quinta-feira, 24 de julho de 2014

A CIDADANIA, A FORÇA DO MISTICISMO E A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO

“O místico de hoje compartilha com todos as graças que recebe
        
         O misticismo é uma fase da evolução humana, e por ela todos, mais cedo ou mais tarde, temos de passar. É um dos processos de aproximação à alma, núcleo profundo e elevado do ser.
         À certa altura da evolução, somos atraídos pela alma. A união com esse núcleo é, então, aos poucos desejada, e a atenção da personalidade se volta para ele. É aí que começa o misticismo. Sentimentos, pensamentos e ações interagem e se juntam em busca de algo maior.
         No processo do misticismo, a alma vai se revelando cada vez mais à personalidade. Procura influir de forma que seja percebida, para que o eu externo possa seguir suas indicações e colaborar com o trabalho que ela está fazendo. Desse modo, os anseios profundos do místico revestem-se das coisas que ela mais ama.
         O verdadeiro místico não procura consolo nem paz para si mesmo. À medida que ascende, compartilha o seu estado de alegria e bem-estar. Verte sobre a vida planetária o que lhe vem do mundo interior, embora nem sempre tenha consciência de estar fazendo isso. Se sua busca é de união superior, tudo o que lhe sucede reverte em ações benéficas.
         O verdadeiro místico não retém as graças que recebe. Mesmo que viva uma experiência profunda e importante para si, entrega-a ao Alto com desapego e a deixa fluir sem alimentar desejo de continuá-la. Sua principal função é a de irradiar para todos o que está desenvolvendo em si.
         O verdadeiro místico deve permanecer tranquilo, neutro e impassível. Assim, por seu intermédio a alma pode canalizar energias. É importante frisar que ele trabalha de maneira efetiva também na vida externa, e pode-se ver que sua atuação é bem mais convincente  e forte do que a das pessoas comuns.
         Há casos em que o místico nem mesmo sabe que é místico. Atravessa longos períodos sem ser sinal algum da vida interior. Mas persevera, sem nada ver, nada saber e nada sentir dos planos sutis. Mantém-se paciente, voltado para a alma. É observador e sabe valorizar o que de positivo vai acontecendo em sua vida, sem se esquecer de que a maior parte da sua atenção deve estar nos fatos interiores, ainda que deles não tenha indícios conscientes.
         Tal místico não despreza solicitações externas e está pronto a servir, sem perder sua sintonia com o mundo interior. Sua necessidade é a de ir para dentro de si, e precisa aprender a fazer isso sem deixar de realizar o que lhe cabe no plano material. Esses são os místicos práticos, cujas presenças representam uma grande força para o mundo.
         O místico prático tem de sintetizar sua experiência nos diversos planos de consciência, fundi-los. Este é um dos seus trabalhos de hoje: manifestar algo que reúna sentimento, mente e alma. O resultado já não é tão pessoal, mas muito mais abrangente. É uma expressão universal, receptiva e intuitiva. Os místicos práticos não se submetem ao tempo material do mesmo modo que as pessoas comuns. Eles veem-se num eterno agora e, assim, mais próximos da realidade.
         Os que vivem essa espécie de misticismo têm nesta época sua evolução acelerada. Apesar de tudo o que se observa na sociedade, há muitas forças positivas introduzindo-se na Terra. Compete aos místicos práticos abrirem-se a essas novas energias e irradiá-las sem se darem a perceber. Aspectos ainda virgens estão para ser descobertos no interior dos seres.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 20 de julho de 2014, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16 de julho de 2014, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de MILTON ALVES SANTOS, pedagogo graduado pela USP, gerente do Centro de Desenvolvimento Integral da Organização Não Governamental Ação Comunitária do Brasil, e que merece igualmente integral transcrição:

“Avaliar a educação
        
         O que deve ser avaliado na educação brasileira? A pergunta é capciosa. O aprendizado que crianças e adolescentes brasileiros têm nas escolas deveria ser resultado do tipo de educação a que eles tiveram acesso. Seria simples se aprendizado e educação não fossem conceitos abstratos, que variam de pessoa para pessoa, dependem da classe social, da escolaridade, da percepção e, principalmente, da bagagem que cada um carrega consigo. Se cada pessoa atribui valores diferentes  para tudo devido à vivência individual, como generalizar o tema? Portanto, na prática, não existe uma resposta e segura para a pergunta, a questão merece reflexão.
         Avaliar significa estabelecer parâmetros de qualidade e a qualidade da educação está ligada ao projeto de sociedade que cada país quer para si. Nesse sentido, torna-se imprescindível a definição dos objetivos e ambições para a educação brasileira. De algum modo, isso já está consolidado em nossa constituição, mas precisa ser constantemente reafirmado e esclarecido, pois ainda há resistências em cumprir o que determina a lei.
         Na Constituição, o Art. 205 determina que a educação deve buscar o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A lei diz ainda que a educação é um direito de todos, um dever do Estado e da família e sua realização deve contar com a participação ativa da sociedade. Há uma grande complexidade nesse artigo porque ele não define o que deve ser avaliado, mas apenas estabelece os objetivos e atores do processo educacional. Afinal, como saber se uma pessoa foi plenamente desenvolvida?
         Para a Unesco, o pleno desenvolvimento da pessoa não é uma meta estática que, uma vez atingida, se estabiliza. Pelo contrário. Trata-se de um processo dinâmico que nos persegue ao longo da vida. Sendo assim, o pleno desenvolvimento é alcançado continuamente quando a pessoa satisfaz suas necessidades básicas de aprendizagem.
         Essas necessidades compreendem tanto aspectos formais ensinados nas escolas, como a leitura, a escrita, a expressão oral, o cálculo, conhecimentos específicos e a solução de problemas, quanto aspectos sociais, que dependem da vida em sociedade para serem transmitidos, como conhecimentos gerais, habilidades, valores e atitudes.
         Ainda segundo a Unesco, todas essas necessidades estão submetidas a quatro domínios fundamentais: 1) Aprender a conhecer – a aquisição do conhecimento propriamente dito; 2) Aprender a fazer – o domínio de competências que permitem aplicar o conhecimento em problemas concretos; 3) Aprender a conviver – as habilidades de convívio pacifico, democrático e colaborativo; e 4) Aprender a ser – dependente das três anteriores e materializa os efeitos do pleno desenvolvimento em cada um, tornando uma pessoa mais feliz e apta a enfrentar os vários desafios da vida na sociedade contemporânea.
         Diante do exposto, é possível afirmar que as avaliações oficiais medem uma parte do pleno desenvolvimento de nossas crianças e adolescentes. Basicamente, apenas a parte advinda de suas experiências escolares.
         Um exemplo é o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), uma espécie de Copa do Mundo da Educação realizada a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações mais ricas do planeta e alguns membros convidados, entre eles, o Brasil. Essas avaliações medem o conhecimento em leitura, matemática e ciências. O resultado ranqueia os países de acordo com seu desempenho em cada um dos itens e, quanto menor o resultado, entende-se que maior deve ser o investimento naquele quesito. Após três anos, uma nova avaliação é feita nos mesmos moldes e o ciclo recomeça.
         Por mais que seja aceita a ideia de que é fundamental avaliar essas três áreas do conhecimento, é preciso reconhecer que elas não representam a totalidade do pleno desenvolvimento de uma pessoa. Mantendo a metáfora do esporte, no lugar de uma Copa do Mundo precisamos de uma Olimpíada da Educação, com várias modalidades educativas e não apenas uma pequena expressão de nossas capacidades e necessidades.
         Assim, resgatando a pergunta inicial, para determinar o que deve ser avaliado na educação brasileira, é necessário produzir novas abordagens que combinem as habilidades escolares com as sociais e pessoais, acrescentando no processo avaliativo temas como colaboração, sociabilidade, curiosidade, ética, cidadania, consumo responsável, gosto pelas artes, respeito aos direitos humanos, entre outros.
         Trata-se mais de uma soma do que de uma divisão. Não se propõe o abandono de avaliações como o Pisa, mas a criação de um método de avaliação que integre os campos fundamentais do pleno desenvolvimento , permitindo um novo olhar sobre a educação brasileira e a criação de um plano de longo prazo para nossa sociedade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, as Nações Unidas estimam que as empresas brasileiras gastam 2.600 horas por ano com burocracias tributárias, isso dá 108 dias, ou seja, um terço do ano...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas  com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...    

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO, A PRODUTIVIDADE E UM NOVO JOGO CULTURAL

“Educação e produtividade
        
         Para que possamos levar metade da população ainda vulnerável a um padrão aceitável de qualidade de vida, o Brasil precisará de um crescimento médio anual de 4,2% do PIB até 2030, segundo especialistas. Uma meta factível se triplicarmos o crescimento da produtividade de uma forma sistêmica e generalizada. Mas, para aumentarmos a produtividade, precisamos produzir novos conhecimentos, desenvolver e empregar muita tecnologia. E, para isso, é necessário ter educação e pesquisa de qualidade. Os países que se desenvolveram mais rapidamente nas últimas décadas foram os que mais qualificaram sua força de trabalho.
         O Brasil é perfeitamente capaz disso. Desenvolvemos dois setores bem distintos: o agrícola e o aeroespacial, que hoje são altamente competitivos, principalmente devido à ênfase dada a pesquisa e desenvolvimento no passado, que continuam com muito investimento ainda hoje. Neste mundo globalizado e altamente conectado, precisamos atrair mais os talentos estrangeiros. Pasmem! O Brasil tinha, no início de 1900, 5% da força de trabalho de estrangeiros. Hoje, um século depois, temos somente 0,5%. Devemos não só atrair os estrangeiros, mas principalmente oferecer condições para que os brasileiros que estão no exterior tenham um vínculo maior com as instituições brasileiras, elevando, assim, o nível de qualificação de nossos profissionais e, consequentemente, de nossa produtividade.
         Para o país tornar-se competitivo, é necessário que suas empresas e organizações sejam competitivas, e, para isso, é necessário que seus colaboradores sejam profissionais competitivos, que, por sua vez, só o serão se forem qualificados e produtivos. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostrou que a produtividade do trabalhador na indústria brasileira caiu de 30% para 20% se comparado ao trabalhador da indústria norte-americana nos anos de 1973 a 2004. Hoje, um trabalhador norte-americano produz o equivalente à produção de cinco brasileiros, por um mesmo período. E somente com educação poderemos reverter esses números. Educação e pesquisa de qualidade geram novas tecnologias, processos, negócios e produtos.
         O Plano Nacional de Educação, aprovado recentemente no Congresso Nacional, deu ênfase ao aumento progressivo no investimento do setor público. O objetivo é chegar a 10% do PIB em 2024. Outra meta importante e ambiciosa é a de formar 60 mil mestres e 25 mil doutores por ano.
         A pesquisa de inovação tecnológica (Pintec), realizada pelo IBGE e divulgada no final de 2012, mostrou que, entre as 128,68 mil empresas pesquisadas, somente 35,6% haviam sido inovadoras. Essas empresas empregavam nas atividades internas de pesquisa e desenvolvimento somente 11 mil profissionais pós-graduados. Mostrou também que a falta de pessoal qualificado era um gargalo para o avanço da inovação em 72,5% das empresas.
         O Ietec, referência em educação no setor de engenharia há 27 anos, irá contribuir com essa meta na formação dos mestres, com o mestrado em engenharia e gestão de sistemas e processos. A união da engenharia com a gestão vem colaborar significativamente para o desenvolvimento do país. O Brasil tem cerca de 668 mil engenheiros registrados nos conselhos de engenharia e agronomia, e, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), desses, somente 28% exerciam efetivamente a função típica de engenheiro. Onde estão os outros? Grande parte exercendo cargos de gestão, e outros estão na área de pesquisa e desenvolvimento.
         Precisamos proporcionar a união da teoria acadêmica avançada dos pesquisadores com a prática profissional dos engenheiros, administradores e outros profissionais de ciências sociais e da terra, formando, assim, profissionais com base conceitual sólida associada à necessidade empresarial. A formação ideal do profissional é a combinação de uma base ampla de conhecimento matemático teórico com know-how prático. Educação e produtividade, com mais mestres, para um Brasil mais próspero e justo.”

