segunda-feira, 8 de abril de 2013

A CIDADANIA, A CATEDRAL, A MORAL, A JUSTIÇA E A DEMOCRACIA


“Em nossas mãos

Neste Domingo da Divina Providência, o segundo do tempo pascal, iniciaremos a construção da Catedral Cristo Rei, uma obra em nossas mãos. Na verdade, a construção já começou há um bom tempo. Basta olhar o caminho até aqui percorrido e as muitas conquistas alcançadas. No próximo domingo, iniciaremos a execução da obra, que se desdobrará em muitas fases. Conforme a dinâmica própria da construção de uma igreja, esse momento importante envolve cada um, por ser uma obra de todos. Para chegarmos a essa etapa decisiva, muitos passos foram dados, amadurecidos e vividos no tempo e na história da Arquidiocese de Belo Horizonte, hoje com seus 92 anos.
          Reverente é a memória de dom Antônio dos Santos Cabral, primeiro arcebispo da nova capital mineira, que aqui chegou para instalar a nova diocese. Com a capital nova, um caminho novo e tudo por começar. E começou com arrojo e abnegação missionária, reconheça-se, dotando esse caminho com preciosidades, das paróquias criadas, os religiosos e religiosas convidados, o apoio à educação católica, particularmente com a criação da Universidade Católica, com uma singular presença na comunicação do seu tempo, a instituição do Santuário Arquidiocesano da Adoração Perpétua, pérola da arquidiocese, na Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, por ele escolhida como a catedral provisória e, particularmente, o cuidado especial com os mais pobres.
         Dom Antônio desenhou um horizonte largo e trilhou um caminho de riquezas incontestáveis, deixando uma herança que pediu e, certamente, pedirá de seus sucessores uma coragem de gigantes na fé e uma simplicidade evangélica própria de quem deposita confiança incondicional em Deus. O que dom Cabral plantou, nessa história da Arquidiocese de Belo Horizonte, tem florescido graças ao desvelo corajoso e confiante de seus sucessores, de leigos e leigas, padres, religiosos, bispos e em diálogo e cooperação com segmentos diferentes, construtores da sociedade pluralista. Uma sociedade que em Minas Gerais tem uma história de riquezas incontáveis, com homens e mulheres marcados pela força da fé e apreço aos valores da família, da solidariedade e da cultura.
         Nesse conjunto de feitos e fatos, eventos e conquistas, lutas e sacrifícios, está sempre no horizonte o compromisso de fidelidade ao projeto de Jesus Cristo, missão dada a Ele pelo Pai e por Ele dada à sua Igreja, com a escolha dos seus apóstolos, numa ininterrupta tradição. Entre desdobramentos que se tornaram passos novos, proféticos e novas respostas ao longo do tempo, permaneceu aqui o projeto da Catedral Cristo Rei, até iniciada por dom Cabral, não continuada pelas vicissitudes do tempo e das circunstâncias. Certamente, por desígnio de Deus providente, ficou como legado e tarefa a essa geração das primeiras décadas do terceiro milênio, como oportunidade única de um exercício de solidariedade e comunhão.
         As muitas etapas até aqui vividas e trabalhadas para a construção da Catedral Cristo Rei, incluindo debates e discernimento, aquisições e doações, formação de consensos e entendimentos, providências concretas vencendo burocracias e respeitando legalidades, claridade a respeito do instrumento que se terá para servir mais e melhor, prepararam esse histórico 7 de abril, Domingo da Divina Misericórdia. Será o momento em que se iniciam novas fases, que se sucederão dando forma à edificação, na medida do exercício de solidariedade, apoio e comunhão efetiva de todos. A Catedral Cristo Rei será um grande centro de irradiação da fé e do sentido de transcendência, valores que sustentam a cultura que permanece e a sociedade que se quer justa e fraterna.
         Ao longo dessa caminhada rumo à catedral, cada vez mais pessoas compreendem a importância da obra e vislumbram o que acontecerá no coração dessa igreja-mãe. Em primeiro lugar, uma ação evangelizadora profética e encarnada, que articula e fortalece a rede de comunidades de fé, entendidas como lugar do acolhimento fraterno e da escuta da palavra de Deus, transformando vidas e criando, pelos valores do evangelho, as convicções necessárias que geram conversões, engajam cidadãos solidários e justos.
         Esse coração de serviços a partir do evangelho significará o fortalecimento de uma Igreja, como indica e quer o papa Francisco, não autocentrada, mas capaz de dialogar com todos, articular-se com o diferente, ser cada vez mais servidora dos pobres e sofredores, em cooperação. Lá estará o conjunto das obras sociais da arquidiocese no seu Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política, que se articula e incentiva o desenvolvimento de outras iniciativas, de diversas paróquias e instituições, pequenas e grandes, de muitos lugares. Também será lugar dedicado à expansão da Rede Catedral de Comunicação Católica, para fazer, como recomenda Jesus, seu evangelho proclamado. Espaço importante para a arte e a cultura, com o inteligente projeto do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, bem como da educação, sendo coerente com a tradição de formação integral.
         A Catedral Cristo Rei será a casa do povo de Deus, isso é, de todos. Um espelho maior do que deve ser cada comunidade, em diálogo, cooperação e amor. Conto com a participação efetiva de cada um, em profunda comunhão e simplicidade, nesse caminho bonito que levará à edificação da Catedral Cristo Rei, uma obra em nossas mãos.”
(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO. Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 6 de abril de 2013, caderno PENSAR,  primeira página, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

