“Os
valores para crescer
Ao passar pelo pátio do
colégio, quando algumas crianças lanchavam descontraídas no período do
intervalo, fui pego de surpresa pela fala de um aluno. Ele veio em minha
direção e disse: “Sérgio, sabe o que eu vou ser quando crescer?”. Antes que eu
falasse algo, prosseguiu: “Um político honesto para acabar com a corrupção”.
Não aguardando nenhuma aprovação ou reação, saiu em disparada voltando para o
grupo de colegas que organizava uma brincadeira.
Esta
cena não me abandonou! Recordei que muitas vezes eu e alguns colegas éramos
indagados sobre o que seríamos quando nos tornássemos adultos. Indagação que,
para mim, sempre foi invasiva, quase uma intimação. Lembro-me de alguns
respondendo que queriam ser advogados, outros, professores, médicos e até
caixas de banco para ter muito dinheiro – coisas de crianças. Ideais que
perpassam pela fantasia infantil e pelos desejos de autorrealização do pai ou
mãe ou espelhados por alguém de referência. Só não me recordo se havia alguém
que queria ser político, não nesses termos, muito menos para acabar com a
corrupção. Talvez, naquele tempo, para a maioria das pessoas e, principalmente
para as crianças, a política era algo distante e difícil de compreender e os
políticos seres intocáveis, que conheciam tudo e sabiam o que fazer.
Com o
passar do tempo, evoluem-se os conceitos e com eles as atitudes. Nessa esteira,
as experiências e vivências escolares devem privilegiar a descoberta de
talentos e criar condições para o aluno construir seu próprio caminho. Os
projetos de orientação profissional, desenvolvidos para os adolescentes em
algumas instituições de ensino, contribuem para uma visão da dinâmica de
mercado referente à oferta e demanda de mão de obra. Porém, importante lembrar
que, há 20 anos, mais da metade das profissões e especialidades atuais não
existiam, o que sugere que estamos educando sujeitos para exercerem também
algumas profissões que existirão somente num futuro distante, preparando-os
para solução de problemas dos quais não temos a mínima ideia. Dessa forma, o
adjetivo “honesto” atrelado pelo aluno ao cargo de político é o grande
sinalizador do trabalho a desenvolver e do cuidado que devemos ter com nossas
crianças. Profissões, cargos e funções se modificam e se extinguem, apenas não
nos podem escapar os valores humanos e éticos.
Torna-se
necessário, a cada dia, avançar na relação com os educandos. Muita coisa mudou
nesses últimos anos e uma que merece atenção é o abandono da concepção que
subestimava a capacidade intelectual das crianças, sendo substituída pela
certeza de que elas são dotadas de conhecimento, de sabedoria, e que esse saber
infantil precisa ser escutado e respeitado. Diferentemente dos discursos morais
ou acadêmicos usados por nós adultos, a criança, por muito tempo tratada como
uma tela em branco à espera de uma pintura por parte de quem educa, carrega
consigo uma visão pura e fecunda do mundo.
Por mais
que tracemos caminhos, não temos plena governabilidade sobre nosso destino.
Para todo objetivo almejado, é preciso levar em conta as variações dos
percursos, os encontros e desencontros. Assim, acredito que a escolha precoce
daquele aluno foi pautada na precariedade do cenário atual da política
brasileira e no excesso de informações desoladoras divulgadas pela mídia e,
paradoxalmente, pode fazer parte de uma fantasia. Porém, o desejo de
honestidade manifestado sobressai à profissão eleita, não cabendo a nós o
desserviço de eliminá-lo.”.
(SÉRGIO
PORFÍRIO. Diretor do Colégio Magnum Buritis, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de julho
de 2017, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
27 de julho de 2017, mesmo caderno e página, de autoria de SÉRGIO MALTA, presidente do Sindicato Interestadual das Indústrias
de Energia Elétrica, e que merece igualmente integral transcrição:
“Desafios
para a energia nuclear
A demanda por energia
elétrica aumenta de forma contínua para atender às necessidades do mundo
moderno e garantir qualidade de vida a uma sociedade cada vez mais exigente.
Este processo impõe às autoridades governamentais de todos os países o desafio
de formular políticas e executar planejamento energético para assegurar a
oferta de energia elétrica, uma busca contínua pelo equilíbrio entre a oferta e
demanda deste insumo fundamental.
Este
desafio vem se tornando cada vez mais complexo e difícil em função das
crescentes restrições ambientais impostas à construção de novas plantas de
geração elétrica. Como não há condições econômicas e energéticas para atender à
demanda de energia elétrica somente com renováveis, como eólica e solar, por
serem fontes interruptíveis, destaca-se a necessidade de buscar fontes que
garantam, simultaneamente, segurança no suprimento da demanda; redução de
emissão de gases de efeito estufa; e competitividade econômica. Entre as que
atendem aos três requisitos, a energia nuclear é uma alternativa que merece ser
estudada.
