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quarta-feira, 16 de abril de 2014

A CIDADANIA, A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO E O CLAMOR DAS RUAS POR UMA NOVA POLÍTICA

“Escolas devem formar um cidadão melhor
        
         O economista da Universidade de Chicago James Heckman, ganhador do Prêmio Nobel em 2000, esteve no Brasil no último mês para participar de um seminário focado nas novas fronteiras  para a educação no século 21. O discurso de Heckman, pouco divulgado na mídia local, se revela tão provocativo quanto necessário no momento em que, diante de vexames contínuos em testes internacionais, torna-se essencial discutir a qualidade da educação no país. O que o premiado economista e tantos outros pesquisadores de ponta estão defendendo é algo que está no cerne de minha visão como educador: as escolas precisam ir além do ensino das disciplinas tradicionais. Tão importante quanto ensinar matemática e português é buscar o desenvolvimento das competências socioemocionais e as habilidades pessoais, fatores decisivos para a construção de carreiras bem-sucedidas e também para o sucesso das organizações. Falo isso com o atestado de uma vida dedicada a essas questões.
         Há 50 anos lido com educação de jovens e adultos e com formação pessoal e profissional, nas mais diversas situações: em salas de aula ou nos canteiros de obras, em empresas pequenas ou grandes grupos multinacionais, nas metrópoles ou em lugarejos só acessíveis por barcos, na floresta amazônica ou na cordilheira andina. Posso dizer com absoluta convicção que o maior problema vivido pelas organizações reside no relacionamento e na comunicação. É a carência de habilidades  interpessoais que coloca em risco inúmeras atividades e negócios. O papa até então recorrente é que isso não se ensina nas escolas, vem do berço ou da educação familiar. Essa é uma meia-verdade que não se sustenta.
         É possível não só se ensinar habilidades cognitivas como também é essencial imprimir ao processo educacional um viés humanista, que reconheça o indivíduo em sua plenitude. É possível e desejável. Ou as escolas avançam nesse aprendizado ou estaremos fadados a formar profissionais semianalfabetos em relação a comportamento, atitude, postura e ética no trabalho. Não se questiona a importância do ensino tradicional de qualidade. É fundamental formar bons técnicos e gente capacitada para entender e solucionar problemas. Quando jovens despreparados chegam ao mercado de trabalho, têm dificuldades para aprender tarefas novas e mais complexas, o que impacta diretamente a produtividade e a competitividade do país. A questão, porém, é mais profunda.
         Vivemos em um mundo de transformações vertiginosas. Valores e costumes estão em permanente questionamento. As escolas e universidades têm a dura missão de contribuir para formar não só profissionais competentes, mas, igualmente, cidadãos melhores. O investimento em uma ponta não exclui a outra, ao contrário. São as questões  comportamentais que irão influir na capacidade de enfrentar desafios e superar condições adversas, bem como na capacidade de trabalhar em grupo, no controle de emoções, no estímulo à criatividade e no grau de comprometimento, entre outros aspectos. E são os fundamentos humanistas que irão formar profissionais mais críticos, éticos e responsáveis. Os escândalos de corrupção estampados diariamente na imprensa são a antítese dessa formação.
         A educação do século 21 que o país tanto demanda passa pela repulsa a um modelo de ensino que privilegia unicamente o desempenho escolar, valorizando o sucesso a qualquer custo. Esse caminho não nos levará muito longe. Se o Brasil almeja, de fato, consolidar-se como protagonista global, é preciso reconhecer que estamos bem atrasados na reflexão sobre o que fazer para melhorar a qualidade da nossa educação.”

(ANTÔNIO WALTER DE ANDRADE NASCIMENTO. Psicólogo, educador e consultor de organizações, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 13 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 12 de abril de 2014, caderno PENSAR, página 2, coluna OLHAR,  de autoria de JOÃO PAULO, editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“A política mudou. Só os políticos não percebem
        
