quarta-feira, 27 de março de 2013

A CIDADANIA, O TROTE E A VISÃO EVOLUTIVA DO APRENDIZADO


“Trote nosso de cada dia

Um dos fatos marcantes desta semana foi a divulgação de fotografias de calouros da Faculdade de Direito da UFMG em situação de constrangimento, com atitudes de racismo, fascismo e sexismo comandadas por alguns sorridentes alunos veteranos. Tratava-se do trote, uma instituição tão antiga como odiosa, que tem como “justificativa” o cumprimento de provas iniciáticas para que se configure o pertencimento dos novos postulantes a um lugar social de destaque. Com as mesmas explicações, atitudes semelhantes são observadas em outros contextos e sociedades. O que mostra que podemos ser ruins em matéria de humanismo em todos os lugares do mundo.
O que seria a repetição de um ritual ultrapassado e violento, cobrando ações de vigilância mais estritas e punições mais exemplares, no entanto parece simbolizar uma forma de autoritarismo que teima em deixar marcas numa sociedade pretensamente democrática e republicana. O que se viu guardado pelos muros da universidade foi uma atitude que repercute valores de exclusão social, discriminação, violência e certa arrogância de impunidade, dado o jeito orgulhoso com os torturadores morais possam para fotos.
Curiosamente, a imprensa de todo o país, mesmo condenando o ato, foi bastante condescendente com seus agentes, que, em atitude criminosa explícita (pelo menos racismo e cárcere privado – um estudante foi atado a um poste e outra acorrentada), tiveram seus rostos desfocados nas fotos, empenho que não se observa quando se trata de pessoas de outro meio social. Além disso, num exercício de negaceio, os crimes eram apresentados mais como decorrentes do sucesso do vazamento das imagens nas redes sociais do que por seu potencial de violência explícita.
Essa ambiguidade talvez retrate alguns aspectos que caracterizam o autoritarismo brasileiro, que tem nítidos elementos de classe. Não somos mais autoritários que os outros, mas possuímos elementos de distinção que vêm se fortalecendo historicamente. O fato de o trote ter sido flagrado numa universidade pública (de acesso mais difícil) e num curso de direito (território da legitimação social) torna ainda mais significativo o viés classista, em sua utilização de signos como a escravidão e a saudação nazista, típica da nova direita, que recusa a convivência com outras etnias e com migrantes.
O que caracteriza o autoritarismo brasileiro, do qual a atitude dos alunos, em sua irresponsabilidade, seria um exemplo selvagem, sem mediação aparente da cultura e das normas internalizadas? Quem melhor dissecou a face tipicamente brasileira do nosso autoritarismo foi a pensadora Chauí, em textos que servem ao mesmo tempo como instrumento de análise, reflexão e chamamento ético à ação transformadora da sociedade.

DESIGUALDADE Em primeiro lugar, o autoritarismo no Brasil parte da recusa da aceitação da igualdade. O mais básico dos princípios liberais, no país, se torna quase uma postulação política. A igualdade formal no Brasil é sempre coadjuvante da desigualdade nas relações sociais. O que era para ser diferença é tornado, na prática social, como inferioridade. É o que explica a homofobia, o racismo e o machismo, observados todos os dias, e, num extremo de anomia, a capacidade de guindar um deputado confessadamente racista e homofóbico ao posto de presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados ( o grave é que, no terreno da formalidade, tudo parece ser um desvio pessoal, quando se trata de um arranjo político que envolve todo o sistema representativo e a integralidade do processo de elaboração do ordenamento jurídico nacional).
         O segundo aspecto do autoritarismo pátrio é a tradução do princípio anterior  (a recusa da igualdade) numa impossibilidade prática de atitudes críticas e de contestação. Em outras palavras, marcados de nascença pela desigualdade estrutural, a sociedade traduz esse prejuízo em leis e atitudes  (repressão) que tendem a naturalizar o que é uma violência social. As normas existem para preservar privilégios, a repressão tem a função de silenciar as camadas populares, o aparelho jurídico é estruturado para garantir vantagens históricas, e não para instituir novos direitos.
         Vem daí, por exemplo, a noção de democracia praticada no país, que fortalece o polo do consenso e criminaliza o do conflito. Democracia deveria supor os dois lados, o acordo e o debate. Assim, o exercício dos protestos, a agitação social contra as injustiças, as ações de ocupação de terras improdutivas e áreas urbanas com déficit de moradia são sinal de vitalidade democrática. No entanto, a resposta, em nome da democracia fundada nos acordos de interesses particulares, traduzida em consensos que deveriam ser reformados, é sempre o cumprimento estrito das atitudes de repressão contra aquelas ações.
         O terceiro elemento do autoritarismo no Brasil, também identificado no caso do trote, é a indistinção entre as esferas pública e privada. Não parece haver no país uma percepção do público como espaço coletivo, mas apenas como terreno de exercício dos apetites privados de setores privilegiados. Do mesmo modo que o público é privatizado, o privado perde sua dimensão de intimidade quando serve aos interesses econômicos e políticos. Nosso autoritarismo é mestre em se apropriar do que é de todos e em invalidar a manifestação da individualidade dos cidadãos comuns.
         Por fim, na lista de defeitos de origem do autoritarismo tipicamente nacional estão a naturalização das desigualdades, operadas a partir do consenso vicário oferecido pelos meios de comunicação, e o fascínio pelos sinas de riqueza, poder e prestígio. Para adentrar no território dos doutores (é impressionante como os advogados gostam tanto do título que se chamam entre si de doutores o tempo todo, até mesmo nas relações menos formais) é preciso merecer. O merecimento, no caso brasileiro, é dado pela submissão a todos os preceitos acima e até mesmo a provas bem menos nobres, como trotes e outras ações de constrangimento ilegal, entre elas o puxa-saquismo explícito, pragas das mais reincidentes.
         Somos autoritários ao nosso modo. E, também com singular disposição, validamos a injustiça que daí decorre em vários momentos de nossa vida. Estudantes que se submetem ao vexame dos trotes apenas reproduzem, onde seria de esperar que estivessem livres em razão de sua posição social, atitudes consideradas justificadas  na vida do trabalhador comum. São situações diárias, como a revista no local de trabalho, a ameaça à participação sindical ou política, a cobrança de comportamento evasivo em matéria de sexualidade, a exigência de silêncio frente aos inúmeros assédios morais, entre outros. Trotes invisíveis que humilham no dia a dia. Isso para ficar apenas no campo do trabalho.
         A saída para o autoritarismo é um misto de denúncia tenaz e corajosa e de postulação de novos contextos de sociabilidade. Em outras palavras, de criação de um campo social de lutas que vá além do jogo viciado de um Estado sacralizado, de uma sociedade satisfeita em sua desigualdade, de uma política reduzida ao marketing narcisista e de uma democracia de meros procedimentos.
         A academia, que agora está no centro da roda com o trote dos acadêmicos de direito, tem obrigação não apenas de resolver essa questão de forma exemplar, como também de iluminar com conhecimento uma sociedade que permite tais abusos. Esse retrato não pode ser desfocado: é preciso que a universidade mostre sua cara.”
(JOÃO PAULO. Editor de Cultura, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 23 de março de 2013, caderno PENSAR, coluna OLHAR, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na Revista VEJA, edição 2313 – ano 46 – nº 12, de 20 de março de 2013, páginas 94 a 96, de autoria de GUSTAVO IOSCHPE, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“A visão evolutiva do aprendizado
        
