Mostrando postagens com marcador Louvado Sejas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Louvado Sejas. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A CIDADANIA, A CONSCIÊNCIA DA VERDADE E A BUSCA DE UMA NOVA ORDEM POLÍTICA

“A tarefa de levar a própria 
consciência para a verdade
        Certo dia, estando em quietude, encontrei-me diante de um lago de grande paz e magnífica beleza. Reinavam um profundo silêncio e uma calma imperturbável. Permanecendo ali quieto, começaram a emergir algumas impressões em minha consciência. Via que, diante da iminência do despertar para a vida imaterial, o indivíduo deve despir-se de todos os conceitos, até mesmo daqueles que até então lhe serviram de guia. É necessária a coragem de estar no vazio para se chegar à plenitude das esferas que existem além da vida material. Não se pode tocar o chão ardente dos reinos espirituais se o peso dos conceitos que o ser humano carrega não for diminuído, até desaparecer por completo. Esses conceitos mantêm a consciência em níveis vibratórios densificados, ao passo que a ausência de programas estabelecidos humanamente lhe permite a liberdade de voar como pássaro que desliza por alturas ilimitadas.
         A manifestação do reino espiritual na superfície da Terra por si mesma uma realização superior à vida humana; a vida externa, entretanto, deveria ser capaz de espelhá-lo. Para que ao menos uma fração da energia interior possa refletir-se nos mundos formais, é preciso que ela seja desejada, buscada, assim como uma pessoa com sede busca a água.
         A vida interior revela-se aos puros e inocentes. É fruto do trabalho que a perfeição divina realiza sobre as consciências, polindo-lhes as arestas e purificando-as. Ela a conduz a sucessivas metamorfoses, que levarão o barro a se transformar em ouro, ou seja, farão com que o ser deixe o estado de identificação com a forma e se reconheça como ente divino, imaterial.
         Existem aqueles que, tendo realizado em si essa transformação, estão visando à Perfeição da Vida; e tendo despertado em si o dom da compaixão, compartilham a profunda magnitude desse dom com todas as pessoas que necessitam de clareza para prosseguir em seus caminhos.
         A consciência que foi tocada pelo espírito vive um contínuo plasmar e soltar, não se fixando em ponto algum. Esse estado pode parecer distante e inatingível para a mente humana que necessita ver as margens da estrada por onde caminha. Em silêncio, no entanto, esse estado se aproxima e, por obra da compaixão e da influência da vida espiritual, inesperadamente se lhe descortina uma realidade maior, que transcende os seus limites normais e se traduz na totalidade da Vida.
         Atualmente, a tarefa de voltar a própria consciência para o espírito deveria ser cumprida de maneira simples e despojada. Em ciclos anteriores, muitas estruturas foram criadas para conduzir esse processo – o que pode ter prestado seu serviço, apesar da pequena resposta humana. Mas hoje a dinâmica transição pela qual o planeta está passando permite apenas por um tempo mínimo que o ensinamento e a formação espirituais permaneçam restritos a fórmulas, organizações, regras, exercícios ou ritos. O dinamismo dessa fase por si só impossibilita o aprisionamento em formas rígidas. Assim, a vida interior, fruto de uma aproximação secreta da consciência à verdade essencial, tem início.
         Nesse sentido, o homem nasce só, morre só, e também sozinho deve encontrar a Vida. Por mais que seja útil o serviço de transmitir aos outros a experiência interna, isso jamais os isentará dos passos que eles mesmos devem dar. Pode-se despertá-los para a meta superior, impulsioná-los a seguir adiante, mas não se pode caminhar por eles.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de outubro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de novembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Nascedouro das crises
        As crises que afetam a sociedade brasileira têm muitos nascedouros. As análises técnicas, políticas e antropológicas apontam as causas que levam o povo a pagar alto preço. Narrativas acadêmicas a esse respeito, contudo, não bastam. Corre-se o risco de ficar apenas na descrição teórica, sem a necessária revisão moral. Deixar-se afetar moralmente é um remédio indispensável para alcançar providências oportunas capazes de levar à superação dos graves desvios. Há de se conseguir uma boa articulação entre as análises acadêmicas, que produzem a lucidez, e as respostas alicerçadas na moralidade.