         A disputa eleitoral no Brasil, mesmo com a retórica cabotina que fala em pré-candidaturas, já está definida em matéria de nomes. Começar com mentiras ou meias palavras parece ter sido sempre a regra do jogo: soltam-se balões de ensaio, programam-se pesquisas, acordos são feitos e desmentidos de olho na reação do eleitor-padrão, um idiota manipulável até a raiz de sua alienação funcional. Na verdade, parece um jogo em que os jogadores estão de um lado só do campo, o dos políticos. O eleitor é apenas um enigma a ser decifrado pelos responsáveis pelo marketing.
         Sempre foi assim.
         No entanto, há novidades que não estão sendo percebidas pelos políticos profissionais e seus estafes de campanha pagos a peso de ouro: eles não são mais os donos do campo e da bola. Até a presente eleição, as campanhas não contavam com o protagonismo do eleitor. O autoritarismo da política era tão natural, que toda a discussão se dava apenas no pólo dos candidatos. O cidadão eleitor era objeto de ações pensadas para que ele desse a resposta mais adequada aos objetivos dos postulantes aos cargos.
         Sempre foi assim. Mas não é mais.
         Há várias mudanças no cenário que não estão sendo percebidas pelos antigos condutores todo-poderosos das campanhas eleitorais. Em primeiro lugar, a grande movimentação que levou milhões de pessoas às ruas de todo o mundo e, com isso, mudou o cenário político. O que os políticos não sacaram – e por isso trataram de tergiversar quando a questão da reforma política foi proposta – é que não se trata apenas de um movimento de revolta, reativo, mas de uma nova forma de organização, produtiva. Manifestações nas ruas não são apenas de protesto, mas de criação.
         A recusa em enfrentar a reforma política por parte dos políticos profissionais foi a expressão de uma cegueira voluntária e, potencialmente, suicida. Enquanto as pessoas manifestavam sua discordância com a forma de condução dos negócios públicos no país, os políticos preferiram assegurar suas posições, como se não se tratasse de algo que lhes dizia respeito. A estetização das manifestações (com elogios formais) e sua cobertura quase exclusiva no âmbito da segurança foram algumas das estratégias diversionistas que isolaram de vez os políticos tradicionais do mundo real. Certos de que sem a reforma tudo voltaria a ser como era antes, trataram de retroceder aos seus domínios naturais.
         Um aspecto que demonstra essa incompreensão do novo cenário é a relação dos candidatos com as redes sociais. Tudo o que elas apontam de novidade, horizontalidade, capacidade de organização autônoma e independência foi compreendido apenas como “oportunidade de negócio”, e não como uma nova maneira de se comunicar, que considera o discurso do outro e a abertura ao debate e à crítica, além de seu potencial de convocação, que extrapola qualquer tentativa de cerceamento. O que os m marqueteiros têm feito nada mais é que considerar as redes apenas uma mídia a mais, um território de propaganda a ser gerido com eficiência, com pleno domínio das mensagens.
         O resultado tem sido uma sucessão de equívocos. O candidato Aécio Neves, do PSDB, por exemplo, vem tentando ações de controle sobre mecanismos de busca na internet, na tentativa de vedar conteúdos que julga desabonadores. Seu direito a se defender do que considera injurioso deve ser considerado legítimo, mas a forma como está sendo feita demonstra desconhecimento do fluxo de informações em rede e a ética própria que o dirige. No atual contexto libertário da rede, vale a máxima liberal clássica (que os liberais de carteirinha parecem não compreender bem) de que o melhor argumento ganha no jogo do dissenso natural de uma sociedade complexa. Uma mentira se combate com verdade, não com censura.
         Esse tipo de reação, no entanto, se explica quando se considera historicamente a condução habitual das campanhas eleitorais. Afora o abuso do poder econômico e do desvio de verbas públicas para campanhas, fatos corriqueiros no Brasil que só agora começam a escandalizar, é preciso destacar o novo contexto dos meios de comunicação nesse processo. Conseguir tempo de televisão sempre foi considerado o objetivo fundamental dos acordos partidários. Há, por trás dessa visão, uma consideração negativa da capacidade crítica do cidadão em relação às mensagens a ele dirigidas. Quanto mais tempo, mais votos: era essa a equação.
         O que as redes têm demonstrado vai em outra direção. As campanhas deixaram de ser espaço de apresentação de projetos de governo (da esquerda, do centro, da direita, dos ecologistas etc.) para ser um cenário moldado pelo jogo das conveniências. Não se diz ao eleitor o que é próprio do momento privilegiado de educação política, mas aquilo que pode dar melhor resultado em termos de voto. O que parece ser um erro primário é a consideração do eleitor como ser acrítico em todo processo, valorizando comportamentos pré-políticos que são imponderáveis. O que as campanhas parecem mostrar hoje é um jogo de reafirmações infantis de posições: o governo diz que está tudo ótimo e a oposição que estamos no limiar do fim do mundo.
         Para o governo, trata-se de reafirmar propósitos populares e fugir do debate em torno dos grandes desafios, sobretudo em termos de qualidade de serviços prestados e do planejamento para o futuro (sobretudo na educação, de todos o campo mais preterido na sociedade brasileira). Para a oposição, parece ter sobrado apenas a tarefa de apontar o dedo para a corrupção e a ineficiência, sem mostrar quais são seus propósitos políticos e, inclusive, gerenciais de que tanto se orgulham. Há evasão de compromisso nos dois lados e, também nas duas pontas, uma desconsideração com o potencial do cidadão como ser político autônomo.
         As campanhas estão sendo encaminhadas de forma equivocada e desmobilizadora. Ninguém quer saber de triunfalismo esquizofrênico, nem de histeria automática e reativa. O risco não é só o da ineficiência, mas da desmoralização do campo político, o que é muito grave. O que os movimentos nas ruas mostraram em 2013 não foi a recusa da política, mas a necessidade de novos modelos de participação e conversa. Não é o que se percebe e, com isso, o processo atual de campanha tem perdido um rico potencial de debater o país e as diferentes alternativas para seu futuro.

VIRAR A MESA O que poucos estão percebendo, no entanto, é que o jogo já mudou. Em outras palavras, todo o esforço para conduzir as campanhas com paradigmas que são de outro tempo vai, com certeza, dar com os burros n’água. Aliás, já está dando. A dança das pesquisas de opinião tem mostrado isso: cada vez que a candidata do governo, Dilma Rousseff, cai nas enquetes, não sobe ninguém no outro campo. As intenções de voto não estão sendo transferidas, mas capitalizadas como crítica aos dois pólos da disputa, que mostrará sua cara na hora certa. Não se sabe para onde sopra o vento, porque  o eleitor, hoje, não é mais um boneco de porta de borracharia. É aí que está a novidade. E também a maior esperança na próxima eleição.
         O novo eleitor tem tudo para virar a mesa. O primeiro passo é trazer para o si o lugar que lhe é de direito numa eleição. Essa capacidade de protagonizar foi mostrada com eficiência nos movimentos de junho e tem deixado um rastro de mobilização que está operante, como uma chama-piloto, que pode ser acionada com rapidez pelas redes sociais a qualquer sinal de indignação. O desafio do novo militante é avançar para um momento de maior organização, sem que isso signifique alinhamento com estruturas tradicionais, sejam de esquerda ou de direita. Há uma passagem a ser feita, da movimentação cultural (no sentido amplo) para expressão política (inclusive da determinação dos rumos do Estado), embora sem pretensão de participação na máquina das decisões públicas.
         Para o sociólogo espanhol Manuel Castells, em conferência em Porto Alegre que integra o livro Pensar o contemporâneo (Editora Arquipélago), há uma passagem possível entre a indignação (sentimento que alimenta o primeiro momento das novas formas de manifestação) e a esperança, com seu potencial de organização altamente complexo e descentralizado, como exige a sociedade em rede. Se a chispa da indignação  traz o fogo para as ruas, o esforço seguinte é garantir um processo de decisões democráticas que leve em consideração esse sentimento de compartilhamento e solidariedade. Não se trata mais do jogo tradicional da formação de lideranças que ascendem ao mercado político tradicional, mas da emergência de uma nova política.
         Há quem estabeleça uma distinção valorativa entre mobilização social e movimentos sociais. Algo como uma escala de crescimento, em que mobilizações de caráter passageiro levariam a organizações do tipo dos movimentos sociais, mais estruturados e capazes de pressão continuada ao núcleo do poder. No entanto, a coisa não parece ser bem assim. As mobilizações vêm mostrando que, independentemente de fortalecer movimentos já organizados, têm uma dinâmica própria e uma temporalidade mais acelerada, exigente. Têm pressa. No entanto, se alinham no que se poderia chamar, mais amplamente, de espaço de contrapoder, que tem obrigado a sociedade a reagir às suas demandas. Além disso, mobilizações e movimentos sociais, com estratégias singulares, parecem estabelecer parcerias em projetos de fundo, como distribuição de renda e poder.
         O sociólogo Rudá Ricci, em seu recente Nas ruas – A outra política que emergiu em 2013 (Editora Letramento), diz que é preciso estar atento para a novidade surgida com os movimentos do ano passado. As antigas chaves não valem mais. “Identificar as manifestações de junho com uma trama nascida ou estimulada a partir do campo institucional é desconsiderar a profunda novidade que a juventude trouxe aos olhos das outras gerações. Um poder simbólico  e um discurso difuso e inconcludente, fundado numa comunidade dinâmica e provisória. Um mundo que ainda não dialoga efetivamente com o campo institucionalizado da política e da representação social. E nem mesmo parece apresentar qualquer intenção nessa direção.”
         Tudo isso cria, no atual momento político, uma nova perspectiva de contrapoder ao habitual jogo eleitoral de cartas marcadas e mensagens cacetes. O eleitor agora é ativo, não apenas depósito de slogans. O que as mobilizações e movimentos sociais estão trazendo de novo é a primazia do eleitor sobre o candidato. O antigo modelo (fundado no dinheiro, nos conchavos, nas articulações, nas pesquisas, nos marqueteiros e nos meios de comunicação de massa) deve ser substituído por um novo embate em que os dois lados devem falar, ouvir e debater. Não se trata apenas dos debates tradicionais e enjoados das redes de TV, um balé desgracioso de argumentos ensaiados e acusações, mas de novas formas de criação de espaços reais e virtuais de fala.
         As manifestações mostraram que as redes, com seu libertarismo e anarquia (no sentido de ausência de princípio no qual se sustenta seu poder) têm tudo para dinamizar o cenário da eleição deste ano. Não como espaço de propaganda, mas, repetindo, de contrapoder. Os candidatos, pelo que  mostraram até agora, não têm estado à altura do desafio. Pior para eles. Os jovens não vão esperar que eles entendam a lição. Há muito a ser feito e, como a história recente tem mostrado, a melhor forma de aprender a fazer política é fazendo. E nas ruas.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...