Moralmente
  INVIÁVEL
         
         Nas últimas semanas, as principais questões políticas e econômicas do Brasil deixaram de ser modernas para apontar para padrões medievais. No contínuo que se estabelece entre o passado patrimonialista e o futuro cidadão, parece que andamos alguns furos para trás. Saíram do ar questões como ampliação de direitos, distribuição de renda e poder e participação social para retornar temas que dizem mais do campo moral que da seara propriamente política.
         São casos como o comando da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, a eleição para a Presidência do Senado de um político que renunciou ao mandato em outra ocasião para se manter no jogo político em vez de enfrentar o julgamento (numa inequívoca confissão de culpa) e da PEC das Domésticas, com a nítida reação de classe média conservadora, que toma o que é de direito como quebra de um pacto colonial escravista ainda insepulto na sociedade brasileira.
         À primeira, vista, trata-se de temas que dizem respeito à política e à economia, no entanto, a forma como se concretizam na vida prática da sociedade os reveste de elementos bem mais básicos, ancilares, pré-modernos. Não está em jogo, no caso do Congresso, a questão da representação em si, mas da forma como ela foi conspurcada em razão de interesses particulares; no tocante à PEC das Domésticas, o que parece ser o centro da questão é mais a estrutura social brasileira que os direitos trabalhistas propriamente ditos. O país vive processo de regressão da política. Do fundo do abismo, a senzala nos mira. A sala de estar não suporta os rumores que vêm da cozinha.
         Há algumas décadas, a palavra de ordem no Brasil era “ética na política”. Com o esgarçamento dos vínculos entre sociedade e Estado, o caminho de recuperação da confiança pública passava necessariamente pela retomada de valores cidadãos, republicanos e democráticos. O movimento pela ética denunciava formas de submissão do Estado a interesses privados, corrupção e ausência de controles populares e democráticos. Lutar pela ética era o caminho do resgate da política.
         Hoje, a ética parece ter deixado lugar para o campo semântico menos amplo da moral. As questões acima passam a ser tratadas como desvios que se ligam mais à maldade do que à má política. Tudo se passa como se bastasse recuperar, em outra escala de valores, atitudes individuais, como a boa escolha dos ocupantes de cargos públicos. Onde é vigente a política de interesses se vê apenas a usurpação de posições. O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) devem ser afastados de seus cargos porque são pessoas erradas para a função (um é considerado racista e homofóbico, o outro é tido como corrupto). O que era universal na ética se torna particular na moral.
         No caso da PEC 478/10, em lugar da discussão sobre a melhor forma de regulamentar os direitos conquistados, passa-se a um jogo perverso de ameaçar com a redução de postos de trabalho a equiparação com os direitos de todo trabalhador formalizado. A mesma operação já foi feita, e detonada pela história real, quando se propôs, por exemplo, a ampliação da licença-maternidade, que, segundo as cassandras da classe média, iria deixar todas as mulheres desempregadas.
         No lugar da discussão sobre direitos no sentido contemporâneo e jurídico, entra em cena uma noção ultrapassada e interdita de direito como privilégio. Curiosamente, os mesmos profissionais ciosos de seus direitos trabalhistas se sentem perdidos quando têm que entender a expansão dos direitos a seus empregados domésticos. E dá-lhe programas de TV para mulheres modernas (não sei o que uma mulher moderna faz em casa na hora desses programas) e esqueminhas publicados pela imprensa para ajudar as pessoas a compreender uma legislação “nova” que tem mais de 50 anos, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
         Parece haver um acordo quando se trata de questões morais. Há o certo e o errado, o bom e o mal, o elogiável e o condenável. No interior desse tipo de discurso existe uma tendência à universalidade e ao imperativo categórico. A moral é o campo da obrigação, dos atos que devem ser seguidos por todos, dos comportamentos esperados pelos que participam da mesma comunidade de destino. No entanto, a moral também tem suas nuances. Seu universalismo não pode mascarar sua dimensão histórica, sua ligação com o tempo, sua pertinência em nome do aprimoramento da vida social. A moral é um ponto de partida que não pode tolher o dinamismo da política nem a busca de igualitarismo que deveria comandar as ações no campo econômico. Podemos ser bons, mas precisamos escolher ser justos.
        
