“A
obediência como caminho para a libertação do ser
A contaminação e a
desordem psíquica no mundo agravam-se dia a dia, e para conviver com essa
situação sem se prejudicar é necessário preservar a harmonia, cultivando a fé e
o pensamento elevado.
À
medida que os problemas nas grandes cidades forem aumentando, surgirão novas
oportunidades de cura, principalmente de curas internas, espirituais, que
ocorrerão no silêncio do ser.
Porém,
a maioria dos seres humanos passa a vida sem perceber e, muitas vezes, sem ao
menos perguntar sobre o motivo real de sua presença na Terra. Prende-se à
superficialidade do cotidiano e deixa de enxergar os valores da existência.
Essa
ignorância, além de constituir-se em uma hibernação para a chispa de luz oculta
no âmago do ser, impede que os fluidos vitais e as correntes energéticas
oriundas de núcleos profundos circulem livremente. A abertura à transformação e
às leis evolutivas são chaves para reverter essa situação.
A
adesão de cada indivíduo ao trabalho evolutivo – aquele traçado por Deus para
nós – será tanto mais sincera e estável quanto mais ele tomar consciência do
papel que tem a desempenhar. Todos os que despertaram espiritualmente
compartilham do mesmo impulso de crescimento.
Entretanto,
também os que chegam no caminho espiritual trazem consigo uma série de hábitos,
tendências e idiossincrasias que no decorrer das épocas se foram impregnando em
seus corpos. Por influência das forças do ego, tendem a querer afirmar seus
pontos de vista, a assumir as tarefas do trabalho evolutivo com excessivo
sentido de posse, como se dissessem respeito à própria realização, desvirtuando
assim as oportunidades que lhes são oferecidas. Ao longo do caminho são levados,
de modo às vezes abrupto, às vezes gradual, a libertarem-se desses
condicionamentos há muito arraigados.
Um
instrumento importante nesse processo de libertação, mas em geral relegado a
segundo plano, é a obediência. No passado, quando se aderia ao caminho
evolutivo, tinha-se a possibilidade de estar fisicamente próximo a alguém de
elevado desenvolvimento espiritual, a quem se podia prestar conscienciosa
obediência. Desse modo, com maior segurança, o egotismo – o sentimento
exagerado da própria personalidade – era transcendido.
Mas na
presente fase planetária, raros são os casos em que se pode estar junto de um
ser liberto das leis materiais em sua consciência-visão. Hoje, os grandes seres
trabalham nos níveis internos da vida e é infrutífero procurar obter a
verdadeira instrução a partir dos homens: ela não pertence a ninguém, embora,
misteriosamente, encontre-se no interior de cada um de nós. Será, pois, na luz
desses níveis internos que o discípulo encontrará o Instrutor a quem
espontaneamente seguir.
Por
isso, mais do que nunca é necessário equilíbrio: ao mesmo tempo que toda a
orientação segura provém do interior e se deve prestar total obediência à fonte
interna de sabedoria, o indivíduo precisa estar suficientemente desapegado de
si e de suas percepções para distinguir o falso do verdadeiro, pois mesmo um
impulso interno genuíno pode ser desvirtuado por tendências subconscientes.
À
obediência devem estar aliados, portanto, a entrega à realidade superior, o
desapego e o discernimento.”
(TRIGUEIRINHO.
Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 1 de junho de 2014, caderno O.PINIÃO, página 20).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 31 de maio
de 2014, caderno PENSAR, página 3,
de autoria de Inez Lemos, que é
psicanalista, e que merece igualmente integral transcrição:
“Seleção
de
RESSENTIDOS
Como explicar a gênese
da violência que assola o país? Depredação de ônibus, bancos, linchamentos aos
supostos bandidos, execuções a pedradas, vasos sanitários e pauladas.
Crueldade, vingança, ira e ressentimento. O caldo da maldade é engrossado dia a
dia. Ao analisar os sinais de descontentamento e vandalismo, esbarramos em
questões políticas e psíquicas. O inconsciente, ao ser contaminado pela
realidade social, sobre os efeitos da vida política.
O
descobrimento do Brasil fez parte de um projeto de modernidade, em sua corrida
pela acumulação de riquezas. Somos filhos da pirataria, da contravenção e da
corrupção. Filhos de uma relação de interesses – o português que engravidou a
índia como forma de obter informação de quem aqui vivia. Estratégias de dominação.