         

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, O RECADO DE UM JOVEM, A ESPADA E A PAZ

“Recado de um jovem
        
         O painel dos leitores do jornal O Popular, prestigioso diário de Goiânia, publicou uma carta que merece ser compartilhada. O autor, Fernando Rocha Lima Nogueira, é um adolescente de 16 anos. O texto, leve e solto, pautou este artigo.
         “Tentei contar o número de mensagens que troquei hoje pelo Whatsapp, desisti, pois se tornou uma tarefa impossível. Confesso que não sei ficar em o meu telefone celular, com um carregador sempre por perto, me sinto pronto para me comunicar com o mundo, inclusive com os meus pais. Dentro de minha própria casa não tenho constrangimento em usar da tecnologia para dizer que já estou indo almoçar, ou para outro fim qualquer. Não me sinto mal por isso. Na escola, tenho como referência meus amigos, que não fazem nada muito diferente do que eu faço. Somos fruto de uma geração que cresceu maravilhada com os canais infantis de TV a cabo, game boy, PSP e wi-fi. Não aprendemos nada sozinhos. Na edição de segunda-feira 28/10/2013, João Lemes reflete sobre a comunicação dentro de casa. Acredito que não há caminho de volta, a comunicação virtual é uma realidade, mas nada, nenhuma rede social até hoje substituiu um carinho de mãe, ou boas risadas em volta da mesa de almoço, ou aquelas graças que só têm graça ao vivo e em cores”.
         Fernando deu um recado muito legal. A comunicação virtual é um fato irreversível. Mas o que dá sentido à vida não está nas plataformas digitais. Está na alegria, na graça, no carinho da família. Nada, nada mesmo, supera a força, o ímã, a magia do ambiente familiar.
         A demanda doméstica, tão bem flagrada na carta do jovem goiano, não é novidade para quem mantém contato permanente com o universo estudantil. A juventude real está identificando valores como respeito; fidelidade, família, ética. Há uma busca de âncoras morais e de normalidade afetiva.
         A família, não obstante sua crise evidente, é uma forte aspiração dos jovens. Ao contrário do que se pensa em certos ambientes politicamente corretos, os adolescentes atribuem importância decisiva ao ambiente familiar. Mesmo os jovens que convivem com a violência doméstica consideram importante a base familiar. A relação no lar é fundamental, ainda que haja conflito. Parece paradoxal, mas é assim. Eles acham melhor ter uma família danificada do que não ter ninguém. Em casa deixaram de rotular os pais de caretas para buscarem neles a figura do companheiro. Os jovens, em numerosas pesquisas, apontam a família tradicional como a instituição de maior ascendência em suas decisões.
         Alguns, no entanto, defendem um modelo de família que não bate com esse anseio dos jovens. Respeito a divergência e convivo com o contraditório. Sem problema. Mas não duvido que é na família, na família tradicional, mais do que em qualquer outro quadro de convivência, o lugar onde podem ser cultivados os valores, as virtudes e as competências que constituem o melhor fundamento da educação para a cidadania. E os jovens sabem disso.
         No campo da afetividade, antes marcado pelo relacionamento descartável e pela falta de vínculos, vai-se impondo a cultura da fidelidade. O tema da sexualidade, puritanamente evitado pela geração que se formou na caricata moral dos tabus e das proibições, acabou explodindo, sem limites, na síndrome do relacionamento promíscuo e transitório. Agora, o rio está voltando ao seu leito. O frequente uso de alianças a mão direita, manifestação visível de compromisso afetivo, revela algo mais profundo. Os jovens estão apostando em relações duradouras.
         Assiste-se, na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso das ideologias e ao surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário das utopias do passado, os jovens acreditam na excelência e no mérito como forma de se fazer a verdadeira revolução. Defendem o pluralismo e o debate das ideias. O pensamento divergente é saudável. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas um corrente de pensamento.
         O mundo está mudando. Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental perderá conexão com um importante segmento do mercado de consumo editorial.”

(CARLOS ALBERTO DI FRANCO. Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), em artigo publicao no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de dezembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 7 de dezembro de 2013, caderno PENSAR, página principal, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“A espada e A PAZ
        
