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sexta-feira, 26 de abril de 2013

A CIDADANIA, A MENORIDADE, A MAIORIDADE E A VERDADEIRA PAZ


“Maioridade penal e omissão

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não consegue reduzir o índice de violência no estado. Prefere, então, como a raposa na fábula de La Fontaine, dizer que as uvas estão verdes. Já que a polícia se mostra incompetente para diminuir a criminalidade, reduzamos a idade penal dos criminosos, propõe ele. O número de homicídios na cidade de São Paulo cresceu 34% em 2012. Por cada 100 mil habitantes, a taxa de assassinatos foi de 12,02. Em supostos confrontos com a Polícia Militar, foram mortas 547 pessoas. Os casos de estupro subiram 24%; roubo de veículos, 10%; e latrocínio, 8%. Assalto a banco teve queda de 12%. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública, divulgados em 25 de janeiro.
O Datafolha fez pesquisa de opinião na capital paulista e constatou que 93% dos paulistanos querem a redução da maioridade penal, 6% são contra e 1% não soube opinar. Vale ressaltar que 42% afirmaram que para reduzir a criminalidade é preciso criar políticas públicas para jovens. “O problema do menor é o maior”, já advertia o filósofo Carlito Maia. Se jovens com menos de 18 anos roubam e matam é porque, como constatam as investigações policiais, são manipulados por adultos que conhecem bem a diferença entre prisão de quem tem mais de 18 anos e de quem tem menos.
Pesquisa da Secretaria Nacional de Direitos Humanos verificou que entre 53 países, 42 adotam a maioridade penal acima de 18 anos. Porém, suponhamos que seja aprovada a redução da maioridade penal para 16 anos. Os bandidos adultos passarão a induzir ao crime jovens de 15 e 14 anos. Aliás, em alguns estados dos EUA jovens de 12 anos respondem criminalmente perante a lei.
Sou contra a redução da maioridade penal por entender que não irá resolver nem diminuir a escalada da violência. A responsabilidade é do poder público, que sempre investe nos efeitos e não nas causas. Deveria haver uma legislação capaz de punir o descaso das autoridades quando se trata de inclusão de crianças  e jovens. Hoje, 19,2 milhões de brasileiros (10% de nossa população) não têm qualquer escolaridade ou frequentaram a escola menos de um ano.
Não sabem ler nem escrever 12,9 milhões de brasileiros com mais de 7 anos. E 20,4% da população acima de 15 anos são analfabetos funcionais – assinam o nome, mas são incapazes de redigir uma carta ou interpretar um texto. Na população entre 15 e 64 anos, em cada três brasileiros, apenas um consegue interpretar um texto e fazer operações aritméticas elementares. Em 2011, 22,6% das crianças de 4 e 5 anos estavam fora da escola. E abaixo dessas idades, 1,3 milhão não encontravam vagas em creches.
Este o dado mais alarmante: há 27,3 milhões de jovens brasileiros entre 18 e 25 anos. Desse contingente, 5,3 milhões se encontram fora da escola e sem trabalho. Mas não fora do desejo de consumo, como calçar tênis de grife, portar um iPhone, frequentar baladas, vestir-se segundo a moda etc. De que vivem esses 5,3 milhões de jovens do segmento do “nem nem” (nem escola, nem emprego)? Muitos, do crime. Crime maior, entretanto, é o Estado não assegurar a todos os brasileiros educação de qualidade, em tempo integral.
Se aprovada a redução da maioridade penal, haverá que multiplicar os investimentos em construção e manutenção de cadeias. Hoje, o Brasil abriga a quarta maior população carcerária do mundo: 500 mil presos. Atrás dos EUA (2,2 milhões); China (1,6 milhão); e Rússia (740 mil). Segundo o Departamento Penitenciário Nacional, o deficit é de 198 mil vagas, ou seja, muitos detentos não dispõem dos seis metros quadrados de espaço previstos por lei. Muitos contam com apenas 70 centímetros quadrados.
Segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, “é preferível morrer do que ficar preso no Brasil”. Isso significa que o nosso sistema carcerário é meramente punitivo, sem nenhum metodologia corretiva que vise à reinserção social. A Lei 12.433, de 29 de junho de 2011, estabelece a remissão de um dia de pena a cada 12h de frequência escolar, e 3 dias de trabalho reduzem 1 dia no cumprimento da pena. Quais, entretanto, as cadeias com escolas de qualidade, profissionalizantes, capazes de resgatar um marginal à cidadania?
Na verdade, como analisou Michel Foucault, nossas elites políticas pouco interesse têm em reeducar os presos. Preferem mantê-los como mortos-vivos e tratá-los como dejetos humanos. Mas o que esperar de um país em que um ex-governador do mais rico estado da Federação, Luiz Antônio Fleury Filho, justifica o massacre de 111 presos no Carandiru, em 1992, como uma ação “legítima e necessária”?”.
(FREI BETTO. Escritor, autor de Diário de Fernando – Nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 23 de abril de 2013, caderno O.PINIÃO, página 23, de autoria de JORGE RAGGI, que é engenheiro geólogo, e que merece igualmente integral transcrição:

“A paz verdadeira vem de dentro para fora

Há tempos é discutido o quanto somos conscientes diante da nossa totalidade não consciente. Alguns neurocientistas reduziram nossa consciência para 5%. Incorporando a teoria da evolução, dizem que nosso cérebro é dividido em três estruturas. A primeira, mais primitiva, é a que temos em comum com os répteis; é chamada repteliana. Contém as funções de sobrevivência como comer, respirar, batimento cardíaco, emoções primárias de medo, agressividade, luta e fuga. A segunda é a que aumenta nossas emoções reflexas e gera os comportamentos sociais. A terceira é responsável pelos movimentos motores finos de expressões no rosto, articulações da fala e dos dedos. É uma divisão muito simplificada, pois o cérebro funciona integrado, interligado. Quando ocorrem acidentes que lesam partes do cérebro, o sobrevivente se transforma em prova do conhecimento que vai avançando. Nossa forma humana atual retroage há apenas 200 mil anos, e nossa agricultura, há 10 mil anos, junto com as primeiras cidades.
O ser social emerge do ser animal. É a arquitetura do cérebro que torna inacessível a maioria dos processos mentais. O físico Leonardo Mlodinow mostra em “Subliminar” que a maioria das espécies não humanas pode sobreviver com pouca ou nenhuma consciência, mas nenhum animal pode existir sem o cérebro inconsciente.
E muitos processos de percepção, memória, atenção, aprendizado estão em estruturas cerebrais separadas para nossos estados conscientes e não conscientes.  Nós nos comunicamos e compreendemos sem expressões conscientes. Comunicamos muitas expressões, gestos, posições do corpo e características não verbais da fala sem consciência. A comunicação não verbal forma uma linguagem social que de muitas maneiras é mais rica e mais fundamental que nossas palavras. Tom, timbre, volume e cadência da voz, a velocidade com que se fala e até a forma como se modula a altura e volume são fatores que influenciam  muito quanto se é convincente e como as pessoas julgam nosso estado de espírito ou nosso caráter.
O quanto crescemos no desenvolvimento social é pouco perceptível. Lembramos mais o que falta. Foram criadas condições para avançar na consciência de si mesmo, de maior consciência social com a democracia e de mais liberdade responsável. Nos regimes ditatoriais, as populações acreditam num salvador. Nos últimos 300 anos, nossa vida média evoluiu de 30 anos nos países mais desenvolvidos para mais de 80 anos. Tivemos notável desenvolvimento tecnológico. E, agora, no século XXI, as crianças têm menos medo dos mais velhos, que na maioria são mais engessados e conservadores, impedindo maiores liberdades, necessárias ao avanço do conhecimento e do comportamento. Com a consciência social, também cresce a consciência de si mesmo – criando uma mão dupla –, na qual cada um poderá salvar a si, antes de querer salvar a sociedade. Existem heróis salvadores da pátria, mas que não conseguem salvar-se a si mesmos. Um egoísmo pode ser saudável: salvar a mim mesmo para salvar o mundo. Viver em paz com as naturezas animal e social para levar a paz à minha família, ao meu trabalho, à sociedade. Essa é uma paz verdadeira – vem de dentro para fora.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

