sexta-feira, 6 de março de 2015

A CIDADANIA, A FORÇA DO EMPREENDEDORISMO E A CRISE DE CONSCIÊNCIA

“De uma boa ideia a um bom negócio
        Quem tem uma empresa consolidada no mercado sabe que o sucesso está muito ligado a alguns fatores essenciais. Um dos mais importantes é a atitude empreendedora. Esse é o passo inicial para tudo: a disposição de assumir riscos e a postura de não fraquejar diante de qualquer adversidade.
         Essa característica não falta ao segmento de startups, empesas novas ou em fase de constituição geralmente de base tecnológica. Elas têm baixo custo inicial, mas possuem alta perspectiva de crescimento, por trabalharem na pesquisa e no desenvolvimento de ideias inovadoras. Para ter uma ideia do potencial dessas empresas, basta citar alguns exemplos bem-sucedidos desses negócios: Google e Yahoo, que começaram pequenas, mas apresentam atualmente balanços com lucros líquidos trimestrais na casa dos bilhões de dólares.
         Imagine como o desempenho de negócios como esses impacta a economia nacional. Acontece que, para uma startup ter sucesso, é preciso mais do que uma boa ideia. A sobrevivência e o crescimento da empresa estão condicionados à capacitação de sua gestão, com foco em comportamento e gestão, ações de inovação e de acesso a mercado, inclusive no exterior.
         Essa convicção norteia o trabalho do Sebrae junto a esses negócios. Trabalhamos para fazer com que o microempreendedor individual (MEI) se torne microempresário, que a microempresa vire pequena empresa – e que todas elas tenham potencial para se tornar grandes empreendimentos.
         Por isso, praticamente dobramos o investimento institucional em inovação e vamos iniciar 2015 com ações para atender a empreendedores digitais em todos os estados do país, seja por meio de projetos coletivos ou ações de apoio. Somente o Sebrae Nacional deve investir R$ 23 milhões nesse segmento até 2018.
         Na semana passada, estivemos presentes na Campus Party, a maior feira de tecnologia da América Latina, realizada em São Paulo. Durante o evento, divulgamos os resultados de um levantamento do Sebrae e da Campus Party a partir de um universo de mais de 600 startups de todo o país, de diferentes áreas de atuação. Identificamos as 200 empresas com grande potencial para conquistar o mercado em 2015.
         Minas Gerais está entre os destaques: é o terceiro estado com maior concentração dessas startups mais promissoras, atrás de São Paulo e quase empatado com o Rio de Janeiro. A seleção adotou como critérios o nível de desenvolvimento do modelo de negócio, a qualificação da equipe, a qualidade dos produtos e serviços e o volume de potenciais consumidores.
         Essas empresas de maior potencial criaram inovações em diversos segmentos, principalmente nas áreas de varejo e e-commerce, educação, comunicação e mídia, tecnologia da informação e comunicação (TIC) e telecom, finanças e entretenimento.
         Queremos acompanhar e incentivar o crescimento dessas empresas. Podemos ajudar com um extenso cardápio de cursos, oficinas e consultorias, muitos deles gratuitos. O empreendedor digital, por exemplo, pode realizar o Empretec, uma metodologia da Organização das Nações Unidas realizada, no Brasil, exclusivamente pelo Sebrae. Ele ajuda a desenvolver características do comportamento empreendedor e a identificar novas oportunidades de negócio.
         Interessa aos empreendedores e à economia nacional o crescimento das startups brasileiras. O caminho necessário para isso não tem muito mistério. Passa, necessariamente, por um ambiente legal favorável ao empreendedorismo e pelo fortalecimento de parcerias institucionais para apoiar esses negócios. Passa, sobretudo, pela iniciativa dos empreendedores de qualificar a gestão da empresa. É dessa forma que será possível transformar um número cada vez maior de boas ideias em bons negócios.”

