“Neurociência
e educação
A metodologia utilizada
pelos sistemas convencionais de ensino tem sido focada apenas no ato de enviar
a mensagem aos aprendizes, e não como fazer isso. A mensagem, dentro do
processo de aprendizagem, deve ser vista como pacotes cognitivos, ou seja, cada
pessoa tem uma maneira exclusiva de aprender. Essa formação envolve
preferências sensoriais que, ao serem identificadas pelo professor, podem se
tornar uma das mais avançadas metodologias de ensino. Ela tem sido grande
aliada nessa transmissão de conhecimento. A neurociência é o estudo do sistema
nervoso (SN), bem como seu desenvolvimento, funcionamento, estrutura e sua
relação com o comportamento humano. O cérebro apenas com dados elementares para
a sobrevivência é como um computador ao sair da fábrica, somente com as
conexões básicas. Os demais “programas” será adicionados por meio da interação
do indivíduo com o ambiente. Esse processo é crucial na fase do desenvolvimento,
que se inicia no pré-natal e vai até os seis anos de idade. Contudo, esse
desenvolvimento é constante, reduzindo apenas a velocidade e a amplitude. O que
define o cérebro de um indivíduo são suas experiências de vida.
Quanto mais rica a mente for, mais funcional será o cérebro.
Exposições a estímulos criam possibilidades de conexão neurológica refletindo
nos comportamentos e nas habilidades do indivíduo, incluindo seu equilíbrio
emocional. O cérebro consome aproximadamente 25% da energia de um indivíduo e é
autorregulável. Entre manter a atenção numa sala de aula e economizar energia
para outras funções biológicas, ele escolherá a segunda opção. Outra
característica cerebral é eliminar estímulos repetitivos, portanto, professores
com vozes constantes e aulas com o mesmo formato e sistema tendem a ser
“eliminados”. Essa reação não acontece pela vontade dos alunos, mas sim por
mecanismo de defesa do cérebro pelo processo de habituação. Os sentidos de uma
turma de 20 ou mais alunos podem ser estimulados de formas diferentes para
contemplar todos os tipos de aprendizado. Cada sentido envia mensagens (pacotes cognitivos) para áreas
especializadas do cérebro e gera um impacto significativo na formação das memórias.
Algumas ações no processo de educação podem ser motivadoras para facilitar a
aprendizagem. Uma quebra de estado com pausas de um a três minutos a cada 50
minutos de aula para realização de outra atividade, como alongamentos, dança e
brincadeiras, recarrega a energia corporal e predispõe o cérebro ao estado de
aprendizagem.
Outro aspecto
importante no ato de enviar informações
é a linguagem utilizada pelo professor. Palavras abstratas não produzem
experiências internas e dificultam o aprendizado. Usar o corpo, os gestos, a
voz e dispor de suportes didáticos como jogos, vídeos, ilustrações e outras
práticas amplifica a capacidade de aproveitamento da proposta de ensino. A
neurociência ressalta que se forem consideradas todas essas características no
processo de ensino será viável incrementar e reforçar o aprendizado. A
atualização do processo deve ser considerada pelos educadores, deixando de lado
somente a preocupação em repassar determinados conteúdos. É preciso ter
consciência de que ao mudar a maneira de aplicar o ensino, de modo que todos os
sentidos sejam estimulados e respeitando o processo de aprendizado de cada
aluno, será possível potencializar o aprendizado coletivo.”
(AGUILAR
PINHEIRO. Neurocientista e coach do Instituto Brasileiro de Gestão Avançada
(IBGA), em artigo publicado no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 8 de maio de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de FREI
BETTO, que é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de O amor fecunda o universo – Ecologia e
espiritualidade (Agir), entre outros livros, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Navegar
é preciso
Fiz uma viagem
literária pelo Rio Negro na primeira semana de maio. Uma centena de pessoas
lotou o navio Iberostar para conversar sobre literatura com os escritores
Affonso Romano de Sant’Anna, Marina Colassanti, CadãoVolpato (que fez ali o
lançamento de seu primeiro romance, Pessoas
que passam pelos sonhos, editado pela Cosac Naify), Xico Sá e eu. A atriz
Clarice Niskier nos apresentou uma leitura dramática de sua próxima peça, A lista, monólogo de autoria da
canadense Jenniffer Tremblay. A banda Projeto Coisa Fina animou nossas noites e
nos ofereceu um verdadeiro concerto em homenagem ao músico pernambucano Moacir
Santos (l926-2006), radicado nos EUA, e cujo repertório influenciou
compositores como Tom Jobim.