         Jesus não é um só. Há o Jesus de Nazaré, homem pobre, trabalhador braçal, com todas as marcas de seu tempo, identificado com correntes contestadoras do domínio romano na Palestina: um ser político, de tendências revolucionárias, defensor da fé judaica. E há também Jesus, o Cristo, que depois de sua morte foi chamado de o “filho de Deus”, que está na base de uma nova religiosidade e fundou uma linhagem espiritual. Um Jesus da espada; um Jesus da paz.
         Passados mais de 2 mil anos, o primeiro Jesus, um entre muitos messias que lutaram contra Roma e morreram na cruz, se tornou apenas uma sombra, o grande mestre do cristianismo, que tem sua obra descolada das origens políticas para dar relevo à mensagem de natureza religiosa e universal. O Jesus histórico é principalmente um judeu, com as paixões e contradições de seu tempo. O Cristo que emerge dos evangelhos é um mestre espiritual pacífico, que foi afastado de seu nacionalismo judaico para ser identificado com questões que os romanos podiam aceitar sem temor de vingança pelo massacre de Jerusalém.
         Um Jesus da política e um Jesus da fé.
         Essa é a tese central do livro Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré, de Reza Aslan, livro que vem causando polêmica. A explicação do desconforto e reação iracunda de alguns leitores é, mais uma vez, política: Reza Aslan é iraniano e muçulmano. Depois de bate-bocas em programas de televisão nos Estados Unidos e rejeição por parte de críticos católicos, o autor se viu em meio a situações de preconceito que envolvem os temas ligados à sua origem e fé. Pareceu, a seus críticos, que Reza Aslan escreveu seu livro para atacar o cristianismo e enxergar nele uma matriz revolucionária que mistura política e religião, o que seria característica de sua interpretação da história. Afinal, com alguma honestidade, os muçulmanos sabem que história e religião não se separam.
         Mas reza, que foi cristão na juventude e mora em Nova York, é um especialista em história das religiões, formado em Harvard e autor de obras importantes sobre o tema. Seu livro não é um ataque a Jesus, muito menos sofre de excesso de interpretação baseado em poucos fatos. Ao contrário, trata-se de um livro de história, erudito e extremamente legível, sustentado por ampla bibliografia. Cada capítulo ganha, ao final do trabalho, um verdadeiro ensaio bibliográfico atualizado, que sustenta as afirmações e interpretações do autor.
         A busca da pluralidade de fontes se justifica. Sabemos muito pouco sobre o Jesus histórico a partir de depoimentos de seus contemporâneos. Os primeiros testemunhos escritos sobre Jesus de Nazaré vêm das epístolas de Paulo, escritas pelos menos 20 anos depois da morte de Jesus. Em seguida, vêm os evangelhos, que, com exceção de Lucas, nem seque foram escritos pela pessoa que os nomeia (um caso típico de obras pseudoepigráficas, comuns no mundo antigo) e datam de décadas depois da morte de Jesus. Em outras palavras, os evangelhos não foram escritos por testemunhas oculares das palavras e ações de seu personagem central: são obras de uma comunidade de fé. Não são fato, são reconstruções teológicas. Ou seja, eles nos dizem sobre Jesus, o Cristo, mas nada esclarecem sobre Jesus, o homem.
         Reza Aslan mostra como foram escritos os evangelhos canônicos (Marcos, Mateus, Lucas e João), expõe suas contradições, esclarece sobre as fontes (entre elas o Q), além de revelar a origem de uma verdadeira biblioteca de escritores não canônicos, sobretudo a partir do século 2, que apresentam novas perspectivas sobre a vida de Jesus de Nazaré. Mas é ao agregar outras fontes – sobre a história de Jerusalém, a religião judaica e o Império Romano – que o autor dá a dimensão de seu projeto. O que seu livro revela é uma história dos primeiros séculos, tendo Jesus como foco. De certa forma, pode-se ler Zelota como uma biografia política de Jesus e seu tempo. Mais ainda: uma investigação sobre os motivos que levaram com que o Jesus histórico fosse substituído pelo Cristo.

QUARTA FILOSOFIA O título do livro já dá uma pista. Zelota vem de zelo, uma inspiração para movimentos típicos dos judeus contrários ao domínio romano na região. Espécie de quarta filosofia – ao lado dos filisteus, saduceus e essênios –, os zelotas compunham um partido que tina um compromisso inabalável com a libertação de Israel do jugo romano e com a afirmação do Deus único dos judeus. Zelo: era isso que reivindicavam para si, um cumprimento rigoroso da Torá e a recusa a servir a qualquer outro mestre. Ser zeloso era, desta forma, seguir as pegadas dos heróis do passado.
         No entanto, o que era heroísmo para os judeus era crime para os romanos. O autor vai mostrar como se dava essa difícil convivência, com o domínio político na mão de Roma e o comando religioso a cargo do sacerdote do templo. A descrição do Templo de Jerusalém é impressionante, com sua movimentação humana, superstições, jogos de poder, fé e até centro de negócios, como um verdadeiro banco a fazer circular o dinheiro de várias regiões. O templo era ainda espaço de negociação entre o ocupante e povo subjugado, preso ainda aos pesados impostos devidos a Roma.
         Eram comuns os profetas que se insurgiam contra esta ordem. Considerados messias (a categoria abrangia centenas de pessoas dispostas a anunciar o fim do domínio romano e conclamar à revolta), esses homens eram heróis para seu povo, mas bandidos para Roma. Eram geralmente presos, torturados e mortos de forma violenta, decapitados ou crucificados. Jesus foi um desses messias. Como explica Aslan, a placa da cruz de Jesus, com os dizeres “Rei dos judeus”, não era um sarcasmo, mas uma sinalização do crime pelo qual estava sendo crucificado. O crime de Jesus foi buscar o poder político. Possivelmente, o mesmo do “bom” e do “mau” ladrão mortos a seu lado. Ladrão talvez seja uma tradução para a palavra grega lestai, que significa bandido, a mesma designação dada ao insurrecto Jesus.
         Zelota é rico em informações. O autor leva para o contexto original situações que hoje fazem parte de uma rica mitologia, como a profissão de Jesus, suas origens familiares, o local de seu nascimento, os milagres, a relação com João Batista, o poder de Herodes, o nascimento virginal, a escolha dos apóstolos, as discípulas, o debate de Jesus com os rabinos, a expulsão dos comerciantes do templo etc. Algumas palavras atribuídas a Jesus, como as proferidas acerca do poder de César (“a César o que é César, a Deus o que é de Deus”) ganham novo significado: deixam de ser um reconhecimento da separação entre matéria e espírito para se afirmar como cobrança da devolução da terra ocupada aos judeus, seus legítimos donos por determinação de Deus a seus filhos diletos. O que soava como universal era na realidade uma defesa particular da herança de um povo em sua aliança com o criador.
         Por que o Jesus que nos legou a tradição surge separado de seu povo e de suas reivindicações políticas, tão claras quando se examina a história separada das envoltórias da fé? Para Reza Aslan, depois de combater por décadas as insurreições, o governo central de Roma envia tropas que dizimam o templo e escravizam o povo, massacrando tudo que encontraram pelo caminho. Uma devastação completa, que destrói Jerusalém e expulsa seu povo da terra de seus antepassados. A partir do ano 70 d.C., exilados da terra prometida por seu Deus, os judeus passam a viver como párias e entre pagãos do Império Romano.
         Uma operação levada adiante pelos rabinos, a partir do século 2, vai criar um divórcio entre o judaísmo nacionalista messiânico (que levou à destruição de Jerusalém) e a fé judaica, que se volta para dentro, na tradição do judaísmo rabínico. O livro substitui o templo. Outro movimento vai atingir os cristãos, que para também se separar da identificação revolucionária de sua origem, e com o objetivo de afastar a violência do poder romano, passam a transformar Jesus de um judeu revolucionário em um líder espiritual pacífico. O que era de interesse político e terreno passa a ser a causa espiritual e salvação para uma outra vida. Algumas décadas depois da morte de Jesus, os seguidores não judeus de Cristo eram muito mais numerosos que os seguidores judeus. Em um século, a ligação entre judaísmo e cristianismo desapareceu.
         Zelota busca a recuperação do Jesus histórico. Para isso, com as armas da pesquisa e da interpretação, questiona superstições, limpa floreios literários, faz a genealogia de textos e dá a real dimensão ao que é fato histórico e o que é teologia e mito. Pode parecer uma empresa questionável, já que o Jesus da fé venceu e se tornou hoje a realidade para centenas de milhões de pessoas. Mas a história não precisa de outra justificativa que não a busca da verdade.
         Jesus foi um líder revolucionário – talvez o maior de todos os tempos – e um líder espiritual, ao mesmo tempo. Os dois universos não se separavam. Que o Jesus histórico, judeu, zelota e revolucionário, em sua luta permanente contra as injustiças, surja rico de significação humana é um alento a mais para quem tem fé em Jesus, o Cristo. E um exemplo a ser seguido pelos que não creem, mas querem um mundo melhor ainda nesta vida.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social;segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo;comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, AS DINÂMICAS SOMBRIAS DA POLÍTICA E OS DESAFIOS DO JORNALISMO DE QUALIDADE