    c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida  o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; sistema financeiro nacional; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; comunicações; turismo; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A CIDADANIA, A FORÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E A PRODUÇÃO DE SENTIDO

“Mais cedo na escola

A inovação educacional agora é para crianças menores. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 foi atualizada. Ela estabelece agora que pais e responsáveis matriculem as crianças na escola a partir dos quatro anos de idade. Os governos estaduais e municipais têm até 2016 para garantir vagas para crianças nessa faixa etária. A lei implica reorganização da carga horária de 800 horas, distribuídas em 200 dias letivos. O aluno da pré-escola terá atendimento de quatro horas diárias para o turno parcial e de sete horas para a jornada integral. Dessa forma, o Estado fica obrigado a garantir educação básica e gratuita para crianças e jovens de 4 a 17 anos de idade, nas fases de pré-escola, ensino fundamental e médio.
Muito positiva a nova lei e cabe ao Ministério da Educação (MEC) e às secretarias estaduais promoverem as mudanças necessárias para que seja oferecido um ensino de qualidade para essas crianças, com professores bem preparados para essa faixa etária e as acomodações e ambientações adaptadas para crianças pequenas. Os gestores e supervisores educacionais federais e estaduais serão agentes importantes nessas mudanças, necessárias para o sucesso da prática da nova lei. De modo geral, as crianças de classe média e alta já frequentam pré-escolas particulares. Essa nova lei vai democratizar ainda o ensino brasileiro, beneficiando as crianças menos favorecidas. A escola pública deverá cumprir também o seu importante papel de educar com qualidade agora os menores de 6 anos no Brasil.
Por que é importante crianças a partir de 4 anos na escola? Infelizmente, a maioria das crianças brasileiras menores de 6 anos estão desprotegidas, com pouco acesso a creches, ficando sujeitas a cuidadores e parentes sem treinamento, tornando-se vítimas fáceis de assassinos e pedófilos cruéis. A cada oito minutos uma criança é abusada sexualmente no Brasil, e a cada 10 minutos uma criança é assassinada, segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Com certeza, a implantação dessa nova lei diminuirá e muito os índices desses hediondos crimes. Há consonância dessa nova lei com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante proteção às nossas crianças. Outra justificativa é que nessa fase do desenvolvimento infantil, a criança já tem comportamento básico motor e cognitivo estruturado: anda, corre, diz o que deseja, dá opiniões e geralmente escolhe o que quer ou gosta. Extremamente criativa, usa muito a imaginação inventando histórias e brincadeiras.
Nessa fase criativa, é de suma importância o papel de bons e talentosos educadores para estimular por meio de brincadeiras e práticas educativas inteligentes o potencial criativo das crianças. Proporcionar atividades lúdicas que promovam a construção das diversas áreas do conhecimento, proporcionando adequada estimulação cerebral. Com boa orientação educativa, crianças menores começarão a aprender brincadeiras em grupo, a dividir trabalhos, cooperar em atividades grupais, exercer liderança, ser subordinado desenvolvendo noções de respeito, colaboração, criação e responsabilidade, dando início à formação de pequenos cidadãos.
Essa meta do governo preenche também uma grave lacuna: pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) – 2013 constatou que o Brasil tem a menor média de anos de estudos da América do Sul - 7,2 anos apenas. Com certeza, a prática da nova lei será um grande salto de qualidade da educação brasileira, colocando o país em posição bem mais positiva no ranking mundial. Dados da Unesco colocam o  Brasil em 88º lugar no ranking mundial da educação. A gestão ineficiente, o desprestígio do magistério e a má-formação dos professores são alguns dos empecilhos ao salto educacional brasileiro.
É importante que os fatores acima apontados sejam otimizados para que os ensinos fundamental, médio e superior sejam de qualidade . Somente uma competente cadeia de ensino de qualidade da educação brasileira em todos os níveis de ensino nos proporcionará maior qualidade de vida, desenvolvimento tecnológico e crescimento econômico. Que os gastos públicos de modo geral sejam rigorosamente mais fiscalizados e na educação não pode ser diferente. É extremamente importante a ação do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União na fiscalização de todos os recursos públicos, com tolerância zero para corrupção e desvio do dinheiro público.”
(VIVINA DO C. RIOS BALBINO. Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 17 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor do romance Minas do ouro (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Produção de sentido
         