A arte de manipular para melhor reinar. Alienar, impedir que o outro participe,
interaja. Quanto mais alienado, mais fácil de controlar. Contudo, o brasileiro,
cansado de desrespeito e descaso, resolve se rebelar contra o poder público e
privado. Não sobrou ninguém. A espada está no pescoço de todos nós.
O que
move o mundo é o desejo insatisfeito. O capitalismo manipula, os políticos
fingem que não escutam, mas a verdade é que não se controla um país oferecendo
apenas pão e circo, celulares, tablets, lipoaspiração. O trabalhador, além de
cartão de crédito, exige transporte, saúde e educação de qualidade. Anseia por
dignidade, direitos, justiça. A desigualdade provoca revolta e ressentimento. O
sonho agora é por igualdade de oportunidades. Punição aos ladrões de baixo e de
cima. Quando o crime é uma prática da classe política, rebelar é a palavra de
ordem entre os que sofrem as consequências.
O
Brasil é terra de ninguém, onde as leis dificilmente são cumpridas, onde viceja
o racismo, a homofobia e a intolerância. A onda fascista é um efeito da anomia,
da farra e desfaçatez dos poderosos. Como circular ideias de ética, honestidade
e honradez, se grande parte dos governadores, prefeitos e deputados direciona o
olhar para suas contas bancárias? Educar e governar são tarefas intermináveis.
Aprendemos a amar, respeitar e governar com os pais. Pai é aquele que, ao
exercer a função paterna, simboliza a lei: interdita o desejo descabido. Cobrar
doçura de um povo injustiçado é despautério. Sem o bom exemplo, os filhos
continuarão no vandalismo. Seria o Brasil um convite ao banditismo?
Por
que somos tão condescendentes com os políticos corruptos? Se a corrupção sempre
foi um direito dos que dela se beneficiam, privilégios e injustiças sempre
fizeram parte dos que detêm o poder econômico e político. Educar é barrar os
filhos em seus impulsos destrutivos, inserindo-os nos limites da lei. Sem
interditar, frustrar, a chance da criança tornar-se perversa é grande. A
política é o palco privilegiado dos perversos, é onde eles são amparados em
seus atos ilícitos e soltam as garras da ambição.
O
passado coronelista e patrimonialista a utilizar o espaço público como se fosse
privado. Ao mesmo tempo que o criticamos, repetimos posturas que condenamos.
Como ultrapassar o atavismo moral que parece nos definir? Mudar uma cultura,
fundar outra ideia de nação, quão difícil! É trabalho profundo, há de se tocar
entranhas e rever o lixo recalcado. Todo sintoma aponta para uma tentativa de
cura. Ao mesmo tempo que denuncia o que não vai bem, revela um gozo–prazer e
desprazer na compulsão à repetição. Reclamamos dos corruptos, mas somos
tolerantes quando eles defendem nossos privilégios.
Ao
analisar a violência, penso na palavra ressentimento. Res-sentir – sentir duas
vezes, não perdoar, guardar mágoas, alimentar vingança, não se implicar nos
conflitos. Ressentimento é sentimento que fixa o sujeito na neurose. A neurose
paralisa o sujeito no sintoma, impedindo-o de avançar nos bons sentimentos. O
ressentido é um infeliz, pois se cristaliza na amargura. O brasileiro, que
sempre gozou da condição de ressentido e trapaceado, agora quer, nas ruas,
exigir políticas públicas de qualidade. Melhor que reclamar em mesa de bar ou
descontar no erário, engrossando o caldo dos corruptos.
DESEJO
DE DESFORRA A
exposição de um cotidiano promíscuo provoca no brasileiro o desejo de desforra,
de botar para quebrar. Se para o político a demanda da população é o que menos
conta, se poucos se ocupam com suas necessidades, é de se esperar que o muro se
rompa. No filme Getúlio, quando não
havia mais o que esconder, o presidente Vargas confessa: “Nunca me pediram nada
para o país (ou para o povo), sempre me pediram algo para alguém”. A violência
das ruas metaforiza o filho lesado contra o pai perverso. Passa-se ao ato de
forma impulsiva, impensável. É sangue fervendo na veia.