DUAS CASAS Desde que Shakespeare sentenciou em Macbeth que uma praga pairasse sobre as “duas casas” que não se via uma nuvem tão escura sobre o Legislativo. O curioso na sensação de divórcio entre política e sociedade é o fato de recair sobre os homens – Feliciano e Calheiros – a responsabilidade pela situação. Como se, trocados os nomes, tudo se resolvesse. Ora, o que está em jogo, muito mais que as pessoas, é a naturalização de um sistema que permite tais desvios, como nomear para posições de comando pessoas sem os atributos necessários.
         Isso remete ao estilo de democracia de coalizão que hoje se tornou operacional no Brasil. Entendido que o jogo partidário é complexo, que as alianças exigem aproximação estratégica com outros partidos, que a divisão dos cargos atende ao projeto mais amplo de governabilidade, as posições de mando e os postos de execução de políticas (nos casos dos ministérios e secretarias, onde a situação não é diferente), a partição das benesses segue seu trâmite automático.
         Parece normal que um partido forte exija cargos que tenham em mão muito dinheiro. O interesse não é contribuir com a administração colegiada, mas usufruir das possibilidades de pavimentar sua permanência no poder. Por isso as áreas mais requisitadas  no toma lá dá cá da política são as secretarias de obras e assemelhadas, onde a grana rola, os interesses são mais facilmente traduzidos e o clientelismo grassa. A recente substituição do ministro dos Transportes, com a saída de um funcionário de carreira para entrada de um político do PR, o ex-governador da Bahia César Borges, não levantou na imprensa qualquer avaliação sobre a pasta, apenas sobre a recomposição da chapa da próxima eleição. E as pessoas continuam morrendo em estradas péssimas e se surpreendendo com atrasos de obras e superfaturamentos. Ministro não é sinônimo de competência, mas de cacife eleitoral. E ninguém liga lé com cré. A política está matando as pessoas.
         No caso da Presidência do Senado e da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, a situação não é diversa. Na Câmara alta, apenas se consagrou o princípio da barganha partidária, seguida de forma acrítica, como bois de presépio, pela base aliada. O fato de a população, que elegeu os senadores, que por sua vez elegeram Renan Calheiros, não se sentir representada, mais que uma sensação de raiva e impotência, corrompe o próprio instituto da representatividade. Os senadores, neste como em outros casos, não votam por delegação de seus eleitores, mas de seus interesses.
         No caso de Feliciano entra em cena um complicador a mais, o desprezo da própria Câmara dos Deputados em relação à comissão que ele preside, considerada de pouca força e por isso abandonada pela esquerda, que migrou em direção a posições de maior repercussão. O que veio depois, com a reação da sociedade, mostra que, por si só, ou o poder emana diretamente do povo ou se perde nos corredores dos interesses partidários. A ação de bloqueamento da comissão é um dos atos políticos mais significativos dos últimos tempos: não se trata de condenar o homem Feliciano (em tudo condenável por suas posições abjetas), mas de inviabilizar a operação de uma instituição sem condições políticas explícitas de representação.
         Para completar, saindo da política rumo à economia, também se percebe aqui a torção espúria em direção ao julgamento moral. A aprovação da PEC das Domésticas evidencia, em pleno correr da segunda década do século 21, os preconceitos atávicos da sociedade brasileira. Ao responder à ampliação de direitos com discurso que apela para o caráter cordial da sociedade (até mesmo com a falsa defesa da empregabilidade das domésticas, consideradas despreparadas para o mercado), os “patrões”, travestidos de senhores de engenho, utilizam a retórica de sua situação particular. Todos têm sua cota de interesse a preservar (precisam trabalhar, não têm como deixar os filhos, são ótimos patrões etc.) e são lépidos em concordar com o princípio (os direitos) para negar suas consequências.
         O país que se orgulha de ser moderno convive com a informalidade dentro de casa, com duas medidas para os direitos trabalhistas e com a perpetuação da injustiça ao eternizar o trabalho doméstico como recurso dos despreparados. Nesse sentido, a igualdade dos direitos é o primeiro passo, algo como a última abolição da escravatura ainda vigente no país (sem contar os focos de trabalho escravo que ainda persistem).
         Esse não é um caso para ser tratado com os instrumentos da moral: não nos cabe ser bonzinhos ou magnânimos, mas justos. E muito mais está para ser feito. A classe média, mais uma vez, tem tudo para ser o bastião da resistência nesse processo. E o vem fazendo por meio da imprensa, que se mostrou presta em ensaiar os vários aspectos da mudança, quase sempre do lado do patrão (quanto vai gastar mais), além de aspergir ameaças para os empregados domésticos na forma de fechamento de mercado.
         Tem hora, quando a moral se apresenta como empecilho para as transformações, que é preciso ir na marra. Não parece ser o caso. Mas não estamos longe disso.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais –, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; minas e energia; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros,especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...
                  

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A CIDADANIA, A HORA DOS TALENTOS, A HUMANIDADE E A SOLIDARIEDADE


“Resgate de talentos
        
         Comenta-se que o governo está preocupado com os talentos profissionais que deixam o Brasil em busca de oportunidades lá fora: em 2012, o número deles seria de 3 milhões, mas o contingente pode ser maior, pois muitos estão em situação irregular e evitam se submeter a censos. Uma comissão especial de técnicos dos ministérios de Relações Exteriores, do Trabalho e Emprego e da Justiça vai debater propostas para criar programas de estímulo para que parte desse público retorne e seja aproveitada por empresas nacionais e estrangeiras.
         Segundo o presidente do Conselho Nacional de Imigração (CNI), Paulo Sérgio de Almeida, há estudantes e especialistas que se formaram lá fora e, com a crise global, podem retornar ao Brasil. Não há dados estatísticos ou um cadastro com nomes e qualificações, contudo, o fato é que vivemos um momento de grandes obras de infraestrutura, logística e construção civil, necessitando muito de mão de obra especializada (graduados e técnicos) nas áreas de engenharia, petróleo, gás e tecnologia.
         Um ingrediente que esquenta esse debate é que talentos profissionais de outros países também estão vindo para o Brasil em busca de oportunidades, que em seus país não estão mais disponíveis em função da crise econômica mundial. Entretanto, a legislação em vigor cria muitas dificuldades: se um estrangeiro que está no Brasil com visto de turista, por exemplo, se for convidado a trabalhar em uma empresa no país instalada, terá de voltar a seu país e seguir todos os trâmites exigidos, o que pode demorar meses.
         Para o especialista em mercado de trabalho Armando Castelar, a medida é positiva: “Há muita gente voltando, inclusive professores universitários”. Muitos brasileiros que foram para o exterior hoje estão em dificuldade. Os países que lhes ofereceram oportunidades não podem mais acolhê-los. São profissionais de todos os níveis com famílias e expectativas. A volta para o Brasil é algo que vem sendo analisado a cada dia com mais seriedade. Desta forma, qualquer política para trazer talentos de volta é muito bem-vinda. E os brasileiros têm grande vantagem em relação aos estrangeiros: além de não existir a burocracia para os vistos, conhecem a cultura e a língua.
         Porém, não serão somente políticas de emprego que garantirão esse retorno. Os brasileiros saíra em busca de dias melhores e melhor qualidade de vida. Se voltarem, encontrarão um país que ainda precisa melhorar em segurança, juros altos, precária assistência de saúde, escolas públicas sucateadas e poucas escolas de nível superior para prosseguirem com os estudos. Basta conversar com muitos deles para entender. Por outro lado, temos também que avaliar a criação de programas de incentivo aos profissionais que acreditaram no seu país e não saíram. Temos de capacitá-los, ou, pelo menos, incentivá-los para que possam também competir por essas oportunidades.”
(KLEBER CÂMARA. Diretor da Faculdade IBS/FGV, coordenador dos convênios internacionais da FGV em BH, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 30 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 3 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Renzo e a solidariedade
        