(RONALDO GUSMÃO. Presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de julho de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 18 de julho, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente transcrição:

“Novo jogo cultural
        
   Jogadas as partidas da Copa do Mundo, concluído o evento, com os saldos positivos, a sociedade brasileira, incontestavelmente, está emoldurada pela exigência de investir em um novo jogo cultural. É pobre o discurso que considera apenas a avaliação exitosa do Mundial, como vitorioso contraponto às vozes dos que “torciam contra”, apostando no caos em aeroportos, trânsito e outros serviços. Não foi assim, felizmente. Contudo, poderia ter sido bem melhor se governantes agissem com mais lucidez, as burocracias não atrasassem processos e os interesses espúrios não fossem tão determinantes. Avanços mais expressivos seriam alcançados se prevalecesse um sentido cidadão por parte daqueles que têm tarefas determinantes na condução da sociedade plural.
         Não menos ingênuo, depois de sinalizações e posturas populares, nos estádios e nas ruas, é apontar aspectos negativos do evento para construir o discurso político da corrida eleitoral em processo. É inteligente saber que o sentimento popular resiste a essas estratégias utilizadas na confecção de linguagens políticas que buscam captar a benevolência de eleitores. O Mundial, junto das manifestações populares que ocorreram em meados de 2013, desenhou no horizonte da sociedade brasileira que é indispensável investir num novo jogo cultural, sob pena de atrasos e de vergonhosas goleadas em muitos campos, não só do futebol.
         Essa intuição não é de um político iluminado, de uma estrela do futebol e nem mesmo de reverenciados intelectuais de diferentes campos das ciências. O povo fez essa indicação não por um programa formal escrito, divulgado em redes sociais ou outros meios de comunicação. A postura popular, desde a presença nos estádios, suas manifestações de apoio ou descontentamento, a interação com diferentes culturas representadas por turistas e delegações esportivas, com as marcas da proximidade, do respeito e da alegria, sacramentou a grande necessidade de um novo jogo cultural na sociedade brasileira. Discursos repetitivos, consequentemente estéreis, e dificuldade de ouvir e dialogar, especialmente com os pobres e excluídos, tenderão a processual desmoronamento. Sem a necessária alma de caráter antropológico, capaz de compreender o conjunto da existência humana com suas demandas sociais, culturais, religiosas e políticas, perpetuarão os políticos com campanhas eleitorais de tempos passados, com discursos de recíprocos ataques. Predominará a superficial busca de construção de uma imagem de candidato perfeito e salvador da pátria, uma entediante comunicação que ninguém mais consegue ver e, sem alternativa, desliga a TV, o rádio. Prevalece a desilusão.
         A reivindicação desse novo jogo cultural torna-se mais intensa, particularmente, quando se avalia o percurso do grupo campeão da Copa – sua cultura, suas escolhas de planejamento, sua aptidão de cultivar uma autoestima que sustenta a capacidade de lutar, conjuntamente, por metas e ideais. Olhar para essa realidade mostra que a sociedade brasileira precisa analisar e desmontar os esquemas de elitização, que pouco ajudam nos avanços possíveis na atualidade. Incontestavelmente, é hora de aproveitar melhor a oportunidade para a instauração de processos em níveis diferentes da sociedade e nos seus funcionamentos, investindo numa grande obra educativa e cultural. Não se pode perder a chance de aprofundar análises para amadurecer intuições e alcançar indicadores novos, diante da necessidade de novas respostas. Torna-se inoportuno, simplesmente, contentar-se com as conquistas obtidas, pois ficaram abaixo do que era possível, por entraves ideológicos, incompetências de gestão e aprisionamento da cidadania em defesa dos interesses grupais.
         A condição continental do Brasil não pode dispensar a peculiaridade das diferentes regiões nos estados da Federação, com seus valores, tradições e patrimônios próprios. Será sempre inoperante tratar uma realidade grande e complexa sem considerar aquilo que a constitui: suas tradições e valores regionais. Esse raciocínio vale também para os campos da política, economia e religião. Não existe pessoa, ou instância, que, de modo solitário, possa reger um processo de dimensões continentais. Buscar uma nova realidade a partir do diálogo – com a competência de programas governamentais menos genéricos e teóricos, cultivo da autoestima e o investimento de base, iluminado por um horizonte marcado por valores humanísticos – poderá conduzir a sociedade brasileira no caminho indicado pelo povo. É hora de investir num novo jogo cultural.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, competente e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