         Até Freud, que só pensava... naquilo, reconheceu a descoberta mental como uma importante fonte de prazer para o homem em “A civilização e seus descontentes”. De fato, há poucas atividades mais estimulantes do que aprender coisas novas, conseguir perceber a luz onde antes só havia trevas.
         O aprendizado ocorre no cérebro. Durante muitos séculos, o cérebro foi tratado como uma caixa-preta, à qual não podíamos ter acesso direto, e cujas maquinações só poderiam ser depreendidas por meio da observação cuidadosa e perspicaz do comportamento de pessoas. A maioria dos profissionais de educação ainda subscreve esse paradigma. Sua visão sobre o funcionamento cerebral e, portanto, formada pelas hipóteses não científicas de pensadores da virada do século XIX para o XX, especialmente Jean Piaget (1896-1980),  Lev Vygotsky (1896-1934) e Henri Wallon (1879-1962).
         Desde essa época, porém, a compreensão que temos do cérebro fez grandes avanços, e a neurociência está conseguindo ligar habilidades e comportamentos humanos a áreas e processos cerebrais específicos, abandonando o modelo “caixa-preta” por outro em que o cérebro é percebido como um órgão material, que tem uma fisiologia, no qual agem células, neurotransmissores etc. Uma das descobertas que essa ciência já conseguiu fazer é que, ao aprendermos, mudamos a própria arquitetura física do órgão. Como bem descreve, no fascinante In Search of Memory, Eric Kandel – um dos líderes da pesquisa nesse campo, vencedor do Nobel de Medicina por suas contribuições –, a formação de uma memória de longo prazo altera nossa rede neuronal em pelo menos duas maneiras: não só aumenta a força do sinal da sinapse na área relevante como cria novas sinapses (as estruturas neuronais que permitem a passagem de um sinal químico ou elétrico entre neurônios vizinhos). É tão impossível entender como seres humanos aprendem sem compreender o funcionamento do cérebro quanto querer chegar de um lugar a outro sem saber o que são ruas, estradas, rios e pontes. E a maneira responsável de buscar esse conhecimento é por meio da ciência. Por mais brilhante que seja um observador da fase pré-científica, ignorar todo o avanço da ciência nas últimas décadas seria não apenas anacrônico como irresponsável.
         Um dos insights mais importantes desse período de pesquisa é que o cérebro é, assim como um olho ou braço, fruto de um processo evolutivo, moldado ao longo de centenas de milhares de anos para aumentar nossas possibilidades de reprodução e sobrevivência. Como bem mostra Steven Pinker em livros como How the Mind Works e The Blank Slate, a ideia de que nosso cérebro é uma tábula rasa cujos conteúdos são preenchidos exclusivamente por processos culturais é equivocada. Entre os muitos achados dessa visão evolutiva está a descoberta de que o cérebro evita o pensar. Pensar é uma atividade dispendiosa, tanto em termos de tempo como de energia, e sempre que possível o cérebro substitui o pensamento por um procedimento automático gravado na memória. (Já imaginou como seria impossível, por exemplo, dirigir um carro, se a cada esquina precisássemos pensar como fazer uma curva, como indicar aos outros motoristas que estamos dobrando, calcular o ângulo certo da virada do volante, pensar onde está a alavanca do pisca-alerta etc.?)
         Como mostra o psicólogo cognitivo Daniel Willingham em Why Don’t Students Like School?, o cérebro pensa em duas situações: quando é estritamente necessário (não há procedimento na memória que nos ajude) e quando nós acreditamos que seremos recompensados por resolver determinado problema. A recompensa? Pequenas doses de dopamina, um poderoso neurotransmissor associado aos circuitos de prazer do cérebro, liberado quando se resolve uma questão (e também durante o consumo de cocaína). Para que a dopamina seja liberada, o fundamental é calibrar a dificuldade do problema. Se ele é fácil demais e o aprendiz já sabe a resposta antes de pensar, não há pensamento nem, portanto, dopamina. Se ele é difícil demais e a pessoa já pressente que não conseguirá encontrar a solução, o cérebro “desliga-se”: não havendo a possibilidade de dopamina, não vale a pena gastar o maquinário neural.
         Mas o que é, em termos neurológicos, pensar? Pensar é combinar informações de maneira diferente. Essas informações podem vir do ambiente externo e/ou da memória de longo prazo. A memória de longo prazo é aquela que armazena informações e processos que estão fora da nossa consciência imediata. A tabuada, por exemplo: ela não estava na sua mente antes de eu mencioná-la e desaparecerá de nova em alguns minutos, mas, sempre que você precisar fazer uma multiplicação, ela virá, facilmente, à mente. O local do cérebro em que esse novo processamento de informações se dá é a memória operacional (ou de “trabalho”, do inglês working memory). A memória operacional tem capacidade limitada – e, quanto mais perto ela estiver de seu limite, mais difícil vai ficando pensar. Sua capacidade é determinada geneticamente. Pensar bem, portanto, envolve quatro variáveis: informações externas, do ambiente; fatos na memória de longo prazo; procedimentos na memória de longo prazo; e o tamanho do espaço disponível na memória operacional.
