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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A CIDADANIA, A LUZ DO UNIVERSO E O HORIZONTE DA VERDADE

“Como multiplicarmos em luz 
o que o universo nos entregou
        É o destino de todos os homens despertarem para a vida interior consciente.
         Em sua existência formal, o Cosmos irradia ordem e manifesta leis superiores, divinas. Observando isso, o homem poderia obter todo o ensinamento de que necessitasse. Não há uma partícula sequer dentro de tal imensidão que, seguindo essas Leis, não tenha sua posição definida. Nem mesmo um pequeno raio de luz é emitido que não seja para cumprir determinada tarefa. Nada se move ou vive fora da Grande Presença.
         Assim, se uma pessoa é encarregada de uma tarefa que faça parte do Plano de Deus, seus corpos mental, emocional e físico vão sendo preparados para desempenhá-la. É fato que o homem terrestre trilhou caminhos fora da Lei Universal e traz gravadas nas células de seus corpos as marcas dessa trajetória.
         Vivendo neste planeta, ao indivíduo cabe lidar com seus corpos mental, emocional e físico procurando elevar-lhes a vibração. Todos os cuidados nesse sentido devem ser tomados desapegadamente (inclusive a alimentação, a higiene e a postura), sabendo que o verdadeiro processo é o desenvolvimento da consciência. Cabe à pessoa contatar o propósito interior e cumpri-lo em todos os níveis. Esses cuidados, no entanto, não precisam ser excessivos.
         É necessário apenas que ela esteja desperta e que possa cumprir em pura e sincera entrega aquilo que lhe foi designado pelo Alto.
         A parábola dos talentos, mencionada na Bíblia, ensina o valor que há em multiplicarmos o que o Senhor nos entregou; mas multiplicar em Luz, e não materialmente, como é de uso comum compreender essa instrução.
         Energias especiais, sutis, incidem sobre aquele cujo contato com a vida espiritual esteja mais aberto. Se estiver em inteira disponibilidade para o serviço, poderá adequar-se prontamente às rápidas transformações que se façam necessárias no cumprimento de sua tarefa.
         É importante que se esteja desidentificado das suas emoções, da sua própria mente, dos seus condicionamentos, de respostas mecânicas, que se esteja pronto para renascer a cada momento – preparado, portanto, para a todo instante morrer para o que se é em aparência. Na presente situação planetária, na qual profundas transformações estão ocorrendo, é hora de entregar mais profundamente a própria vida – vida que ilusoriamente  pensamos ser nossa, quando na verdade é do Único.
         Pela percepção da mente bem pouco se pode saber sobre os movimentos da energia sutil espiritual. Para que nossa consciência participe desses processos é preciso colocarmos de lado as expectativas, os sonhos e até mesmo o desejo de servir; enfim, é preciso calarmos. O silêncio é o melhor instrumento de serviço e também a única e verdadeira oferta que se pode fazer aos trabalhos internos.
         Se o impulso da devoção permear o nosso ser, devemos deixar que ela arda e incendeie cada passo que dermos; se por momentos ou dias estiver sobre nós presente de maneira especial a energia da ordem, devemos manifestá-la, permitindo que ajuste e conduza às exatas posições aquilo que nos cerca. E, diante de tudo isso, se nos dispusermos a nada querer e a não impor obstáculos, participaremos de um movimento cósmico que, como um bailado, move universos, levando-os a realizarem o trabalho do Plano de Deus em completa harmonia.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 13 de dezembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de dezembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de LINDOLFO PAOLIELLO, jornalista, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), e que merece igualmente integral transcrição:

“O Brasil diante da verdade
        O Brasil precisa se conscientizar de que o presente em que vive já é passado e afastar o passado da frente do futuro. Vivemos o cotejo entre um modelo exaurido, e que insiste em se manter, e um novo modelo de nação em franca gestação, mas que não queremos perceber que nasce, porque precisa de nós para ganhar vida. A árdua abertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff coroa o confronto de um país consigo mesmo.
         Mas, afinal de contas, quem somos nós? As raízes do Brasil foram estudadas a fundo por Sérgio Buarque, que sintetiza assim o espírito brasileiro: “Desejamos ser o povo mais brando e o mais comportado do mundo. (...) Tudo isso são feições bem características do nosso aparelhamento político, que se empenha em desarmar todas as expressões menos harmônicas de nossa sociedade, em negar toda a espontaneidade nacional”. No entanto, é dele este alerta: “Com a cordialidade (somente) não se criam bons princípios”.
         Domenico De Masi, sociólogo italiano que comentou a obra de seu colega brasileiro, parte desse ponto para destacar: “Não basta ser cordial para ser democrático. Uma verdadeira democracia exige um sólido elemento normativo, regras capazes de assegurar oportunidades iguais para todos, uma superação dos personalismos através de uma disciplina social e uma série de regras baseadas no consenso. Exige o primado das instituições e a soberania popular”. E De Masi prossegue em sua visão crítica em relação ao “brasileiro meigo”. Cita Stefan Zweig que escreveu: “Essa delicadeza do sentimento, essa ausência de toda forma de veemência, me parece qualidade mais característica do povo brasileiro (...). Todos os estágios do bem-estar e da felicidade estão misturados nessa pacífica indolência”. De Masi cai em cima, quase cruelmente: “É exatamente a propensão para a tranquilidade que permitiu a Portugal dominar o Brasil por quase quatro séculos com um número exíguo de soldados”.
         Para fundamentar as razões do temor e postergação quando o Brasil se vê frente a frente consigo mesmo, como hoje acontece, vale a pena conhecer o que escreveu Darcy Ribeiro, outro estudioso da sociologia e antropologia do Brasil. Em uma das coletâneas sobre sua obra, intitulada O Brasil como problema, ele comenta que o atraso do Brasil e a pobreza de seu povo foram, de tempos em tempos, atribuídos a falsas causas naturais e históricas: ao clima tropical, à mistura racial entre brancos, negros e índios, ao papel desempenhado pela religião católica, à péssima colonização lusitana contraposta à colonização holandesa, mitificada como esplêndida, e a uma suposta infantilidade do povo brasileiro. É quando procura mostrar como fator do atraso o caráter daqueles que detiveram, durante séculos, o poder político e econômico: “Não há como negar que a culpa do atraso nos cabe a nós, os ricos, os brancos, os educados, que impusemos, desde sempre, ao Brasil, a hegemonia de uma elite retrógrada, que só atua em seu próprio benefício”.
         Entendida essa elite, efetivamente retrógrada, como “direita”, o drama brasileiro tomou jeito de tragédia quando a “esquerda”, fomentada por forte contingente dos intelectuais brasileiros e – convém lembrar – por uma parcela dos empresários, pôs em prática uma plano de governo coletivista. Convém definir: um projeto que, em nome dos ideais de justiça e igualdade social, exercita o aumento da concentração do poder do Estado e se propõe a conduzir a sociedade a caminhar em determinada direção, para a prometida realização do suprassumo dos milagres: proporcionar a todos a felicidade, por um “gesto de mágica” do Estado. Gesto movido pelo dinheiro da poupança das famílias, supostas beneficiárias de uma eterna boa vida, e dos tributos extorquidos da produção empresarial.
         Os resultados são esses que destruíram um país que havia conquistado a estabilidade política, monetária e que estava assim preparado para conquista a inclusão social pela realização do sonho empreendedor de cada indivíduo, pelo trabalho e pelo fomento de uma política pública sustentável. Para as famílias que comemoravam a supressão da miséria e a integração da Classe C a uma nova classe média, resultou uma triste “civilização do retorno”, com a marcha de cerca de 3 milhões de família de volta às classes D e E. Para as empresas, a falência, o fechamento e, o pior: a prisão daqueles que se agregaram a um projeto de poder e corrupção. Para o país, a recessão, que, depois de arrasar tudo e todos, destrói a autoestima e a capacidade de pensar e agir.
         É desse quadro – que o Brasil não pode resumir em uma só edição por representar a consumação de um comportamento e de fatos seculares – que nascem as manchetes diárias que soam como gritos de um país que se debate em suas contradições. É a partir desse quadro que precisamos definir o projeto do Brasil que queremos ser.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a
      a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em novembro a também estratosférica marca de 378,76% para um período de doze meses; e mais, ainda em novembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 10,48%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  

 
        

     

