“Dez
propósitos para o Ano-Novo e para uma vida sempre criativa
Todo começo de ano é
ocasião de se fazerem propósitos. São desafios que nos colocamos a nós mesmos
para que a vida não seja repetitiva, mas criativa e, quem sabe, surpreendente.
Alinho aqui alguns propósitos para alimentar a fantasia criadora de cada um.
1.Desenvolva em você a
inteligência cordial, emocional e sensível. Inflacionamos a inteligência
intelectual, sempre necessária, mas insuficiente. Deixada por si, produziu a
solução final dos judeus (Shoah) e a Casa da Morte em Petrópolis sob o regime
militar. A inteligência cordial enriquece a intelectual com o afeto, o amor e o
cuidado, sem os quais perdemos nossa humanidade e não salvaremos a vida no
planeta Terra.
2.Deus sempre vem
misturado em todas as coisas. Onde houver algum gesto de amor, de solidariedade
e de reconciliação, saiba que Ele está lá infalivelmente. Sem esses valores,
Deus é apenas um nome.
3. De manhã, ao
despertar, ou antes de recolher-se, faça uma pequena homenagem a Deus ou àquela
energia amorosa e poderosa que nos sustenta. Não precisa dizer nada. Reserve
aqueles poucos minutos para Ele e só para Ele. Se precisar, chore pelas
demasiadas desgraças que ocorrem ou alegre-se por aquilo de bom que aconteceu.
4.Cada um é um projeto
definido. Nada mais nos sacia plenamente. Passe pelas coisas, usufrua-as sem
danificá-las, mas não se detenha nelas. Vá em frente e sempre além, pois somos
caminhantes da vida, e somente um infinito sacia nossa sede e fome infinitas.
5.Deseje ser águia, que
voa alto e livremente, quer dizer, tenha ideais e grandes sonhos. Mas não
esqueça que deve ser também galinha, concreta e prudente, especialmente quando
se trata de administrar os bens materiais e lidar com dinheiro. Aprenda quando
deve ser águia e quando galinha. E saiba combinar sabiamente ambas.
6.Faça uma terapia em
sua linguagem. Dizem-se tantos palavrões no falar cotidiano e nas redes
sociais. No começo era a palavra. Ela tem força criadora e destruidora. Depende
de você. Ela é “a ponte onde o amor vai e vem”, como cantam os cristãos das
comunidades de base.
7.Você pode hoje se
informar sobre tudo. Praticamente tudo se encontra na internet e no Google. Mas
cuide em se formar para ter uma humanidade mais plena. Disse uma sábia filósofa
judia: podemos nos informar a vida inteira sem nunca nos educar.
8. Quando entrar em
casa, tome seu banho, descanse um pouco, não ligue logo a televisão ou consulte
o Facebook ou leia os e-mails. Retire-se num canto, fique em silêncio. Agradeça
a Deus pela vida. Pois nos dias atuais, com os riscos que corremos em cada
esquina ou em cada canto, somos todos sobreviventes.
9.Resista à propaganda.
Ela não pensa em você, apenas no seu bolso para fazê-lo um consumidor, e não um
cidadão consciente. Assuma como projeto de vida a sobriedade compartida.
Podemos ser mais com menos, por amor àqueles que pouco ou nada têm. Decida você
mesmo o que comprar e quando comprar com plena liberdade e consciência.
10.Incorpore a ética do
cuidado essencial: cuide de sua saúde, de sua família, de sua casa, de seus
amigos, cuide do ambiente inteiro com o mesmo sentimento de são Francisco de
Assis, que respeitava e amava a todos os seres como irmãos e irmãs, especialmente
a Irmã água e a Mãe Terra. Perceberá aos poucos que todos os seres, também as
montanhas, possuem um coração que pulsa como o seu. No fundo, você, sua casa e
família, as pessoas, as paisagens, as montanhas, o céu estrelado, a Lua, o Sol
e Deus constituem um único grande e generoso coração pulsante.”
