quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A CIDADANIA E O GRITO PELA QUALIDADE DA SAÚDE E DA EDUCAÇÃO

“O corpo e o espírito do corpo
        
         O resultado anunciado esta semana do Programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde, confirmou a participação de menos de 1 mil profissionais no programa. Foram 938 selecionados para preencher a necessidade identificada de pelo menos 15.460 médicos, que serão encaminhados para 404 cidades – a previsão era atender 626 municípios. As vagas estão localizadas nas periferias de metrópoles e em regiões com poucos profissionais e em situação de extrema pobreza.
         O baixo número de médicos brasileiros interessados e aptos para participar do programa, apenas 6% do necessário, abre agora segunda fase da seleção, que vai receber inscrições de profissionais de outros países interessados em trabalhar no projeto por três anos, com bolsa de R$ 10 mil. Os médicos estrangeiros não precisarão validar os diplomas e serão encaminhados às mesmas áreas recusadas pelos colegas brasileiros.
         O programa vem gerando polêmica desde seu anúncio e já passou por várias discussões até assumir o formato atual. Antes, o governo chegou a anunciar o aumento do tempo de formação do médico em dois anos, que seriam dedicados ao exercício em unidades do Sistema Único de Saúde. O programa atual ganha tempo, já que os profissionais começam a trabalhar em setembro, e abre perspectivas para residência em saúde básica de forma massiva, o que deve impactar todo o processo de formação do  médico, hoje excessivamente especializado.
         Entre as críticas apresentadas pelas entidades médicas estão a abertura aos profissionais estrangeiros sem comprovação da qualidade da formação deles e a contratação de médicos em locais sem condições ideais de trabalho. O Mais Médicos, no entanto, foi direcionado em sua primeira fase apenas a profissionais nascidos no país e o baixo índice de preenchimento das vagas mostra que não existe interesse dos brasileiros em ocupar os postos oferecidos. Com relação aos médicos estrangeiros (não apenas e nem majoritariamente cubanos, como se propagou a princípio), passarão por treinamento e supervisão a cargo das universidades brasileiras.
         No que diz respeito às condições de trabalho, não se trata de um problema a mais, mas do problema em si. É exatamente porque é impossível garantir todas as condições tecnológicas a todas as unidades de serviço que é preciso hierarquizar a atenção à saúde. Não se trata de oferecer saúde pobre para pobre, mas de prover a maioria das demandas de saúde – segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% dos cuidados são resolvidos no âmbito da atenção básica – para a maior parte da população. Os profissionais, além do atendimento a problemas reais que afligem a população, seriam agentes de informação e encaminhamento para os outros níveis de complexidade, hoje entregue à ambulancioterapia eleitoreira.
         Os 14.522 postos em aberto nessa primeira fase chamam a atenção para as resistências das entidades classistas e profissionais. Afinal, que propostas elas oferecem ao país para saldar essa dívida, que, é bom que se diga, ainda é bem abaixo das necessidades reais do país? A defesa dos interesses da corporação, um princípio legítimo numa sociedade democrática e plural, precisa ser articulado com outros valores, tendo como horizonte os interesses de toda a sociedade.
         Mesmo com falhas, o Mais Médicos é a primeira ação direta a enfrentar a falta de médicos nos rincões rurais e urbanos, sem apelar para propostas de médio e longo prazo (como a reforma curricular dos cursos médicos, quase sempre recebida como ingerência à liberdade universitária) ou para mecanismos de mercado. Esses, de forma perversa, criaram a ciranda de salários entre prefeituras pobres em sua tentativa de organizar seus sistemas de saúde em moldes quase sempre centrados na atenção individual e na atuação de um único profissional, o médico.

ATO E FATO O trabalho indispensável dos profissionais médicos gerou, ao longo do tempo, um campo muitas vezes impermeável às políticas de saúde pública, criando até mesmo disputas em torno de procedimentos exclusivos da categoria, sem respaldo técnico ou científico. A recente discussão do ato médico evidenciou a separação entre a defesa corporativa e as necessidades do cidadão atendido pelo serviço de saúde. Se aprovado, sem vetos, o projeto reduziria o espaço de atuação de vários profissionais, sem a contrapartida de oferta dos serviços. É preciso sempre destacar que quando se fala em médicos se cria uma generalização, que expressa a opinião das entidades representativas, mas que não pode ser imputada ao grande contingente de profissionais dedicados à saúde pública.
         Ainda há muito a ser feito na área de saúde. É evidente que o Programa Mais Médicos não é panaceia. É preciso regulamentar o índice de investimento da União no setor (a proposta história é de 10%, frente a 12% dos estados e 15% dos municípios) e garantir que recursos sejam bem utilizados. É necessário ainda aumentar o número de vagas nos cursos medicina, ainda muito abaixo do padrão internacional, criando caminhos de especialização no âmbito da saúde pública e da atenção primária. A recente discussão da PEC sobre a atuação dos médicos militares no SUS é um bom exemplo de atualização de procedimentos legais em favor da realidade social. Sem falar nos vários projetos setoriais, carentes de atenção em termos financeiros e políticos, que correm o risco perene da reversão (como se acompanha no âmbito da saúde mental, cada vez mais permeável ao ataque da psiquiatria biológica e da indústria de medicamentos).
         A engenharia do Sistema Único de Saúde, na soma de princípios fundamentais (universalidade, equidade e integralidade) e organizativos, entre os quais se encontram as propostas do Mais Médicos, estabeleceu-se no Brasil a partir de uma situação muito complexa do ponto de vista social. Temos um sistema que expressa a saúde como um direito de todos e um dever do Estado, que convive com práticas de mercado, que deveriam ter função complementar e acabam por assumir vertente competitiva, inclusive de recursos.
         Não somos nem Canadá nem EUA – dois exemplos radicais de opção pelo direito e pelo mercado no campo da saúde –, mas precisamos ficar com o melhor dos dois mundos, tanto em provisão de serviços quanto em eficiência. Corremos o risco, entretanto, de usar um diagnóstico de ordem social, que aponta a falta de médicos em determinadas realidades, e mesmo assim buscar tratamento para outro sintoma, optando por um modelo liberal de atenção, baseado no individualismo e na intensividade tecnológica.
         O Brasil deve muito a seus médicos. E é exatamente em nome dessa dívida que a situação precisa ser mudada. A melhor distribuição de profissionais, a equidade na provisão de serviços, a universalização real do atendimento, a hierarquização da atenção, a integralidade da concepção de saúde, tudo isso caminha para um cenário em que a população deverá ser mais bem atendida em seu corpo físico e mental. Deixando que as questões corporativas fiquem, como devem ficar, para o âmbito do mercado e da economia profissional.”

