango, após passar por Brasília e Porto Alegre, deposto da presidência, refugiou-se no Uruguai. Ranieri Mazilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu o comando do país e, pressionado pelos militares, convocou eleições indiretas. A 11 de abril, o Congresso Nacional elegeu o marechal Castelo Branco presidente da República. Estava consolidado o golpe.
         A máquina repressiva começou a funcionar a todo vapor: Inquéritos Policiais Militares (IPM) foram instalados em todo o país; a cassação de direitos políticos atingiu sindicalistas, deputados, senadores e governadores; uma simples suspeita ecoava como denúncia e servia de motivo para um cidadão ser preso, torturado ou mesmo assassinado.
         Os estudantes e alguns segmentos da esquerda histórica resistiram nas ruas do Brasil. Foram recebidos a bala. A reação da ditadura acuou seus opositores na única alternativa viável naquela conjuntura: a luta armada. Em dezembro de 1968, o governo militar assina o Ato Institucional nº 5, suprimindo o pouco de espaço democrático que ainda restava e legitimando a prisão, tortura, o banimento, o sequestro e o assassinato de quem lhe fizesse oposição ou fosse simplesmente suspeito.
         Muitos são os sinais de que se vivia sob uma ditadura. Esse foi insólito: há no centro do Rio uma região conhecida como Castelo. E, na Zona Norte, um bairro chamado Muda (porque, outrora, ali se trocavam as parelhas de cavalos que puxavam os bondes que ligavam a Tijuca ao Alto da Boa Vista). Em 1964, no letreiro de uma linha de ônibus carioca, a indicação: Muda-Castelo. Os milicos não gostaram: o marechal viera para ficar. Pressionada, a empresa inverteu o letreiro: Castelo-Muda. Ficou pior. Cancelaram a linha.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileiras, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, ética, justa, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. E ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...




          


quarta-feira, 26 de março de 2014

A CIDADANIA, A EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE E A INSPIRAÇÃO DE FRANCISCO

“A universidade além das aulas
        
         Nossas universidades são quase sempre lembradas apenas pelas aulas, cursos e diplomas. Não deve ser assim. Elas também desenvolvem pesquisas, especialmente as públicas, que geram novos conhecimentos, novas tecnologias, renovam nossa cultura e contribuem para a solução de problemas que afetam a qualidade de vida de todos nós. As pesquisas científicas e tecnológicas resultam em produtos, processos e serviços inovadores. Criam uma nova economia, com novos e melhores empregos e mais renda para nossa gente. Evitam, ainda, a perda de divisas com importações, por exemplo, da China, e podem conferir competitividade à nossa indústria. Daí a importância absoluta das pesquisas desenvolvidas nas universidades, que devemos conhecer muito mais. Em Minas, elas são 11 federais e duas estaduais, e desenvolvem pesquisas básicas e aplicadas, que encantam os olhos e as mentes daqueles que delas tomam conhecimento. São pesquisas que melhoram os alimentos, os medicamentos, os diagnósticos das doenças, as edificações, as comunicações e quase tudo mais que nos cerca. Pouco sabemos dessas conquistas. E, por conhecer tão pouco o seu processo de geração e transferência para a sociedade, submetemos o desenvolvimento e o aproveitamento das pesquisas a um marco legal totalmente inadequado, que obriga, por exemplo, a compra de materiais e serviços, que não são rotineiros na pesquisa científica, à Lei 8.666, das licitações, emperrando o processo e tirando a competitividade internacional da ciência brasileira. A ignorância sobre o que fazem as universidades públicas, além das aulas, tem, assim, sérias consequências sobre o avanço industrial do país.
         Somente a UFMG responde por mais de 5% da produção científica brasileira, sendo líder em número de patentes e, mais importante ainda, em número de contratos de licenciamento de tecnologias, muitas já no mercado, impactando positivamente o cotidiano da população. Tais avanços se devem à excelência da sua pós-graduação, que na última avaliação da CAPES reconheceu 31 dos seus 63 cursos de doutorado com o conceito de excelência internacional. A expansão da oferta de cursos foi, assim, acompanhada da melhoria deles. Uma boa notícia que demonstra a força da universidade pública brasileira.
         A UFMG, hoje com cerca de 52 mil estudantes, é, seguramente, uma das três melhores universidades do Brasil e, em função das tecnologias que desenvolve, é parceira de empresas como a Petrobras, a Cemig e inúmeras outras, apoiando empreendedores que geram negócios tecnológicos inovadores e fortalecem nossa economia. Recentemente, foram implantados os Centros de Tecnologias (CTs) a partir de pesquisas de ponta em execução na UFMG, em áreas extremamente importantes para o país, como nanotubos de carbono, web, vacinas, fármacos e medicina molecular, que, a partir da pesquisa básica patrocinada pela Fapemig e pelo CNPq, irão possibilitar  o surgimento de empresas intensivas em conhecimento – as startups, de enorme relevância para o Brasil. Por tudo isso, devemos interessar-nos mais sobre o que está em andamento na universidade, principalmente a classe empresarial, que precisa se aproximar dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) aparelhados pela Fapemig para auxiliar na interação universidade-empresas.
         Há muito, as universidades aprenderam a estabelecer parcerias estratégicas com o governo estadual, Sebrae, Fiemg, órgãos do governo federal e sociedade em geral, como ocorreu na implantação de seus Parques Tecnológicos. Assim fizeram UFV, UFLA, UFJF, UNIFEI e UFMG, criando um dos mais promissores ambientes de inovação do país, viabilizando a transferência de conhecimento, de know-how e de tecnologias da pesquisa para o mercado. Com um ambiente de inovação mais articulado o protagonismo da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas, tem sido possível atrair importantes centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para o estado, como os da Embraer, Ericsson e o Centro de Tecnologia Senai/Cetec, entre outros.
         Nestes dias, assistimos a troca na reitoria da UFMG, com o término do mandato do reitor Clélio Campolina. E poucos entre nós se deram conta desse momento. E não deveria ser assim. A qualidade do nosso futuro depende da força das nossas universidades, não apenas pelos profissionais qualificados que formam, mas também pelos mais que fazem. O legado do reitor Campolina, em tempos conturbados, é um exemplo de probidade, de compromisso com a construção coletiva de uma universidade de qualidade, inclusiva e parceira do empreendedorismo inovador. Assume o professor que, certamente, fará jus à tradição de reitores comprometidos com as causas maiores e intransigentes quanto aos princípios da universidade pública. Uma história que merece ser mais conhecida, pois nos anima como brasileiros.”