         É preciso projetar luzes sobre um dos âmbitos historicamente mais desafiadores da sociedade brasileira: o mundo da política. Quando se fala de corrupção não é interessante fazer generalizações. Embora seja uma dolorosa realidade, é equívoco afirmar que esse mal é alimentado por todos os políticos ou cidadãos. Há de se respeitar quem é sério e as instituições que operam com exemplar discernimento moral. Ilustrativa é a passagem bíblica narrada no capítulo 18 do Livro do Gênesis, quando Abraão dialoga com Deus intercedendo por Sodoma e Gomorra. Deus o havia escolhido para edificar uma nação grande e forte, para ensinar aos seus filhos e à sua casa a guardar os caminhos do Senhor, praticando o direito e a justiça. Havia crescido o clamor contra Sodoma e Gomorra. Abraão intercede, dialogando com Deus para não pesar a mão no castigo se fossem encontrados 50, 40, 10 justos, honestos, entre os destinatários da fatalidade.
         Esse respeito por quem age honestamente é lição. Assim, importa na sociedade brasileira, em vista de uma conversão indispensável, olhar para cada pessoa e segmento, sem generalizações. Nessa direção, deve-se tratar mais incisivamente a classe política no que se refere à geração das crises amargadas pela sociedade. Embora muito importante, não é suficiente apenas um trabalho educativo que qualifique o exercício cidadão de escolher ocupantes dos cargos eletivos pelo voto. No atual cenário, os políticos de todas as esferas, no Legislativo e no Executivo, são chamados a reconhecer responsabilidades na produção dos escândalos de corrupção. É verdade que esses lamentáveis episódios não têm como atores simplesmente integrantes de um segmento específico da sociedade. Porém, a classe política está em maior evidência, pois é formada a partir das escolhas do povo, exerce o poder pela representação.
         Negociatas partidárias, distribuição de cargos, prevalência de interesses cartoriais e indevidas apropriações comprometem a credibilidade dos representantes do povo. No âmbito da política, aqueles que agem com seriedade devem inspirar o modelo para o exercício do poder. O caso é de radical conversão. Há remédios para isso. Embora se reconheça que o “vício do cachimbo entortou a boca”, não se pode perder a esperança, até mesmo porque a sociedade precisa da política para construir avanços e conquistas.
         A conversão necessária não será desencadeada a partir dos partidos, pois eles se configuram em ambientes de “ar altamente viciado”. O ponto de partida mais eficaz é o confronto da própria consciência, para dar-lhe parâmetros de moralidade que eliminem os vícios dos cartórios políticos. Esse exame precisa envolver cada pessoa, em todos os segmentos responsáveis pela construção da sociedade. Desse modo, será possível debelar a fonte de corrupção e evitar a repetição de escândalos que atrasam o desenvolvimento do Brasil. Especificamente, o exame de consciência deve ser vivido pelos políticos, para que sejam capazes de criar gosto por uma representatividade sem negociatas e, por consequência, renunciem, espartanamente, às vantagens oferecidas em troca de “favores”.
         Sem pretensão de receituário, um exercício ajudará a classe política a vivenciar o necessário confronto da própria consciência, neste momento difícil. O convite é para a leitura e estudo da carta encíclica Louvado sejas – sobre o cuidado da casa comum, do papa Francisco. Trata-se de oportunidade para aprender o que significa ecologia integral, conceito que ajudará a fazer correções não apenas nos discursos, mas na conduta pessoal, nascedouro das crises.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  


      


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A CIDADANIA, A FORÇA DA ECOLOGIA HUMANA E INTEGRAL E A LUZ DA FAMÍLIA NA SOCIEDADE

“Albert Schweitzer e o respeito 
ao valor intrínseco de cada ser
        A esplêndida encíclica do papa Francisco “sobre o cuidado da Casa Comum” insiste continuamente que cada ser, por menor que seja, possui valor intrínseco e tem algo a nos dizer, ademais de estar sempre interconectado com todos os demais seres.