(JOÃO PAULO. Editor de Cultura, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de agosto de 2013, caderno PENSAR, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo e caderno, edição de 3 de agosto de 2013, página 3, de autoria de CARLOS ROBERTO JAMIL CURY, que é professor adjunto do Programa de Pós-graduação em Educação da PUCMinas e ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e que merece igualmente integral transcrição:

“Grito de

ALERTA
        
          Se há uma área social que conta com muitas coberturas oficiais, essa é a da educação: gratuidade no ensino público, impostos vinculados e subvinculados, assistência alimentar, material didático e múltiplos programas de apoio que podem ser solicitados por estados e municípios à União. A educação, por ser direito púbico subjetivo, em matéria de acesso, conta a exigibilidade da parte do cidadão e, no caso de omissão,  até mesmo com a justiciabilidade. Essa cobertura rendeu inegável acesso (praticamente universalizado) ao ensino fundamental. O mesmo não se pode dizer da qualidade. Portanto, boa parte da seletividade se deslocou para dentro da escola e aí a questão da qualidade se impõe de modo urgente.
         Por que nos protestos sociourbanos há críticas à educação escolar?
         Em primeiro lugar, embora o Brasil não tenha conhecido revoluções como a francesa ou a americana, há vários registros históricos de rebeldias por conta de problemas políticos ou sociais. Relembrem-se os casos do Quebra-quilos e da Cabanagem, entre outros de fundo social, e os movimentos que conduziram à abdicação de dom Pedro I. Hoje, em que pesem as melhorias sociais trazidas pela transferência de renda e pelo aumento da capacidade aquisitiva de segmentos populares, há insatisfação generalizada com a vida e a mobilidade urbanas e com a qualidade dos serviços públicos. Ela atinge diretamente o aluno obrigado a se locomover de casa e/ou do trabalho para chegar à escola. Nesse trajeto, ele desembolsa recursos e perde tempo. Isso de torna mais grave no caso do ensino noturno. Muitos estudantes são trabalhadores, o que transforma seus itinerários em mais um trajeto cansativo. O resultado se percebe no interior das salas de aula. Nesse caso, a educação compartilha o caos urbano com as deficiências de outras áreas, como trabalho, saúde e justiça.
         Em seguida, é notório que a qualidade do ensino deixa a desejar por falta de condições que o tornem um elemento próprio da modernidade. O aluno percebe a distância entre a contemporaneidade dos recursos tecnológicos na rapidez das comunicações e o anacronismo de materiais de que se servem nossas escolas. Mais que isso, não são poucas as denúncias relativas à conservação de prédios escolares.
         Ora, esse estado de coisas fica mais próximo da indignação social diante do enorme gasto público em obras desnecessárias de modernos estádios, alvo de denúncias de superfaturamento. Mais ainda, os políticos se veem às voltas com uma imagem desgastada, próxima da desmoralização. Por contraste, a realidade dos serviços públicos deixa ao cidadão a promessa, sempre adiada, da prestação qualificada dos direitos sociais constitucionalmente consagrados. Enquanto isso, obras urgentes de mobilidade ficam para as calendas tanto quanto as que deveriam aperfeiçoar a qualidade da oferta dos serviços públicos

DECORO Quando se veem as denúncias de mordomias e quebra de decoro, o olhar para dentro e para o entorno das escolas gera maior consciência crítica, permitindo a eclosão de sentimentos contidos. Quem não sabe da (in) segurança que permeia o entorno das nossas escolas, especialmente daquelas que funcionam no período noturno? Local da busca de convivência social entre os iguais e diferentes, espaço da transmissão de conhecimentos, a escola é o símbolo da não violência. Por isso mesmo, torna-se presa da violência que permeia nossa sociedade.
         No âmbito próprio da educação escolar, há o cansaço do corpo docente por conta das descontinuidades administrativas em que programas se sucedem a cada novo governo sem que se dê continuidade  a iniciativas que fariam jus a tanto. Isso gera distanciamento entre administração e funcionamento do sistema de tal modo que o diálogo, campo privilegiado da educação, vai se tornando cada vez mais difícil. Infelizmente, essa tradição de descontinuidade se casa com o caráter tardio da organização da educação nacional. Quando se compara o Brasil com a França, a Noruega e a Inglaterra, pode-se estar esquecendo do investimento secular que esses países já fizeram. O patamar histórico deles é muito diferente do nosso.
         Nossa educação básica com dimensões nacionais é tardia. Remonta à Constituição de 1934, que instituiu a gratuidade e a obrigatoriedade do então ensino primário de quatro anos, determinou a elaboração de um Plano Nacional de Educação e vinculou impostos ao financiamento do setor. Maiores rigor e disciplina na aplicação dos recursos datam da imposição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundef), ampliado para Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que constituiu um conselho social para fiscalizar a chegada e a aplicação dos mesmos. Isso sem falar nos dois períodos de ditadura (1937-1945 e 1967-1985) em que a vinculação deixou de existir. É preciso não esquecer  que essa desvinculação ocorreu junto da extensão da obrigatoriedade escolar de 4 para 8 anos.
         Obviamente, com a redução significativa de recursos e aumento das atribuições, houve enormes prejuízos para o acesso ao ensino obrigatório, para a carreira docente e para o salário dos professores. Boa parte desse legado perverso tem ressonância em nossos dias. Por isso, não se pode imputar todo esse caráter tardio a uma só administração. Mas é preciso grande esforço por parte das atuais administrações dos sistemas de ensino, sob a coordenação do Ministério da Educação, para que a articulação orgânica permita às gerações futuras a qualidade desejada por todos.