“Barafunda brasileira
        
         Faustão é mestre em lembrar expressões populares que padeceram com o tempo. Arrastão já foi trabalho de pescadores e, hoje, é assalto coletivo em grandes concentrações urbanas. Quem ainda diz “mandar brasa”, “sujeito pau”, “aquele broto” ou “mocorongo”?
         Deonísio da Silva, mestre em nosso idioma, escreveu o imprescindível De onde vêm as palavras (Mandarim), desnudando-as em suas etimologias, significados e empregos. Palavras, como tudo, se gastam com o tempo. Perdem o brilho, o significado e, portanto, o uso. É o caso de direita e esquerda. No tempo da bipolaridade mundial entre capitalismo e socialismo, elas demarcavam terrenos nítidos. Hoje, o que é ser de direita ou de esquerda?
         No Brasil, a esquerda está no poder? Suponhamos que sim. Mas quem são os líderes de sua base aliada? Todos conhecemos sobejamente: Sarney, Collor, Renan Calheiros, Jáder Barbalho, Maluf, Romero Jucá, Kátia Abreu. Como um governo de um partido de trabalhadores pode se dar tão bem com o patronato brasileiro e manter relações tensas com movimentos sociais, como indígenas e sem-terra?
         Fora o PSDB e alguns pequenos partidos, todos os setores conservadores da sociedade brasileira apoiam o governo, incluindo empreiteiras, bancos e mineradoras, principais fontes de financiamento de campanhas eleitorais. Espero que a reforma política – quando houver – impeça candidatos de receberem grana de pessoas jurídicas, e as doações de pessoas físicas fiquem limitadas ao teto de um salário mínimo.
         Agora estão presos companheiros meus na luta contra a ditadura, como Dirceu e Genoino. Todos foram condenados por juízes nomeados, em sua maioria, pelo governo petista. Considero ilegal, injusta e despropositada a maneira como foram detidos na data da Proclamação da República. Fazer espetáculo com a dor alheia é tripudiar sobre a dignidade humana.
         Aliados do governo acusam a grande mídia de conivência com a espetacularização do julgamento. Por que então o Planalto não dá andamento aos projetos de regulamentação e democratização da mídia? Por que não impede a formação de oligopólios? Por que a publicidade financiada pelo governo federal privilegia exatamente veículos de oposição ao planalto?
         Em 10 anos de governo petista, o Brasil melhorou muito, graças ao aumento real do salário mínimo, à redução do desemprego, à política externa independente, à solidariedade aos governos progressistas da América Latina e aos programas sociais – embora eu lamente que o Fome Zero, emancipatório, tenha sido trocado pelo Bolsa-Família, compensatório.
         Amigos “de esquerda” se queixam que os aeroportos estão demasiadamente cheios de famílias de baixa renda. No Nordeste, o jegue foi trocado pela moto. E as multinacionais automotivas continuam a entupir nossas ruas de carros, sem que haja investimento em transporte público.
         É o efeito tostines: no Brasil, os produtos são caros porque dependem do sistema rodoviário? Ou os produtos são caros porque os caminhões são abastecidos com petróleo? Temos 8 mil quilômetros de litoral, rios caudalosos navegáveis, e quase nenhuma navegação comercial. E quando se fala em ferrovia se pensa no trem-bala, capaz de transportar a elite no circuito Campinas-São Paulo e não em trilhos que cortem o país de ponta a ponta, facilitando o escoamento barato de nossa produção.
         Sim, o atual governo é muito diferente do governo FHC. E muito semelhante. Prometeu investigar as privatizações – “herança maldita” – do governo anterior e ficou o dito pelo não dito. E adotou o mesmo procedimento: privatização do Campo de Libra, que abriga petróleo, um produto estratégico; e de rodovias, portos e aeroportos, sem prestar atenção na queda do lucro da Vale após ser privatizada e do valor das ações da Petrobras depois que 60% delas passaram às mãos do capital privado e na falência da Vasp. E não houve nenhuma iniciativa de reestatização, como fez Evo Morales na Bolívia.
         Segundo o Ipea, órgão federal, a desigualdade social entre os mais ricos e os mais pobres no Brasil é de 175 vezes! Por que não são tomadas medidas estruturais para reduzi-la? Em 10 anos de governo petista, houve apenas uma reforma estrutural no Brasil, a da Previdência do funcionalismo público, que favorece o capital privado. Enquanto o orçamento da República destinar 40% do nosso dinheiro para pagar juros, amortização e rolagem da dívida pública, e menos de 8% para a saúde e a educação, o Brasil continuará sonhando em ser o país do futuro."

(FREI BETTO. Escritor, autor do livro O que a vida me ensinou (Saraiva), entre outros livros, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de novembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 5 de outubro de 2013, caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“Imprensa de efeito moral
        