(LUIZ BARRETO. Presidente do Sebrae Nacional, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 12 de fevereiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 13 de fevereiro de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Crise de consciência
        Na raiz das muitas crises que a sociedade brasileira enfrenta – hídrica, energética, política, econômica, moral, com a exigência de pronta reação –, está a falta de consciência. Uma carência que produz absurdos em série. São incontáveis os prejuízos para a coletividade que resultam da falta de princípios éticos e morais. Uma deficiência que é fonte de arbitrariedades, desmandos, incompetência para reações e respostas. Promove a perda dos sentidos de beleza, justiça e equilíbrio, que devem ser construídos cotidianamente, para se evitarem situações ainda mais caóticas.
         Há crise de consciência? Essa interrogação ganha pertinência quando se constatam extremismos e desequilíbrios na sociedade, em atitudes individuais e coletivas fundamentadas na irracionalidade e abominável mesquinhez. Um exemplo? A recente notícia de que parlamentares votaram um auxílio-moradia em benefício de quem não precisa. Trata-se do princípio de usufruir das vantagens, que tudo corrói, de maneira demolidora, inclusive o tecido da consciência social, política. Esse princípio é impulsionado por uma perigosa permissividade, que justifica atos individuais e coletivos, merecedores da indignação de homens e mulheres de bem, no exercício do direito de exigir o tratamento adequado do que é público.
         Não conseguir debelar o crescente processo de falta de consciência cidadã é um caminho para a ruína da sociedade. Essa constatação é reforçada ao observar fenômenos recentes que devem ser motivo de preocupação: a violência que não para de crescer, a miséria que faz tantos sofrerem, a presença de grupos interesseiros especializados em corrupção, que tornam pantanoso o caminho da sociedade, comprometendo avanços e a construção da cultura da vida.
         A falta de consciência revela-se de alta gravidade. Muitos agem como devastadores do erário e, pior, tratam de modo predatório os bens da criação. Ora, o mínimo que se pode esperar de cada cidadão é uma conduta balizada pela moralidade. E essa deve ser a postura e o compromisso de quem representa o povo e dirige instâncias governamentais mantidas com dinheiro público. Na contramão do compromisso ético-moral, certamente por perda e esgarçamento da própria consciência, indivíduos e grupos agem cegamente, inspirados só pelos interesses próprios. Perdem a credibilidade, o que aumenta a crise e deflagra uma verdadeira situação de “pé de guerra”. Esses cenários de descompasso colocam em pauta uma urgente necessidade: o tratamento da falta da consciência, problema grave e central na sociedade brasileira.
         Há um comprometimento sério da consciência moral, comprovado em atitudes inadequadas, em nível individual e institucional. Infelizmente, para impor o próprio interesse, garantir a benesse, consolidar o usufruto de vantagem, vale tudo. Isso gera sérias consequências que efetivam a perda do gosto pela honestidade, do respeito aos limites que possibilitam contentar-se eticamente com o que é justo. A falta da consciência moral, que compromete a conduta honesta, para ser vencida, requer verificações em âmbitos muito complexos da sociedade. Paga-se alto preço pela relativização de normas objetivas e absolutas. O atual contexto cultural tem grande influência nesse processo, pois favorece o enfraquecimento de princípios inegociáveis e fundamentais ao exercício da cidadania.
         Autonomia e liberdade não são justificativas para se fazer tudo o que se quer, leiloando princípios ético-morais básicos que alimentam o bom-senso. Princípios capazes de fazer crescer o apreço não pelo que se lucra e se ajunta, mas pela honestidade e respeitável conduta cidadã. É hora de reagir à perda da consciência moral.
         Uma possibilidade de reação a esse problema, com incidência em todas as dinâmicas sociais, é conhecer profundamente e vivenciar os valores do Evangelho, guiados pelo mestre mais completo de todos os tempos, na sua condição de deus e homem. Enquanto se reage para debelar a crise pela perda da consciência moral, raiz e vetor de outras graves crises, espera-se que as instituições respeitem as leis, que os representantes estejam, verdadeiramente, a serviço do povo, que cada pessoa se reconheça e participe como cidadão. A recuperação da moralidade deve fazer crescer uma incômoda crise de consciência, capaz de reconduzir a sociedade para o caminho do bem, da verdade e da justiça.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria, a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade...);

    b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (sem exagero, até mesmo de gerações futuras...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (a propósito, as muitas faces mostrando a gravidade da dupla crise de falta – de água e de energia elétrica...);
   
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!

    