INVESTIMENTO A ampliação de recursos no orçamento, prevista na Emenda Constitucional nº 59/09, compete com muitos outros campos de investimento. Eles são necessários até pelo prolongamento da obrigatoriedade escolar (dos 4 aos 17 anos). Não se pode adaptar uma escola de ensino fundamental para crianças da educação infantil. Não se pode ter uma escola de ensino médio (etapa conclusiva da educação básica) apenas com recursos advindos do ensino fundamental. A família será ampliada – e muito. Se os recursos antes eram apertados, o que fazer para responder aos novos desafios ora ampliados?
         Certamente, os recursos ampliados, urgentes e necessários não trazem, por sós, o milagre da qualidade. Será preciso esforço conjunto para garantir uma formação inicial sólida e, dentro do exercício da docência, propiciar formação continuada orgânica com a área de conhecimento. Apenas três anos são suficientes para formar um bom professor? As pesquisas a respeito de aparatos formadores de docentes nas licenciaturas e na pedagogia não trazem resultados nada fabulosos a esse respeito. É preciso cortar em algum ponto, em algum momento, o círculo vicioso, a formação fica aligeirada porque a carreira não atrai e os salários não são competitivos. Temos suficiente número de licenciados para ocupar todas as vagas e postos na educação pública. Só que esses licenciados não se fizeram docentes. Foram exercer outras atividades profissionais. De outro lado, é preciso melhorar a gestão desses recursos, seja pelo controle estatal, seja prestação de contas, seja pela fiscalização social.

FEDERAÇÃO Aqui entra o problema básico: embora tenhamos incluído na Constituição o princípio organizador do setor pelo sistema nacional de educação, o núcleo essencial está por se fazer de modo completo: o regime de colaboração entre os entes federados. A validade de nossos certificados e diplomas, dentro do sistema, é nacional e uma etapa sucede a outra. Mas as etapas são segmentadas entre os entes federativos. Nada contra isso, especialmente em um país federativo como o nosso, de grandes extensões territoriais e diversidade regional ampla. O problema está na celebração de um pacto que confira estrutura e funcionalidade orgânicas a esse regime de colaboração.
         O grito advindo dos movimentos urbanos, saídos, sobretudo, da voz dos jovens, é sinal precioso de que eles exigem a consagração efetiva de direitos longamente proclamados. Em que pesem excessos condenáveis de uns poucos violentos, é salutar vê-los criticando o desvio de recursos ou sua aplicação em coisas adjetivas e exigindo a realização em ato dos direitos sociais. A Constituição põe a educação como o primeiro dos direitos sociais. Afinal, ela é a chave de abertura para outros direitos estabelecidos e para a consecução de novos. É por ela que o protesto quer também se fazer ouvir.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
  
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; sistema financeiro nacional; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A CIDADANIA, CULTURA DO ENCONTRO E DA SOLIDARIEDADE E O DESAFIO DA EDUCAÇÃO

“Encontro e solidariedade
        
         As palavras do papa Francisco no Brasil, pronunciadas durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com simplicidade e de forma direta, entrelaçaram conceitos. Apresentaram a importância de um comprometimento de todos na busca de uma cultura do encontro e da solidariedade. O discurso do papa convida cada um a seguir na contramão de uma globalização da indiferença, risco terrível do contexto contemporâneo. Os pobres são os mais sacrificados. Suas urgências são desprezadas e continua aberta a ferida do desrespeito à dignidade humana. O convite à cultura da solidariedade e do encontro é um grito profético na suavidade da voz de quem não se deixa levar por pretensões e poderes, mas pauta as vida na simplicidade do evangelho e nos respeito pelo outro.
         Tornam-se ainda mais interpeladoras as palavras do papa Francisco graças aos seus gestos, à serenidade do seu sorriso, à atenção com todos. Uma autenticidade própria de quem não faz de si o centro, mesmo com a importância e singularidade de sua pessoa e de sua missão de sucessor do apóstolo Pedro. Já no voo de vinda ao Rio de Janeiro, conversando com os jornalistas, o papa sublinha um horizonte imprescindível para a cultura do encontro e da solidariedade, quando se refere ao jovem, que não pode ser isolado da sociedade, compreendendo-o como o verdadeiro futuro de um povo.
         A essa compreensão, sem demora, também faz referência aos idosos. Ensina que um povo tem futuro se caminha com a força dos jovens, impulsionando adiante as dinâmicas e projetos, e com a sabedoria insubstituível  carregada no coração e na experiência de vida dos mais velhos. Esses aspectos da mensagem do papa Francisco iluminam muitas sombras da sociedade brasileira, agora mais despertada para a preciosidade do jovem, mas ainda muito indolente nas suas estruturas e funcionamentos quanto à valorização e respeito aos idosos.
         Ao afirmar que a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo, o papa Francisco desafia os brasileiros, particularmente governantes e dirigentes, a não relativizar, com análises inadequadas e, sobretudo, com um esfriamento proposital, o sentido positivo das manifestações populares alavancadas pelos jovens nas ruas do Brasil. A juventude merece mais contundência nas respostas. Obviamente, elas não podem reduzir-se à diminuição de tarifas de ônibus ou às propostas apressadas que caem rapidamente no descaso e na inviabilidade.
         A cultura da solidariedade é o único caminho que não permitirá apagar essa chama que já sinalizou a necessidade de mudanças mais profundas e de respostas mais urgentes. Por isso o papa Francisco deixou uma bela advertência, exatamente durante a cerimônia de boas-vindas, ante uma plateia de dirigentes governamentais, ao dizer que “a nossa geração se demonstrará à altura do promessa contida em cada jovem, quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida; assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem”.
         Essas palavras do papa Francisco mostram que é urgente revisar as dinâmicas institucionais da nossa sociedade. É preciso uma transformação profunda que inclui governos, escolas e universidades, criando círculos de solidariedade pela singularidade educativa do encontro entre amigos e irmãos. A riqueza e densidade das palavras do papa Francisco, em vista da superação da globalização da indiferença e cultivo da cultura do encontro e da solidariedade, encontra um momento significativo nas indicações dadas na homilia da missa no Santuário da Mãe Aparecida: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria. Importa a ousadia de ter uma visão positiva da realidade, tornando-se cada um, indica o papa, luzeiro de esperança, deixando-se conduzir por Deus. Assim brota a condição de viver na alegria. A confiança em Deus, a esperança e a alegria por tantos dons impulsionam a sociedade na conquista e vivência da cultura do encontro e da solidariedade.”