quarta-feira, 16 de julho de 2014

A CIDADANIA, A ENERGIA SOLAR E A LUZ DA DEMOCRACIA

“Energia solar no Brasil
        
         A demanda por energias renováveis cresce de forma exponencial em todo o mundo em função das pressões ambientais motivadas, principalmente, pelas preocupações quanto ao aquecimento global. No Brasil, a captação de energia solar fotovoltaica e termossolar é uma alternativa de grande valia para o país, uma vez que as características geográficas – banhado pelo sol praticamente o ano todo – privilegiam essa alternativa.
         Para contextualizar esse argumento, é importante dizer que, no Brasil, cerca de 85% da energia elétrica consumida vem de fontes renováveis. As hidrelétricas representam 77% desse total, de acordo com o Ministério de Minas e Energia. O número revela que o país ainda precisa avançar na diversificação da matriz energética, hoje dependente das hidrelétricas e termelétricas, tornando-se vulnerável aos apagões, já conhecidos por aqui.
         Diante dessa necessidade, o mercado de energia solar na América Latina torna-se promissor em função do reconhecimento dos países sobre o importante papel da energia solar como fonte de energia para o futuro. Aliás, muitos desses países planejam ou já estabeleceram incentivos para estimular esse mercado, inclusive o Brasil.
         Em 2012, por exemplo, o país regulamentou um desconto de 80% nas tarifas de transmissão e distribuição para projetos de energia solar em grande escala. No mesmo ano, foi instituído o sistema de compensação de energia elétrica para incentivar o mercado de geração distribuída, estratégico para o setor solar. Outra boa notícia para esse mercado é a perspectiva de o primeiro leilão federal específico de energia solar no Brasil ser realizado ainda este ano.
         Em paralelo ao leilão, alguns estados brasileiros se movimentam para tornar a utilização da energia elétrica solar uma realidade. O Ceará conta com a primeira usina de 1MW baseado na fonte solar fotovoltaica, em Tauá, no interior do estado, e ainda aguarda a efetivação de um fundo que irá incentivar a venda de energia gerada pela usina.
         Já Pernambuco, em 2013, saiu na frente com o primeiro leilão de energia solar no país e contratou, por meio do governo local, 122,8MW de capacidade instalada oriunda da fonte solar fotovoltaica, com um preço médio da energia negociada de R$ 228,63 por MWh.
         Em 2014, o governo do Estado de São Paulo isentou do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) bens e equipamentos usados na geração de energia solar por meio de fontes renováveis, incluindo energia solar. Por meio dessas e de outras iniciativas, o governo paulista pretende atingir 69% de participação de fontes renováveis em sua matriz energética até 2020.
         Os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Tocantins e Piauí, que têm grande potencial para a rápida disseminação da energia solar – em função da elevada tarifa de energia elétrica e a grande incidência de sol durante todo o ano – também englobam a lista de localidades onde a questão já é trabalhada de forma mais intensa.
         O Brasil, com um enorme mercado interno potencial, desponta como o país da América Latina com a melhor perspectiva para esse segmento no longo prazo. No curto prazo, o destaque fica para o Chile, que avança cada vez mais em seu potencial. Já o México tornou-se um mercado promissor em energia solar, somando mais de 300MW de projetos dessa fonte em construção.
         Semelhante ao Chile, o México tem entraves específicos sobre a rede elétrica e a energia solar é competitiva em mercados spot. O país também conta com contratos externos de fornecimento de energia, o que acirra a competição, assim como os investimentos em energia eólica.
         Para promover e estimular as tecnologias e ampliar as aplicações desse tipo de geração de energia no Brasil, a cidade de São Paulo sedia a exposição e conferência Intersolar South America. O evento receberá, de 26 a 28 de agosto, no Expo Center Norte, empresas e profissionais do setor de energia solar para debater as tendências, estabelecer contatos e trocar informações desse mercado, métodos de produtos eficientes, financiamento e planejamento de projetos, e apresentar soluções tecnológicas, entre outros assuntos.
         Chegou o momento de a energia solar despontar também no Brasil. Está provado que há interesse em difundir a energia solar por aqui. Há demanda, receptividade da população e, o mais importante, vontade política para estimular esse mercado, o que elevará o país a um patamar de destaque nesse setor no mundo.”