(EVALDO VILELA. Diretor de CT&I da Fapemig, ex-reitor da Universidade Federal de Viçosa, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 14 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Caminhar com Francisco
        
         Juntos de Francisco, há um ano, estamos trilhando os caminhos missionários da Igreja Católica mundo afora. Um ano de incontáveis novidades e de muitos acontecimentos. Neste período, reacendeu-se uma chama que ilumina os cantos mais diferentes do mundo, especialmente o coração das pessoas. Um fenômeno de presença amorosa, simples, próxima e evangélica, que indica um percurso novo para a vida missionário da Igreja. As palavras, gestos, atitudes e encaminhamentos, no exercício do ministério de sucessor do apóstolo Pedro, fazem do papa Francisco um sinal que convoca todos para um novo tempo. Sua presença faz crescer no mundo a coragem e o empenho desafiador de resgatar o sempre novo tesouro da alegria do evangelho da vida. Uma volta à fonte e um banhar-se nela, saciando a sede  lavando-se, para recompor a força que devolve serenidade misericordiosa aos olhares, alento aos pés cansados no caminhar e livra semblantes da poeira de tudo o que já ficou obsoleto.
         O que está acontecendo, diante das necessidades urgentes – a recuperação de referências morais, religiosas, culturais, políticas e todas as outras carências gritantes –, produz perguntas, ainda sem as respostas completas, reacende esperanças, aguça curiosidades e prova que a força maior vem de Deus, da fidelidade a Ele. Essa lealdade desdobra-se em serviço à vida de todos, particularmente dos pobres e dos que estão nas periferias, especialmente aquelas existenciais. Ao celebrar este primeiro ano de pontificado, a Igreja é desafiada a trilhar as direções indicadas pelo papa Francisco, conclamando todos para um projeto novo, de Igreja e humanidade. Para se efetivar, esse projeto depende daqueles que o testemunham, seguindo o exemplo do papa, com vigor espiritual e simplicidade evangélica, que capacita intuições corajosas e criativas. Percepções e discernimentos diferentes dos que viabilizam artimanhas políticas ou conchavos partidários. São, na verdade, fundamentadas no amor que desconcerta e refaz, aprende e ensina, convence sobre o bem, inspira o gosto pela justiça, deixa envergonhado quem não se faz solidário.
         A surpresa da escolha do nome, Francisco, inspirado pela lembrança, a mais forte, significativa e sempre transformadora de não se esquecer dos pobres, é explicada pelos gestos e palavras do papa Jorge Mario Bergoglio. O santo padre, durante peregrinação a Assis, sublinhou que ser cristão é uma relação vital com a pessoa de Jesus, revestir-se Dele e a Ele se assemelhar. No horizonte, o ensinamento inspirado em São Francisco de Assis que se fez como os últimos, os pobres, não por um amor à pobreza em si, mas porque seguindo os pobres, amando-os, se segue e se ama a Cristo. Um princípio que implica novos ordenamentos faz crescer a fé autêntica, aponta o horizonte de um resgate humanitário e cultural. É, neste sentido, remédio indispensável para que a humanidade seja curada de seus graves problemas existenciais, morais e políticos. Um verdadeiro raio de luz que indica uma possibilidade aparentemente simples, até por isso com o risco de ser desconsiderada pela soberba da racionalidade contemporânea.
         O evangelho de Jesus é o ponto de partida, único e insubstituível, com sua luz simples em meio a tantas luzes, argumento de amor entre tantos argumentos. Permite cultivar um jeito de ser com validade universal no horizonte das mais diversificadas culturas contemporâneas. O papa Francisco, conforme sua exortação apostólica Alegria do Evangelho, está sinalizando para a Igreja sua renovação e fortalecimento missionário, e ao mundo contemporâneo um caminho novo para a cultura da vida e da paz, ao propor que a resposta pode ser encontrada na busca e vivência de uma fraternidade “contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom”.
         O papa alerta, com a força do evangelho e a leveza de seu testemunho, sobre a ferida gritante da desumanização, mostrando um caminho para mudança dos cenários catastróficos que afligem a humanidade, onde a Igreja deve estar sempre presente como servidora, casa de todos, cultivando a fidelidade ao amor pelo qual cada um será julgado. Um ano de pontificado, ação de graças por tudo: é motivo de alegria poder assumir o desafio de caminhar com o papa Francisco.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...