(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 3 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de VIVINA DO C. RIOS BALBINO, que é psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará, autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, e que merece igualmente integral transcrição:

“O desafio da educação
        
         O recente Índice do Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e Fundação João Pinheiro (FJP) revela um expressivo avanço do Brasil nos últimos 20 anos – crescimento de 47,5%. O IDHM é composto por três dimensões: renda, longevidade e educação, e todas elas evoluíram positivamente nestes 20 anos. O IDHM do Brasil passou de muito baixo para alto. Dado extremamente positivo. É considerado muito baixo o IDHM inferior a 0,499, enquanto a pesquisa chama de alto o indicador que varia de 0,700 a 0,799.
         Porém, a educação continua sendo o principal desafio do país. O índice poderia até ser melhor, mas ela puxou para baixo o desempenho do Brasil. Embora seja a pior marcação, foi na educação que houve maior avanço nas duas últimas décadas, tendo dado um salto de 128%. O quadro era muito pior. O dado positivo na educação é que escola de ensino fundamental já consegue em algumas regiões até 91% de matriculados. O grande desafio é o ensino médio. Entre jovens de 18 a 20 anos, a proporção com ensino médio completo aumentou  de 13% para 41% apenas ao longo das duas décadas. Além disso, os números mostram que de cada 100 jovens na faixa de 18 a 20 anos, 59 ainda não tinham terminado essa etapa. A evasão é muita alta.
         Os maiores desafios são evitar a evasão escolar, aumentar a matrícula e retenção no ensino médio e principalmente melhorar a qualidade da educação brasileira em todos os níveis. Recursos existem, mas por falta de boa gestão há corrupção e desvios de dinheiro público nos municípios. A CGU acaba de descobrir desvios e má aplicação dos recursos do Fundeb na educação básica em 70% das cidades. Isso é muito grave e precisa ser apurado e corrigido. O quesito longevidade – expectativa de vida da população é a área que apresenta melhor pontuação. É o único componente que está na faixa classificada pela pesquisa como um IDHM muito alto, quando o índice ultrapassa 0,800. A cada ano os brasileiros vivem mais em todo o país. Dos 5.565 municípios brasileiros, 3.176 têm o IDHM longevidade muito alto. Nenhuma cidade está na faixa baixo ou muito baixo. A expectativa de vida no Brasil, hoje, varia de 65 anos, nas cidades de Cacimbas, na Paraíba, e Roteiro, em Alagoas, a 79 anos, nos municípios catarinenses Balneário de Camboriú, Blumenau, Brusque e Rio do Sul. O crescimento na expectativa de vida nos últimos 10 anos – 46% no Brasil e 58% no Nordeste – poderia ser ainda maior se não fosse o impacto da violência entre os jovens. Outro desafio.
         Já a renda mensal per capita saltou 14,2% no período, o que corresponde a um ganho de R$ 346,31 em 20 anos. Cerca de 73% dos municípios avançaram acima do crescimento médio nacional, mas a pesquisa evidenciou a concentração de renda do país, embora mostre redução na desigualdade entre Norte e Sul. As regiões Sul (64,7%, ou 769 municípios) e Sudeste (52,2%, ou 871 municípios têm uma maioria de municípios concentrada na faixa de alto desenvolvimento humano. No Centro-Oeste (56,9%, ou 265 municípios) e no Norte (50,3%, ou 226 municípios), a maioria está no grupo de médio desenvolvimento humano. Sul, Sudeste e Centro-Oeste não têm nenhum município na faixa de muito baixo desenvolvimento humano. Por outro lado, as regiões Norte e Nordeste não contam com nenhum município na faixa de muito alto desenvolvimento humano. O DF tem o IDHM mais elevado (0,824) e se destaca também como o único a figurar na faixa de muito alto desenvolvimento humano.
         Brasília tem o maior IDHM renda (0,863), o maior IDHM educação (0,742) e o maior IDHM longevidade (0,873). Na outra ponta, Alagoas (0,631) e Maranhão (0,639) são os estados com menor IDHM do país. O Ceará registrou crescimento de 68,4% em seu IDHM em 20 anos, sendo o segundo melhor do Nordeste, atrás apenas do Rio Grande do Norte. De modo geral, o Brasil melhorou muito, mas precisa ter acima de tudo uma gestão mais competente e fiscalizadora dos recursos públicos para oferecer uma educação de qualidade em todos os níveis, diminuição das desigualdades sociais e oferecer também outros serviços públicos de qualidade. Somente dessa forma podemos coibir desvios de dinheiro público e corrupção. Com recursos bem aplicados e fiscalizados, com certeza o Brasil pode ser muito melhor.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas  abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urgente ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia;emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; sistema financeiro nacional; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A CIDADANIA, O LEGADO DO PAPA E OS PARADOXOS DA QUALIDADE BRASIL