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A CIDADANIA, A TRAVESSIA DO DESERTO INTERIOR E A CRIATIVIDADE NA BASE DA INOVAÇÃO

“Nos tempos atuais é preciso vencer nossa própria aridez interior
         
         A humanidade precisa ser ajudada a liberar-se da vida comum. Do ponto de vista espiritual, a vida comum é considerada um deserto.
         Por obedecer a padrões estabelecidos pelo estado de consciência da maioria, é uma vida que se caracteriza pela inércia, pela tendência ao acomodamento, pela busca de conforto e de bens materiais, pelo desejo e pela satisfação de vários tipos de apetite.
         Esse deserto, que é a vida de muitos, procura perpetuar estruturas decadentes, desatualizadas. As sensações, sobretudo o prazer, ajudam a manter a consciência aprisionada a esse estado. É uma vida em que as aparências determinam as opções, e não o que está no interior das pessoas, das coisas, dos acontecimentos. Podemos ver esse deserto espelhado nos noticiários diários. Eles ficam na superfície dos fatos, não mostram as causas.
         E desse deserto, essa vida comum, ilude as pessoas, promete-lhes felicidade e bem-estar com base em coisas materiais, em gostos pessoais. E isso é tudo muito mutável, muito fugaz. Quando as pessoas conseguem uma coisa, já querem outra, pois não conhecem sua verdadeira necessidade. Assim, essa vida comum é causa contínua de sofrimentos.
         Quando um indivíduo resolve assumir postura diferente, seguir outra direção, elevar-se, as forças que compõem as estruturas da vida comum tentam dissuadi-lo de sua decisão. As estruturas às quais ele se dedicou tentam retê-lo. Ficam sempre lembrando-lhe o passado, e este costuma exercer, em muitos, grande influência. É conhecida a história bíblica da mulher que se transformou em estátua de sal: ao olhar para trás, cristalizou-se.
         Importante saber que vamos nos libertando desse deserto quando praticamos o desapego. Não importa a que estejamos apegados, procuramos soltar aquilo, libertar-nos e tornar-nos independentes do que nos prende. Que aquilo prossiga, se tiver de prosseguir, mas nós nos desligamos de tudo o que nos detém. Encontramos forças para isso quando buscamos uma meta superior, mesmo que não saibamos exatamente qual é. É por essa meta superior que devemos deixar-nos atrair.
         Para sair desse deserto, seria um engano esperar ajuda do que é instituído. O que é instituído alimenta-se da vida comum, e é instrumento do deserto. Teríamos de ser uma voz diferente em meio a tudo isso.
         Existe um ensinamento, que encontramos na série de livros do Agni Yoga (Fundação Cultural Avatar), que se refere a um tesouro destinado a todos. Na mentalidade comum, crê-se que esse tesouro é dinheiro, que são bens materiais que se tem de perseguir. Mas o Agni Yoga nos diz que esse tesouro é o que há de mais próximo de nós. No deserto da mentalidade comum não se mantém a intenção de ouvir o ensinamento, de encontrar o tesouro. São poucos os que perseveram e que o têm como o mais importante valor em sua vida.
         A humanidade precisa de forte impulso para sair da vida comum. E como ajudá-la a fazer isso, como ser voz no deserto?
         Todo dia encontramos coisas fora do lugar, em desarmonia. Devemos, incansavelmente, colocá-las em ordem. E se as virmos de novo fora do lugar, voltar a ordená-las. Isso é ser voz no deserto: incansavelmente fazer o que é preciso.
         Para a travessia do deserto precisamos contar com a fé. Com paciência, deixamos que se consolide em nós. A fé transforma a aridez.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 23 de fevereiro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno MEGACLASSIFICADOSADMITE-SE, coluna MERCADO DE TRABALHO, de autoria de RONALDO NEGROMONTE, professor, palestrante e consultor em desenvolvimento de pessoas e organizações, e que merece igualmente  integral transcrição:

“A criatividade como base da inovação
         
         Todas as manhãs, em meio a essa multidão de pessoas que vai para o trabalho, é comum observar em muitas fisionomias uma visível marca de apatia, mau humor e indisposição a tudo que o novo dia espera de nós em compromissos e obrigações. Pelo visto, mesmo em uma sociedade tão marcada pelas novas tecnologias, permanece bem vivo o tradicional preconceito sobre a atividade laboral, nos lembrando aquele velho estigma de que o homem foi castigado com o trabalho. Visão totalmente absurda ainda a ser mudada individual e coletivamente.
         Até porque podemos observar que na natureza tudo é trabalho e atividade. Tudo está em constante transformação e não podemos nos esquecer de que, como seres humanos, também devemos fazer parte desse movimento dinâmico e inteligente da natureza. É exatamente no trabalho que nos tornamos  verdadeiramente ativos, onde dinamizamos nosso tempo, desenvolvemos competências técnicas e comportamentais, ganhamos nosso sustento e formamos um conceito respeitável, progredimos e criamos progresso em todas as áreas.
         O X do problema está em que, quando aprendemos algum tipo de atividade profissional, passamos a utilizar alguns recursos básicos que nos ajudam no dia a dia. E com eles costumamos ficar sem acrescentar ou aperfeiçoar nada. Como naquele chavão: “Não se mexe em time que está ganhando”. Só fazemos alguma mudança quando a realidade ao nosso redor nos pressiona. Mas, no geral, terminamos mesmo é repetindo as técnicas que conhecemos, sempre com as mesmas fórmulas já gastas e que, muitas vezes, já não dão o mesmo resultado. Daí vem a rotina, o desinteresse e aquele desânimo que tira a motivação no trabalho. E a palavra motivação vem de motivos em ação.
         Você precisa ter sempre novos motivos para acionar melhor. É o que pede o dinamismo do atual mercado, no qual recursos antigos estão perdendo rapidamente sua validade. O alerta vem exatamente dos clientes. Cada vez querem um tratamento mais diferenciado, mais atenção às suas necessidades, mais agilidade, mais qualidade nos produtos e serviços, mais vantagens... Tudo mais e com um custo menor. Naturalmente que realizar com sucesso todas essas demandas exige muita criatividade.
         Como capacidade inovadora, a criatividade abre a inteligência para novos e melhores caminhos, para possibilidades além daquelas já utilizadas ou conhecidas. Sai assim do previsível, da mesmice, em busca de soluções inusitadas para as questões diárias e do futuro. Daí se multiplicam os recursos que facilitam a vida em todas as suas projeções, em particular nas atividades profissionais. Por isso, a criatividade se tornou quesito essencial para todos aqueles que querem realmente alcançar melhores níveis de colocação no presente universo do trabalho.
         Para ser alguém realmente criativo é preciso ter uma postura questionadora, gostar de pesquisar e desenvolver competências em áreas múltiplas. Isso exige uma visão independente, ausência de dogmatismos, vivacidade mental, interesse para aprender e também para ensinar técnicas inovadoras. Pessoas criativas não são egoístas, passivas e indiferentes. A contrário, estão sempre interessadas, abertas a novas relações e descobertas. Mostram essa característica atração pelo novo, por mudanças e desafios, além de uma percepção das coisas ao mesmo tempo abrangente e detalhista.
         Os criativos são essencialmente altruístas e que querem interferir no mundo onde vivem de forma positiva. Têm a chamada visão perspectiva ou visão de futuro. É assim que vão delineando esse traço característico de maior autoconfiança, autoliderança, esforço e compromisso com tudo o que fazem. Naturalmente, isso não elimina de seu perfil o toque de leveza, da flexibilidade e do senso de humor, base para a originalidade em sua produções e soluções para os problemas. Daí conseguem encarar com mais naturalidade as dificuldades. Veem o erro como parte do processo de aprendizado e das descobertas. Estão sempre abertos a críticas e sugestões, conseguindo transformar desvantagens em vantagens.
         Por ser todo esse conjunto incomum e diversificado de valores, a criatividade infelizmente permanece como exceção e não uma regra no mundo do trabalho. Pelo contrário, ainda dominam os rotineiros, os repetidores, os previsíveis e até mesmo os que querem se aproveitar das ideias alheias. Daí ganha sentido esta curiosa afirmação do criativo e conhecido sociólogo italiano Domenico de Masi: “Enquanto o burocrata tem razão nove vezes em 10, o criativo erra nove vezes, mas quando acerta uma vez, está abrindo novos caminhos para a humanidade”.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna- absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...   