quarta-feira, 4 de março de 2015

A CIDADANIA, A ESPIRITUALIDADE NA EDUCAÇÃO E A ALMA DO JORNALISMO

“O que precisa ser agregado ao processo de educação
        Geralmente, o processo educativo da sociedade está sempre atrasado em relação às mudanças que acontecem. As instituições de ensino não antecipam eventuais processos e custa-lhes fazer as mudanças necessárias para estar à altura deles.
         Ente outras, duas são as grandes mudanças que estão ocorrendo na Terra: a introdução da comunicação global via internet e a grande crise ecológica que põe em risco o sistema da vida e o sistema Terra. Podemos eventualmente desaparecer do planeta. Para impedir esse apocalipse, a educação deve ser diversa daquela que dominou até agora.
         Não basta o conhecimento, precisamos de consciência e de uma nova prática. Urge nos reinventarmos como humanos, no sentido de inaugurar uma nova forma de habitar o planeta, com outro tipo de civilização. Temos que nos reeducar. Por isso, acrescento às dimensões acima referidas estas duas: aprender a cuidar e aprender a nos espiritualizar.
         Mas, antes, faz-se mister resgatar a inteligência cordial, sensível ou emocional. Sem ela, falar do cuidado e da espiritualidade faz pouco sentido. A causa reside no fato de que todo o sistema moderno de ensino se funda na razão intelectual, instrumental e analítica. Ela é uma forma de conhecer e dominar a realidade, fazendo-a mero objeto. Sob o pretexto de que a razão sensível impediria a objetividade do conhecimento, foi recalcada. Com isso surgiu uma visão fria do mundo.
         Sabemos que a razão intelectual, como a que temos hoje, é recente, possui cerca de 200 mil anos, quando surgiu o Homo sapiens. Mas antes surgiu, há cerca de 200 milhões de anos, o cérebro límbico, por ocasião da emergência dos mamíferos. Com eles, entrou no mundo o amor, o cuidado, o sentimento que se devota à cria. Nós, humanos, nos esquecemos de que somos mamíferos intelectuais. Logo, somos fundamentalmente portadores de emoções, paixões e afetos.
         O que importa é que hoje temos que enriquecer nossa razão intelectual com a razão cordial, muito mais ancestral, se quisermos fazer valer o cuidado e a espiritualidade.
         Sem essas duas dimensões, não iremos nos mobilizar para cuidar da Terra, da água, do clima, das relações inclusivas. Precisamos cuidar de tudo, sem o que as coisas se deterioram e perecem. E, então, iríamos ao encontro de um cenário dramático.
         Outra tarefa é resgatar a dimensão da espiritualidade. Ela não deve ser identificada com a religião. Ela subjaz à religião, porque é anterior a ela. A espiritualidade é uma dimensão inerente ao ser humano como a razão, a vontade e a sexualidade. É o lado do profundo, de onde emergem as questões do sentido terminal da vida e do mundo. Infelizmente, essas questões foram tidas como algo privado e sem grande valor. Mas sem sua incorporação, a vida perde irradiação e alegria. No entanto, há um dado novo: os neurólogos concluíram que sempre que o ser humano aborda essas questões do sentido, do sagrado e de Deus, há uma aceleração sensível nos neurônios do lobo frontal. Chamaram a isso “ponto Deus” no cérebro, uma espécie de órgão interior pelo qual captamos a presença de uma energia poderosa e amorosa que liga e religa todas as coisas.
         Alimentar esse “ponto Deus” nos faz mais solidários, amorosos e cuidadosos. Ele se opõe ao consumismo e ao materialismo de nossa cultura. Todos, especialmente os que estão na escola, devem ser iniciados nessa espiritualidade, pois nos torna mais sensíveis aos outros, mais ligados à mãe-Terra, à natureza e ao cuidado, valores sem os quais não garantiremos um futuro bom para nós.
         Inteligência cordial e espiritualidade são exigências mais urgentes que a atual situação ameaçadora nos faz.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de fevereiro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de março de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS), doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral transcrição:

“Jornalismo, alma e rigor
        Antes da era digital, em quase todas as famílias existia um álbum de todos. Lá estavam as nossas lembranças, os nossos registros afetivos, a nossa saudade. Muitas vezes, abríamos o álbum e a imaginação voava. Era bem legal.
         Agora, fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nosso antigo álbum foi substituído pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição daqueles momentos. Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando. Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um instante. É importante guardar imagens. Mas é muito mais importante viver cada momento com intensidade.
         Algo análogo, muito parecido mesmo, ocorre com o consumo da informação. Navegamos freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com alma, rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre. É preciso olhar para trás para dar saltos consistentes.
         Jornalismo sem alma e sem rigor. É o diagnóstico de uma doença que contamina inúmeras redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem-editado, sério, preciso, isento. O prestígio de uma publicação não é fruto do acaso. É uma conquista diária. A credibilidade não se edifica com descargas de adrenalina.
         É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalismo ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. Na verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os manuais de redação consagram a necessidade de se ouvirem os dois lados de um mesmo assunto. Mas alguns procedimentos, próprios de opções ideológicas invencíveis, transformam um princípio irretocável num jogo de aparência.
         A apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à qualidade informativa. Matérias previamente decididas em guetos sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é honesta, não se apoia na busca da verdade, mas num artifício que transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia  exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada, hermético e dogmático, convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.
         A crise do jornalismo está intimamente relacionada com a perda de qualidade do conteúdo, com o perigoso abandono de sua vocação pública e com sua equivocada transformação em produto mais próprio para o consumo privado. É preciso recuperar o entusiasmo do “velho ofício”. É urgente investir fortemente na formação e qualificação dos profissionais. O jornalismo não é máquina, tecnologia, embora se trate de suporte importantíssimo. O valor dele se chama informação de alta qualidade, talento, critério, ética, inovação.
         Sem jornalismo público, independente e qualificado, o futuro da democracia é incerto e preocupante. O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o cara a cara, o coração e a alma.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria, a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (sem exagero, até mesmo de gerações futuras...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (a propósito, e mais uma vez, a magnitude da paralisação de caminhoneiros aponta para perdas que extrapolam nossas estruturas econômicas, portanto, de difícil mensuração...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!


segunda-feira, 2 de março de 2015

A CIDADANIA, O SUPERIOR DESAFIO DA EDUCAÇÃO E A FORÇA DAS EMPRESAS (7/17)

(Março = mês 7; faltam 17 meses para a Olimpíada de 2016)