Apesar
do desenvolvimento e avanço das energias renováveis, impulsionadas pelos
incertezas do preço e da oferta do petróleo, a matriz elétrica mundial continua
baseada em combustíveis fósseis. A térmica (carvão, gás e óleo) representa 68%
da geração do total no mundo, seguida pela hídrica, com 15,8%; nuclear, com
11,7%; e outras fontes renováveis com 4,5%, dados relativos a 2012. Nas
previsões da International Energy (IEA), a geração elétrica vai crescer mais do
que todas as outras formas de energia, com um aumento estimado em 67% até 2035;
Para atender a tal incremento, a geração térmica terá sua participação reduzida
para 57%, a hidrelétrica deverá se manter estável em 16%, e as renováveis devem
atingir 15,6% da geração total no período.
Do
ponto de vista ambiental, destacam-se dois problemas relacionados à geração de
energia elétrica. O primeiro está vinculado às emissões de CO2 pela geração térmica,
pois o setor elétrico foi responsável por 28% das emissões totais no mundo, em
2012. Não por acaso, as maiores nações do mundo assinaram o Acordo de Paris em
2015 que, apesar da desistência dos Estados Unidos em lhe aderir, foi
reafirmado recentemente na reunião do G20 em Hamburgo. E reafirmado pela
decisão do estado da Califórnia em respeitar seus termos e pelas grandes
multinacionais, como ExxonMobil e Apple, para citar algumas, de manter seus
projetos de adoção de fontes alternativas de energia elétrica. O segundo
problema está relacionado à ampliação da geração de energia hidrelétrica por
interferir em ecossistemas que abrigam imensa diversidade de formas de vida
estreitamente ligadas ao livre pulsar dos rios.
Para
atender ao aumento da demanda por energia elétrica, sem comprometer
ambientalmente o desenvolvimento econômico e social, a geração nuclear tende a
se tornar uma alternativa. Este processo já está em curso, pois entre 1971 e
2012, a participação da energia nuclear na geração mundial de energia elétrica
passou de 2% para 11,7%, apesar de o acidente de Fukushima, em março de 2011,
voltar a colocar as centrais nucleares sob forte desconfiança e provocar a
interrupção de programa de usinas nucleares e o adiamento nos investimentos em
escala mundial.
No
mundo, existem atualmente cerca de 440 reatores nucleares em operação
localizados em 30 países, com uma potência instalada total de cerca de 380GW. A
IEA constata que estão em construção cerca de 70 usinas nucleares,
concentrando-se principalmente na China. O insumo da energia nuclear é o
urânio, que tem uma densidade energética muito superior aos recursos fósseis, e
as reservas disponíveis permitem que sua exploração ocorra por um horizonte
temporal mais amplo do que o óleo e o gás.
Além
disso, a geopolítica mundial das reservas de urânio é diferente e bem menos
problemática do que a do petróleo, constituindo-se em um fator estratégico em
termos de segurança energética. Outra vantagem: uma usina nuclear apresenta o
menor impacto ambiental em termos de emissões de CO2. Levando-se em conta o
ciclo de vida da energia nuclear, ela é, ao lado da eólica e da hidrelétrica, a
de menor emissão. Cabe destacar que as centrais nucleares geram energia
elétrica sem interrupção, operando 24 horas por dia, 11 meses por ano,
tornando-se apta a dar segurança para a operação dos sistemas elétricos.
As
incertezas sobre a energia nuclear estão relacionadas à questão vital da
segurança. Embora o reduzido número de acidentes nucleares possa ser interpretado
como um indicador de segurança, os impactos sobre o meio ambiente e as
populações permanecem como um problema a ser enfrentado. Esse conjunto de
questões está exigindo muito esforço, recursos e pesquisas para o
desenvolvimento de tecnologias que garantam mais segurança, dado que a energia
nuclear terá, cada vez mais, um papel estratégico: garantir a oferta de energia
elétrica para um mundo cada vez mais dependente desse insumo e que precisa
reduzir dramaticamente o aquecimento global, como nos alerta o recente desprendimento
de um iceberg de um trilhão de toneladas da plataforma de gelo na Antártida.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em junho/2017 a ainda estratosférica
marca de 378,30% nos últimos doze meses,
e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 322,60%; e já o IPCA
também no acumulado dos últimos doze meses chegou a 3,00%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação,
saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e,
assim, é crime...); III – o desperdício,
em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e
danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no
artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança
das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de
infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à
luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização
das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
- Estamos
nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...