“O legado que o papa Francisco deixou para o povo brasileiro
        
         Não é fácil em poucas palavras resumir os pontos relevantes das intervenções do papa Francisco no Brasil. Enfatizo alguns com o risco de omitir outros importantes.
         O legado maior foi a figura de Francisco: um humilde servidor da fé, despojado de todo aparato, tocando e deixando-se tocar, falando a linguagem dos jovens e as verdades com sinceridade. Representou o mais nobre dos líderes, o líder servidor que não faz referência a si mesmo, mas aos outros, com carinho e cuidado, evocando esperança e confiança no futuro.
         No campo político, encontrou um país conturbado pelas multitudinárias manifestações  dos jovens. Defendeu sua utopia e o direito de ser ouvidos. Apresentou uma visão humanística na política, na economia e na erradicação da pobreza. Criticou duramente um sistema financeiro que descarta os dois pólos: os idosos, porque não produzem, e os jovens, não criando-lhes postos de trabalho. Uma sociedade assim pode desabar.
         O tema da ética era recorrente, fundada na dignidade transcendente da pessoa. Com referência à democracia, cunhou a expressão “humildade social”, que é falar olho no olho, entre iguais, e não de cima para baixo. Apontou uma opção sempre possível: o diálogo construtivo. Três categorias sempre voltavam: o diálogo como mediação para os conflitos, a proximidade com as pessoas para além de todas as burocracias e a cultura do encontro.
         No campo religioso, foi mais fecundo e direto. Reconheceu que “jovens perderam a fé na Igreja e até mesmo em Deus pela incoerência de cristãos e de ministros do evangelho”. O discurso mais severo reservou para os bispos e os cardeais latino-americanos. Conclamou-os não apenas a abrir as portas para todos, mas a saírem em direção ao mundo e para as “periferias existenciais”. Criticou a “psicologia principesca” de membros da hierarquia. Dois eixos devem estruturar a pastoral: a proximidade do povo, para além das preocupações organizativas, e o encontro marcado de carinho e ternura. Entende a Igreja como mãe que abraça, acaricia e beija. A Igreja não pode ser controladora e administradora, mas servidora e facilitadora.
         Ademais, deu centralidade aos leigos para, junto com os pastores, decidirem os caminhos da comunidade. O diálogo com o mundo moderno e a diversidade religiosa: o papa Francisco não mostrou nenhum medo. Quer inserir-se num profundo sentido de solidariedade para com os privados de comida e de educação. Todas as confissões devem trabalhar juntas em favor das vítimas. Pouco importa se o atendimento é feito por um cristão, um judeu, um muçulmano ou outro. O decisivo é que o pobre tenha acesso à comida e à educação.
         Aos jovens, dedicou palavras de entusiasmo e de esperança. Contra a cultura do consumismo e da desumanização, convocou-os a serem “revolucionários” e “rebeldes”. É através da janela dos jovens que entra o futuro. Criticou o restauracionismo de alguns grupos e o utopismo de outros. Colocou o acento no hoje: “no hoje se joga a vida eterna”. Desafiou-os para o entusiasmo, para a criatividade e para ir pelo mundo espalhando a mensagem generosa e humanitária de Jesus, o Deus que realizou a proximidade e marcou encontro com os seres humanos.
         Na celebração final, havia mais de 3 milhões  de pessoas, alegres, festivas e na mais absoluta ordem. Desceu uma aura de benquerença, de paz e de felicidade sobre o Rio de Janeiro e sobre o Brasil que só podia ser a irradiação do terno e fraterno papa Francisco e do sentimento divino que soube transmitir.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 2 de agosto de 2013, caderno O.PINIÃO, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 7 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Alfabetto – autobiografia escolar (Ática), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Paradoxos da qualidade Brasil
        
         O Brasil melhora em quantidade e tropeça em qualidade. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) de 5.565 municípios brasileiros, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 29 de julho, subiu 47,5% nos últimos 20 anos. Em 1991, índice de municípios com IDH “muito baixo” era de 85,8%. Hoje, apenas 0,6%. Naquele ano, nenhum município mereceu a classificação de “muito alto”. Em 2000, apenas São Caetano do Sul, no ABC paulista. Agora, 44 municípios brasileiros têm IDH “muito alto”, entre os quais Belo Horizonte, que ocupa a 20ª posição.
         Nosso país melhorou na longevidade, no crescimento da renda da população e na educação. Em 20 anos, a vida média do brasileiro passou de 64,7 anos para 73,9. A renda cresceu 14,2%. Um ganho de R$ 346,31. Mas é bom não esquecer que, se há 10 galinhas e 10 pessoas, não significa que há uma galinha para cada pessoa. Uma delas pode ser dona de nove. Nossa distribuição de renda ainda é das piores do mundo. Basta lembrar que o Brasil é a quarta maior fortuna em paraísos fiscais! Bilionários brasileiros vivem se queixando dos impostos. Da boca para fora. Pesquisa aponta o Brasil como a quarta fortuna mundial em paraísos fiscais: US$ 520 bilhões (mais de R$ 1 trilhão ou quase 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que foi de R$ 3,6 trilhões em 2010. Tudo dinheiro sonegado.
         Nem tudo são rosas também em nosso IDH. Quase 30% das cidades brasileiras têm IDH “muito baixo” no quesito educação. E apenas cinco cidades merecem o índice “muito alto”. A educação é o grande entrave da qualidade Brasil. Menos da metade de nossos jovens de 18 a 20 anos termina o ensino médio: 41% dos alunos. Há 20 anos, apenas 13% dos alunos não se diplomavam no ensino médio. Nisso o Brasil anda a passo de caranguejo, para trás. Se 59% dos jovens não têm ensino médio completo, fica difícil para o nosso país suprir seu atual déficit de profissionais qualificados, como médicos e engenheiros.
         “O Brasil avançou na universalização do acesso à educação. Agora é preciso universalizar a aprendizagem”, afirma Priscila Cruz, do Todos pela Educação. E resgatar a qualidade de nossas escolas públicas, hoje sucateadas. O Distrito Federal tem o melhor IDH entre as unidades de nossa federação. Minas ocupa o 9º lugar. Entre as capitais, Belo Horizonte fica em 5º, atrás de Florianópolis, Vitória, Brasília e Curitiba. Alagoas e sua capital, Maceió, amargam o mais baixo IDH brasileiro. Convém salientar que 99% dos municípios com IDH em educação “alto” ou “muito alto” ficaram abaixo das notas consideradas satisfatórias, em língua portuguesa e matemática, na Prova Brasil de 2011.
         Os problemas de nossa ensino médio são a falta de qualidade (sem tempo integral, informática, laboratórios, e com professores mal remunerados e sem formação contínua) e o abismo entre e o que se ensina e a realidade em que vivem os nossos jovens (falta de pedagogia e adequação às novas tecnologias). Em 2009, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) classificou o Brasil na 53ª posição entre 65 países, atrás do México, Uruguai e Chile. Raros os alunos de nossas universidades que conseguem escrever uma simples carta sem graves erros de concordância. Falta à maioria o hábito de frequentar a boa literatura.
         É preciso ouvir a voz das ruas. De nossos jovens, 85,2% consideram a educação prioridade.  O governo federal não pode continuar, em matéria de educação, em passos de escola de dança, um para frente e dois para trás, como no caso dos cursos de medicina. É urgente a aplicação de ao menos 10% do PIB na educação, o incremento do ensino profissionalizante e o resgate da escola pública gratuita, em tempo integral e de qualidade. Em conferência para mais de 5 mil profissionais do ensino, em Brasília, pedi que levantassem as mãos quem era professor. Quase todos o fizeram. Em seguida, pedi que fizessem o mesmo gesto de quem sonha em ter o filho ou a filha no magistério. Pouquíssimas mãos se ergueram. Triste o país que não se orgulha de seus professores, concedendo-lhes condições dignas e qualificadas de trabalho.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem (por exemplo, as vísceras expostas das obras de construção de metrô no país); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões),  a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; assistência social; previdência social; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; comunicações; esporte, cultura e lazer; turismo; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...        