         Ensina a catequese que alguns cristãos lograram o impossível: viver segundo a vontade de Deus. Tiveram vida coerente, praticaram virtudes heroicas,  deram testemunho do Evangelho como discípulos de Jesus. São chamados santos.
         Com o tempo descobri que nem tudo que reluz é ouro. Há inúmeros santos anônimos que jamais serão canonizados, e há santos que merecem a glória dos altares e, no entanto, tiveram atitudes nada condizentes com os valores evangélicos. Aliás, os processos de canonização custam caro, e são inacessíveis àqueles que viveram para os pobres, como Padre Cícero, dom Helder Câmara, dom Luciano Mendes de Almeida, dom Oscar Romero, para citar apenas alguns clérigos.
         Na segunda, 25 de março, perdemos um santo real, incontestável, de quem tive a graça de ser amigo: padre Renzo Rossi, italiano de Florença, jesuíta como o papa Francisco. No sábado, 23, eu deveria visitar Renzo no hospital. Como a Universidade de Florença cancelou minha palestra, deixei de abraçar o amigo de 87 anos, que padecia de câncer no pâncreas.
         Renzo era movido a uma alegria exuberante. Parecia dotado de mil baterias. De aparência jovial, nunca o vi triste nem mesmo carrancudo. Falava alto, tinha por hábito tocar seus interlocutores e tratá-los com irreverência. Nada parecia abatê-lo nem constrangê-lo.
         Em 1965, ele veio integrar, no Brasil, a missão jesuíta de Salvador. Um ano depois do golpe militar. Atuava junto aos pobres sem se envolver com a militância em luta contra a ditadura. Em 1969 nós, frades dominicanos, fomos presos, acusados de subversão. Ao todo, sete frades. Um deles, Giorgio Callegari, era italiano de Veneza. No ano seguinte, ao retornar de férias à Itália, Renzo encontrou a mãe de frei Giorgio. Ela pediu-lhe que, ao retornar ao Brasil, fosse a São Paulo visitá-lo.
         Padre Renzo foi ao Presídio Tiradentes, onde nos encontrávamos presos em companhia de quase 200 companheiros (Dilma Rousseff se encontrava na ala feminina). Frei Tito de Alencar Lima tinha sido reconduzido à tortura em fevereiro de 1970. Renzo ficou impressionado ao vê-lo. Decidiu que, dali em diante, sua missão seria apoiar as vítimas da ditadura. Ao longo de seis anos. Renzo visitou 14 cadeias brasileiras que abrigavam prisioneiros políticos. Como ele não tinha nenhum vínculo com política, e aparentava ser um cristão destituído de ideologia, não levantou suspeitas.
         Renzo não era “neutro”. Estava ali para servir às vítimas, não aos algozes. Tanto que, por ocasião de uma greve de fome nacional, quando todas as comunicações entre presídios foram interrompidas, a repressão cometeu o equívoco de permitir que aquele sacerdote insuspeito visitasse os grevistas. Talvez pensasse que suas preleções poderiam demover os prisioneiros do “gesto suicida”. Mal sabia a ditadura que Renzo servis de pombo-correio entre os cárceres, passando informações e alento.
         Em Salvador, foi preso um jovem de 18 anos: Theodomiro Romeiro dos Santos. Já no carro de polícia, sacou seu revólver e atingiu três agentes, matando um quarto, um sargento da Aeronáutica. Renzo passou a visitá-lo. Em 1971, Theodomiro foi condenado à pena de morte, mais tarde comutada em prisão perpétua. Veio a anistia, em 1979, e o jovem marcado para morrer não foi beneficiado.
         Renzo temia, como todos nós, pela vida de Theodomiro, isolado em um cárcere e alvo do ódio da ditadura que, aos poucos, desmoronava. Era preciso libertar Theodomiro. Isso implicava subornar carcereiros e policiais. Renzo voltou à Europa e levantou recursos. Conseguiu tirar Theodomiro da prisão e do Brasil, conforme relato detalhado no inestimável livro  de Emiliano José, As asas invisíveis do padre Renzo, que em breve deve chegar às telas de cinema.
         Renzo se foi. Seu exemplo fica. Exemplo de algo que constitui a essência de nossa condição humana e, no entanto, nada fácil de ser praticado: a solidariedade. Jesus ensinou que isso, que é tão humano, é também divino aos olhos de Deus. E quando se traduz em arriscar a própria vida para salvar outras vidas se chama amor.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação –  universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...    