         Falar da imprensa é sempre um campo minado. As críticas caminham na lâmina de uma adaga: de um lado a acusação paranoica do golpismo; de outro o risco permanente da censura. O que deveria ser um alerta para a inteligência acaba se tornando, no entanto, a impossibilidade do debate. Para alguns, não há saída com o modelo de jornalismo vigente; para outros, sem ele nada vale a pena quando se preza a democracia. Mesmo assim, o mal-estar parece permear o cenário. Os leitores já não confiam tanto nos jornais. Mas seguem precisando, cada vez mais, de informação de qualidade para tomas suas decisões.
         É por isso que é necessário sempre manter o acicate da desconfiança em funcionamento. O bom jornalismo, que é uma criação da sociedade, não dos meios de comunicação, continua sendo uma das garantias de liberdade e crítica na sociedades contemporâneas. E é em nome dele que é preciso entender tantos os limites do modelo tradicional – que parece mergulhar num crise econômica e de valores – quanto a transformação surgida em razão das novas tecnologias e da multiplicação dos polos de enunciação do discurso social. Há uma questão devida à aceleração da técnica que se tornou metáfora social: não precisamos esperar o jornal do dia seguinte para começar a viver.
         Alguns fatos recentes e seu tratamento pelos meios de comunicação acendem a luz de alerta. A tendência à espetacularizaçao do mundo, que Guy Debord dissecou em seu A sociedade do espetáculo, transforma tudo em imagens. Não se trata apenas de uma forma de simplificação do mundo, mas está em marcha uma operação nitidamente interessada: a criação dos padrões que valorizam mais a representação do que a vida. O livro, de 1967, parece um espelho de nossos dias. Para Debord, assim como na economia há a tendência à acumulação de capital, na vida social se observa uma inclinação à acumulação de imagens. A realidade, despida de sua substância e concretude, se torna uma coleção de imagens. A onipresença dos meios de comunicação, guiados por essa lógica, substitui a realidade pela representação. Vivemos num mundo de sombras animadas.
         O que isso significa na prática é um desvio epistemológico, ou, em outras palavras, um esvaziamento do campo do saber em proveito da ideologia. Os jornais em vez de noticiarem a realidade se esforçam para manter a dinâmica do espetáculo, o que atende mais à sensibilidade do que à razão. Num contexto com tal padrão de funcionamento, a verdade é barganhada pelo simulacro. Em tal realidade social, aparecer é o mais importante. O que o “jornalismo” de celebridades dita para o mundo social acaba se tornando padrão para todos os campos da informação, da política à economia, passando pela cultura e esporte. Em todos os campos, as notícias parecem prescindir da realidade, elas cumprem apenas sua dança em torno dos mesmos personagens e valores (quase sempre o dinheiro, o poder e a fama).

FALTA DE EDUCAÇÃO A forma como a imprensa vem cobrindo nos últimos meses as manifestações sociais é um bom exemplo dessa fábrica de simulacros. Mesmo com o grande investimento nas coberturas, com dezenas de repórteres e analistas e vários campos do saber, o que parece vingar é mais um efeito prévio de julgamento do que a capacidade de ir às raízes das situações. Ninguém se sente à vontade com o novo, que quase sempre é denegado, como a Mídia Ninja, por exemplo. A grande notícia foi o tumulto, não o que ele aponta. Assim como as forças repressivas possuem suas bombas de efeito moral, o jornalismo parece ter se armado de notícias de efeito moral, que fazem muito barulho e geram pouca inteligência.
         A recente greve dos professores do Rio de Janeiro (como ocorreu em outras greves do setor, inclusive em Minas) se torna muito mais um campo de confrontação de corpos do que de ideias. O jornalismo, em vez de caminhar em direção ao urgente tema da melhoria da educação, se basta em noticiar manifestações e suas consequências.  Como numa evidência de esquizofrenia política, a mesma imprensa que sempre foi aliada das causas da educação e ajudou a denunciar condições dramáticas do setor deixa de lado seu patrimônio de esclarecimento social e crítica para assumir uma postura de realismo estrito e evasivo das questões de fundo. A sociedade, caso se informasse apenas pelos meios de comunicação tradicionais, teria apenas que ser contra ou a favor da repressão policial ou das estratégias de ação dos grevistas.
         Mais que despolitizar, a cobertura espetacularizada torna as questões políticas em sucedâneos policiais. A mesma operação é visível em outros momentos de confronto social no Brasil e no mundo. Assim, ocupações rurais são vistas como ameaça à propriedade privada, e não como realização política da função social; a luta pelos direitos indígenas é tratada num misto de falsa condescendência (que infantiliza o debate) e decretação de atraso e afronta a interesses econômicos tradicionais; a crise do sistema de saúde é colocada na conta da universalização e dos propósitos mais generosos, e não da oposição do setor privado em defesa de seu negócio. Por outro lado, o desemprego nos países europeus, em vez de demonstrar a crise econômica, é a contraparte punitiva pela falta de radicalismo neoliberal: a culpa, mais uma vez, é das vítimas.

ÍNDIOS E LARANJAS Para cada um desses “espetáculos” há vilões, mocinhos e cenas de apelo emocional: destruição de pobres pés de laranja de multinacionais (que ocupam indevidamente terras públicas); médicos cubanos a disputar um mercado de profissionais brasileiros (que não se interessaram por ele nem por seus pacientes); populações indígenas  como defensoras de bagres e valores animistas. Voltando a Debord, é importante distinguir  de que forma essa vindicação da imagem como elemento de constituição social se realiza entre nós. Para ele, havia duas maneiras de criação do poder a partir do exercício da espetacularização. A primeira era a estratégia concentrada, típica das ditaduras. A segunda, que nos diz respeito, é difusa, e assume a defesa de um modo de vida que se espalha por todos os poros da sociedade, sem que pareça fluir de um núcleo. Nesse padrão de pensamento único, o liberalismo é o nec plus ultra das pessoas responsáveis.
         O pensador francês vai além: na plena vigência da sociedade do espetáculo, não é preciso sequer esconder a realidade e seus problemas mais candentes, apenas direcionar o discurso sobre a verdade para as demandas do sentimento. Assim, é possível mostrar que nosso padrão de consumo é inviável, que os salários dos professores são baixos, que a saúde pública está em crise, sem, contudo, atacar o coração do sistema. Os meios de comunicação estariam mais interessados em discutir números e dados, como se tudo não passasse de uma inevitabilidade civilizacional. Há certa convicção alienada nos rumos da história, que se compraz em indulgência política.
         Outro setor em que tal lógica opera na mesmo pasmaceira é a cobertura das campanhas políticas. Os candidatos já postos para a próxima eleição presidencial e para os governos de estado não precisam se manifestar em torno dos projetos para os diversos setores da administração  e das políticas públicas. As campanhas se tornaram território da desfaçatez: os jornalistas sabem que os candidatos não são o que apresentam em suas campanhas, mesmo assim analisam seus discursos e estratégias tendo como pano de fundo o resultado eleitoral. Jornalismo de resultados. Ou seja, se tornam peças das próprias estratégias de campanha, testando os balões de ensaio e variando, a cada dia, em torno do mesmo chorrilho de alianças, siglas e projetos pessoais. E, o pior, se acham espertos e bem informados.
         O jornalismo de efeito moral gosta de jogar gás de pimenta nos olhos do leitor, acreditando que a turvação da inteligência é permanente. O que ele começa a aprender é que o efeito passa e que há outras fontes de informação. A imprensa séria pode até perder público, mas não pode perder a relevância, sob o risco de deixar o mundo mais pobre.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, A DOENÇA DA TERRA E O DESAFIO DA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