(MÔNICA CARPENTER. Diretora da Aranda Eventos, empresa organizadora da Intersolar South America, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de julho de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 4 de julho, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Do povo, para o povo
        
         O poder que configura e articula o Estado democrático de direito é do povo e para o povo, conforme reza o artigo 1º, parágrafo único, da Constituição do Brasil. Lembrar-se disso ajuda a compreender que o poder do povo não se esgota, obviamente, no exercício cidadão do direito de votar. Aos representantes eleitos não é permitido usurpar o sentido e as propriedades do poder a ser exercido, que é confiado pelo povo. Além da honra de exercer o poder, os eleitos, quase sempre, são remunerados pelo povo por meio de impostos, que são sempre muito pesados. Portanto, qualquer tipo de usurpação merece protesto e imediata correção. Nesse sentido, a movimentação ideológica partidária não pode ser trampolim para que pessoas e grupos usufruam dos benefícios do poder e, ao considerar somente essa ambição, sejam responsáveis por uma administração inadequada, burocrática, pouco lúcida na escolha de prioridades.
         As eleições deste ano estão ganhando moldura nova, com expectativa de novas dinâmicas e posturas populares, favorecidas com a celebração da Copa do Mundo, sem dúvida um megaevento. O povo, no exercício de seu poder, silenciou a classe política. Inviabilizou uma possibilidade, que era bem real, do uso do Mundial e de seus estádios cheios como palco de comícios. Um sinal de esperança e também demonstração da soberania popular. Torna-se evidente que os desejos de certos grupos não vão contracenar com os anseios do povo, que articular, magistralmente, as euforias e tensões próprias da paixão pelo futebol com demonstrações de amor à pátria e belo sentido de solidariedade universal.
         Essas cenas reacendem a essência do poder que emana do povo. Pelo viés do esporte, em um contexto político e social novo, onde a população exerce sua liberdade de escolha, seu direito de expressão e participação, renova-se a certeza de que a política não pode continuar a ser tratada e vivenciada com as mediocridades que a têm caracterizado. A superação desse quadro supõe os passos corajosos e cidadãos de uma adequada reforma política, para corrigir dinâmicas culturais viciadas e comprometidas. Trata-se de um passo decisivo para transformar o contexto atual de muitos atrasos, que fazem a sociedade brasileira perder oportunidades para o crescimento, não avançar na infraestrutura e na superação dessa vergonhosa e crescente brecha entre ricos e pobres. Faltam educação de qualidade, assistência sanitária adequada, moradia digna, transporte público e tantas outras necessidades. Essas e outras carências constituem uma clara acusação a governos e outros segmentos da sociedade pelo próprio crescimento da criminalidade.
         Uma realidade visível, por exemplo, em dados do Ministério da Saúde (Mapa da Violência 2014), que mostram nossos recordes em homicídios. A cada dia, em média, morrem 154 pessoas assassinadas no Brasil. Diante desse quadro, é possível afirmar que estamos numa verdadeira guerra civil camuflada por várias situações. Há, indiscutivelmente, perda geral do mais relevante sentido humanístico, o que coloca em risco os dias que virão. Engana-se quem pensa estar distante dessa guerra camuflada. Ela não poupa ninguém e se aproxima de todos. A esperança é que o povo, mais consciente de seu poder a partir das lições que deu durante a Copa do Mundo, trate de modo mais qualificado a sua realidade social e política. Desse modo, é possível construir um futuro diferente.
         Diante de posturas novas de quem é soberano na posse do poder, segmentos específicos serão obrigados a adotar novas condutas. Particularmente, os políticos que submetem seus nomes ao sufrágio do voto precisarão criar coragem, como ato de inteligência, para, permanentemente, estar em diálogo sobretudo com os pobres, a base popular. O papa Francisco indica aos pastores que é preciso “ter cheiro de ovelhas”, estando sempre no meio delas. Uma rica lição, que deve ser aprendida também pela classe política. Governar sem ouvir diariamente a voz que vem das ruas e das periferias compromete a confiança recebida do verdadeiro dono do poder, o povo.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo cálculo da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia – Abesco –, o Brasil perde em torno de R$ 11 bilhões ao ano, por não administrar seus gastos com energia e não adotar todo o seu potencial de medidas de eficiência energética...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A CIDADANIA, A DEMOCRACIA, A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E A CONSTRUÇÃO DE SONHOS