          

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO, A QUALIDADE E A LITERATURA

“Brasil literário

Participei, entre dias 6 e 10, da nona edição da Festa Literária de Paraty (Flip). No Brasil, há cerca de 80 eventos literários por ano. Eis uma boa notícia.

Quem lê aprende a pensar, discernir, optar e escrever. A TV mostrou, há dias, jovens diplomados na universidade, versados em inglês, porém reprovados em exames de seleção profissional por não saberem dominar o idioma português. Numa simples carta, erros gritantes de ortografia e concordância!

A Flip ainda é cara nos preços dos ingressos, da hospedagem e da alimentação em Paraty. Ainda bem que, em torno dela, se multiplicam os eventos alternativos, todos gratuitos. Isso permite o contato mais direto entre leitores e autores.

Na conferência de abertura, uma dupla de peso: Antonio Candido e José Miguel Wisnik. Falaram da vida e obra de Oswald de Andrade.

Antonio Candido, como único intelectual vivo que conheceu o autor de Serafim Ponte Grande, descreveu-o mineiramente, amenizou a virulência com que Oswald de Andrade atacava autores em suas críticas literárias, sem poupar ênfase na cor da pele e até na deficiência física de alguns escritores. Mas sublinhou que o homenageado jamais guardava mágoa e foi capaz de tomar a iniciativa de se reconciliar com o próprio Antonio Candido, após esculhambá-lo num texto crítico.

Wisnik, intelectual de múltiplos talentos que trafega com autoridade entre literatura e música, fez uma descrição mais erudita das ideias de Oswald de Andrade.

Meu primeiro contato com a obra de Oswald de Andrade foi em 1966, quando José Celso Martinez Corrêa, diretor do Teatro Oficina, me convidou para assistente de direção da montagem de O rei da vela. A peça me parece melhor que o texto. Marcou o ápice do movimento tropicalista, uma forma irreverente de reação à ditadura militar.

Tentei gostar dos demais livros de Oswald de Andrade. Não consegui. Considero-os anárquicos demais para para o meu gosto. Penso que o autor causou mais furor que os próprios livros. Talvez seja essa a razão por que Candido e Wisnik realçaram o homem e suas ideias e deixaram de lado a obra dele.

Aplaudi entusiasmado a dupla Bartolomeu Campos de Queirós e Ana Maria Machado, na mesa do Movimento Brasil Literário. Bartô frisou que a escola não educa, adestra. Cobrativa, impede que os alunos de usufruírem da liberdade que a literatura requer. Não há leitura proveitosa se o objetivo do professor é conferir o quanto e como se leu. Não por acaso, lembrou ele, alunos castigados são, às vezes, remetidos à biblioteca.

A biblioteca deve ser o espaço de diálogo e não apenas de consulta, sugeriu Bartô. O livro não é apenas um texto que se lê, é também um texto que o leitor, dialoga como ele, muda sua ótica da vida, interpela e faz sonhar. “Não há problemas novos na vida humana. Há, sim, novas maneiras de encarar os mesmos problemas”, acrescentou o autor de Vermelho amargo.

O papel da literatura é ampliar o nosso campo de visão, aprofundar nossa consciência crítica e dilatar nosso potencial onírico. Viver sem sonhar é mero sonanbulismo.

Atraiu interesse, na Flip, o debate entre o neurocientista Miguel Nicolelis e o filósofo da religião. O primeiro, otimista; o segundo, cético. Nicolelis investiga a capacidade de o cérebro comandar aparelhos, de modo a mover membros mecânicos de um tetraplégico.

Tomara que, Brasil afora, se multipliquem festas e feiras literárias. São espaços de debate de ideias e opiniões.”
(FREI BETTO, é escritor, autor, em parceria com Domenico de Masi, de Diálogos criativos (Sextante), entre outros livros, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 14 de julho de 2011, Caderno CULTURA, página 10).