“Faculdades: inclusão ou exclusão?
        Somos um país de 200 milhões de habitantes, sendo que, dos 24 milhões de jovens em idade universitária típica (18 a 24 anos), somente 15% frequentam ensino superior (3,5 milhões). É um dos menores índices entre países de porte econômico semelhante e muito aquém dos principais parceiros ou competidores no cenário internacional. Há aproximadamente 13 milhões de profissionais com título superior no Brasil, que, somados aos 7,3 milhões de matriculados nesse nível de ensino, supondo que todos se formem, beiramos os 10% da população total, o que reflete baixo nível de escolaridade.
         Por tais evidências negativas, o Plano Nacional de Educação (PNE), que é lei, estabelece que no Brasil tenhamos matriculados 33% dos jovens entre 18 e 24 anos no ensino superior até 2024. Hoje, estamos distantes da metade do caminho.
         A principal fonte de alunos do ensino superior, em tese, deveriam ser os 1,8 milhão de formandos entre os 8,7 milhões de matriculados no ensino secundário, sendo que, desses, 1,6 milhão fazem o Ensino Nacional de Ensino Médio, o Enem. Por outro lado, aproximadamente, 1,2 milhão de candidatos têm procurado acesso ao ensino superior a cada ano, 8,7 milhões via Enem, evidenciando que a maioria deles não é recém-egressa do ensino médio, mas, sim, concluiu o nível médio há mais tempo e busca, anos depois, o retorno aos estudos.
         Certamente, constitui limitador ao crescimento do número de universitários o baixo número de formandos no ensino médio e as dificuldades conhecidas daqueles formados nesse nível há mais tempo em retomarem seus estudos. Se os formandos atuais do ensino médio evidenciam graves deficiências, natural supor que, para aqueles formados há mais tempo, o afastamento das salas de aula e a falta de tempo para os estudos tornam tais dificuldades ainda mais severas. Talvez no item memória eles sejam prejudicados, mas possivelmente sejam compensados por terem, em geral, uma atitude mais madura, a depender de utilização de metodologias e tecnologias inovadoras especialmente adaptadas a essas circunstâncias.
         Uma das maneiras seria comparar os rendimentos médios dos dois grupos no Enem. Porém, esse exame, em que pesem tentativas anteriores de torna-lo um exame mais de raciocínio do que de mero exercício de memória, nas suas versões mais recentes, a ênfase tem sido gradativamente em detalhes conteudistas e em especificidades de informações, restando pouco espaço para raciocínios, lógicas aplicadas e mensuração da capacidade de resolver problemas a partir de informações disponibilizadas.
         O governo federal, ao adotar, em nome da qualidade, nota mínima no Enem para acesso ao Fundo de Financiamento ao Estudante (Fies), pode eventualmente atingir, ou excluir, principalmente esse público trabalhador que busca no ensino noturno e na rede privada concretizar o sonho não realizado quando concluiu o ensino médio.
         Quanto à real possibilidade de incluir esse público trabalhador e recuperá-lo dentro do contexto do ensino superior, há estudos mostrando que, adotando-se estratégias apropriadas e um conjunto de disciplinas de nivelamento, os resultados finais desse grupo são equivalentes, às vezes superiores, aos grupos com deficiências menores iniciais que não participam do programa de recuperação.
         A título de exemplo de experiência internacional, em trabalho recente, os pesquisadores Erick Bettinger e Bridget Long, das universidades de Stanford e Harvard, respectivamente, tratam de necessidades de estudantes mal preparados. Os resultados por eles obtidos, ainda que em realidade distinta, evidenciam que os alunos que frequentaram disciplinas (matemática e inglês, basicamente) de recuperação tiveram melhores rendimentos e, proporcionalmente, desistiram menos do que os demais.
         No Brasil, dentro da mesma inspiração, e em conjunto com aqueles pesquisadores, pretendemos estudar se há significa diferença em termos de melhoria de aproveitamento e diminuição de abandono quando, por exemplo, em um curso de engenharia, em vez de submeter de imediato os calouros às disciplinas de nivelamento. Além de recuperar os conteúdos do ensino médio, o estudante faz intenso uso de novas metodologias e tecnologias inovadoras, preparando-o para o mundo das ferramentas digitais aplicadas à educação e ao convívio, sem medo, com plataformas de aprendizagem.
         O Brasil precisa desesperadamente de um desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável, sem o que não enfrentaremos nossos desafios, entre eles, o de aumento da produtividade, diretamente relacionado ao nível de escolaridade do seu povo. Os estudos, especialmente no nível superior, em complemento a preparar profissionais para carreiras específicas, contribuem, ao ampliar o nível de escolaridade, para a melhoria de qualidade de vida, no nível individual, e por um país competitivo e sustentável no plano coletivo. Haveremos de aprender a conjugar escala e qualidade, ofertando ensino superior de padrão aceitável e para muitos.”