“O aquecimento global é a febre que denuncia a doença da Terra
        
         Há negacionistas da Shoah(eliminação de milhões de judeus nos campos nazistas de extermínio) e há negacionistas das mudanças climáticas da Terra. Os primeiros recebem o desdém de toda a humanidade. Os segundos veem, dia a dia, suas convicções sendo refutadas por fatos inegáveis. Só se mantêm coagindo cientistas para não dizerem tudo o que sabem, como foi denunciado por diferentes e sérios meios alternativos de comunicação. É a razão ensandecida que busca a acumulação de riqueza sem qualquer outra consideração. Em tempos recentes, temos conhecido eventos extremos da maior gravidade: Katrina e Sandy nos Estados Unidos, tufões terríveis no Paquistão e em Bangladesh, o tsunami no sudeste da Ásia, o tufão no Japão que danificou as usinas nucleares em Fukushima e, ultimamente, o avassalador tufão Haiyan, nas Filipinas, com milhares de vítimas.
         Nos últimos meses, quatro relatórios  oficiais de organismos ligados à ONU lançaram veemente alerta sobre as graves consequências do crescente aquecimento global. Com 90% de certeza, esse é comprovadamente provocado pela atividade irresponsável dos seres humanos e dos países industrializados. Todos são unânimes em afirmar que não estamos indo ao encontro do aquecimento global: já estamos dentro dele.
         Poucas semanas atrás, a secretária executiva da Convenção do Clima da ONU, Christina Figueres, em plena entrevista coletiva, desatou em choro incontido ao denunciar que os países quase nada fazem para a adaptação e a mitigação do aquecimento global.  Yeb Sano, das Filipinas, na 19ª Convenção do Clima em Varsóvia, ocorrida entre 11 e 22 deste mês, chorou também, diante de representantes de 190 países, quando contava o horror do tufão que dizimou seu país, atingindo sua própria família.
         Os representantes desses países já trazem no bolso as instruções previamente tomadas por seus governos, e os grandes dificultam por muitos modos qualquer consenso. Lá estão também os donos do poder no mundo. Todos querem que as coisas continuem como estão. É o que de pior nos pode acontecer, porque então o caminho para o abismo se torna mais direto e fatal. Por que essa irracional oposição?
         Esse caos ecológico é tributado ao nosso modo de produção, que devasta a natureza e alimenta a cultura do consumismo ilimitado. Ou mudamos nosso paradigma de relação para com a Terra e para com os bens e serviços naturais, ou vamos irrefreavelmente ao encontro do pior. O paradigma vigente se rege por esta lógica: quanto posso ganhar com o menor investimento possível, no mais curto lapso de tempo, com inovação tecnológica e com maior potência competitiva? A produção é para o puro e simples consumo, que gera acumulação; este, o objetivo principal. A devastação da natureza e o empobrecimento dos ecossistemas aí implicados são meras externalidades (não entram na contabilidade empresarial). Como a economia neoliberal se rege estritamente pela competição e não pela cooperação, estabelece-se uma guerra de mercados, de todos contra todos. Quem paga a conta são os seres humanos (injustiça social) e a natureza (injustiça ecológica). Ocorre que a Terra não aguenta mais esse tipo de guerra total contra ela. O aquecimento global é a febre que denuncia a doença. O planeta está gravemente doente.
         Os começamos a nos sentir parte da natureza, e então a respeitamos como a nós mesmos, passando do paradigma da conquista e da dominação para aquele do cuidado e da convivência, e produzimos respeitando os ritmos naturais e nos limites de cada ecossistema, ou então preparemo-nos para as amargas lições que a mãe-Terra nos dará. Não está excluída a possibilidade de que ela já não nos queira mais sobre sua face e se liberte de nós como nos libertamos de uma célula cancerígena. Ela continuará, coberta de cadáveres, mas sem nós. Que Deus não permita semelhante e trágico destino.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 29 de novembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 30 de novembro de 2013, caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“Que educação

QUEREMOS?
        
         Na quarta-feira, a manchete deste jornal gritava: “Colégios mineiros no topo do Enem”. Tudo indicava, inclusive a foto festiva que enfeitava o alto da capa, que se tratava de uma boa notícia. Bastou ler a reportagem, sobretudo os depoimentos de diretores de escolas que não mantiveram lugares de destaque registrados no ano passado, para ver que estamos atravessando um absurdo deserto de valores. Na verdade, a educação foi a grande perdedora nesse evento lamentável, já que a relação fornecida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC), nada mais significou que instrumento de marketing para as escolas bem posicionadas na relação, ou alimento de reclamação e choro para as que foram preteridas ou perderam posição no ranking.
         A situação não é nova. Há muito a educação no Brasil se tornou um negócio. Até aí, nada de mais, é o solo em que nos firmamos numa sociedade de mercado. No entanto, mesmo na mais estrita ética de qualquer negócio, o mais importante é a qualidade de seu produto. No caso das escolas, na intangível materialidade da educação, o “produto” pode ser traduzido de muitas formas: civilidade, consciência crítica, conhecimento, capacidade de ação social, solidariedade e humanismo. Ou seja, essas são as habilidades e valores que desejamos ver em nossos filhos ao fim do processo educacional.
         No entanto, a lista do Inep e sua exploração pelas escolas particulares mostra que o cenário é outro. Tanto a direção das instituições de ensino como os professores e alunos se sentem participantes de uma grande gincana, cujo prêmio é a distinção, a diferenciação, o destaque. Estar à frente de outros é mais importante que estar ao lado de todos. Se um colégio, ou para usar nome mais antigo e expressivo, um educandário, vale o nome que tem, deveria buscar a solidariedade, não a competição. Esse clima de disputa, no entanto, não prejudica apenas o aspecto moral, mas também o pedagógico.
         Como dizia Freud, a educação é uma tarefa impossível, seja pela perenidade do processo (por isso medir seria sempre um equívoco e comparar um erro ainda mais grave), seja pela singela realidade de que ninguém ensina ninguém: as pessoas aprendem no contato social, sempre em mão dupla. E é bom lembrar o criador da psicanálise, já que o comportamento dos diretores de escolas que perderam posições no pódio armado pelo Inep demonstra um inequívoco traço persecutório. Eles garantem que vão entrar com recurso no MEC para rever a relação. Se sentiram traídos pelos deuses aos quais fizeram suas libações.
         As declarações dos diretores e supervisores estampadas na reportagem de quarta-feira, neste sentido, não precisam de comentários em sua explícita entrega da frustração em que se encontram por não mais ocupar lugares de destaque. Eles lamentam não poder comemorar os resultados e, o que mais grave, o fato de não poder dar aos alunos o atestado do sucesso do processo pedagógico, como se a chancela do Inep fosse mais importante que outros indicadores qualitativos, aos quais deveriam estar atentos. Como a cidadania e o saber, por exemplo.
         Tudo parece indicar que a pontuação tem um peso forte na valorização dos colégios no mercado da educação privada. Estar em boa posição é argumento para cobrar mais caro. Nisso, a divulgação dos resultados do Enem se mostra equivocado. Ora, ou o resultado serve para identificação de problemas, e com isso deveria contribuir para direcionar ações de apoio e investimento aos estabelecimentos, ou é apenas instrumento de propaganda para majorar preços, que parece ser o caso. E, o que mais grave, há um efeito Pigmalião às avessas: quanto pior o índice, mais isolada ficará a escola. O parâmetro comparativo de realidades distintas incentiva o preconceito. O que incide ainda mais na escola pública em seu descaso com carreira dos professores, traduzindo em salários indignos e abaixo do patamar previsto em lei. Sem que faltem sequer as chicanas que transformam salários em subsídios para burlar a regra constitucional.