         Essas reflexões nos remetem ao pensador que melhor analisou o ilimitado respeito a tudo o que existe e vive no Ocidente: o médico suíço Albert Schweitzer (1875-1965). Ele se tornou famoso exegeta bíblico, com vasta obra especialmente sobre questões ligadas à possibilidade ou não de se fazer uma biografia científica de Jesus.
         Em consequência de seus estudos sobre a mensagem de Cristo, especialmente do “Sermão da Montanha”, com sua centralidade no pobre e no oprimido, Schweitzer resolveu abandonar tudo e estudar medicina. Em 1943, foi para a África como médico em Lambarene, no atual Gabão, estabelecendo-se exatamente naquelas regiões que foram dominadas e exploradas furiosamente por colonizadores europeus. Disse explicitamente, numa carta, que “o que precisamos não é enviar para lá missionários que queiram converter os africanos, mas pessoas que se disponham a fazer para os pobres o que deve ser feito. Se o cristianismo não realizar isso, perdeu seu sentido”. E continua: “Minha vida não é nem a ciência, nem a arte, mas tornar-me um simples ser humano que, no espírito de Jesus, faz alguma coisa, por pequena que seja”.
         Em seu hospital no interior da floresta tropical, entre um atendimento e outro de doentes, tinha tempo para refletir sobre os destinos da cultura e da humanidade. Considerava a falta de uma ética humanitária a crise maior da cultura moderna. Tudo em sua ética gira ao redor do respeito, da veneração, da compaixão, da responsabilidade e do cuidado para com todos os seres, especialmente aqueles que mais sofrem.
         À vontade de poder de Nietzsche, Schweitzer contrapõe a vontade de viver. “A ideia-chave do bem consiste em conservar a vida, desenvolvê-la e elevá-la ao seu máximo valor; o mal consiste em destruir a vida, prejudicá-la e impedi-la de se desenvolver. Esse é o princípio necessário, universal e absoluto da ética”.
         Para Schweitzer, as éticas vigentes são incompletas porque tratam apenas dos comportamentos dos seres humanos face a outros seres humanos e se esquecem de incluir outras formas de vida que se nos apresentam. O papa, em sua encíclica, faz uma rigorosa crítica a esse antropocentrismo. O respeito que devemos à vida “engloba tudo o que significa amor, doação, compaixão, solidariedade e partilha”.
         Como a nossa vida é vida com outras vidas, a ética do respeito à vida deverá ser sempre um conviver e um “consofrer” com os outros. Numa formulação sucinta, afirma: “Tu deves viver convivendo e conservando a vida, esse é o maior dos mandamentos na sua forma mais elementar”. Daí derivam comportamentos de grande compaixão e cuidado.
         A ética do respeito e do cuidado de Albert Schweitzer une inteligências emocional, cordial e racional, num esforço de tornar a ética um caminho de salvaguarda de todas as coisas e de resgate do valor que elas possuem em si mesmas. O maior inimigo dessa ética é o embotamento da sensibilidade, a inconsciência e a ignorância, que fazem perder de vista o dom da existência e a excelência da vida em todas as suas formas.
         O ser humano é chamado a ser o guardião de cada ser vivo. Ao realizar essa missão, ele alcançará o grau maior de sua humanidade e se sentirá pertencendo a um todo maior, superando a falta de enraizamento e a solidão dos filhos da modernidade.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 30 de outubro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Família, tocha acesa
        O papa Francisco, com a realização do Sínodo sobre a Família, acende tocha que torna clara uma necessidade: todos devem cuidar e investir mais na família, célula vital para a sociedade. As reflexões no âmbito da compreensão antropológica têm grande importância, particularmente quando são afrontados conceitos e posicionamentos advindos dos desvios cultivados na impostação da ideologia de gênero. Uma temática que precisa ser bem acompanhada, discutida e esclarecida para que não se entre em “canoa furada”. Não se pode permitir a desconstrução da compreensão antropologicamente compreendida e consolidada sobre o que é a família, fundamentada nos princípios inegociáveis da profissão de fé cristã.