Nossa
história ressalta a ausência de interdição capaz de regulamentar o apetite pelo
gozo e organizar um quando social que outorgue a cidadania. O romance familiar
brasileiro, nossa mitologia, produziu a fantasia do privilégio e da violação de
direitos. Revisitando as determinações histórico-sociais dos processos de
subjetivação, identificamos o descaso pela res-publica (coisa pública). O ethos que nos funda é o do prazer e não o da felicidade. A imagem
que vendemos é do paraíso sexual. Mulheres gostosas e de fácil acesso.
País
idílico, frívolo, que não soube se fazer respeitar. A copa promete jogos e
orgia. Goleada no campo e na cama. A volúpia e o fascínio que exercemos no
imaginário dos estrangeiros condena nossa filiação. Submetidos ao imperativo do
gozo, deixamos de cobrar o ouro que o mundo nos deve. Filhos de um amor
pérfido. Sedução e traição.
A
filha pobre e de pouca escolaridade, diante do dinheiro, se corrompe e se
prostitui. Promiscuidade que lhe atravessa a alma e a lança na sarjeta das
perdidas. Menina de um futuro morto. O que não nos faltam são motivos para
subverter a ordem, romper com a imagem do negativo social. Chega de
manipulação. Mídias e governantes nos alienam e dominam. Submissos aos
interesses do mercado, nos fixamos no gozo.
A
herança escravocrata explica a sujeição ao grande outro e a vocação à
dependência. Consumista, imediatista e permissivo. Reserva libidinal do mundo.
Aos olhos dos estrangeiros, a imagem será de eterno prostíbulo? Como explicar a
tendência da mulher brasileira à nudez? Nossa condescendência com os sedutores
revela o fracasso da função paterna. Adoramos nos exibir. Do carnaval ao
Facebook, não perdoamos os flashes. Repetiremos na Copa o destino colonial?
Permitiremos que o estrangeiro entre e explore o melhor, seja açaí ou
adolescentes?
Sem
Marx e Freud, sem pudor e ética, vencerá a violência. O niilismo quer acabar
com a consciência social – utopia por maior distribuição de renda e
oportunidades. O fantasma fundamentalista, aliado ao obscurantismo que se
esconde nas religiões de esquina, prega a ignorância e a insanidade. Viver é
enfrentar contradições. Saber lidar com os paradoxos humanos.
A
anomia revela a desorganização social, a ausência de leis. Para que o tecido
social se articule, é necessário mais que renúncia pulsional. Não se constrói
uma nação apenas com repressão. O respeito aos pais se deve ao amor – o temor
apenas é insuficiente para que a criança internalize a lei. Para que o
brasileiro se anime e torça para o Brasil, é preciso haver paixão. É preciso
motivo para que o filho torça pelo pai. Contudo, a questão da violência no
Brasil, antes de ser política, é psíquica.
Se a
Copa servir para deflagrar a consciência de cidadania, que indica que a
responsabilidade na construção de um país é de todos, valeram os
investimentos. Ser servir para estancar o masoquismo e investigar a condição de
vítima, melhor ainda. Toda neurose, todo lugar de gozo, responde por uma
filiação. A violência tanto pode ser efeito de uma metáfora paterna
inconsistente, como do desamor do pai pelo filho. Como respeitar a casa se nela
somos violentados, desprezados? Por tudo isso é difícil para o brasileiro sair
às ruas com bandeiras e apitos. No lugar da torcida, prepara-se a revolta. Como
sustentar um outro lugar, uma outra filiação?
O
significante que operou como referência simbólica foi o da permissividade –
riqueza e sexo em terras tropicais: praias, borracha e minério. Quando a
filiação fracassa, a maledicência ganha espaço e se instaura como arremedo da
função paterna. Colonização e exploração, corrupção e impunidade,
permissividade e leviandade. A história e os significantes nos condenam. A onde
de ações predatórias revela a condição de rebotalho, ela está no inconsciente
do sujeito e não em sua condição econômica. Traço de filho rejeitado, com mãe
omissa e pai ambicioso. Filho do português com a índia, do coronel com a
escrava. Como reparar as perdas? Não estariam os black blocs denunciando o
fracasso da função paterna?”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, na pré-escola) – e mais o imperativo da
modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016;
as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade – e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...