Mais uma IMPORTANTE, PEDAGÓGICA e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado na Revista VEJA, edição 2225 – ano 44 – nº 28, de 13 de julho de 2011, páginas 108 a 112, que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“Precisamos de educação diferente de acordo com a classe social

No fim do artigo do mês passado, lancei aos nossos congressistas uma sugestão: que façam uma lei determinando que toda escola pública coloque uma placa de boa visibilidade na entrada principal com o seu Ideb. A lógica é simples. Em primeiro lugar, todo cidadão tem o direito de saber a qualidade da escola que seu filho frequenta. Hoje esse dado está “escondido” em um site do Ministério da Educação. É irrazoável achar que um pai que nem sabe o que é Ideb vá encontrar esse site. Já que o dado existe e é de grande relevância para a vida do aluno e de sua família, não vejo nenhuma razão pela qual ele não seja divulgado para valer. Em segundo lugar, acredito que essa divulgação pode colaborar para quebrar a inércia da sociedade brasileira em relação às nossas escolas. Essa inércia está ancorada em uma mentira: a de que elas são boas. Os pais de nossos alunos, tanto das instituições públicas quanto das particulares, acham (em sua maioria) que a escola de seus filhos é muito melhor do que ela realmente é (em outra oportunidade falarei sobre as escolas particulares). Não é possível esperar uma mobilização da sociedade em prol da educação enquanto houver esse engano. Ninguém se indigna nem se mobiliza para combater algo que lhe parece estar bem. E não acho que seja possível a aprovação de qualquer reforma importante enquanto a sociedade não respaldar projetos de mudança, que hoje são sempre enterrados pelas pressões corporativistas.

A sugestão desencadeou dois movimentos rápidos, enérgicos e antagônicos. Por um lado, houve grande acolhimento da ideia entre os reformistas. Ela deu origem a dois projetos de lei no Congresso, dos deputados Edmar Arruda e Ronaldo Caiado, que já chegaram à Comissão de Educação da Câmara, na qual será relatados por Lelo Coimbra. Já foi aprovada como lei municipal em Teresina, em projeto de Ronney Lustosa, e tramita como lei estadual no Piauí e em Mato Grosso. Está em discussão em outras cidades, entre elas São Paulo, onde o vereador Floriano Pesaro e o secretário de Educação, Alexandre Schneider, desenvolvem o projeto de lei. Depois que lancei a idéia nas páginas de VEJA, vários veículos de mídia já a apoiaram: a Folha de S. Paulo, o Grupo RBS, o Grupo ORM e o jornal O Globo. Nizan Guanaes cedeu o talento do seu Grupo ABC para trabalhar na formatação gráfica e na normatização da placa.

Ao mesmo tempo, a proposta vem sofrendo resistências. As críticas são interessantes: escancaram uma visão amplamente difundida sobre os nossos problemas educacionais que não podemos mais ignorar ou tentar contornar. Precisam ser endereçadas. São compartilhadas por gente em governos, na academia, por jornalistas e ongueiros. É uma mistificação inclusiva, que acolhe pessoas de todas as idades, geografias, níveis de renda e intelectual.

Disporia essa visão em três grupos, que postulam o seguinte: 1. para o aluno pobrem o objetivo principal é estar na escola; se aprender, é um bônus; 2. a finalidade da escola deve ser o bem-estar do professor; 3. é impossível esperar que o aluno pobre, que mora na periferia e vem de família desestruturada, aprenda o mesmo que o de classe média ou alta. Claro, ninguém diz isso abertamente, mas é o corolário do seu pensamento. Vejamos os exemplos.