         A primeira implicação dessa descoberta é que o domínio de fatos não apenas ajuda no ato de pensar: ele é indispensável. Como mostra Willingham, décadas de pesquisa em ciência cognitiva revelam que, se você não domina as informações básicas de determinado assunto, não conseguirá ter um raciocínio analítico/crítico a seu respeito. Até a leitura se torna mais fácil se o cérebro já conhece o assunto em questão: a pesquisa mostra que uma pessoa com ótima habilidade de leitura e pouco conhecimento de um assunto entende menos de um texto sobre aquele tema do que outra pessoa que lê mal mas conhece o assunto. A ideia atualmente em voga de que não é necessário ensinar informações a alunos, já que elas estão disponíveis na internet, é, portanto, furada. O desafio não é ensinar sem memorização (o que é impossível), mas memorizar apenas o necessário para desenvolver as habilidades de pensamento crítico, descartando aquilo que é memorizado somente com o objetivo de ser regurgitado novamente em uma prova.
         Se a memória é importante, surge a outra pergunta fundamental: como o cérebro memoriza? Nosso cérebro ficaria sobrecarregado se memorizássemos tudo o que aprendemos? A maioria do que aprendemos passa pela memória de trabalho e é descartada, não chegando nunca à memória de longo prazo. Como decidimos o que é armazenado? Infelizmente isso não depende da nossa vontade de memorizar algo ou apenas da quantidade de vezes que tenhamos tentado. O cérebro decide da seguinte maneira: se você pensa cuidadosamente sobre algo, é porque é importante para você e provavelmente precisará ser pensado novamente – e, assim, deve ser retido. Na formulação de feliz de Willingham, “a memória é o resíduo do pensamento”. Se você pensar sobre algo e o entender, provavelmente vai se lembrar depois. Veja que essa compreensão deixa claro que o processo do pensamento é cumulativo: quanto mais se pensa, mais se conhece – e, quanto mais se conhece, mais fácil é o pensamento, e assim sucessivamente. Por isso é que crianças que vêm de situações de menos estímulo intelectual em casa precisam de uma escola excepcionalmente boa, e nos primeiros anos de ensino, para equiparar o jogo. Do contrário, os filhos de privilegiados terão uma vantagem exponencial e insuperável ao fim do processo escolar.
         E como um instrutor faz para que um aluno pense em algo? Provavelmente a resposta mais comum dos nossos professores seja “fazer com que aquele conteúdo tenha relevância para a vida do estudante”, apostando que a ligação emocional do assunto com a vida do aprendiz desperte sua atenção. A ciência da cognição sugere que essa não é uma boa aposta: existe uma relação entre emoção e memória, mas a emoção precisa ser bastante forte para que tenha impacto na memória, e claramente há poucos assuntos de um currículo que poderão ser ensinados assim. A chave para o aprendizado não está no que é ensinado, mas em quem o ensina e como. Deve haver uma conexão pessoal entre o aluno e seu mestre, e para que haja essa ligação o instrutor precisa ser percebido como uma pessoa do bem por seus alunos e ter uma aula bem organizada. Se não existir essa conexão pessoal ou se o material a ser ensinado não estiver bem organizado, não haverá aprendizagem. (Uma dica dos neurocientistas sobre como organizar o material: o cérebro humano adora histórias. Conte uma história.)
         A última lição da ciência da cognição é sobre a importância da repetição. Repetir um aprendizado aumenta nossas chances de dominá-lo. Primeiro, porque a repetição espaçada é um antídoto contra o esquecimento. Segundo, porque a repetição faz com que certos procedimentos sejam automatizados e, assim, possam sair da memória operacional e ir para a memória de longo prazo. Lembre-se: pensar ocorre quando combinamos novas informações, vindas do ambiente e/ou da memória de longo prazo, e isso acontece na memória de trabalho. Quanto mais espaço livre tivermos na memória de trabalho e quanto mais informações tivermos na memória de longo prazo, melhor será nossa capacidade de pensamento. A prática importa porque faz as duas coisas: ao automatizar processos, libera espaço na memória de trabalho e enriquece a memória de longo prazo.
         Talvez seja por isso que, apesar das reclamações de milhões de alunos e de séculos de tentativas de reforma educacional, a maioria das boas escolas de hoje não difere muito da Academia de Platão, de quase 2 500 anos atrás. O modelo socrático-platônico – no qual um professor emocionalmente envolvido com seus alunos é capaz de transmitir seus conhecimentos de maneira organizada e estimulante, exigindo ao mesmo tempo esforço contínuo de seus alunos – parece ter descoberto intuitivamente o que a ciência de dois milênios depois referendaria sobre o funcionamento de nosso cérebro. A escola continuará passando por muitas evoluções e refinamentos, mas revoluções só devem dar certo se nosso cérebro for significativamente alterado.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
             