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A CIDADANIA, O TRABALHO IDEAL E O QUE É POSSÍVEL FAZER


“Um lugar ideal no mundo do trabalho
         
         Todos nós trabalhadores sonhamos em encontrar um lugar ideal no universo do trabalho. Nada mais natural e justo querer o melhor. Porém, como esse melhor não é uma conquista fácil, em particular agora, nesse cenário tão exigente e competitivo, muitos terminam deixando essa aspiração esquecida no passado. Mas não deveria ser assim. Apesar das dificuldades, todo profissional precisa lutar e continuar sempre procurando uma situação ideal na qual desenvolver suas atividades, progredir e retirar dali seu sustento com dignidade e alegria. Esse deve ser um compromisso permanente consigo mesmo.
         É preciso sempre pensar que existe um lugar especial, um espaço com o nosso gravado esperando cada um de nós no futuro. Isso motiva e direciona nossas melhores energias. A questão é descobri-lo ou mesmo criá-lo. Sim, porque naturalmente essa posição privilegiada necessita da nossa iniciativa e criatividade para ganhar vida. Há uma distância entre o buscar e o encontrar que deve ser vencida com nosso esforço inteligente e perseverança. O segredo é transformar essa visão em meta e caminhar firmemente em direção a ela.
         Bom lembrar ainda que esse lugar ideal também pouco deve significar como regra ficar famoso, sentar-se na cadeira de chefe, ter privilégios ou ganhar altos salários. A felicidade muitas vezes não exige tanto nem essa é a receita certa para o sucesso. O problema maior é que, infelizmente, a maioria dos trabalhadores se acomoda com o pouco que encontrou e assim nunca realiza seus sonhos. E alguns fazem pior. Se põem a reclamar da sorte, sentados à beira do caminho, culpando os outros ou à espera de algum evento milagroso que mude sua triste situação.
         Posso adiantar que nenhuma fada madrinha vai aparecer para mudar sua sorte. Então não fique reclamando da escuridão! Tome a iniciativa e acenda a lua! E não é alguma luz que resplandeça fora, mas sim aquela está dentro de você, localizada na parte mais elevada e nobre da figura humana: a luz da sua inteligência. Geralmente é pouco usada, mas é a única que pode iluminar o caminho e ajudá-lo a encontrar esse lugar ideal, esse sonho de uma melhor condição no trabalho, essa situação em que você se sinta motivado e confortável na atividade desenvolvida.
         Pode-se ver claramente que a vida é muito gratificante para aquelas pessoas que acreditam nos seus sonhos. Mas ela é mais gratificante ainda para aquelas pessoas que fazem tudo para que seus sonhos se realizem. Daí que o resultado para os que insistem é sempre uma maior garantia de sobrevivência, além de uma visível melhoria de suas perspectivas e qualidade de vida. Nada mais motivador e produtivo que fazer o que se gosta e encontrar as condições necessárias para isso.
         É o maravilhoso processo de humanização dessa atividade chamada trabalho. Assim, ela vai deixando de ser castigo, algo forçado e desgastante, para chegar a transformar-se num verdadeiro prazer. Assim você também vai fazendo com ela se torne mais digna. E é algo que só depende de cada pessoa. No final, os clientes também agradecem, dando preferência àqueles que oferecem melhores produtos ou serviços e os fazem sentir-se mais felizes nas relações do consumo.
         O essencial é não ficar preso a um modelo mental ultrapassado, acomodado ou cheio de ilusões. E, necessariamente, não procure emprego. Procure perspectivas, pois esse lugar ideal pode ser como empregado, empresário ou profissional independente. A escolha depende do seu potencial, vocação e também das possibilidades no meio em que você atua. E nunca precisa ser uma escolha definitiva. Ela pode mudar, variar ou se multiplicar com o tempo, sua criatividade ou as oportunidades que forem se abrindo no futuro.
         Hoje qualquer profissional tem a chance de dar grandes saltos na carreira, desde que pare de olhar para o passado ou para o lugar-comum e descubra os novos caminhos que estão se abrindo em todas as direções. Vemos isso todo dia nesse time de vencedores que prosperam como pessoas e organizações, ultrapassando os limites iniciais da incerteza e das necessidades básicas para chegar ao sucesso. Curiosamente, não existe uma fórmula padrão ou infalível. O que funciona para um já não resolve para outros. Por isso o sucesso é algo muito particular, que exige uma busca contínua e que se pode medir apenas por um índice: a satisfação pessoal.
         O importante é ter isso como objetivo claro, não perder o foco e aproveitar inteligentemente todas as experiências, retirando de cada uma delas as lições e os recursos que garantam sua sobrevivência e o gradual crescimento da própria realidade. Tem razão o pesquisador e consultor americano Rick Snyder quando afirma: “As pessoas bem-sucedidas são as que têm alta dose de esperança. Quando não atingem suas metas, em vez de desistir, elas tentam de novo, de novo, de novo.”.”
(RONALDO NEGROMONTE. Professor, palestrante e consultor em desenvolvimento de pessoas e organizações, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de março de 2013, caderno MEGACLASSIFICADOSADMITE-SE, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 30 de março de 2013, caderno PENSAR, coluna OLHAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“O que é possível fazer
         