(RONALDO MOTA. Reitor da Universidade Estácio de Sá, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de fevereiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 27 de fevereiro de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Empresário, nobre tarefa
        O papa Francisco, na exortação apostólica Alegria do Evangelho, afirma que a vocação de um empresário é uma nobre tarefa. Lamentavelmente, essa nobreza é atacada pela corrupção que afeta funcionamentos de instâncias decisivas nos rumos da sociedade brasileira. A altivez da tarefa do empresário, diz o papa Francisco, se verifica na medida em que ele se deixa interpelar por um sentido mais amplo da vida e se engaje no serviço decisivo ao bem comum, em um esforço para tornar as riquezas deste mundo mais acessíveis a todos. Para isso, as complexidades e exigências das atividades econômicas não podem estar sob a regência do mercado, com suas forças cegas e invisíveis. O mercado tende sempre a comprometer o crescimento justo, que beneficia a coletividade. Com a desarvorada pretensão de aumentar a rentabilidade de poucos, gera novos excluídos e cristaliza situações de privilégios.
         O que está se passando na sociedade brasileira é consequência de ações na política econômica que não estão fundamentadas em duas referências básicas para se alcançar uma realidade mais justa: o respeito à dignidade de cada pessoa e a busca pelo bem comum. Conforme indica o papa Francisco, essas referências estão inseridas apenas no discurso político. Por isso mesmo, incomoda muito quando se exige a ética, a distribuição de bens, a defesa de postos de trabalho e a proteção dos fracos. Incomoda também quando se fala da solidariedade mundial ou mesmo do Deus que exige um compromisso em prol da justiça.
         A digna missão dos empresários não pode dispensar a nobreza própria dos políticos verdadeiros, capazes de dialogar e dedicados a sanar os graves problemas que afetam os cidadãos todos, diante dos desafios deste momento – referência sobretudo à corrupção –, têm a chance de dar uma nova resposta à sociedade. Para isso, é necessário um exame de consciência capaz de promover condutas éticas, exercício com força incisiva na vida do povo. Como fará diferença quando a política abandonar a dinâmica de atender interesses partidários e de pequenos grupos para ser vivida como uma preciosa vocação, uma das formas mais completas do exercício da caridade!
Um novo tempo pode ser gerado se, particularmente, empresários e políticos, mas também outros segmentos e instituições da sociedade, conseguirem dar uma resposta nova, tomando como referência determinante o povo e a vida dos pobres. Sem esse parâmetro, corre-se o risco de apenas “passar uma tinta” que acalma os ânimos, faz transparecer que a corrupção não acontece e que os mecanismos de favorecimentos e negociatas são apenas factoide. Não se pode esconder a ferida e a enfermidade que se abatem sobre o caminho da sociedade brasileira, agravada pelos enraizamentos históricos e pela perda de sentido de pátria e de cidadania.
É hora de um amplo diálogo social para superar esse abalo sísmico nos alicerces da sociedade. Nesse horizonte, é urgente que as instituições e segmentos diversos se posicionem adequadamente em estado de alerta e de contribuição. Ao promover a Campanha da Fraternidade 2015, corajosamente abordando o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, a Igreja Católica no Brasil reafirma seu compromisso de trabalhar para o pleno desenvolvimento do ser humano e para promover o bem comum. Isso só se faz em amplo diálogo com o Estado, com as culturas, ciências e com aqueles que confessam diferentemente a fé.
O papa Francisco defende o modelo de uma Igreja “em saída”, capaz de oferecer novas respostas à sociedade. O convite é para sair da própria comodidade e ter coragem de alcançar todas as periferias. A Igreja está desafiada a experimentar um aprofundado processo de transformação. O mundo empresarial e o âmbito político estão também desafiados a descobrir suas dinâmicas próprias “de saída” para encontrar um novo modelo. Somente assim será possível investir na formação de um tecido cultural que liberte a sociedade brasileira para caminhar rumo ao desenvolvimento. Empresários, políticos, intelectuais, cientistas, cidadãos todos, eis o desafio: defender a nobreza de suas ações.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (a propósito, a magnitude da paralisação de caminhoneiros aponta para perdas que extrapolam nossas estruturas econômicas, portanto, de difícil mensuração...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A CIDADANIA, A NOVA TERRA E O DESAFIO DA QUALIDADE NO ATENDIMENTO À SAÚDE