Grupo 1: o secretário da Educação do Rio Grande do Sul, José Clovis de Azevedo, declarou, em evento oficial em que falou como palestrante, a respeito de uma escola que tem o mais baixo Ideb da Grande Porto Alegre, que “o importante desse escola não é o Ideb, mas o fato de ser uma escola inclusiva”, pois recebe alunos de áreas de baixa renda etc. Essa é apenas uma manifestação mais tosca e descarada de um sentimento que você já deve ter encontrado em uma roda de conversa quando, por exemplo, alguém defende a escola quando, por exemplo, alguém defende a escola de tempo integral porque tira a criança da rua ou do contato com seus amigos e familiares. É como se os pobres fossem bárbaros e a função da escola fosse civilizar a bugrada. O próprio MEC utiliza o conceito de “qualidade social” da educação, em contraposição a “qualidade total”, esta última representada pelo aprendizado dos alunos. Não conheço nenhuma definição acurada e objetiva do que seria essa “qualidade social”, então utilizo a de um site da UFBA: “A Qualidade Social da Educação Escolar, para o contexto capitalista global em que se encontram nossas escolas, diz respeito ao seu desempenho enquanto colaboradora na construção de uma sociedade mais inclusiva, solidária e justa”. A minha visão de educação é de que a inclusão social se dará justamente por meio do aprendizado dos conteúdos e das competências de que esse jovem precisará para ter uma vida produtiva em sociedade: todas as pesquisas indicam que gente mais (e bem) instruída recebe maiores salários, e é através desse ganho de renda que as populações marginalizadas se integrarão aos setores não marginalizados da sociedade e romperão o ciclo secular de pobreza e exclusão. Acho criminoso contrapor essa “qualidade social” ao aprendizado ou usá-la como substituição deste, porque sob nenhuma condição o ignorante e despreparado poderá triunfar no mundo real. Muitos educadores acham que seu papel é suprir as carências – de afeto, higiene, valores de vida etc. – manifestadas pelos alunos. Podem não conseguir alfabetizá-los ou ensinar-lhes a tabuada, mas a “educação é muito mais que isso”, e há uma grande vantagem: o “muito mais que isso” não é mensurável e ninguém pode dizer se a escola está fracassando ou tendo êxito nessa autocriada missão.

Outra secretária, Rose Neide, de Mato Grosso, é boa representante do grupo 2. Ao comentar a proposta de lei em palestra recente, Rosa afirmou ser contrária a ela, pois sua aprovação traria grande dificuldade à secretaria, que se veria atolada de pedidos de alunos de escolas ruins querendo ir para escolas boas, e também causaria grande estigma aos professores das escolas ruins. É uma visão ecoada por muita gente boa que, sempre que ouve alguma medida da área educacional, se pergunta como isso impactaria seus profissionais. Parte das pessoas que pensam assim o faz por cálculo político: quer ficar “bem na foto” com os “coitados” professores, ou pelo menos não tomar as bordoadas destinadas àqueles que não se submetem à sua cartilha. Parte o faz por reflexo espontâneo: a discussão sobre o tema no Brasil foi de tal maneira dominada, nas últimas décadas, pela corporações de seus profissionais que eles se tornaram nossa preocupação número 1. Ouvimos a todo instante sobre a necessidade de “valorizar o magistério” e “recuperar a dignidade do professor”, que é um adulto, que escolheu a profissão que quis trilhar e é pago para exercê-la. Apesar de o aluno ser uma criança e de ser obrigado por lei a cursar a escola, nunca vi ninguém falando na valorização do alunado ou na recuperação de sua dignidade. Por isso, faz-se necessário dizer o óbvio: a educação existe para o aluno. O bom professor (assim como o diretor e os demais funcionários) é uma ferramenta – importantíssima – para o aprendizado. Mas ele é um meio, não um fim em si. Se o professor estiver satisfeito e motivado e aluno ainda assim não aprender, a escola fracassou. O lócus das nossas preocupações deve ser, em primeiro lugar, o aluno. Em segundo, o aluno. E em terceiro, aí sim... o aluno.