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A CIDADANIA, UM ESTADO EFICIENTE E A REVOLUÇÃO DO PAPA

“Por um Estado eficiente
        
         Os olhos da vida e o exercício da razão pensante vêm demonstrando que países com instituições coesas apresentam melhores índices de crescimento, produção e melhora de renda per capita. Ao contrário do que se poderia imaginar, o desenho institucional de uma nação não é uma simples abstração teórica ou meros nacos de tinta sobre papel. Essa visão estática da estrutura organizacional do poder político não se sustenta frente à dinâmica realidade da sociedade contemporânea. Sem cortinas, vivemos um tempo de transformações rápidas que exigem soluções céleres e resultados eficazes. Logo, a continuidade do crescimento econômico brasileiro exige um aprimoramento progressivo das instituições nacionais, firmado em um modelo otimizado de eficiência pública.
         Nesse caminho, é urgente e necessário diferenciar “órgãos de Estado” de “posições de governo”. Não é mais possível que, a cada eleição, a máquina pública seja desmantelada para atender os insaciáveis interesses da casta partidária oficial. O motivo é simples: o interesse público é do Brasil e não deste ou daquele partido. Dessa forma, a confusão entre administração pública e interesses partidários apenas serve para cavar valas de clientelismo e corrupção no seio das instituições nacionais. E clientelismo e corrupção podem ser tudo, menos estimulantes à confiança que faz nascer o crescimento econômico.
         A voracidade no aparelhamento da administração federal pode ser vista em um exemplo pontual, mas elucidativo: o governo federal tem 39 ministérios! Nessa babel política, é provável que, se a presidente da República almejasse fazer uma reunião ministerial, talvez não soubesse o nome de todos os ministros, tendo que se socorrer do bom e velho cartão de visitas. Feito o registro, o fato bem revela que o gigantismo governamental apenas serve para aumentar a despesa pública, inchar a máquina e, ao fim, incorrer em manifesta violação do artigo 37 da Constituição, que estabelece a “eficiência” como princípio vetor da administração pública brasileira.
         Como se vê, ainda vige no Brasil um forte ranço patrimonialista que pensa que o Estado é um serviçal dos donos do poder. Essa circunstância é grave e demonstra um acintoso desapreço pelas instituições republicanas. Há um claro fracasso da Constituição de 1988 na tentativa de moralizar a promíscua relação entre o bem público e o interesse político majoritário. Passados 25 anos de vigência da Carta, seguimos, infelizmente, a conviver com práticas políticas parasitárias que apenas buscam o poder sem qualquer projeto político de nação. Não se discute, por óbvio, o direito da corrente eleitoral vencedora de montar estrategicamente suas posições de governo, trazendo para a administração pública personalidades capacitadas e bem desenvolver o programa partidário prevalecente. Todavia, montar posições de governo não significa empregar amigos e bajuladores. Isso acontecendo, além de ineficiência, temos um poder imoral.
         Em um autêntico Estado constitucional de direito, o governo deve representar segurança jurídica, previsibilidade de condutas, cumprimento da lei e efetiva responsabilidade contra eventuais transgressões políticas. Por conseguinte, um governo firmemente institucionalizado evita o populismo e a demagogia de maiorias parlamentares eventuais. Além de combater os vícios da política pequena, o irrestrito respeito ao princípio da legalidade fomenta o crescimento econômico à medida que sinaliza aos agentes do mercado que as regras do jogo são cumpridas, gerando, ato contínuo, confiança e credibilidade nas instituições nacionais.
         Em sua rota de progresso, é chegada a hora de o Brasil construir autênticas e virtuosas instituições públicas. Além da profissionalização apartidária dos órgãos de Estado – fundada em preceitos de meritocracia, eficiência e exação –, temos que estabelecer um sistema legal mais simples, integrado e compreensível a todo e qualquer cidadão nacional ou estrangeiro. Ora, a lei existe para facilitar a vida em sociedade e não para criar confusão. Quando as coisas complicam, é sinal, justamente, de que a legalidade deixou de ser prestigiada. Será, então, que deixaremos a estabilidade econômica ser comprometida por práticas políticas que prejudicam o sério e eficiente funcionamento das instituições nacionais? Será que, mais uma vez, o Brasil vai perder para si mesmo? Será, enfim, que a voz das ruas muito grita e nada fala?”

(SEBASTIÃO VENTURA PEREIRA DA PAIXÃO JR., advogado, especialista do Instituto Millenium, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, que é doutor em comunicação pela Universidade de Navarra, e que merece igualmente integral transcrição:

“A revolução do papa
        
         A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho, foi o maior fenômeno de massas da nossa história. Mais de 3 milhões de pessoas lotaram as areias da Praia de Copacabana para ouvir o papa Francisco. Foi um espetáculo incrível de fé, unidade e alegria. Como todos que lá estiveram, vivi uma experiência forte. O clima era de final de Copa do Mundo. A multidão gigantesca não era massa despersonalizada. Tinha um toque de família que impressionava e mexia por dentro.
         Usando tênis e mochilas e agitando as bandeiras de seus países, os jovens cantaram, dançaram e entoaram bordões como “ Somos a juventude do papa”. Mas também vi, nos momentos previstos de recolhimento e oração, um silêncio que se podia cortar. Ouvia-se apenas o rumor das ondas do mar. Incrível! Durante quase uma semana, apesar da chuva, do frio e dos problemas de organização, milhares de jovens vindos de todas as partes do mundo mostraram a surpreendente capacidade de renovação da Igreja Católica.
         O papa falou dos riscos dos valores efêmeros como sucesso, dinheiro e poder, alertou para as atitudes egoístas, convocou os jovens a não esmorecerem na luta contra a corrupção e reforçou seu empenho contra a pobreza, a desigualdade e a insensibilidade social.  Mas, sobretudo, o papa sacudiu a própria Igreja Católica e fustigou as atitudes de acomodação e burocracia. Falando aos jovens argentinos, na Catedral do Rio, papa Francisco pediu uma Igreja “barulhenta” que “saia às ruas”. “Espero uma confusão na JMJ, mas quero confusão e agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Quero que a Igreja vá para as ruas. Quero que nos defendamos de tudo que seja acomodação e ficar fechado em torno de nós mesmos. Não podemos esvaziar a fé”, disse. Na missa que marcou o encerramento da jornada, o papa mais uma vez apontou os jovens como os atores principais da propagação  da fé católica. Na homilia, ele pediu à multidão, estimada em 3,5 milhões de pessoas, que não ficasse “trancafiada” em casa. “A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que os caracteriza”.
         Em uma semana no Brasil, o papa Francisco delineou os caminhos de seu pontificado. Em discurso para os bispos da América Latina no último dia de sua visita ao Brasil, o papa criticou a “ideologização” da Igreja por grupos que vão da “categorização marxista” até os “restauracionismos” de “formas superadas”. Mas a crítica do papa também disse respeito à leitura do evangelho de acordo com o “liberalismo de mercado” ou como uma mera forma de autoconhecimento – e, portanto, sem sentido missionário.
         A humildade como princípio e disposição ao diálogo nortearam os discursos do papa dirigido aos políticos e às autoridades. Depois de criticar “pessoas que, em vez de procurar o bem comum, procuram o próprio benefício”, ele defendeu que a formulação de políticas públicas seja baseada em valores éticos. Impressionou, e muito, o tom positivo que permeou todos os discursos e homilias do papa. Impressionou, também, a transparência do papa Francisco em suas entrevistas aos jornalistas. O que se viu não foi uma Igreja acuada, na defensiva. Ao contrário. O papa rasgou um horizonte valente e generoso. Deixou claro que os católicos não são antinada. O cristianismo não é uma alternativa negativa, encolhimento medroso ou mera resignação. É uma proposta afirmativa, alegre, revolucionária. Os discursos do papa não desembocaram num compêndio moralizador, mas num desafio empolgante proposto por uma pessoa: Jesus Cristo. Os jovens entenderam o recado e mostraram notável sintonia com o papa.
         O papa é exigente. Sem dúvida. E os jovens vão atrás do seu discurso comprometedor. Não gostam de um cristianismo desidratado. A juventude abraça grandes bandeiras: a coerência com a fé, a rebelião dos valores, a luta contra as discriminações, a defesa da vida, o combate à corrupção. Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental perderá conexão com o novo mundo. Afinal, como bem salientou o papa: “A juventude é a janela pela qual o futuro entra na mundo”.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
  
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; esporte, cultura e lazer; turismo; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...         

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A CIDADANIA, A REVOLTA DOS MISERÁVEIS E AS LIÇÕES DA JORNADA DA JUVENTUDE

“A revolta de todos: os miseráveis brasileiros
        
         Peço licença para dizer, depois de várias pesquisas e com a dignidade que sempre presidiu às minhas ideias, que o recente movimento social brasileiro é o maior movimento social do mundo e de todos os tempos, justamente porque não tem nenhuma liderança; sem cor política e sem pragmatismo; porque é um movimento ditado e conduzido por Deus, e, portanto, não necessita de compassos, prumos, formas e nem de martelos.
         Lembro-me, obedecidas as proporções, da revolta social contida e descrita no livro Os miseráveis, de Vitor Hugo, talvez a maior obra humanitária e social de todos os tempos, cujo valor intangível fez cair o véu dos olhos daquele grande contingente miserável, escrutando a pobreza material, social e moral a que estavam, diariamente, submetidos.
         Agora, nós, os miseráveis brasileiros, estamos a nossa pobreza material, moral e social que os escroques impuseram à nação brasileira durante tantos e tantos anos. Não é mais possível que numa república que diz assegurar, constitucionalmente, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, que a maior parte de sua sociedade seja constituída de escravos.
         Nós, os miseráveis brasileiros, buscando alcançar a alma da nação brasileira, acordamos em inédito movimento social, fazendo com que a mesma recebesse na fronte rajadas de luz e presenciasse uma chuva de estrelas. Agora, estamos aprofundando nas galerias subterrâneas do nosso sofrimento, para que a nossa mente não se afogue mais nas galerias da mentira, e fazendo com que a ventilação chegue perto das janelas e possamos respirar, descansando e renovando o nosso espírito.
         Buscamos, agora, a verdade, que, como disse Epimênides, “é aquela que alumia a terra, sustenta a justiça, governa a república, confirma o que é claro e aclara o que é duvidoso”.
         Como já disse, o inédito movimento social brasileiro é obra ditada por Deus, repleta de misericórdia e, como tal, um alívio ou um remédio para a miséria humana brasileira, material, social e moral e para que a dignidade humana não continue sendo enganada pela voz dos canalhas e daqueles que sempre se alimentaram nas maminhas da corrupção.
         A verdade veio à tona, com o inédito movimento social brasileiro e ainda que no mar da mentira a assaltar os corsários da traição, do engano, da maldade e da aleivosia, não conseguirão rendê-la. Por mais que a falsidade faça por afogá-la, não conseguirá, porque quanto mais as águas da tormenta quiserem sumi-la, ela se levantará dentro das ondas, como o sol nascente quando se eleva sobre o horizonte, descobrindo seu rosto iluminado.
         Por meio do inédito movimento social brasileiro, gritamos à nação, num grito único e estrondoso: somos contra a mentira perene dos déspotas políticos! Contra a maior carga tributária do mundo! Contra a humilhação e desonra que somos submetidos todos os dias! Onde estão os meus direitos constitucionais à saúde e à educação? Onde estão os meus direitos constitucionais à segurança pública e à segurança jurídica? Não aguentamos mais essa famigerada “ditadura bancária!” Não aguentamos mais a desfaçatez de se tentar calar a imprensa séria do nosso país! Não aguentamos mais aquela imprensa corrupta, estrategicamente calada e que sempre mamou nas tetas do poder corrupto, cujo paroxismo da bajulação já atingiu a raia do ridículo! Não aguentamos mais a incúria de se tentar, a qualquer preço, a destruição das instituições sérias do nosso país! Não aguentamos helicópteros voando às custas do dinheiro público.
         Destarte, o inédito movimento social brasileiro tem como sua principal virtude a magnificência que, agora, há de ser medida pela grandeza de nossa nação e pela grandeza do seu povo, que sabe não ser a política uma atividade profana, mas um instrumento para a realização duradoura daquelas condições necessárias aos cidadãos para o fortalecimento de suas qualidades pessoais; de suas funções; de sua vida material, intelectual, religiosa e moral. Certo é que, apesar de ter ganho a batalha, ainda não ganhamos a guerra, na medida em que não se fez, estrategicamente, a leitura do inédito movimento.
         Na verdade, como resposta às nossas reivindicações, estão tentando nos oferecer verdadeiros factóides políticos. Absurdos inconstitucionais. Mentiras, somente mentiras, tais como plebiscito para a reforma política; o direito do pré-sal (que não se sabe quando vai aparecer); e a contratação de médicos estrangeiros, tudo para salvar a saúde brasileira. Não vou reduzir o número dos ministérios porque isso não é necessário para frear a “gastança” desenfreada do dinheiro público, e que a inflação brasileira está dentro da meta governamental.
         Miseráveis, também, aqueles cujas almas são repletas de hipocrisia, porque no alto de seu absolutismo a paciência é fingida, a prudência é a malícia e a temperança é a pior das corrupções: a da alma. Oportuno lembrar o imperador Gordiano quando, presenciando às escuras como andavam muitos chefes de governo, costumava dizer: “Miserável é o rei a quem se calam as verdades”.
         Devemos continuar gritando: não aguentamos que a desgraça continue sopesando sobre os nossos ombros, desesperando as nossas almas e despedaçando os nossos corações. Temos motivos de sobra para continuar lutando, para, afinal, conseguir que a virtude e o amor ao nosso Brasil sejam infundidos em todas as veias de nosso Estado como seiva e sangue reparadores.”