“Às agressões dos seres humanos, 
  a Terra responde com flores
        Mais que no âmago de uma crise de proporções planetárias, nos confrontamos hoje com um processo de irreversibilidade. A Terra nunca mais será a mesma. Ela foi transformada em sua base físico-química-ecológica de forma tão profunda que acabou perdendo seu equilíbrio interno. Entrou num processo de caos, vale dizer, perdeu sua sustentabilidade.
         Todo caos possui dois lados: um, destrutivo, e outro, criativo. O destrutivo representa a desmontagem de um tipo de equilíbrio que implica a erosão de parte da biodiversidade e, no limite, a diminuição da espécie humana. Concluído esse processo de purificação, o caos começa a mostrar sua face generativa. Cria novas ordens, equilibra os climas e permite aos seres humanos sobreviventes construir outro tipo de civilização.
         Da história da Terra aprendemos que ela passou por cerca de 15 grandes dizimações, como a do cambriano, há 480 milhões de anos, que dizimou cerca de 90% das espécies. Mas, por ser mãe generosa, lentamente, refez a diversidade da vida.
         Hoje, a comunidade científica, em sua grande maioria, nos alerta face a um eventual colapso do sistema de vida, ameaçando o próprio futuro da espécie humana. Todos podem perceber as mudanças que estão ocorrendo diante de nossos olhos. Por um lado, estiagens prolongadas associadas a grande escassez de água. Em outros lugares, invernos rigorosos como não se viam há decênios ou até centenas de anos.
         O fato é que tocamos nos limites físicos do planeta Terra. Ao forçá-los, como o faz a nossa voracidade produtivista e consumista, a Terra responde com tufões, tsunamis, enchentes, terremotos e um incontido aumento do aquecimento global. Se chegarmos a um aumento de 2ºC, a situação é ainda administrável. Mas, caso não façamos a lição de casa, diminuindo drasticamente a emissão de gases causadores do efeito estufa, e não reorientarmos nossa relação para com a natureza, a temperatura pode se elevar até 6ºC. Aí conheceremos a “tribulação da desolação”.
         A renomada revista “Science” de 15.1.2015 publicou um trabalho de 18 cientistas sobre os limites planetários. Identificaram nove dimensões fundamentais para a continuidade da vida e de nosso ensaio civilizatório. Vale a pena citá-las: 1) mudanças climáticas; 2) mudança na integridade da biosfera, com a erosão da biodiversidade e a extinção acelerada de espécies; 3) diminuição da camada de ozônio; 4) crescente acidificação dos oceanos; 5) desarranjos nos fluxos biogeoquímicos (ciclos de fósforo e de nitrogênio, fundamentais para a vida); 6) mudanças no uso dos solos, como o desmatamento e a desertificação; 7) escassez ameaçadora de água doce; 8) concentração de aerossóis na atmosfera; 9) introdução de agentes químicos sintéticos, materiais radioativos e nanomateriais que ameaçam a vida.
         Dessas nove dimensões, as quatro primeiras já ultrapassaram seus limites, e as demais se encontram em elevado grau de degeneração. E, apesar desse cenário dramático, olho em minha volta e vejo, extasiado, a floresta cheia de quaresmeiras roxas e fedegosos amarelos; no canto de minha casa, as “belle donne” floridas; tucanos que pousam em árvores em frente da minha janela e araras que fazem ninhos debaixo do telhado.
         Então me dou conta de que a Terra é, de fato, mãe generosa: a nossas agressões, ela ainda nos sorri com sua flora e fauna. E nos infunde a esperança de que, não o Apocalipse, mas um novo Gênesis está a caminho. A Terra vai ainda sobreviver. Como asseguram as escrituras judaicas-cristãs: “Deus é o soberano amante da vida”. (Sab 11:26). E não permitirá que a vida, que penosamente superou o caos, venha a desaparecer.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e Teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 20 de fevereiro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 26).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de  Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de fevereiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de ARISTIDES JOSÉ VIEIRA CARVALHO, médico, mestre em medicina, especialista em clínica médica e medicina de família e comunidade, e que merece igualmente integral transcrição:

“Atendimento à saúde
        O atendimento profissional proporciona, na grande maioria das vezes, cura ou alívio da dor ou sofrimento, além de prevenir doenças e promover a saúde. Entretanto, em determinados casos, pode causar algum tipo de dano. Mesmo que a atuação profissional tenha sido correta, com a melhor das intenções e de forma criteriosa, pode não obter os resultados esperados em virtude das particularidades de cada pessoa e/ou de outros fatores. O que é bom para um pode não ser bom para o outro, assim costumamos dizer. E isso é uma grande verdade.
         Na Grécia antiga, foi cunhada a palavra iatrogenia, entendida, originalmente, como o resultado de uma abordagem médica (iatros: médico; genia: causa, origem). O iatron era o lugar onde o médico realizava o seu trabalho, os seus procedimentos. A iatrogenia não tinha conotação negativa. Com o passar do tempo, ganhou novos significados. Atualmente, a palavra não se restringe à atuação médica. É comumente utilizada para se referir às abordagens corretas, limitadas ou erradas feitas por profissionais/trabalhadores da área da saúde de diferentes categorias, que podem resultar em algum tipo de dano à saúde.
         Atender às pessoas procurando evitar danos, é um desafio muito antigo e, paradoxalmente, muito novo. Hipócrates, conhecido como pai da medicina ocidental, pelos idos de 430 antes de Cristo, afirmava em uma de suas obras: “Pratique duas coisas ao lidar com as doenças: auxilie ou não prejudique o paciente”. Atribui-se a ele a expressão “primum non nocere”, que quer dizer em primeiro lugar, não lesar as pessoas, ter todo o cuidado para que as palavras e ações não gerem mais dor e sofrimento. As discussões sobre o pensamento hipocrático deram origem ao princípio bioético da não maleficência.
         É fato que, em termos práticos, somos colocados diante de situações complexas e nem sempre conseguimos acertar. Como não temos controle sobre todos os fatores que interferem nas abordagens junto às pessoas, a escolha pelo que há de melhor ao nosso alcance, assim como a prática pautada na humanização, na autonomia e na dignidade do outro, parece ser o caminho mais indicado para que o atendimento cause um grande bem e, se causar algum tipo de dano, que seja o menor possível.
         Há situações que têm potencial iatrogênico. Precisamos estar atentos a elas. Alguns trabalhadores, após assumirem determinadas atividades de atendimento à população, pela posição que passam a ocupar, muitas vezes se sentem pressionados a dar dicas em relação a problemas de saúde que fogem do seu nível de competência. Algumas vezes, essas orientações são benéficas; outras vezes, não têm fundamentação, são ministradas sem conhecimento e segurança e podem causar algum tipo de dano às pessoas.
         Há uma prática construída histórica e culturalmente em nosso país de consultas rápidas com balconistas em drogarias, em que as pessoas compram, de forma arriscada e muitas vezes irresponsável, medicamentos que podem lhes trazer sérios riscos à saúde. Certamente existem várias justificativas para essa prática, mas ela precisa ser evitada. Nessa mesma linha, podemos citar a crença popular de que o que é natural não é prejudicial à saúde, o que gera a procura – inclusive pela internet – por produtos que podem trazer sérios problemas de saúde, muitos dos quais sem estudos confiáveis sobre os seus mecanismos de ação e efeitos colaterais. O mesmo se aplica a outras práticas alternativas.
         Os atendimentos rápidos e procedimentos feitos em serviços públicos e privados também têm grande potencial iatrogênico. Muitos destes atendimentos surgem em decorrência de fatores diversos, como infraestrutura, investimentos, condições de trabalho, sobrecarga, recursos diagnósticos e terapêuticos, entre outros.
         A mobilização pela melhoria da qualidade dos serviços prestados, assim como pela redução dos danos durante os atendimentos, deve ser prioridade nas práticas dos profissionais da saúde, políticos e gestores. “Vivemos esperando dias melhores”, assim canta o Jota Quest. Sem dúvida, esses dias melhores “para sempre” serão conquistados a várias mãos. A percepção da complexidade e singularidade do ser humano traz como desafio o investimento em capacitação e qualificação profissional para atender e proporcionar o que há de melhor. Não tenho dúvida de que, assim, evitaremos ou reduziremos os danos no atendimento às pessoas.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (a propósito,  e segundo levantamento elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – Abrelpe –, os aterros do país poderiam reunir uma capacidade instalada de 1,3 GW de energia, o equivalente ao fornecimento adicional de aproximadamente 930 mil MWh/mês, ou seja, um abastecimento superior ao de Furnas – 1,22 GW...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!