     c) a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

segunda-feira, 25 de março de 2013

A CIDADANIA, A ÁGUA, A VIDA E A OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES


“A água não é infinita

Temos um território vasto, repleto de florestas e de rios na maioria das regiões. Contamos com cerca de 11% da água doce do planeta. Parece pouco mas não é. O Brasil é o primeiro em disponibilidade hídrica em rios em todo o mundo. O Amazonas é o maior em extensão e volume de água.
As condições climáticas e geológicas permitem ainda a precipitação abundante de chuva e a consequente formação de uma extensa e rica bacia hidrográfica. A exceção dessa regra está na região Nordeste, conhecida pelas grandes estiagens, pelo clima seco e rios temporários.
Essa falsa sensação de abundância talvez tenha gerado uma cultura inadequada em relação a esse recurso. Desde criança nos acostumamos a brincar com a água. Seja na torneira ou numa mangueira, em clubes, lagos e cachoeiras, nos divertimos a valer usando e abusando dela. Vamos crescendo e nos acostumando a ter água limpa sempre disponível.
Basta abrir uma torneira e usá-la sem a menor dor na consciência. Nunca nos questionamos sua origem antes de ela chegar limpa em nossas casas e, nem mesmo, o que acontecerá com ela depois de utilizada. Sabemos que existe um processo, mas não nos perguntamos o quanto é complexo executá-lo e quanto isso custa verdadeiramente aos nosso bolsos e às nossas vidas.
É preciso saber que a taxa de desperdício está entre 50% e 70%. Significa dizer que para cada litro consumido, metade foi desperdiçada. As perdas ainda do processo de distribuição por meio de furtos ou vazamentos estão entre 40% e 60%. A qualidade do recurso após o consumo também é preocupante. A urbanização, a industrialização e o mau uso de produtos agrícolas são extremamente impactantes. Soma-se a esse cenário o problema do saneamento básico que despeja, em média, 90% dos esgotos domésticos e 70% dos afluentes industriais sem tratamento diretamente nos cursos de rios, açudes e mares.
Se adicionarmos ainda o lixo residencial, hospitalar e industrial que acaba sendo despejado às fontes hídricas, tornamos não renovável um recurso, que, em condições normais, deveria ser. Foi assim que descobri que a água não é infinita. Para muitos, ela vale ouro. Para outros é a única fonte de esperança.
No Dia Mundial da Água não devemos comemorar, mas devemos refletir sobre o que estamos fazendo por ela. Os governos deveriam trabalhar para melhorar o saneamento e ampliar as estações de tratamento. Deveriam ainda fiscalizar e penalizar empresas que poluem. Para o setor agrícola deveriam pensar numa melhor estruturação, no intuito de evitar os desperdícios e a contaminação de lençóis freáticos.
Para cada cidadão, resta o comportamento consciente: reaproveitar a água da chuva; usar somente o necessário, quando necessário; construir casas que tenham instalações hidráulicas privando pela economia e reaproveitamento; não roubando água; entre outras medidas. Estudos comprovam que o uso responsável permitiria que 90% das atividades modernas se realizassem com água de reuso. Por enquanto é uma utopia, mas, poderíamos torná-lo um objetivo para o médio prazo. Grandes mudanças são requeridas e começam com cada um de nós. Do contrário, será que teremos águas abundantes amanhã?”
(FÁBIO PESSOA. Professor de meio ambiente e sustentabilidade da Estácio, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Igreja dos pobres
        