(RONALDO CESAR DE FARIA. Procurador de Justiça, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de agosto de 2013, caderno DIREITO & JUSTIÇA, página principal).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo e edição, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Legado de lições da JMJ
        
          A Jornada Mundial da Juventude 2013 (JMJ), festa da fé realizada no Rio de Janeiro, deixa um legado de lições a serem vivenciadas pela Igreja Católica e por toda a sociedade. Três delas se destacam. Em primeiro lugar e acima de tudo está a evidência da significação da presença e da centralidade de Deus na vida de cada pessoa e da sociedade. Destaca-se também o testemunho luminoso do papa Francisco, configurado em simplicidade, ternura, transparência e proximidade, na sua primeira visita internacional, ainda bem no início de sua missão como sucessor do apóstolo Pedro. E no coração desse cenário, obviamente, a razão da JMJ, a presença maciça e envolvente dos jovens procedentes do mundo inteiro. Essas lições se desdobram em muitas outras constituindo a JMJ como fonte de referência.
         A presença de Deus no coração de cada pessoa e no grandioso coração da multidão reunida nas ruas e praças, no aconchego das famílias, nas igrejas ou nos ambientes de trabalho e lazer, muda tudo. Abre caminhos na direção do bem e fortalece a convicção de que o amor conduz à fundamental afirmação da vida, lugar comum e inegociável do encontro de todos com suas afinidades e diferenças. A análise simples do que ocorreu nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, particularmente nos eventos em Copacabana, especialmente a congregação de mais de 3 milhões de pessoas na missa de envio, encerrando uma verdadeira “maratona da fé”, comprova o diferencial em razão da centralidade de Deus. Sua presença no coração de cada um configurou uma grande comunidade, pela fé e pelo amor, de irmãos e irmãs de diferentes raças, línguas, povos, culturas e procedências. Um nível de unidade e fraternidade, sem incidentes ou violências, que só a presença amorosa de Deus consegue articular e manter.
         Particularmente, merece atenção o admirável silêncio ante o mistério ali celebrado. Silêncio amoroso e de reverência que, certamente, Copacabana jamais presenciou. Essa força de Deus é uma lição para uma nação laica, por suas razões constitucionais, mas com um povo que preza e se sustenta pelo tesouro de sua fé. Uma realidade que adverte e pede atenção de governantes e construtores dessa sociedade pluralista. Que torna imprescindível considerar esse horizonte de lições se quiserem dar consistência a projetos sociais e políticos no atendimento das demandas do povo.
         O testemunho do papa Francisco, luminoso por seu caráter evangélico e pela proximidade do seu jeito de ser ao de nosso mestre Jesus Cristo, ilumina o horizonte do caminho missionário da Igreja. Verdadeiro discípulo do Senhor, Francisco ajuda a sociedade a buscar, de modo imprescindível, a fraternidade e a solidariedade. A proximidade junto a todos, especialmente pobres, sofredores, crianças, sua palavra simples, direta e densa de interpelações, tudo cultivado com a alegria de ser servidor de todos, consolida um rumo novo no caminho evangelizador da Igreja. Oferece muito, ou quase tudo o que a sociedade necessita aprender para ser mais justa e solidária.
         Por isso mesmo, o testemunho do papa Francisco, na gravidade de sua responsabilidade e no peso da repercussão singular de seus gestos e palavras, reafirma o horizonte que deve sempre orientar o caminho da Igreja e de todos os discípulos de Jesus. É primordial essa sua missão como sucessor do apóstolo Pedro, o escolhido por Cristo para presidir o colégio dos primeiros apóstolos. Início do caminho bimilenar da Igreja Católica, que atravessa os tempos pela força de testemunhos como o do papa Francisco.
         Sua missão assim vivida aponta decisivamente o rumo e o rosto de nossa Igreja. Fortalece testemunhos, alarga o comprometimento com uma Igreja simples, pobre, próxima, hospitaleira, que testemunha o evangelho de Jesus Cristo, nele alavancando crescimentos. Virtudes reafirmadas de maneira eloquente na 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos e Caribenhos no Santuário de Aparecida, em 2007, com presença e decisiva contribuição do então cardeal Jorge Bergoglio. Esse testemunho do papa Francisco toca especialmente a juventude, que tem uma presença envolvente, anseios e dinâmicas próprias dessa fase da vida. Lições que indicam um lugar de escuta e de aprendizagem para introduzir todos no tempo novo da Igreja e da sociedade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, isto é, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro nacional; logística; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...