         Todos devem se empenhar nesse sentido para que descompassos não sejam introduzidos nos processos de educação e na opinião pública. Também importante é a corajosa voz da Igreja e dos cristãos em sintonia com outros segmentos que professam os mesmos valores insubstituíveis, fonte de disciplinas e ritos que não podem ser relativizados, pois se localizam em horizontes do direito natural e das verdades da fé, com bases no Evangelho.
         Assim, a energia que deve ser investida de modo prioritário não pode, simplesmente, se restringir na reafirmação contínua em torno do que não se muda. É preciso proporcionar a assimilação e prática desses princípios e valores. Essas são tarefas irrenunciáveis da Igreja, sem contemporizações. Obrigações que incluem muitos outros entendimentos importantes para que se alcance a consideração da família como a primeira escola da fé no âmbito importante da missão evangelizadora da Igreja. A tarefa diária é fazer da família, efetivamente, célula vital para a construção de uma sociedade melhor. Eis o desafio, a ser enfrentado com a clarividência conceitual, a partir de contribuições imprescindíveis da doutrina da fé, do inconfundível sentido e alcance antropológico do que é família, sem inovações “facilitadoras” e até mesmo permissivas.
         A família é a primeira sociedade natural e tem que estar no centro da dinâmica social. O risco de relega-la a um papel subalterno é a produção de um gravíssimo dano ao autêntico crescimento da sociedade. Ora, família é o fundamento da vida das pessoas e, consequentemente, o inigualável modelo de todo o ordenamento da civilização. Absolutamente nenhuma experiência ou organização se compara com a singularidade própria da instituição familiar, determinante na formatação do caráter, do desenvolvimento de competências emocionais e subjetivações, no enraizamento de vivências que nutrem cidadanias. Bastaria pensar, entre outros aspectos ricos e variados, a aprendizagem da capacidade de se relacionar, própria do contexto familiar – o reconhecimento da importância do outro.
         No horizonte dos mais variados segmentos sociais, incluindo governos e instituições diversas, faz-se necessária uma interpelação. Quais investimentos são realizados em benefício da família, instituição estratégica no enfrentamento da violência, da cultura da corrupção e da imoralidade? A instituição familiar necessita de mais atenção. Sem novas atitudes em sua defesa, não será possível a qualificação do tecido social. Bobagens vão se multiplicar e as perspectivas continuarão sombrias. Não menos desafiadora é a tarefa da Igreja, que deve buscar práticas pedagógicas e experienciais novas, capazes de consolidar cada vez mais a instituição familiar como primeira escola da fé. O papa Francisco convoca todos a fortalecerem a chama da família, tocha acesa que ilumina os passos da sociedade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  


     

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A CIDADANIA E A BUSCA DA FELICIDADE, DA ÉTICA E DA SUSTENTABILIDADE

“Nada será como antes, amanhã
        O espanto com a existência e a procura do sentido da vida são bases da filosofia, assim como a história é a tentativa do homem de saber para onde vai, a partir de onde veio. No centro dessa incerteza, a eterna busca de orientar-se no mundo.
         É mundial, a propósito, a desorientação oriunda de um ambiente em transformação frenética em que pessoas nascem da engenharia genética, vivem em um ambiente virtual, surpreendem-se a cada momento com a biotecnologia e a nanotecnologia, e a emigração já não é para mudar de vida, mas para salvar a vida diante do horror da luta, sendo indiferente se a destruição é de instalações ou de lares.
         No Brasil, à desorientação dos tempos chamados pós-modernos acresce, como trágica herança de uma quadrilha que veio tomar a República e saquear seus cofres, a quebra da coluna vertebral da sociedade – seus valores – e, com isso, a desagregação dos laços sociais e a perplexidade que anula a capacidade de discernir e de agir.