SEM AMOR Mas há três outros problemas graves nessa história. O primeiro é a tendência das escolas em criar uma atmosfera interna de cobrança e competitividade, que em nada atende a propósitos pedagógicos e éticos, mas apenas à conquista de degraus mais altos no pódio. Assim, os alunos que estão lá para aprender, e que eventualmente tenham problemas de aprendizagem, são convidados a se retirar do recinto com a pecha de fracassados. Em nome da disputa, vão sendo afastados os sujeitos do processo educacional exatamente pelo fato de precisarem da educação. A melhor escola não é de melhores alunos, mas a que trata melhor diferentes tipos de alunos, sobretudo os com maior dificuldade em aprender.
         O outro desvio grave está ligado muitas vezes à própria ideologia religiosa de algumas escolas da capital, com o Santo Antônio e o Loyola, que reclamaram da exclusão da lista dos “top ten”. Em vez de reafirmarem seus propósitos educativos, evidenciam sua filiação ao ethos da competitividade com a decisão de questionar o Inep. Colégios fundados por congregações de jesuítas (como o papa Francisco) e franciscana (com sua humildade de origem) não ficam bem na missa rezada em nome da disputa e da exclusão da diferença de ritmos e estilos de inteligência. Prestam um desserviço à educação, à religião e à ética e ainda desestimulam seus alunos na senda nobre da solidariedade.
         A teologia católica é fundada em diversos valores, mas a base é a caridade. Uma distorção histórica fez da caridade em nosso país uma espécie de desvio compensador das más intenções. Os caridosos tratam sempre do resto, dividem o que têm de bom e doam o que não presta, acham que os pobres só precisam de comida e que tudo mais é luxo. Essa postura chauvinista, felizmente abandonada por teologias mais humanistas, que recuperaram o sentido de amor presente na palavra caritas, está na base da ligação do Estado brasileiro com a Igreja Católica, em conúbio que gerou uma série de vantagens para as escolas ditas religiosas, da doação de terrenos à isenção de impostos por décadas. Quando os educandários religiosos passam a ser guiados por intentos capitalistas de forma tão desabrida, talvez tenha chegado a hora de cobrar a conta. Quem sabe na forma de cota de bolsas para estudantes sem condições de pagar mensalidades. Não como “caridade”, mas como direito legítimo de usufruir da riqueza gerada socialmente pelo trabalho de várias gerações.
         Por fim, a opção entre a consciência crítica e o adestramento diz muito dos valores do nosso tempo. Uma educação voltada para aprovação em concursos e para a seleção de profissões por classes sociais (que podem pagar colégios mais eficientes) é reprodutora, no sentido indicado por Bourdieu e Passeron: não serve para ler e criticar o mundo, mas para reconstituir a cada geração os mesmos privilégios das anteriores. Uma educação voltada para o mercado é puro treinamento, alienante e alienador, focalizado em avaliações produtivistas. Não ensina a questionar o mundo, mas a como se dar bem nele. Trata-se do cumprimento de uma agenda vinculada à produção e que vê no homem e na mulher apenas a força de trabalho. Não é um acaso que se fale tanto em educação profissionalizante para os pobres (a classe média não quer seus filhos nesses bancos escolares desprestigiados) e se critique tanto o acesso dos pobres ao ensino superior (como se eles conspurcassem a diferenciação de classes e, muitas vezes, de raça, teimando em combater políticas de cotas e outros instrumentos de inclusão).

OUTRO LADO Se o clima de competição conspícua e anti-humanista absorve os colégios ditos de ponta, os bons exemplos não param de vir da ação dos professores realmente comprometidos com a educação. Que são seguramente a maioria. O chororô das escolas da Zona Sul católica de BH não impediu, na mesma semana da divulgação da lista do Enem, que dois exemplos também ganhassem divulgação fora do difícil dia a dia do ensino público. Na Escola Municipal Gracy Vianna Lage, localizada na Rua 63, 23, no Bairro Jardim dos Comerciários, em Venda Nova, os alunos e professores se uniram para produzir um vídeo sobre o preconceito racial que mostra o verdadeiro sentido da palavra educação.
         Desde que o ensino sobre história e cultura afrobrasileiras passou a ser obrigatório, tem sido um esforço da comunidade escolar encontrar formas de debater o conteúdo que permeia a vida social, mas que ainda não ganhou tradução em instrumentos pedagógicos. Com atuação de meninas de 8 e 9 anos, a E. M. Gracy Vianna Lage realizou o curta-metragem Bom pra quê?, uma brincadeira sobre a diferença dos cabelos das crianças, que vai participar de mostra em Brasília, em 2 de dezembro. Mais que ensinar sobre relações étnico-raciais, trata-se de uma atitude construtiva, integradora e geradora de solidariedade social. Além de desmanchar, com as armas da inteligência e sinceridade, toda a burrice que há por trás da discriminação.
         Outro bom exemplo foi dado pela professora Joana D’Arc Camargo, que, com seu empenho pessoal, levou toda a turma de escola do Morro das Pedras para conhecer de perto os painéis Guerra e Paz, de Portinari, que estiveram expostos no antigo Cine Brasil, no Centro de BH. Para levar adiante seu projeto, ela foi nada menos que 23 vezes à mostra, levando as crianças em seu carro e arcando com toda a despesa do passeio. Com sua sensibilidade e conhecimento da história da arte, ela sabia que as crianças se identificariam com os personagens infantis criados pelo artista brasileiro. João Portinari, filho do pintor, ficou emocionado com a história.
         A alegria dos jovens de Belo Horizonte pode ter origem numa competição que exclui ou numa sensibilidade que agrega. Podemos ser alegres pela distinção ou pelo pertencimento. Quando você ouvir alguém defendendo o investimento em educação, talvez seja um bom momento de perguntar: que mundo queremos construir? A escola que temos não é apenas uma antevisão do que seremos, mas um alerta para o que podemos estar nos tornando.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem;III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratata, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...