“O Brasil tem uma democracia que se nega à participação social
        
          Um grito geral da mídia corporativa, de parlamentares da oposição e de analistas sociais ligados ao status quo de viés conservador se levantou furiosamente contra o decreto presidencial que institui a Política Nacional de Participação Social. O decreto não inova em nada nem introduz novos itens de participação social. Apenas procura ordenar os movimentos sociais existentes, alguns vindos dos anos 1930, mas que nos últimos anos se multiplicaram exponencialmente. O decreto reconhece essa realidade e a estimula para que enriqueça  o tipo de democracia representativa vigente com um elemento novo, que é a democracia participativa. Essa não tem o poder de decisão, apenas de consulta, de informação, de troca e de sugestão para os problemas locais e nacionais.
         Portanto, aqueles analistas que afirmam que a presença dos movimentos sociais tira o poder de decisão do governo, do Parlamento e do poder público laboram em erro ou acusam de má-fé. E o fazem não sem razão. Estão acostumados a se mover dentro de um tipo de democracia de baixíssima intensidade, de costas para a sociedade e livre de qualquer controle social.
         Valho-me das palavras do sociólogo e pedagogo Pedro Demo. Em sua “Introdução à Sociologia”, diz: “Nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis ‘bonitas’, mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que a ela sirva do começo até o fim. Político (com raras exceções) é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaniguados, enriquecer-se à custa dos cofres públicos e entrar no mercado por cima... Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação”. Não faz uma caricatura de nossa democracia, mas uma descrição real daquilo que ela sempre foi em nossa história.
         Mas ela pode ser melhorada e enriquecida com a energia acumulada pelas centenas de movimentos sociais e pela sociedade organizada que estão revitalizando as bases do país e que não aceitam mais esse tipo de Brasil. Agora, esses setores sociais querem completar essa obra de magnitude histórica com mais participação. E eles têm direito a isso, pois a democracia é um modo de viver e de organizar a vida social sempre em aberto.
         O ato de votar não é o ponto de chegada ou o ponto final da democracia, como querem os liberais. É um patamar que permite outros níveis de realização do verdadeiro sentido de toda a política: realizar o bem comum por meio da vontade geral que se expressa por representantes eleitos e pela participação da sociedade organizada.
         Isso, no pensar do teórico da democracia no século XX Norberto Bobbio, se viabiliza por meio da democracia formal e da democracia substancial. A formal se constitui por um conjunto de regras para chegar a decisões políticas por parte do governo e dos representantes eleitos. Como se depreende, estabelece regras, mas não define o que decidir. É aqui que entra a democracia substancial. Ela determina certos conjuntos de fins.
         Os movimentos sociais e a sociedade organizada, devido à gravidade da situação global do sistema-vida e do sistema-Terra, e na busca de um caminho melhor para o Brasil e para o mundo, querem oferecer tudo aquilo que possa contribuir na invenção de outro tipo de Brasil, no qual todos possam caber.
         Uma democracia que se nega a essa colaboração é uma democracia que se volta contra o povo e, no termo, contra a vida. Daí a importância de secundarmos o decreto presidencial sobre a Política Nacional de Participação Social.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 11 de julho de 2014, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Sonho adiado: reagir!
        
         O sonho brasileiro de ser hexacampeão está adiado e isso “dói na pele”, disse alguém. Não é desta vez que se apagará o pesadelo de 1950, a derrota amarga na final para o Uruguai, em pleno Maracanã, o mais simbólico “templo do futebol brasileiro”. A Seleção Brasileira de Futebol, neste terceiro milênio, provocou uma nova ferida. Mas é importante recompor-se para dar um tratamento adequado ao atual contexto do Brasil. Afinal, lutar pelos sonhos e, consequentemente, construir conquistas, não só esportivas, mas, sobretudo, culturais, sociais e políticas, exige efetiva atuação para transformar a realidade.
         O sonho adiado não precisa mexer com os brios da cidadania brasileira. Não se pode satisfazer a autoestima apenas com a organização do megaevento e com as parciais conquistas na infraestrutura – reconhecendo que os sete anos de preparação não fizeram jus ao esperado e merecido pelo povo. Se, nas vésperas da Copa, a mídia exagerou ao anunciar um possível apagão aéreo, imobilidade no tráfego e outras coisas, não deixou de ter razão ao sublinhar que ainda existe uma dívida social. Esse débito não pode ser considerado pago pelo Bolsa Família. Nem pela ascensão social de grande parte da população, quando se consideram os avanços necessários para se alcançar a condição social merecida pelos filhos deste solo que é a mãe pária amada Brasil. É hora de reagir.
         O desencantamento pelo futebol da Seleção Brasileira não pode levar à desilusão. Até porque ainda falta um jogo que pode significar a conquista do terceiro lugar. Não tem grande valor, em um torneio esportivo dessa dimensão, ser o terceiro ou estar entre os quatro melhores do mundo? Que sintoma é esse de só contentar-se em ser o primeiro? Não será uma espécie de síndrome da glorificação? A única seleção que já participou de todas as Copas, a única pentacampeã. São exemplares os povos que receberam em festa suas seleções, mesmo desclassificadas, reconhecendo o esforço e o bom desempenho dos atletas.
         Diante da impossibilidade da conquista do título “em casa”, retoma-se a reflexão sobre as razões que levaram à realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil. Agora não importa se houve vaidade ou interesse político eleitoreiro. Nem mesmo pode-se pensar que o torneio valeu para difundir uma imagem positiva do país. O fiasco da goleada na semifinal revela fragilidades partilhadas não só pelo grupo de jovens atletas que têm condições de ter mais êxito na arte do futebol, mas por todos os brasileiros. O “fiasco deles”, portanto, não é só deles, mas de todos. Não apenas em razão do futebol, mas especialmente pelo que falta em educação, cultura, seriedade, investimento, política limpa, sentido de cidadania e tantas outras coisas que configuram o funcionamento de nossa sociedade.
         A goleada mexeu com os brios da cidadania brasileira e não pode ser atribuída tão somente ao desempenho dos jogadores. Eles são iguais aos demais jovens, filhos de nossas famílias, amigos, conhecidos, estudantes, trabalhadores, sofredores. Embora  sejam “estrelas” em seus times e ganhem dinheiro de forma exorbitante, são também cidadãos comuns, muitos nasceram em famílias pobres, foram alunos de sistemas educacionais comprometidos e fragilizados. Percebe-se que se está diante de todos um enorme desafio, que já é bem enfrentado por outros países. Não basta gostar de jogar futebol e progredir aí profissionalmente. O equilíbrio, a garra e a competência para exercer os próprios dons e qualidades, no campo de futebol, na universidade, na ciência, na solidariedade e na simplicidade do cotidiano exigem mais investimentos, ajustes nas dinâmicas culturais que ambientam o dia a dia de um povo.
         Agora, de modo especial, é hora de reagir, em diferentes frentes de ação, projetos e respostas. É o momento de abandonar a tendência de idolatrar figuras e combater as diferenças sociais gritantes, fazer política com outra ciência, investir para que a juventude possa brilhar na educação, no esporte, na arte, na cultura, gerando um tecido consistente indispensável para se chegar à condição de nação campeã. O sonho está adiado e para torná-lo realidade é preciso reagir, imediatamente. Apoiando os jovens jogadores para a conquista do terceiro lugar, com o sentido de reconhecimento, é  preciso consolidar o que, politicamente, a Copa pode significar: uma etapa nova na história do Brasil.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a fala grave de Santo Tomás de Aquino: “O que faz injusto um governo é tratar-se, nele, o bem particular do governante, com menosprezo do bem comum da multidão. Logo, quanto mais se afasta do bem comum, tanto mais injusto é o regime; ora, mais se afasta do bem comum a oligarquia, na qual se busca o bem de uns poucos, do que na democracia, na qual se procura o de muitos; e ainda mais se aparta do bem comum na tirania, em que se busca somente o bem de um”.); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade,criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...