         No entanto, onde tudo conduz à fixação no momento, à tensão com o agora, ao espanto, justamente agora cenários e previsões cedem lugar a um vislumbre, esse alumiar tênue que permite quase adivinhar o que temos em torno. O brasileiro é tomado por aquele estado de espírito que lhe é mais próprio quando desconfia: passa a cismar. Não interessa mais a perda do grau de investimento expressando que estamos privados da confiança dos investidores; já não importa que a presidente da República detenha inédito índice de aprovação de 7%; chega de lamentar a corrupção, a recessão econômica, a dívida pública irresponsável, o Orçamento que já chega com um rombo vergonhoso, o traiçoeiro avanço da inflação – tudo notícias velhas do jornal de ontem. Basta: Já sabemos onde estamos. Interessa saber para onde vamos. Em tempo: interessa saber para onde queremos conduzir o país que é nosso e pelo qual somos todos responsáveis. Quem cortou nosso selo de “bom pagador”, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s, arremata com a possibilidade de o país enfrentar três anos seguidos de déficit e dívida crescente. Vamos esperar por isso?
         Alguma coisa liga desorientação a coragem. Comte-Sponville escreveu um livro desconcertante intitulado A felicidade, desesperadamente. E também escreveu o Pequeno tratado das grandes virtudes. No primeiro livro, ensina a não esperarmos pela felicidade, mas a lutarmos por ela. No segundo, situa, lado a lado com a prudência e tolerância, a coragem. Adverte que a virtude é um esforço e, por isso, a coragem pressupõe vencer o primeiro impulso que pede o repouso, conduz à frouxidão e pode resultar na fuga. Então, Sponville enfatiza a relação entre coragem e o instante: “Coragem é a intenção do instante em instância”, sentencia e chega ao alvo, cravando a coragem como “nosso ponto de tangência com o futuro próximo”.
         Tratando dessa forma a crise que parece trazer de volta o fantasma do “fim da história”, quero dizer que, ao contrário, esta conjuntura insólita, resultante de uma aberração ética, vai receber em troca o despertar dos brasileiros para o futuro. As manifestações de 2013 sinalizaram que o futuro desejado tem muito pouco a ver com a realidade que vivemos hoje. Nada a ver com o modelo político, a conduta, as práticas e muito menos com os personagens que nos são oferecidos. O que está no ar nesse “mal-estar comum” é uma derrubada de paradigmas, com a mudança fundamental de pensamentos, percepções e valores. Um modelo inteiramente novo é o que deve imperar e ele deve partir de perspectivas variadas, todas elas a serem utilizadas à exaustão, porque a intenção deve ser a de descobrir tudo é possível descobrir. Criaram-se tantas incubadoras de empresas, mas ninguém ainda se mostrou capaz de criar uma “incubadora do novo”. Que tal uma “incubadora Brasil século 21”?
         Na agenda desse projeto maior, a erradicação do atraso dever o primeiro item, por ser esse o mal endêmico de nosso país. Atraso, falta de cultura, ausência de civilização. Aquilo que embaraça, atrasa, retarda e prejudica. Atraso na educação, na saúde, na capacitação, atraso no comportamento, atraso que se pode perceber em um simples gesto. E é de se desejar que essa incubadora de uma nação desenvolvida e dirigida para a felicidade das pessoas tenha no conhecimento sua chave para o futuro, com a atenção voltada para a inovação, ciência e tecnologia. É que a educação seja a base de todo o esforço para a realização de um novo Brasil, por ser condição para que sejamos quem sonhamos ser.”