(LEONARDO
BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 9 de
janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página
16).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de
janeiro de 2015, caderno PENSAR, página
2, de autoria de MARINA MARCONDES
MACHADO, professora-adjunta do curso de teatro e da pós-graduação em artes
da cena da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, e que
merece igualmente integral transcrição:
“INFÂNCIAS
no plural
Para alguns,
“infâncias” no plural, em um breve texto escrito para um jornal, poderá causar
estranhamento; para outros, já habituados ao que podemos denominar as “culturas
da infância”, o plural não só faz muito sentido, como é indispensável. Para
iniciar nossa contextualização, visitaremos um campo minoritário, mas potente;
minoritário porque, longe das teorias do desenvolvimento infantil, nossa
pensamento propõe abertura para a pluralidade dos pontos de vista. Nesse
sentido, a “verdade” desenvolvimentista acerca da criança, a saber, o
conhecimento das teorias fundadas na psicogênese e na biologia dos corpos
categorizados por fases e faixas etárias, é um dos pontos de vista, ou uma
noção de infância possível; no entanto, há outras – menos divulgadas, trilhas
menos percorridas. Para contemplar o plural, visitaremos o viés filosófico.
Nesta
reflexão, comentaremos especialmente a contribuição do filósofo Maurice
Merleau-Ponty (1908-1961) para pensar a criança e a primeira infância. Poucos
sabem que Merleau-Ponty lecionou na Sorbonne a cátedra de psicologia e
pedagogia da criança, entre 1949 e 1952. Seu projeto era pensar a infância de
modo culturalista, algo que, anos mais tarde, ocorreu de fato, por meio da
inauguração de um campo de trabalho: pesquisa e ação da sociologia da infância.
Já na
metade do século 20, Merleau-Ponty apontava a necessidade de compreensão da
criança a partir de seus mundos de vida, e não a partir de teorias adultas
preconcebidas; fez então, em seus cursos na Sorbonne, uma elegante crítica ao
desenvolvimentismo, especialmente às ideias de Jean Piaget, bem como à
psicanálise de crianças, que florescia naquele momento histórico. Um dos cernes
de sua crítica é negar a existência de um “mundo da criança” ou uma “concepção
de mundo” advinda de sua psique; para que haja uma concepção de mundo, a
criança precisaria estar distanciada, de modo a enxergar “seu mundo” e dizer
algo sobre ele; Mara Merleau-Ponty, o pressuposto desta noção de
representacionalidade de si e do mundo constituiu o grande erra psicologia
científica. Não existiria algo como a “mentalidade infantil”.
EGOCENTRISMO
O
filósofo nos recoloca a questão, afirmando ser a criança mundocentrada, o que
desmonta o conceito de egocentrismo e nos ensina que os primeiros anos se dão
por meio de um mergulho em um estado não reflexivo, portanto vivencial. Sua
noção de infância desestabiliza as teorias projetivas, do brincar ao desenho,
da interpretação de discurso aos testes projetivos na prática da psicologia da
criança; suas palavras-chave são: onirismo, polimorfismo e não
representacionalidade, palavras que delineiam o modo de ser e de estar das
crianças pequenas.
Haveria
um modo de compreender a infância que se conecta com o que a hermenêutica
nomeou “via longa”: em uma chave não pragmática, não procuramos explicações,
mas antes, compreensões; descrições dos estados e dos modos de ser das
crianças, para perscrutar as relações criança-corpo, criança-outro,
criança-mundo, criança-tempo, criança-espaço, criança-língua mãe. Essa atitude,
observacional e descritiva, delineia uma fenomenologia da criança, inserida em
uma perspectiva culturalista e existencial.
Nesse
modo de pensar e agir não existe “o bebê” ou a “criança de 1 ano”: existem
Paulo, Antônia, Pedro Henrique, Natália... Quem são eles? Como vivem? Como
brincam, como não brincam? Como se relacionam consigo mesmos, com os outros e
com o mundo compartilhado? São essas as perguntas da chamada via longa, caminho
de compreensão da criança e da infância.