         O pensador Edgar Morin já passou dos 90 mas não descansa. Sábio além das fronteiras do conhecimento dividido em escaninhos pelas universidades, ele é um exemplo raro de homem capaz de trazer inovações para o pensamento sociológico, político, antropológico e filosófico. Autor de dezenas de livros, Morin criou com a noção de complexidade um novo modo de se aproximar dos problemas da civilização, sem ficar preso em dogmas nem desprezar qualquer forma de conhecimento, religião e arte.
         Em sua trajetória, elaborou o diagnóstico de nosso tempo, atento para os conflitos étnicos, para a instabilidade política, para a degradação do meio ambiente, para a repetição de padrões viciados de pensamento e ação política. Esse cenário, pouco promissor, se escora em alguns dos descaminhos que se tornaram rota na modernidade, como a mundialização e a universalização do padrão de desenvolvimento ocidental.
         Em outras palavras, o que por muito tempo foi tomado como solução (o desenvolvimento industrial e a sociedade de consumo) hoje é o responsável direto pela abrangência do problema. Por meio de seus livros e de sua incansável disposição em percorrer o mundo em busca de diálogo com o novo (o Brasil é um país que faz parte de sua vida), Edgar Morin preparou o caminho para sua mais recente obra, A via para o futuro da humanidade (Editora Bertrand Brasil), que acaba de chegar às livrarias.
         O que ele traz de novo é a coragem de apontar caminhos, de estabelecer um plano de ação política para enfrentar os impasses do nosso tempo. Para Morin, não nos restam muitas opções: ou o abismo ou a metamorfose. O que parece ser uma solução fácil, na verdade, envolve uma transformação profunda na maneira de compreender o mundo e se organizar para as mudanças necessárias. Não bastam alternativas ideológicas, do tipo esquerda e direita, mas um comprometimento mais amplo, que abranja desde as formas de pensamento filosófico até as questões do cotidiano.
         A via é um livro sobre o futuro da humanidade. Mais que isso, sobre a possibilidade de futuro. Como parte do método que vem fundamentando a reflexão do autor, a primeira indicação pode ser sintetizada na expressão latina sparsa colligo, que significa “reúno o disperso”. Para um cenário em que todos os problemas parecem se juntar para apontar um horizonte de impossibilidade, é preciso criar alternativas que sejam igualmente universais e holísticas. Morin, como Drummond, sabe que vivemos um tempo partido, habitado por homens partidos. Seu empenho é resgatar a totalidade.

QUATRO CAMINHOS Para pavimentar sua via, o pensador elege quatro reformas que devem se unir para firmar o propósito de verdadeira transformação do destino humano no planeta: as reformas políticas, econômicas, educativas e da vida. São aspectos interligados da mesma experiência; quando uma delas avança, permite que a outra ganhe fôlego. São reformas “correlativas, interativas e interdependentes”. Uma não existe sem a outra e, por isso, são tratadas separadamente apenas para melhor explicitação de seus programas.
         Ao tratar do primeiro aspecto, as políticas da humanidade. Edgar Morin propõe uma alteração nos padrões convencionais. Para uma crise singular, uma nova concepção da política. Entre os aspectos destacados por ele estão o se chama de “política da humanidade”, que em vez de se dirigir aos Estados nacionais tem como objeto a comunidade de destino da espécie humana. A Terra-Pátria, em sua unicidade, se torna uma grande pátria comum.
         A política da humanidade se situaria no pólo inverso das soluções voltadas para o desenvolvimento, mesmo o chamado desenvolvimento sustentável. Há muito o que aprender, por exemplo, com culturas que operam com outras noções de saber, inclusive as religiosas. A política da humanidade, nas palavras do filósofo, deverá promover uma simbiose entre o que há de melhor na civilização ocidental e as contribuições de outras civilizações, portadoras de riquezas que vêm sendo desprezadas.
         A nova política tem como desafios a questão das diferentes culturas e povos, a recuperação da qualidade de vida, o desenvolvimento de uma consciência ecológica planetária, que envolva temas candentes como a energia, a habitação, a produção de alimentos, os transportes, a relação campo/cidade e a água. Além da dimensão programática, trata-se ainda de reinventar formas de convivência democrática e de combate à desigualdade e à pobreza.
         A segunda reforma apontada por Morin abrange o pensamento e a educação. O filósofo defende que, para fazer frente aos graves problemas que ameaçam a sobrevivência do planeta e da humanidade, é preciso apostar no novo homem, formando cidadãos policompetentes e multidimensionais. Não se trata apenas de cobrar mais investimentos para a  educação, mas de transforma radicalmente nossa concepção acerca do saber e do pensamento. A nova educação precisa superar os impasses da tecnociência (como a excessiva especialização) e avançar rumo a uma democracia cognitiva. Um novo saber que seja também para todos.
        