          

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A CIDADANIA, OS GRANDES DESAFIOS DO PLANETA, AS CRIANÇAS E OS LIVROS

“O planeta vive hoje uma época de grandes desafios
        Esta época apresenta grandes desafios. Os valores éticos parecem ter desaparecido, os diversos sistemas de governo se mostram inadequados, a violência e a fome aumentam sem limites, a ciência se perde em tecnologias e a Natureza, explorada, reage. Contudo a desesperança está com os dias contados. Um novo estado de ser emerge em vários pontos do planeta, e um número cada vez maior de pessoas começa a reconhecer uma mente superior.
         Pode-se perceber a manifestação espontânea desse novo estado, sobretudo em algumas crianças antes de entrarem na educação comum, com programas escolares que se restringem apenas à parte externa do ser humano. Para a mente superior se expressar nos adultos, estes terão de se determinar a não se estagnar no viver normal, e ir ao encontro da própria  fonte interna de conhecimento, paz e alegria. O certo é que um mundo novo está pronto nas profundezas do coração da humanidade. Por milênios sementes foram plantadas e regadas, e seu despontar, há muito aguardado, agora de deixa vislumbrar.
         Há séculos santa Teresa de Ávila já tinha clareza a respeito do grande tesouro que constitui essa fonte interna no ser humano e do intenso trabalho que em geral de despende para contatá-la. Chegou a dizer que não se deveria desistir, viesse o que viesse, custasse o que custasse, quer se chegasse ao fim, quer se morresse no caminho. A força para trilhar tal senda vem da nossa própria consciência superior, que está fora da influência do tempo e do espaço. E como podemos chegar a isso? Pondo-nos em solidão e olhando para dentro de nós mesmos, recomenda-nos santa Teresa.
         “Sê simples... Sê simples”, sugeriu por sua vez a Mãe, Mirra Alfassa, instrutora do Ashram de Sri Aurobindo, na Índia. Pioneira que em meados do século XX compreendeu profundamente a natureza oculta da vida das células, ela percebeu as imensas possibilidades que o surgimento de um novo estado de ser iria trazer e apresentou chaves para facilitar tal processo. “Todas as complicações vêm da mente e do cérebro”, disse-nos em sua “Agenda”. E o que a Mãe chama de simples nada mais é que uma espontânea alegria na ação, na expressão, no movimento, na vida. Ela propõe o reencontro dessa condição divina, verdadeira e feliz em nossa interior.
         Leis ainda desconhecidas estão vindo à tona na vida de cada um de nós. Temos, hoje, a impressão de estar sempre recomeçando e de que tudo transcorre com mais velocidade. Estamos sendo convidados a transcender o sentido, desenvolvido há tempos e sempre alimentado, de que somos indivíduos separados uns dos outros. Os limites da mente racional estão prestes a ser superados, e este é o momento da transição.
         A partir de suas experiências interiores, a Mãe revelou como ir além desses limites: ao nos sentirmos sob a pressão dos hábitos e da vida comum, devemos recolocar-nos por inteiro no presente, sem a influência das recordações do passado. Assim, com a ajuda, evocada da nossa consciência, o movimento correto se restabelece.
         A humanidade está sendo estimulada a dar um passo para que novas condições de vida possam instalar-se na superfície da Terra. Algumas bases começam a consolidar-se. Para um número crescente de pessoas, metas materiais já não despertam interesse. Sua busca é de fortalecimento da ligação com a essência do ser.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 22 de fevereiro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 21 de fevereiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de VIVINA DO C. RIOS BALBINO, psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, e que merece igualmente integral transcrição:

“Crianças e os livros
        Apesar de algumas falhas, o Enem já é um sucesso, avalia conhecimentos importantes, além de ser aceito por várias e renomadas universidades para ingresso por mérito. Isso é positivo. Mais de 500 mil alunos do ensino médio público e particular com nota zero na redação do Enem 2014 mostram a importância da leitura desde a infância. Acumular conhecimentos, facilitar a fala, a escrita e a elaboração de textos. Os nossos estudantes estão lendo o suficiente? Qual tem sido o papel dos pais e dos professores nessa tarefa? Perigosos modismos e excessiva utilização da tecnologia digital têm distanciado crianças e jovens dos livros. Os adultos também estão em risco? A alta utilização das mídias digitais, como smartphones, tablets, redes sociais e TV, tem afastado as pessoas do convívio familiar. Pais e filhos estariam exagerando nessas mídias e descuidando das relações familiares?
         Sabemos que a boa interação familiar é fundamental para o desenvolvimento de personalidades saudáveis. Pesquisa recente da Universidade de San Diego (EUA) confirma que o diálogo e a boa interação dos pais com os filhos podem reduzir em até 80% o risco de os filhos se envolverem com drogas, crimes e desvios de comportamentos. Importante repensar as práticas familiares atuais e é necessária análise crítica na utilização dessas mídias digitais e de tantos modismos. As redes sociais em excesso quebram a dinâmica familiar, afastam pais dos filhos e podem causar pouca concentração nos estudos.
         Bom convívio familiar, estímulo à leitura e participação dos pais desde a infância são importantes. Segundo a Academia Americana de Pediatria (AAP), os pais devem incentivar a leitura nas crianças e ler para os seus filhos desde muito cedo. A leitura realizada desde cedo até os três anos estimula a aquisição da linguagem, além de ajudar no desenvolvimento de outras capacidades, como comunicação oral e escrita. No Brasil, essa prática existe e deve ser cada vez mais incentivada. Existem bons e atraentes livros infantis e os pais devem exercer sempre a mágica função de contadores de belas histórias.
         O Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler) é, desde 1992, um projeto de valorização social da leitura e da escrita vinculado à Fundação Biblioteca Nacional e ao Ministério da Cultura (Minc) e vem se firmando como presença política atuante e comprometida com a democratização do acesso à leitura.
         O Ministério da Educação (MEC) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) inauguraram novos programas de incentivo à leitura: Biblioteca Escolar, Biblioteca do Professor e Casa da Leitura. A Casa da Leitura distribuiu 50 mil miniblibliotecas para uso comunitário em casas de particulares e gerenciadas por associações de moradores. Secretarias municipais e estaduais de educação recebem 144 títulos das 24 coleções do acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) 2003. Foram investidos cerca de R$ 8 milhões na distribuição de 7,2 milhões de livros, que beneficiarão 50 milhões de pessoas.
         A Biblioteca Escolar atende a 2 milhões de alunos de 10 mil escolas com a distribuição de 1,2 milhão de livros com investimentos de R$ 20 milhões. A Biblioteca do Professor já beneficiou 730 mil professores de 1ª à 4ª série do ensino fundamental de escolas públicas. Nos dois últimos anos, houve distribuição de obras literárias às escolas públicas do ensino fundamental, educação de jovens e adultos e educação infantil, além de revistas pedagógicas para auxiliar o professor da rede pública e o gestor escolar. Serão 15,1 milhões de exemplares de livros e 11 revistas, com um custo de R$ 53,3 milhões.
         Que esse grande investimento do governo seja administrada de forma competente e que todos os alunos, pais e comunidades escolares tenham acesso aos livros. O importante estímulo à leitura deve ser iniciado pelos pais e depois incentivado pelos professores para a formação do hábito da leitura. Com certeza, com essas práticas, não teremos tantos zeros em redações futuras. Livros, revistas com bons conteúdos, documentários, jornais e telejornais que trazem sempre muitas informações, inovações, novos conhecimentos, cultura e muita sabedoria.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação - especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado -, como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional...);

    b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo levantamento elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – Abrelpe –, os aterros do país poderiam reunir uma capacidade instalada de 1,3 GW de energia, o equivalente ao fornecimento adicional de aproximadamente 930 mil MWh/mês, ou seja, um abastecimento superior ao de Furnas – 1,22 GW...);

c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O BRASIL TEM JEITO!