         O papa Francisco disse durante encontro com jornalistas, na semana de sua eleição como sucessor do apóstolo Pedro, que a Igreja deve ser, especialmente, dos mais pobres. Esse é o desejo mais profundo do coração de Deus. Jesus, na admirável passagem sobre o juízo final, narrada em parábolas pelo evangelista Mateus, sublinhou: “Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mateus 25, 40). Jesus deixa, assim, uma clara lição aos seus discípulos, que deve ser sempre assumida pela Igreja como importante compromisso.
         O Concílio Vaticano 2º, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, dezembro de 1965, afirma que “as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias  dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e daqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”. Assim, a voz do papa Francisco, fazendo ecoar esse desejo e sonho de Jesus, reacende no coração da Igreja a chama da opção preferencial pelos pobres. Essa opção, na sua força espiritual e suas consequências concretas na vida e nos empenhos, é um indispensável remédio que modula a Igreja, povo de Deus, comunidade de discípulos, com as orientações de seu Mestre e Senhor.
         Gesto primeiro e permanente é contemplar os rostos dos sofredores que doem em nós, sublinha o Documento de Aparecida, fruto da 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos e Caribenhos, focalizando as pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades, as vítimas da violência familiar, os imigrantes, os enfermos, os dependentes de drogas, encarcerados, os que carregam o peso e as consequências da discriminação, preconceitos, falta de oportunidades, além dos excluídos da participação cidadã. O papa Francisco, que esteve presente e participou de maneira decisiva da 5ª Conferência, convida a Igreja a viver o pacto ali assumido e assim detalhado no Documento de Aparecida: “Comprometemo-nos a trabalhar para que a nossa Igreja latino-americana e caribenha continue sendo, com maior afinco, companheira de nossos irmãos mais pobres, inclusive até o martírio”.
         Francisco indica um caminho que para ser percorrido, com eficácia, precisa de vigor espiritual, da coragem da profecia e da alegria verdadeira que só brota no coração de quem compreende bem o desejo de Deus. A Igreja está, pois, pela palavra e gestos do papa, a revisitar os tesouros da fé cristã, banhando-nos neles para alcançar uma compreensão espiritual capaz de conferir novos rumos à vida pessoal, organização eclesial e à sociedade. Uma via que deve se concretizar com o modelo da globalização da solidariedade e justiça internacional. Esse compromisso nascido da fé em Jesus Cristo irradia luz sobre o caminho renovador que a Igreja é chamada a trilhar, com força e tarefa de inspirar a sociedade a fazer novas escolhas, responsável que ela é também pelos pobres da Terra.
         A simplicidade que emerge de uma Igreja para os pobres há de alcançar raízes que tocam o mais profundo das diversas organizações sociais, exigindo mais transparência, singularmente na conduta pessoal, e a coragem de uma presença profética na vida dos necessitados, nas relações sociais e políticas. São urgentes ações na configuração de projetos, obras, diálogos, cooperação e comprometimentos que construam um rosto novo para a sociedade contemporânea, sem as rugas das exclusões produzidas ou das corrupções praticadas.
         Que a Igreja renove sempre sua opção preferencial pelos pobres, realizando projetos grandes ou pequenos, de menor ou maior significação, para reencontrar o ouro de sua fé e os caminhos para que ninguém sofra da mais terrível pobreza: a distância de Deus. Contemplar-se como Igreja para os pobres é viver uma recuperação pujante, revisão humilde e corajosa de atitudes, no compromisso com o bem e com a verdade, anunciando o reino de Deus. O broto de esperança desse tempo guarda potencial inesgotável para a novidade da Igreja de Cristo, no cumprimento de sua missão ampla e complexa , de ser dos pobres para os pobres.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção de nosso País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento  –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
    
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tamanha sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação; saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente;  habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; logística; turismo; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; esporte, cultura e lazer; minas e energia; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileira e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