DA SAÚDE À MORTE Depois da política e da educação, a terceira reforma se volta para diferentes campos da vida social. A começar pela medicina e pela saúde. Morin identifica a crise dos paradigmas sanitários tradicionais, fundados na tecnologia, com suas insuficiências e ambivalências: perda do humanismo, do contato familiar, foco no físico com desprestígio da dimensão psicológica, excesso de estatísticas, ênfase na especialização, monopólios da indústria farmacêutica e enfraquecimento da relação médico-paciente. Um modelo inviável, cada vez mais caro e menos resolutivo.
         Além da saúde, a reforma da sociedade propõe nova organização das cidades, com humanização e governança mais inclusiva, com reforço do poder local e das demandas sociais. As reformas abrangeriam ainda novas relações entre campo e cidade, com reforma agrária, valorização de sistemas de produção de alta qualidade ambiental e preservação da biodiversidade. Por fim, no âmbito das reformas sociais, Morin propõe um equilíbrio das relações de consumo e de trabalho.
         A quarta reforma, que o pensador define como “reforma da vida”, mira o lado menos tangível e, por isso mesmo, mais profundo da humanidade. Se a civilização está em crise, o homem que habita o planeta e o faz respirar padece dos mesmos sintomas, fazendo de seu microcosmo um símile do inferno que se tornou o mundo. Morin aposta na revolução dos sentimentos, na despoluição da inveja e do ódio, na oxigenação da ética, no império da fraternidade e do perdão. É claro que, mais uma vez, o repertório para construir esse patrimônio não há de vir da ciência e do desenvolvimento. O pensador apela a todas as formas de pensamento, entre elas a religião, o mito e a arte.
         Para alcançar esse patamar, em síntese com as reformas anteriores, o homem precisa atentar para dimensões que estão passando batido, apostando na possibilidade de uma outra forma de vida. Quem, em meio à depressão que define nosso tempo, nunca pensou em simplificar a vida e dar valor ao que de fato nos alegra e completa? É esse sentimento latente de revolta que o sociólogo propõe resgatar e tornar real: uma outra vida é possível.
         Dialético, Morin termina seu livro tratando do envelhecimento e da morte. Mais que isso: propondo que esses estágios sejam vividos não como derrota inevitável (os velhos se tornaram um incômodo e deixaram de ser respeitados; a morte se tornou um colapso tecnológico de um corpo já sem vida). Avalia projetos que buscam uma velhice feliz, analisa o intento de dissimulação da morte que tomou conta da sociedade da competição e do consumo, propõe a recuperação de rituais laicos e religiosos que evoquem a alegria e os percalços da vida.
         A via não é um livro teórico, embora recheado da melhor teoria política, sociológica e filosófica; não é um programa partidário, ainda que estabeleça vias coletivas de reformas necessárias para evitar o abismo que nos mira cada vez mais de perto. Morin reuniu o disperso. O que, em si, já é uma lição e tanto.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, profundas, lúcidas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; emprego, trabalho e renda; habitação; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; minas e energia; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; logística; turismo; esporte, cultura e lazer; comunicações;sistema financeiro nacional; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO, A MÍSTICA, A ÉTICA E A ECOSOFIA (46/14)


(Abril = Mês 46; Faltam 14 meses para a Copa do Mundo)

“Enem ‘trousse’ polêmica

A recente divulgação da nota mil nas redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 com erros graves de ortografia, como as palavras ‘rasoavel’, ‘enchergar’ e ‘trousse’, chocou a comunidade acadêmica e a população. O Ministério da Educação (MEC) informou que a ‘análise do texto é feita como um todo e que eventuais erros de grafia não significam que o aluno não domine os padrões da língua’. Com relação à ‘norma padrão da língua’, a matriz do exame exige que o participante de demonstre ‘excelente domínio’, sem ou com ‘pouquíssimos’ desvios gramaticais ‘leves e de convenções da escrita’. Como entender nota máxima com erros previsíveis e aceitos?
A nota mil teria que ter excelência na redação do texto, demonstrando também excelente conhecimento gramatical. Caso contrário, há o risco de a excelência virar ‘eiscelência’. Pesquisa de 2012 do Indicador de Analfabetismo Funcional do Instituto Paulo Montenegro, mostra que 38% das pessoas que têm ou estão cursando curso de graduação não têm alfabetização plena e apresentam dificuldade com leitura, escrita e interpretação de textos, além de cálculos mais longos. Com esse conceito de nota mil, como se formarão os nossos futuros bacharéis? Essa concessão com certeza contribui para aumentar esse inaceitável analfabetismo funcional constatado até no ensino superior brasileiro.
Segundo o recente Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Brasil precisa melhorar muito na educação. Na média de anos de escolaridade, o Brasil está abaixo do Paraguai e demais países da América Latina. Por outro lado, enquanto o Brasil tem 90,3% de adultos alfabetizados e 49,5% com ensino médio ou mais, o Chile tem 98,6% de alfabetizados e 74% de ensino médio ou mais. Na evasão escolar do ensino fundamental, os nossos dados são assustadores. Enquanto na Colômbia apenas 1,5% dos alunos abandonam a escola e, no Chile, apenas 2,6%, no Brasil, 24,3% deles deixam a escola. Por que tanta evasão?
O aumento de investimento em educação nos últimos anos, o programa de bolsa de estudos do Brasil e campanhas de alfabetização foram vistos positivamente. Mas é fundamental que o Brasil invista mais na qualidade da educação básica com bons e atraentes programas de ensino para reter os alunos nas escolas e qualificar e valorizar mais o educador brasileiro. Estimular competência e compromisso. O piso salarial dos professores de educação básica é hoje R$ 1.567 um valor muito aquém da maioria das categorias e mesmo assim, os governos do Rio Grande do Sul, do Ceará, de Mato Grosso e de Santa Catarina recorreram ao Supremo Tribunal Federal para dar mais tempo aos estados para o cumprimento da lei, de 2008. Felizmente, os embargos foram negados.
É importante que o Ministério do Planejamento reveja a política salarial vigente e que os profissionais sejam valorizados pelo grau de instrução ou titulação de forma mais democrática e justa. De modo geral isso não ocorre. Um professor universitário com mestrado ou doutorado pode ganhar menos do que um profissional apenas bacharel. Por que esse bacharel é mais valorizado na atual escala salarial do governo? Com certeza, essa equiparação por titularidade estimularia a excelência nos conhecimentos e na produtividade.
O relatório sobre o desenvolvimento humano do Pnud classifica o Brasil na 85ª posição entre 187 países avaliados. Posição apenas mediana. O índice é usado como referência da qualidade de vida e desenvolvimento. A América Latina é a região que mais cresceu no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desde o início do século, incluindo milhões de pessoas numa nova classe média. Porém, é a mais desigual do planeta. Os melhores índices são da Noruega, da Austrália e dos EUA e os piores são de Moçambique, Níger e República Democrática do Congo.
O Brasil recebeu alguns elogios: redução da desigualdade social, criação de programa de redução da pobreza, extensão da educação e o aumento do salário mínimo. O modernizado programa Bolsa-escola alcançou mais de 97% da população-alvo. Houve redução da pobreza e o empoderamento das mulheres, já que elas têm prioridade no recebimento dos cartões magnéticos para a retirada do benefício. Mas a verdade é que o Brasil precisa melhorar muito os índices especialmente na educação: uma educação de qualidade para todos.”
(VIVINA DO C. RIOS BALBINO. Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 27 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor do romance Aldeia do silêncio, que a Editora Rocco faz chegar às livrarias neste mês, e que merece igualmente integral transcrição:

“Mística, ética e ecosofia
        
         Há estreito vínculo entre religião e ecologia. Os calendários litúrgicos refletem os ciclos da natureza. Toda religião expressa o contexto ambiental que lhe deu origem.
         Os hebreus e, em geral, os povos semitas, viviam em regiões inóspitas, desérticas, o que os levou a desenvolver o senso do sagrado centrado na transcendência. Onde a natureza é exuberante, como nos trópicos, se acentuou a imanência do sagrado. Todo o entorno geográfico e climático influi na relação religiosa que se tem com a natureza.
         O cristianismo teve sua origem em áreas urbanas. Via a natureza a distância, como algo estranho e adverso. A palavra pagão, que englobava todos os cristãos, significa etimologicamente habitante do campo.
         Todas as tradições religiosas indígenas mantém estreito vínculo com a natureza. São teocósmicas, o divino se manifesta no cosmo e em seus componentes, como a montanha (Pachamama). Hinduísmo e taoísmo cultuam a natureza. Já o confuncionismo e o budismo são tradições mais antropocêntricas, voltadas à consciência e às virtudes humanas.
         O islamismo mantém uma relação singular com a natureza. É uma religião semítica, cultua a transcendência de Alá, mas conserva, como o judaísmo, estreito vínculo com o entorno ambiental, o que se reflete na distinção entre alimentos puros e impuros, jejum, cuidado com a higiene pessoal etc.
         As religiões aborígenes  (ab-origem = que estão na origem de todas as outras) não separam o humano da natureza. Há um forte sentido de equilíbrio e reciprocidade entre o ser humano e a Terra. O que dela se tira a ele deve ser devolvido.
         Entre as grandes tradições religiosas é o hinduísmo que melhor cultiva essa harmonia. Toda a Índia respira veneração sagrada por rios, animais, árvores e montanhas. A veneração pelas vacas reflete esse senso de equilíbrio, pois se trata de um animal do qual se obtém muitos produtos, do leite e seus derivados ao esterco como fertilizante, e isso é mais importante do que comê-las.
         Três grandes desafios, segundo o místico catalão Javier Melloni, estão inter-relacionados: a interioridade, a solidariedade e a sobriedade. A interioridade nos impele à via mística; a solidariedade à ética; e a sobriedade à preservação ambiental.
         Nossa civilização estará condenada à barbárie se as pessoas perderem a capacidade de interiorização, de fazer silêncio, de meditar, de modo a saber escutar as necessidades do próximo (solidariedade) e o grito agônico da Terra (sobriedade).
         Urge submeter a ecologia à ecosofia, a sabedoria da Terra, na expressão de Raimon Panikkar. Não se trata de impor a razão humana sobre a natureza (eco-logos), mas sim de dar ouvidos à sabedoria da Terra, captar o que ela tem a nos dizer com seus ciclos, sua mudanças climáticas e até com suas catástrofes.
         Embora haja avanços em nosso comportamento, graças ao crescimento da consciência ecológica (reciclagem, uso da água, produtos ecologicamente corretos etc.), ainda estamos atrelados a um modelo civilizatório altamente nocivo à saúde de Gaia e dos seres humanos.
         Continuamos a consumir combustíveis escassos e poluentes e, na contramão de todo o movimento ecológico, submergimos à onde consumista que produz, a cada dia, perdas significativas da biodiversidade e toneladas de lixo derivado do nosso luxo.
         Três grandes mentiras precisam ser eliminadas de nossa cultura para que o futuro seja ecologicamente viável e economicamente sustentável: 1) Os recursos da Terra não são suficientes para todos; 2) Devo assegurar os meus recursos, ainda que outros careçam deles; 3) O sistema econômico que predomina no mundo, centrado na lógica do mercado, e o atual modelo civilizatório, de acumulação de bens, são imutáveis.
         Nosso planeta produz hoje alimentos suficientes para 12 bilhões de pessoas, e é habitado por 7 bilhões. Portanto, não há excesso de bocas, há falta de justiça.
         Não haverá futuro digno para a humanidade sem uma economia de partilha e um ética da solidariedade.
         Durante milênios povos indígenas e tribos desenvolveram formas de convivência baseada na sustentabilidade, na harmonia com a natureza e com os semelhantes. Como considerar ideal um modelo civilizatório que, dos 7 bilhões de habitantes do planeta, condena 4 bilhões a viverem na pobreza ou em função de suas necessidades animais, como se alimentar, abrigar-se das intempéries e educar suas crias?”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, sérias e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, severo e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito, “...Nosso planeta produz hoje alimentos suficientes para 12 bilhões de pessoas, e é habitado por 7 bilhões. ...);
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e de modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos); a educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; segurança alimentar e nutricional; assistência social; previdência social; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; sistema financeiro nacional; esporte, cultura e lazer; turismo; logística; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação,  do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...