Em
suas duas primeiras edições, o projeto Navegar É Preciso, promovido pela
Livraria da Vila, de São Paulo, levou ao Rio Negro os escritores José Eduardo
Agualusa, Laurentino Gomes, Ignácio de Loyola Brandão, Cristovão Tezza, Mary
Del Priore, Ilan Brenmam, Walter Hugo Mãe e Milton Bonder. Navegamos quase 200
quilômetros. Nosso ponto de retorno foi Novo Airão, município ribeirinho de 6
mil habitantes. A cidade de Velho Airão, invadida por formigas, sucumbiu à
voraz agressão desses insetos. Nossa embarcação, de 95 camarotes distribuídos
em quatro andares, deslizava pelo rio de águas escuras, ácidas, desprovidas de
mosquitos. A decomposição dos vegetais no leito rico em magnésio, potássio e
ferro impede que as larvas se proliferem. Nesta época do ano o rio sobe de oito
a 10 metros (no ano passado, excepcionalmente chegou a 17 metros), ampliando os
igarapés e inundando a mata de igapós.
Em
geral, os igapós são fechados no alto pela copa das árvores, deixando a
impressão de claustros aquáticos. Em suas águas se abriga o poraquê, também
chamado de enguia-elétrica, que emite descarga de eletricidade de 300 a 1.500
volts, dependendo do tamanho. Com esse recurso, ele derruba os frutos das
árvores que tremulam sob o efeito do choque, garantindo-lhe alimentação. No
interior dos igapós é costume se deparar com a majestosa macucu-do-rio-negro,
imponente árvore que se sobressai por seu tronco plissado. Índios e ribeirinhos
apreciam a carapanaúba, árvore cuja casca, rica em quinino, tem propriedades
cicatrizantes e da qual se faz o chá que reduz os efeitos da malária e da febre
amarela. Provamos a seiva branca, leitosa, da sorva, que serve de matéria-prima
ao cicletes e, na falta de leite materno, é utilizada para alimentar o bebê. Já
o cipó da piranheira aplaca, na falta de cigarros, o vício dos ribeirinhos. O
curare, abundante na região, é um poderoso anestésico, utilizado também pelos
índios, em suas zarabatanas, para imobilizar caças e facilitar a captura. Já a
matamatá é uma árvore cuja fibra resistente se usa no artesanato local e para
amarrar caibros de casas.
Os passeios
de barcas nos permitiram atracar nas margens do Rio Negro, caminhar pelas
trilhas da floresta e conhecer a tapiba, árvore que, após leve tapa em seu
tronco, solta milhares de microscópicas formigas que, esmagadas na pele,
imprimem um odor que serve de repelente para que índios e caboclos se projetam
de insetos e peçonhas. No leito do rio apreciamos o espetáculo dos
botos-vermelhos, quase sempre em duplas, arqueando sobre as águas. São eles os
principais predadores das piranhas, frequentes na região. Um boto chega a
consumir por dia de 10 a 15 quilos desses peixinhos de dentes afiadíssimos e
apetite de vampiro. Do navio desfrutamos cenários esplendorosos, como o nascer
e o pôr do sol na Floresta Amazônica e, próximo a Manaus, o encontro das águas,
quando os rios Negro e Solimões mesclam aos poucos seus leitos negro e barrento
e se juntam para formar o Amazonas.
Mais
do que literatura, a viagem nos propiciou um contato direto com a mais
importante floresta tropical do mundo, que comporta 12% da água potável do
planeta e abriga uma biodiversidade de três mil espécies vegetais e animais por
quilômetro quadrado. Ao som da música da banda Coisa Fina, enquanto bebíamos
sucos de cupuaçu, açaí e graviola, à espera de refeições fartas em tucunaré e
pirarucu, comentamos como seria importante descolonizar a cabeça dos
brasileiros de classes média e rica. Em vez de levar filhos e netos à
Disneylândia, incutindo-lhes o consumismo, melhor e mais sábio seria levá-los à
Floresta Amazônica, ao Pantanal Mato-Grossense, à Chapada dos Veadeiros, de
modo a educá-los no senso de preservação ambiental, respeito aos povos
indígenas e ribeirinhos e amor ao Brasil.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental –, independentemente
do mês de seu nascimento, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e
diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar
por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e
comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício,
em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e
danos, irremediavelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas,
necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal fosso das desigualdades sociais e regionais e nos
afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada
Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias,
da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da
paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...