         Muitos pais se queixam do desinteresse dos filhos por causas altruístas, solidárias, sustentáveis. Guardam a impressão de que parcela considerável da juventude busca apenas riqueza, beleza e poder. Já não se espelha em líderes voltados às causas sociais, ideal de um mundo melhor, como Gandhi, Luther King, Che Guevara e Mandela.
         O que falta à nova geração? Faltam instituições produtoras de sentido. Há que imprimir sentido à vida. Minha geração, a que fez 20 anos de idade na década de 1960, tinha como produtores de sentido igrejas, movimentos sociais e organizações políticas.
         A Igreja Católica, renovada pelo Concílio Vaticano II, suscitava militantes, imbuídos de fé e idealismo, por meio da Ação Católica e da Pastoral da Juventude. Queríamos ser homens e mulheres novos. E criar uma nova sociedade, fundada na ética pessoal e justiça social.
         Os movimentos sociais, como a alfabetização de Paulo Freire, nos desacomodavam, impeliam-nos ao encontro das camadas mais pobres da população, educavam a nossa sensibilidade para a dor alheia causa por estruturas injustas.
         As organizações políticas, quase todas clandestinas sob a ditadura, incutiam-nos consciência crítica, e certo espírito heroico que nos destemia frente aos riscos de combater o regime militar e a ingerência do imperialismo usamericano na América Latina.
         Quais são, hoje, as instituições produtoras de sentido? Onde adquirir uma visão de mundo que destoe dessa mundividência neoliberal centrada no monoteísmo de mercado? Por que a arte é encarada como mera mercadoria, seja na produção ou no consumo, e não como criação capaz de suscitar em nossa subjetividade valores éticos, perspectiva crítica e apetite estético?
         As novas tecnologias de comunicação provocam a explosão de redes sociais que, de fato, são virtuais. E esgarçam as redes verdadeiramente sociais, como sindicatos, grêmios, associações, grupos políticos, que aproximavam as pessoas fisicamente, incutiam cumplicidade e as congregavam em diferentes modalidades de militância.
         Agora, a troca de informações e opiniões supera o intercâmbio de formação e as propostas de mobilização. Os megarrelatos estão em crise, e há pouco interesse pelas fontes de pensamento crítico, como o marxismo e a teologia da libertação.
         No entanto, como se dizia outrora, nunca as condições objetivas foram tão favoráveis para operar mudanças estruturais. O capitalismo está em crise, a desigualdade social no mundo é alarmante, os povos árabes se rebelam, a Europa se defronta com 25 milhões de desempregados, enquanto na América Latina cresce o número de governos progressistas, emancipados das garras do Tio Sam e suficientemente independentes, a ponto de eleger Cuba para presidir a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
         Vigora atualmente um descompasso entre o que se vê e o que se quer. Há uma multidão de jovens que deseja apenas um lugar ao sol sem, contudo, se dar conta das espessas sombras que lhes fecham o horizonte.
         Quando não se quer mudar o mundo, privatiza-se o sonho modificando o cabelo, a roupa, a aparência. Quando não se ousa pichar muros, faz-se a tatuagem para marcar no corpo sua escala de valores. Quando não se injeta utopia na veia, corre-se o risco de injetar drogas.
         Não fomos criados para ser carneiros em um imenso rebanho retido no curral do mercado. Fomos criados para ser protagonistas, inventores, criadores e revolucionários.
         Quando Hércules haverá de arrebentar as correntes de Prometeu e evitar que o consumismo prossiga lhe comendo o fígado? “Prometeu fez com que esperanças cegas vivam nos corações dos homens”, escreveu Ésquilo. De onde beber esperanças lúcidas se as fontes de sentido parecem ressecadas?
         Parecem, mas não desaparecem. As fontes estão aí, a olhos vistos: a espiritualidade, os movimentos sociais, a luta pela preservação ambiental, a defesa dos direitos humanos, a busca de outros mundos possíveis.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado),  como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tamanha sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescente necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos);  a educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); assistência social; previdência social; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; minas e energia; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; logística; turismo; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro nacional; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...    