sexta-feira, 22 de março de 2013

A CIDADANIA, A HORA DO BOM GOVERNO E O VERDADEIRO MILAGRE


“Hora de institucionalizar o governo
         
         Por um lugar ao sol palaciano, se é capaz de tudo, pois, para alguns, estar fora dos holofotes governamentais soa como um nada absoluto. Pobre país este que navega sem norte entre homens públicos medíocres, partidos tíbios e um sistema político completamente assistemático. Entre tantas sandices e incredulidades, que transbordam na cena pública atual, os homens e mulheres de bem são insistentemente provocados por uma incômoda indagação: será que há solução?
         Pois bem. A solução necessariamente existe; a questão é saber onde ela está. Sabidamente, a democracia é – e sempre será – uma obra inacabada a exigir um permanente devotamento cívico em prol do progressivo aperfeiçoamento político da nação. Nesse contexto, chegamos a um ponto crítico do sistema político brasileiro: a corrupção e a imoralidade vicejam em um país carente de referências políticas de envergadura. Por que? Ora, o motivo é único: o sucesso democrático depende de partidos fortes, conscientes e responsáveis. Sem bons partidos não há boa política. E, sem boa política, não há bons políticos.
         A realidade está aí e não nos deixa mentir. Sem o esteio partidário, a democracia, em vez de se transformar em um sistema político orgânico, vira pura e simplesmente uma projeção pessoal de poder. Infelizmente, a Constituição de 88 não tem tido êxito no processo republicano de institucionalização do governo. Na verdade, entre a lei e a realidade social existe o hiato da política, aquele espaço do possível que procura dar cores de pragmatismo  à utopia do ideal. Por assim ser, quando a política vai bem a realidade se aproxima do plano teórico da norma; já quando a vida pública fracassa, a lei fica desamparada de sua necessária efetividade material.
         Sem cortinas, o sistema político brasileiro, em vez de estimular a formação e o desenvolvimento dos partidos, privilegia o passar de personalismos passageiros. Aliás, em certas atitudes, os egos andam tão elevados que existem aqueles que pensam estar acima do bem e do mal; chegam ao ponto, inclusive, de desmerecer soberanas decisões da colenda Suprema Corte. Frisa-se que a crítica técnica e bem-intencionada é sempre bem-vinda, pois faz pensar e refletir. Agora, a ofensa institucional é algo baixo e desprezível, não podendo ser admitida em uma nação que se queira civilizada.
         Entre os muitos aperfeiçoamentos que temos a fazer, é urgente e necessário institucionalizar o governo. Não é possível que, a cada eleição, a estrutura pública seja desmantelada para atender os interesses da casta partidária. Ora, o governo é do Brasil e, não, desse ou daquele partido. Logo, a confusão entre máquina pública e interesses partidários apenas serve para cavar valas de clientelismo no seio das instituições públicas nacionais.
         Em um autêntico Estado constitucional de direito, o governo deve representar segurança jurídica, previsibilidade de condutas, cumprimento da lei e efetiva responsabilidade contra eventuais transgressões políticas. Por conseguinte, um governo firmemente institucionalizado evita o parasitismo e a demagogia de maiorias parlamentares eventuais que apenas querem o poder pelo poder. O tempo corre e precisamos de dias melhores. Acontece que nada muda por inércia.
         A política não mudará por milagre nem por graça dos céus. É necessário agir e colaborar em maior grau e profundidade. Precisamos, definitivamente, assumir a responsabilidade pelos deveres da democracia que impõem a cada cidadão a obrigação de participar ativamente das questões de interesse público. A inação cívica apenas tem o condão de fazer o nada, permitindo o silencioso desmanche das estruturas éticas das instituições republicanas. Está chegada a hora de o Brasil se reencontrar, definitivamente, com seus bons cidadãos. Até quando deixaremos que poucas dezenas de políticos rasteiros prejudiquem o destino de milhões de brasileiros decentes?”
(SEBASTIÃO VENTURA PEREIRA DA PAIXÃO JR.. Advogado, especialista do Instituto Millenium, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 20 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff, de Mística e espiritualidade (Vozes), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Crer em milagres
         
          Desde o surgimento da agricultura, quando o ser humano já não dependia da fase coletora e extrativa, tenta-se domesticar a natureza, impor-lhe limites, desviar o seu curso, exigir que ela não siga suas leis intrínsecas, e sim a nossa lógica voltada ao lucro. Assim, represamos rios, reduzimos o ímpeto das marés, quebramos a escuridão da noite, logramos fazer voar o que é mais pesado do que ar.
         A razão moderna desencantou o mundo. E a primeira vítima foi o milagre que a ciência tenta expulsar do mundo e da mente humana. A crença no milagre revela certa noção de Deus. Seria ele como um encanador, que, tendo cometido erros em sua obra, a todo momento precisa correr aqui e ali para corrigir defeitos imprevistos? Ele livra da doença os filhos preferidos e não os preteridos? Fica atento a quem mais emite súplicas e premia a insistência com o milagre?
         A razão moderna considera que só a ignorância enxerga milagres na ordem natural das coisas. Milagre é quando se desconhecem as leis da natureza, assim como é mágica o que provoca e esconde o truque. O que hoje é tido como milagre será desvendado amanhã pela ciência, como faz na TV o Fantástico em suas reportagens sobre a origem ordinária de fatos extraordinários?
         Há teólogos que restringem a ação divina ao ato da criação. Deus, ao criar, teria dotado a natureza de leis que, como o mecanismo do relógio, funcionam sem que o relojoeiro precise interferir. Se ocorrem imperfeições na criação não é culpa de Deus. Há que buscar as causas na ação humana sobre a natureza e na nossa ignorância, que percebe como defeito o que para Deus seria mero e previsível  efeito.
         As Igrejas demonstram uma posição ambígua diante do milagre. Umas admitem a onipotência divina, o poder de Deus em operar mudanças substanciais no rumo natural das coisas e, ao mesmo tempo, miram com ceticismo qualquer evento que, por seu caráter extraordinário, é tido como milagre.
         As igrejas neopentecostais emulam a fé dos fiéis por meio de sucessivos milagres, em especial os que restabelecem a saúde. Já as igrejas históricas suspeitam da profusão de milagres. A ponto de o Vaticano, nos processos de canonização, nomear um “advogado do diabo” incumbido de desmoralizar fenômenos nos quais a fé identifica origem miraculosa.
         Muitos procuram em Deus a capacidade de operar milagres. Um Deus-mágico, capaz de tirar, de sua onipotente cartola, todo tipo de curas e bênçãos. Um Deus disposto, a todo momento, a contrariar e mesmo subverter as leis da natureza que ele mesmo criou. Um Deus criado à nossa imagem e semelhança.
         O que fez Moisés, naquele mundo politeísta, para convencer o faraó de que Javé era um Deus especial, diferente dos demais? Apresentou-lhe uma série de milagres. E ao se convencer de que o faraó se mantinha obstinadamente apegado a seus deuses egípcios, então recorrer às sucessivas pragas.
         O Deus-espetáculo é tão paradoxal quanto o Deus-utilitário. Enquanto no dólar usamericano está impressa a inscrição “In God we trust” (Nós confiamos em Deus), os soldados nazistas traziam inscrito na fivela do cinto: “Gottmit uns!” (Deus está conosco).
         E o Deus de Jesus, está com quem? Onde ele fica em tudo isso? Jesus agia com discrição, pedia aos discípulos para não fazerem alarde quanto à identidade dele, e ao curar não atribuía o mérito a si, e sim ao fiel: “A tua fé te salvou”.
         O verdadeiro milagre de Deus é a presença de Jesus entre nós. Presença nada espetacular (nasce numa estrebaria e morre assassinado na cruz) e incômoda (entra em choque com as autoridades religiosas e políticas). Não era a ordem da natureza que lhe interessava mudar e sim o coração humano, para impregná-lo de amor, compaixão e justiça. Desconfio da fé que necessita da muleta dos milagres para se sustentar. É a fé-bilhete de loteria: adquiro-a na expectativa de ser sorteado. Em nada mudo minha atitude. Fico à espera de que Deus mude a dele.
         É frequente encontrar quem tenha fé em Jesus. O raro é se deparar com quem tenha a fé de Jesus, que o levou a se posicionar em defesa dos oprimidos e excluídos em nome de um Deus amoroso e misericordioso. A vida humana  é, sem dúvida, o maior de todos os milagres. Mas ele não nos causa impacto. Não cremos nele. Tanto que somos indiferentes a tantas vidas ceifadas precocemente pela miséria e a violência.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, graves e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (a propósito, é razoável contabilizar, apenas, o custo das perdas e danos causados pelo atual caos rodoviário/portuário na comercialização da safra de grãos 2012/2013?);
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; esporte, cultura e lazer; logística; turismo;comunicações; minas e energia; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  
      