O
cotidiano revelador desta abordagem é o esvaziamento de expectativas com o
desenvolvimento por etapas ou faixas etárias, para, assim, proporcionar,
adultos que somos, uma atmosfera relacional na qual a criança possa “ser o que
ela é” – mas sem nunca deixá-la à deriva. Isso compactua com o que Winnicott
(1896-1971) propôs aos adultos em geral: estar “presente e ausente”,
concomitantemente, nas questões da maternagem inicial. A psicanálise inglesa, a
partir da contribuição de Winnicott, tem semelhanças e elos com a fenomenologia
da criança proposta por Merleau-Ponty; e na atualidade encontramos nos
estudiosos da sociologia da infância esse tipo de abordagem compreensiva, para
olhar para a criança e a infância a partir da vida mesma.
BRASIL
Estudiosos
brasileiros pensam e praticam essa aproximação entre a fenomenologia e a
psicanálise. José Moura Gonçalves Filho, professor de psicologia da
Universidade de São Paulo (USP), é um deles, pesquisador cujo tema de pesquisa
é a humilhação social – importante contribuição para pensamento e ação junto
aos cidadãos das classes menos favorecidas, conceito que trata da angústia
vinculada ao impacto traumático da desigualdade de classes. José Moura é
estudioso de Simone Weil (1909-1943) e seu trabalho sempre se orientou pela
psicologia social de Ecléa Bosi.
A
filosofia continua nos brindando com novos modos de pensar a criança e a
infância, na mesma conexão de prescindir de categorizações por faixas etárias,
saltos desenvolvimentistas, adequações e inadequações, bem como metas de
maturidade. A partir de Gilles Deleuze (1925-1995), por exemplo, pode-se
trabalhar com a noção de “devir criança”, e podemos citar no Brasil os
professores Walter Omar Kohan e Sílvio Gallo como pesquisadores que trabalham
naquela perspectiva.
Walter
Kohan, em um de seus textos, aponta erros conceituais, ou riscos, da adesão a
olhares para a infância localizados no senso comum: o idealismo ou romantismo
frente às crianças, opção que naturaliza a criança e suas capacidades pensantes
(dizer simplesmente “a criança é filósofa”, por exemplo); a mercantilização dos
campos dos saberes e fazeres (na saúde, na educação, na indústria cultural); e
a tendência ao dogmatismo e à moralização que um discurso filosófico que
aproxima as crianças pode conter – mesmo que repleto de boas intenções.
FILOSOFIA
Kohan
publicou inúmeros livros (muitos pela Editora Autêntica, de Belo Horizonte) e
um de seus campos de pesquisa acadêmica na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj) é o ensino de filosofia para crianças. Já Sílvio Gallo trabalha
na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e sua abordagem das intersecções
entre pedagogia e a filosofia converge para uma assim chamada pedagogia
libertária, na busca, segundo o professor, de “uma filosofia anarquista da
educação”, em diálogo também com outro importante filósofo francês, Michel
Foucault (1926-1984). O papel da educação, do ponto de vista de Gallo e seus
pares, está justamente na construção coletiva da liberdade pela denúncia das
injustiças e dos sistemas de dominação.
Será
portanto longe das teorias majoritárias que o leitor poderá trilhar conosco
aquela mesma via longa – reflexiva, minuciosa, focada na criança e na infância
(e não no adulto e suas teorias sobre ela) e situada –, pois nunca haveremos de
esquecer: da pertença de todos, adultos e crianças, ao mundo vivido; de
centrar-nos nas necessidades infantis de fato, aqui e agora; e de revisitar o
fluxo cotidiano das relações adulto-criança, especialmente aquelas designadas
por “relações de poder”.
Quem
são os adultos que convivem com Paulo, Antôia, Pedro Henrique, Natália...?
Quais suas crenças e dizeres, afazeres e atitudes diante da criança que educam?
Mas, afinal, educa-se simplesmente uma criança, ou se é, também, educado por
ela, em uma via de mão dupla, asfaltada pela contemporaneidade?”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches – a propósito, e mais uma vez, a revista VEJA desta semana traz fecunda matéria sob o título UMA BELA SINFONIA PUERIL: “ Nos três
primeiros anos de vida de uma criança, o cérebro realiza mais conexões neurais
do que na idade adulta. Um dos campos da medicina que mais avançam é o da
investigação de como os estímulos podem exercitar os mecanismos mentais de um
bebê...”; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da
modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas;
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício,
em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e
danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, a agudíssima crise de dupla falta - água e energia elétrica...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!