Mas sem dúvida a oposição mais comum vem dos membros do grupo 3, que usam a seguinte palavra mágica: contextualizar. Escreve Pilar Lacerda, secretária da Educação Básica do MEC: “Divulgar o Ideb é necessário. Mas o contexto onde está a escola faz muita diferença nos resultados. Por isso é perigoso (sic) uma comparação ‘fria’ dos resultados”. Quer dizer: não é possível avaliar a escola de alunos pobres e ricos da mesma maneira. Não se pode esperar que pobres aprendam o mesmo que ricos, por causa da influência do meio sobre o aprendizado. De forma que colocar uma placa com o aprendizado em uma escola sem atentar para o contexto social em que ela está inserida seria dar uma falsa impressão da verdadeira qualidade daquela escola e do esforço de seus profissionais. Essa visão é caudatária de um mal que acomete grande parte dos nossos compatriotas: o de achar que o esforço importa mais que o resultado. Ela pode dar algum conforto para os tropeços que alguém sofre em sua vida pessoal, mas na vida pública de um país, especialmente quando lidamos com gente com dificuldades, acho que devemos ser radicais: o esforço é absolutamente irrelevante, só o que importa é o resultado. Nesse caso, o aprendizado dos alunos. Tanto para o aluno quanto para o país. Porque aquele aluno, quando sair da escola e for buscar um emprego, não vai poder dizer: “Eu não sei a tabuada, não falo inglês nem sei o que é pretérito imperfeito, mas o senhor deveria me contratar, porque eu nasci numa favela, meu pai me abandonou quando eu tinha 2 anos”. Da mesma forma, se exportamos um produto mais caro e de menor qualidade que seus concorrentes, não poderemos esperar que o consumidor final decida comprar o nosso produto por ele conter uma etiqueta que diga: “Atenção, produto fabricado em país que só aboliu a escravidão em 1888 e foi vitimado por secular colonialismo predatório”. O que importa é aquilo que o aluno aprende. É mais difícil fazer com que esse aluno, nesse contexto, aprenda o mesmo que outro de boa família? Sem dúvida! Mas o que precisamos fazer é encarar o problema e encontrar maneiras de resolvê-lo. O problema dessas escolas não é como os seus resultados ruins são divulgados, se serão servidos frios, quentes ou mornos: o problema são os resultados! E, quando começamos a querer escamotear a realidade, a aceitar desculpas, quem sofre é o aluno. Dados do questionário do professor da penúltima Prova Brasil tabulados pelo economista Ernesto Faria para a Revista Educação mostram que mais de 80% dos mestres dizem que o baixo aprendizado “é decorrente do meio em que o aluno vive”. Mais de 85% dos professores também apontam “o desinteresse e a falta de esforço do aluno” como razões para o insucesso da escola. A China mostra que a ideia de que não pode haver educação de alto nível em cenário de pobreza é balela: no último Pisa, o teste de educação mais conceituado do mundo, sua província de Xangai, que tem nível de renda per capita muito parecido com o brasileiro (11 118 dólares versus 10 816 dólares no Brasil), apareceu em primeiro lugar em todas as disciplinas estudadas, enquanto o Brasil não ficou nem entre os cinquenta melhores. Relatório recente da OCDE (disponível em twitter.com/gioschpe) mostra que nosso país também fica na rabeira na recuperação de seus alunos pobres: é que nosso sistema educacional não sabe como ensiná-los, e está mais preocupado em encontrar meios de continuar não enxergando essa deficiência do que em solucioná-la. Por isso eu digo: precisamos, sim, de ensino e padrões diferentes para ricos e pobres. Mas é o contrário do preconizado pela maioria: precisamos que a escola dos pobres ensino mais do que a dos ricos. É difícil? Muito. Mas deve ser a nossa meta. Porque, se não for, não estaremos dando igualdade de oportunidades a pessoas que já nascem com tantos déficits em sua vida. E, se o Brasil como um todo não melhorar seu nível educacional, jamais chegará ao Primeiro Mundo. Esse é o non sequitur desse pensamento dos “contextualizadores”: seria necessário nos tornarmos um país de gente rica para que pudéssemos dar educação de qualidade a todos. Mas a verdade é que o salto da educação precisa vir antes: sem educação de qualidade, não teremos desenvolvimento sustentado. Podemos nos enganar com um crescimento econômico puxado pela alta de valor das commodities, mas em algum momento teremos de encarar a realidade: um país não pode ser melhor, mais rico e mais bem preparado do que as pessoas que o compõem.”

Eis, portanto, mais páginas contendo SÉRIAS, GRAVES e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES, que acenam para a PRIORIDADE ABOSULA das POLÍTICAS PÚBLICAS: a EDUCAÇÃO, e não há outro jeito, de QUALIDADE e para TODOS... e este é apenas mais um dos GIGANTESCOS DESAFIOS que estão a nos ESPREITAR, na caminhada rumo ao PRIMEIRO MUNDO... Não se pode CONTORNAR a VERDADE, se o que se QUER é CONHECER... e EDUCAR...

Porém, NADA, NADA mesmo, nos ABATE e ARREFECE nosso ÂNIMO, nosso ENTUSIASMO e nosso OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS, previstos para eventos como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁRIAS (RIO + 20) em 2012, a COPA DAS CONFEDERAÇÕES em 2013, a COPA DO MUNDO em 2104, a OLIMPÍADA DE 2016, as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigência do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ e FRATERNIDADE UNIV ERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...