quarta-feira, 20 de março de 2013

A CIDADANIA, O PAPA, A QUALIDADE DO JORNALISMO E A FELICIDADE INTERNA BRUTA


“Papa, megacobertura

Uma megacobertura. Não há outra palavra para definir o volume de informação a respeito da Igreja Católica. A surpreendente renúncia de Bento XVI, os bastidores do conclave, o impacto da eleição do primeiro pontífice da América Latina e a próxima Jornada mundial do Juventude, encontro do papa com os jovens, em julho no Rio de Janeiro, puseram a Igreja no foco de todas as pautas.
A cobertura do Vaticano é um case jornalístico que merece uma análise técnica. Algumas patologias, evidentes para quem tem olhos de ver, estiveram presentes em certas matérias da imprensa mundial: engajamento ideológico, escassa especialização e preparo técnico, falta de apuração, reprodução acrítica de declarações não contrastadas com fontes independentes e, sobretudo, a fácil concessão ao jornalismo declaratório.
Poucos, por exemplo, aprofundaram no verdadeiro sentido da renúncia de Bento XVI e na qualidade de seu legado. O papa emérito, intelectual de grande estatura e homem de uma humildade que desarma, sempre foi julgado com o falso molde de um conservadorismo exacerbado. Mas, de fato, foi o grande promotor da implantação do Concílio Vaticano 2º, o papa que mais avançou no diálogo com o mundo islâmico, o pontífice que empunhou o bisturi e tratou de rasgar o tumor das disputas internas de poder e o câncer dos desvios sexuais.
Sua renúncia, um gesto profético e transgressor, foi um ato moderno e revolucionário. Bento XVI não teve nenhum receio de mostrar ao mundo um papa exausto e sem condições de governar a Igreja num período complicado e difícil. Foi sincero. Até o fim. Ao mesmo tempo, sua renúncia produziu um vendaval na consciência dos cardeais. A decisão, inusual nas plataformas de poder, foi a chave para o início da urgente e necessária reforma da Igreja. O papa emérito, conscientemente afastado das bajulações e vaidades humanas e mergulhado na sua oração, está sendo uma alavanca de renovação da Igreja.
Nada disso, no entanto, apareceu na cobertura da mídia. Faltou profundidade, análise séria, documentação. Ficamos, todos, focados nos boatos, nas intrigas, na ausência de notícia. Falou-se, diariamente, do relatório dos cardeais ao papa emérito denunciando supostos escândalos no Vaticano. Mas ninguém na mídia, rigorosamente ninguém, tece acesso ao documento. Os jornais, no entanto, entraram de cabeça no mundo conspiratório. Suposições, mesmo prováveis, não podem ganhar o status de certeza informativa.
Escrevia-me, recentemente, um excelente jornalista. Acordei hoje cedo, li os jornais e me perguntei: sou só eu a me indignar muito com a proliferação de “informações” inverificáveis, oriundas de fontes em off the record  ou de documentos “sigilosos” sobre os quais não há nenhum outro dado que permita verificar sua realidade e consistência? Ninguém se questiona sobre tantos “furos” obtidos por jornalistas que escrevem a distância “reportagens tão nebulosas”, redigidas em uma lógica claramente sensacionalista? Ninguém mais se preocupa com a checagem de informações, com a credibilidade das fontes? Assim embaixo do seu desabafo.
Claro que alguns representantes da Igreja têm importante parcela de culpa. É notável o amadorismo, o despreparo e a falta de transparência da comunicação eclesiástica. O novo pontífice precisa enfrentar a batalha da comunicação. E dá toda a impressão de que o papa Francisco está decidido a estabelecer um diálogo direito e produtivo com a imprensa. O desejo de se reunir com os jornalistas na grande sala de audiência Paulo VI foi muito sugestivo.
A Igreja, com sua história bimilenar e precedentes de crises muito piores, é um fenômeno impressionante. E, obviamente, não é um assunto para ser tocado com amadorismo, engajamento ou preconceito. O jornalismo de qualidade não pode ficar refém de ninguém: nem da Igreja, nem os políticos, nem do movimento gay, nem dos fundamentalistas, nem dos ambientalistas, nem dos governos. Devemos, sim ficar reféns da verdade e dos fatos. Há espaço, e muito, para o bom jornalismo.”
(CARLOS ALBERTO DI FRANCO. Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 16 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de PAULO MÁRCIO REIS SANTOS, professor de direito econômico da Universidade Fumec, e FERNANDA BASSALO FREITAS, graduanda em direito pela Universidade Fumec, e que merece igualmente integral transcrição:

“Felicidade interna bruta
         
         Segundo os dados divulgados recentemente pelo IBGE, a economia  brasileira cresceu apenas 0,9% em 2012. O resultado é o pior desde a crise de 2009 e está abaixo do de países como a China, Estados Unidos, Japão, México e Índia. Os dados revelam que o crescimento brasileiro superou apenas o de países europeus.
         A competitividade internacional, as dificuldades decorrentes da infraestrutura precária e os custos internos fizeram com que a indústria registrasse queda de 0,8%. O setor agrícola também contribuiu para a redução do Produto Interno Bruto (PIB). Mas o fator preponderante para a queda do índice foi a redução de 4% dos investimentos no Brasil. Essa diminuição denota o desestímulo às empresas investirem na expansão de seus negócios, haja vista a falta de incentivos e o pessimismo em relação ao crescimento de seus ganhos.
         É princípio básico da economia que as pessoas ajam por incentivos. Portanto, a eficiente política pública é fundamental no regime de economia de mercado, pois incentiva o progresso econômico. No mercado competitivo, as empresas buscam incentivos para aumentar a produtividade e os lucros. Cabe ao Estado investir na infraestrutura para fomentar o potencial crescimento econômico a longo prazo.
         A verificação do crescimento do valor agregado é um importante indicador econômico, pois mede o valor absoluto de tudo que foi produzido no país. Essa verificação é feita através do PIB, instrumento idealizado nos anos de 1930 pelo economista ucraniano naturalizado norte-americano, Simon Kuznets, ganhador do Prêmio Nobel de Economia pela metodologia criada. O índice foi muito utilizado no período pós-guerra, quando a economia de vários países estava dilacerada e o processo de recuperação precisava ser mensurado.
         Em termos qualitativos, há de se questionar se o resultado do PIB é o melhor indicador para medir o progresso da economia e o aumento do bem-estar da população. Além da produção interna, a avaliação do nível de emprego, da distribuição de renda, do consumo, da saúde da população, da segurança e dos níveis de escolaridade e do déficit público, entre outros, são importantes para essa aferição.
         Para tanto, faz-se necessário substituir o PIB por indicadores comprometidos com o bem-estar coletivo e a sustentabilidade. Nesse contexto, ganham destaque os indicadores de felicidade nacional. Em contraposição ao PIB, podemos citar a Felicidade Interna Bruta (FIB), termo criado pelo rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, em 1972, em resposta a críticas que afirmavam que a economia do país crescia miseravelmente. Esse modelo estava comprometido com a construção de uma economia vinculada à cultura nacional, lastreada em valores espirituais budistas.
         Enquanto os modelos tradicionais de desenvolvimento têm como objetivo principal o crescimento econômico quantitativo, a FIB baseia-se no princípio de que o desenvolvimento de uma sociedade está subordinado aos progressos espiritual, ambiental e social. São aproximadamente 33 indicadores que avaliam o equilíbrio entre o trabalho e as horas de sono da população, a espiritualidade, a moradia e os danos ao meio ambiente. Apesar de ser um pequeno reino situado nas cordilheiras do Himalaia, entre a China e a Índia, no Butão a FIB é tão importante que existe um Ministério da Felicidade para tratar do assunto.
         No Brasil, há estudos em desenvolvimento, sem deixar de incluírem 
o PIB e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no cálculo, mas que avaliam também os níveis de segurança, de saúde, de educação, de distribuição de renda, da comparação entre os salários pagos aos homens e às mulheres pelas mesmas funções, de desigualdade social e de expectativa de vida. O crescimento econômico é importante para um país, mas não é o único fator para medir o bem-estar da população. Valores qualitativos, como a liberdade individual, a estabilidade familiar e o meio ambiente sustentável, contribuem mais para assegurar a dignidade para a população. É importante que as políticas públicas passem a considerar esses novos índices comprometidos com a felicidade coletiva.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; agregação de valor às commodities; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; logística; turismo; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro nacional; minas e energia; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...