terça-feira, 8 de julho de 2014

A CIDADANIA, A PAIXÃO PELA COPA DO MUNDO E A BUSCA DA EXCELÊNCIA NA EDUCAÇÃO

“Elogio do pé, que sustenta a paixão pela Copa do Mundo
         
         Em tempos de Copa do Mundo, o pé é o que conta de verdade, pois é com o pé que se ganham ou se perdem partidas de futebol e, eventualmente, a Copa.
         Entretanto, se algum extraterrestre viesse à Terra e reparasse como os humanos tratam os pés, suspeito que ficariam escandalizados. Parece que os consideram a parte menos nobre do corpo, pois os escondem. Pior, tentam sufocá-los com um pedaço de pano, chamado de meia. Depois, estrangulam-no com algo mais duro, de couro, os sapatos. E, não contentes, amarram-nos com finas cordas, os cadarços, para se assegurar de que não vão se libertar. Por fim, colocam todo o peso do corpo em cima dos pés, obrigando-os a cheirar o pó dos caminhos, a sofrer a dureza das pedras, a sentir o mau cheiro de tanto lixo jogado no chão.
         Mas essa interpretação dos alienígenas é exterior e equivocada. O que fazemos com os pés é cuidar deles, pois constituem nosso meio natural de transporte. Mais ainda, os pés são o sinal  mais convincente de nossa hominização. Deixamos para trás o reino animal quando nossos ancestrais antropóides se ergueram sobre os pés e começaram a andar eretos, a ver longe, permitindo o desenvolvimento do cérebro.
         Anatomicamente, são um milagre, com dorso adaptado para aparar os atritos e planta consistente para defender-se das asperezas do solo. Uma rede de pequenos tendões garante as articulações, que conferem equilíbrio aos movimentos. O que não fazem os dançarinos com os pés?
         O pé é tão importante que foi escolhido por muitos povos antigos e modernos, como os anglo-saxões, como unidade de mentira. Um pé equivale a 12 polegadas, o que corresponde a 30,48 cm. A poesia, a forma mais nobre da literatura, tem que pés certos para ser harmoniosa.
         Sem os pés, não teríamos o futebol, para o qual os pés são tudo. É o esporte mais criativo, diverso e mobilizador que existe. É uma metáfora do que melhor podemos apresentar: a combinação feliz do desempenho do indivíduo com a cooperação do grupo. Poder ser uma verdadeira escola de virtudes: autodomínio, tranquilidade, gentileza e capacidade de perdão ao não retrucar pontapé com pontapé. Por somos humanos, às vezes tal coisa pode acontecer. Mas não é permitida. O jogador é advertido, punido com cartão amarelo ou vermelho e pode até ser expulso.
         Se consultarmos o dicionário Aurélio, encontramos ali mais de uma dezena de significações ligadas ao pé, em sua grande maioria positivas. Com o pé em algumas dessas significações, vamos fazer o elogio do pé, pé que sustenta a paixão pela Copa do Mundo. Num mundo politicamente sem pé nem cabeça, com chefes de Estado metendo os pés pelas mãos em conflitos na Síria, no Afeganistão e na Palestina, e sempre em pé de guerra contra o terrorismo, encontramos o futebol um pé para pensarmos uma sociedade mundial que dê pé para formas de convivência amigável e até fraternal que encontram pé de apoio no entusiasmo das torcidas em todos os países.
         Por um lado, devemos estar com o pé atrás dos utopismos; por outro, não devemos arredar o pé na busca de formas civilizadas de convivência global. Logicamente, esse mundo não chega nem aos pés  do sonho de Jesus, mas ele tem pé na esperança humana. Podemos começar com pé direito já agora, ficando aos pés das vítimas, mesmo que tenhamos que fazer pé atrás às pressões dos poderosos. Mas vamos bater o pé nessa causa sagrada, sabendo que ela não se alcança com o pé nas costas. Jamais vamos dar no pé.
         Oxalá nossos jogadores, alguns pé de ouro, não nos deixem a pé, para não termos que sofrer que nem pé de cego.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de junho de 2014, caderno O.PINIAO, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2379 – ano 47 – nº 26, de 25 de junho de 2014, página 22, de autoria de Claudio de Moura Castro, economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Educação: receita para não recuar
        