(LINDOLFO PAOLIELLO. Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de setembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Ética e sustentabilidade
        A capital mineira tem a singular oportunidade de receber, entre os dias 30 de setembro a 2 de outubro, o Congresso Mundial Uniapac e o Seminário Internacional de Sustentabilidade. Esses eventos têm marcas e balizamentos que sublinham diferenciais muito evidentes. Reúnem empresários que pautam suas atividades e empreendimentos por valores cristãos. São gestores que integram a União Internacional de Dirigentes Cristãos de Empresa (Uniapac) e, em âmbito regional, a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE). Investem no desenvolvimento humano integral, na verdade e na caridade. Trata-se de grande diferencial, pois o crescimento econômico sem parâmetros como a ética e a sustentabilidade leva a situações que comprometem seriamente a humanidade.
         Esses grandes encontros são, pois, um facho de luz sobre sombras que pairam nos horizontes empresariais. Há um enorme desafio a ser enfrentado: eliminar a união entre os descompassos da política e as razões ilegítimas de empreendedores, fonte de corrupção. Essas sombras trazem prejuízos incontáveis, conhecidos e lastimáveis para a vida do povo. O Congresso e o seminário são valiosas oportunidades para renovar o compromisso de se trilhar o caminho do bem comum. A simples presença dos empresários constitui o esforço desses participantes de se trabalhar para construir uma nova dinâmica para o empreendedorismo na sociedade contemporânea. Também é antídoto contra o risco, sempre existente, de deixar-se mover por outras lógicas distantes da ética e da sustentabilidade. Renova-se, assim, o empenho para construir um mundo melhor, que não se edifica simplesmente a partir da lógica do lucro.
         A rentabilidade buscada não pode se desvincular da responsabilidade social, sob pena de se elegerem lógicas perversas do mercado como guia das escolhas, vitimando o planeta, a “casa comum”, com inúmeros descompassos: os focos de guerra e o desrespeito aos refugiados, o descaso com os excluídos que vivem nas ruas das cidades e com os pobres que estão no cinturão das protegidas áreas ocupadas pelos mais ricos e por quem deveria ser protagonista na construção do bem comum. O Congresso Mundial Uniapac e o Seminário Internacional de Sustentabilidade podem oferecer respostas indispensáveis diante da urgência na elaboração de novas pautas e na adoção de critérios para juízos adequados, escolhas inteligentes e éticas. O horizonte cristão desses eventos será possibilidade de iluminação: o inspirador propósito de buscar novos caminhos para maior cooperação entre governo, terceiro setor e empresários, visando à melhoria das relações sociais, à construção de uma economia sustentável e inclusiva e a uma sociedade ética com foco no ser humano e no bem comum.
         Esses objetivos não se alcançam apenas passeando pelos números. Deve-se priorizar cada pessoa. A inspiração cristã, comprometimento da Uniapac e ADCE, com o importante suporte da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, atrai empresas e empresários para um singular momento de reflexões. É genuína contribuição que pode e já faz a diferença em tantos ambientes, na reconfiguração de lógicas de governar e empreender. A dinâmica dos números, os arranjos indispensáveis para as organizações, a clarividência necessária aos gestores e o olhar com sensibilidade social têm duas valiosas referências de ensinamentos  cristãos: a carta encíclica do papa Emérito Bento XVI, Caritas in Veritate – sobre o desenvolvimento humano integral –, e a carta encíclica do papa Francisco, Laudato Si – sobre o cuidado da casa comum.
         A leitura dessas publicações é recomendada aos participantes dos encontros como preparação prévia, pois pode fecundar o terreno onfr sementes qualificadas serão lançadas a partir das palavras de competentes e relevantes conferencistas. Os textos também trazem ricos ensinamentos para todos os cidadãos. A bem arquitetada organização do congresso da Uniapac e do seminário de sustentabilidade é um investimento esperançoso e consistente. São redes novas lançadas em tentativas mais audaciosas de avançar rumo aos luminosos ensinamentos do Evangelho de Jesus Cristo. Uma solução inteligente para graves problemas sociais capaz de superar distâncias que existem em razão do desconhecimento do Evangelho e de sua força criativa e humanitária. A construção de um mundo melhor, incontestavelmente, uma meta alcançável quando se trilha o caminho da ética e da sustentabilidade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 350,79% ao ano; e mais, também em agosto, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,52%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”