         Em um ensaio recente, mostrei que as fórmulas para melhorar a escola são conhecidas e convergentes. Mas eis que retruca Maria Helena G. de Castro: “Como fazer para não desmoronar tudo na gestão seguinte?”. De fato, esse tem sido um dos grandes desapontamentos, pois, se há casos de continuidade, também os há de marcha a ré.
         Minas teve uma notável continuidade na política que contagiou o ensino. Era o décimo melhor estado no início dos anos 90. Ao fim de duas gestões, tornara-se o primeiro. Tropeçou na seguinte. Mas, daí para a frente, recuperou a continuidade e o avanço.
         O Ceará lidera o Nordeste, fruto de uma incomum continuidade nas equipes e nas políticas adotadas. Já em São Paulo, a política sobe e desce, e o mesmo ocorreu na sua educação. O peso da tradição permitiu que recuasse pouco, mesmo nos piores períodos, mas a dinheirama paulista não levou à liderança inconteste que poderíamos esperar.
         Saindo do nada, as escolas de Tocantins tiveram um avanço espetacular – em certos níveis, chegaram a ultrapassar o Rio de Janeiro. Mas, nos meandros da política, tropeçou na continuidade.
         No Rio de Janeiro, deu-se o oposto. Governos ineptos e sucessivos minaram sua educação. Mas, em anos recentes, mostra o seu potencial. Terá continuidade a nova trajetória?
         Pelas suas raízes culturais, o Rio Grande do Sul sobressaiu por muito tempo. Mas, nas últimas gestões, perdeu fôlego.
         São apenas exemplos. Há também os cinco e tantos municípios. O que nos ensina a observação desse sobe e desce?
1 Os ganhos não são irreversíveis. Um sopro, de qualquer direção, faz desmoronar a obra.
2 Contudo, quando dá para trás, o recuo tende a não ser total, alguma coisa sobra.
3 Há uma alta correlação entre a qualidade dos governantes e a robustez da educação.
         Sem dúvida, a descontinuidade é fatal para o ensino, quando um faz e políticos e sindicatos desfazem. Sofre a educação quando predominam sobre o interesse coletivo as nomeações de conveniência. Quando, por razões políticas, a fórmula do anterior precisa ser considerada ruim, desmancha-se o que estava sendo construído. Aliás, não basta ser do mesmo partido, pois os compromissos de campanha do novo incumbente podem sacrificar a continuidade e a motivação das equipes.
         Por que tamanha vulnerabilidade?
         A explicação é simples: uma educação de qualidade não é uma prioridade amplamente compartilhada pela sociedade brasileira. Os grandes avanços resultam do voluntarismo, da liderança e da obstinação de alguns governadores, prefeitos ou secretários. Na loteria política, a sorte leva para as cadeiras certas algumas pessoas iluminadas.
         Nesse clima, acontecem os acertos infrequentes. Parece haver uma atitude morna, um apreço frágil por uma meta tão árdua. E ocorrem os acidentes de percurso: “Pensei que fulano era bom...”. Pensou, mas não verificou. Como essas, há muitas outras ameaças, de origens variadas. Não uma causa única para o retrocesso. A grande constante é a fragilidade das defesas de uma educação de qualidade.
         Tem conserto essa fragilidade? Sejamos otimistas! Afinal, os avanços das décadas recentes foram impressionantes, mesmo diante de países bem-sucedidos nesses assuntos.
         Consideremos, no Brasil não falta mais água nem comida. O governo tremelicou quando uma seca reduziu a oferta de eletricidade. Igualmente, as escolas têm vagas. Mas e a qualidade? Tudo depende das prioridades do povo. Nas sociedades em que a educação é para valer, não se aceitam versões pálidas e os governantes são castigados quando cai a qualidade – isso aconteceu na Alemanha diante de resultados no Pisa considerados vexaminosos. Mas permanecerá a vulnerabilidade nas sociedades em que um fracasso das escolas não atemoriza as “autoridades”.
         Por isso, uma educação à prova de retrocessos requer uma sociedade que não os aceite. Infelizmente, como demonstrado por pesquisa da VEJA, 70% dos pais estão satisfeitos com a escola dos filhos. Portanto, não brigam por uma qualidade que acreditam já existir. Blindar a excelência da educação requer convencer esses pais de que nosso ensino é péssimo e está bloqueando o progresso. Basta isso.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores de mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também  a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito, segundo estudo divulgado pela Agência Internacional de Energia – AIE, 14 bilhões de aparelhos conectados – como decodificadores de TV por assinatura, consoles de videogames e impressoras, estão desperdiçando US$ 80 bilhões por ano em decorrência de ineficiência das tecnologias usadas...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...