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A CIDADANIA, A HORA DOS TALENTOS, A HUMANIDADE E A SOLIDARIEDADE


“Resgate de talentos
        
         Comenta-se que o governo está preocupado com os talentos profissionais que deixam o Brasil em busca de oportunidades lá fora: em 2012, o número deles seria de 3 milhões, mas o contingente pode ser maior, pois muitos estão em situação irregular e evitam se submeter a censos. Uma comissão especial de técnicos dos ministérios de Relações Exteriores, do Trabalho e Emprego e da Justiça vai debater propostas para criar programas de estímulo para que parte desse público retorne e seja aproveitada por empresas nacionais e estrangeiras.
         Segundo o presidente do Conselho Nacional de Imigração (CNI), Paulo Sérgio de Almeida, há estudantes e especialistas que se formaram lá fora e, com a crise global, podem retornar ao Brasil. Não há dados estatísticos ou um cadastro com nomes e qualificações, contudo, o fato é que vivemos um momento de grandes obras de infraestrutura, logística e construção civil, necessitando muito de mão de obra especializada (graduados e técnicos) nas áreas de engenharia, petróleo, gás e tecnologia.
         Um ingrediente que esquenta esse debate é que talentos profissionais de outros países também estão vindo para o Brasil em busca de oportunidades, que em seus país não estão mais disponíveis em função da crise econômica mundial. Entretanto, a legislação em vigor cria muitas dificuldades: se um estrangeiro que está no Brasil com visto de turista, por exemplo, se for convidado a trabalhar em uma empresa no país instalada, terá de voltar a seu país e seguir todos os trâmites exigidos, o que pode demorar meses.
         Para o especialista em mercado de trabalho Armando Castelar, a medida é positiva: “Há muita gente voltando, inclusive professores universitários”. Muitos brasileiros que foram para o exterior hoje estão em dificuldade. Os países que lhes ofereceram oportunidades não podem mais acolhê-los. São profissionais de todos os níveis com famílias e expectativas. A volta para o Brasil é algo que vem sendo analisado a cada dia com mais seriedade. Desta forma, qualquer política para trazer talentos de volta é muito bem-vinda. E os brasileiros têm grande vantagem em relação aos estrangeiros: além de não existir a burocracia para os vistos, conhecem a cultura e a língua.
         Porém, não serão somente políticas de emprego que garantirão esse retorno. Os brasileiros saíra em busca de dias melhores e melhor qualidade de vida. Se voltarem, encontrarão um país que ainda precisa melhorar em segurança, juros altos, precária assistência de saúde, escolas públicas sucateadas e poucas escolas de nível superior para prosseguirem com os estudos. Basta conversar com muitos deles para entender. Por outro lado, temos também que avaliar a criação de programas de incentivo aos profissionais que acreditaram no seu país e não saíram. Temos de capacitá-los, ou, pelo menos, incentivá-los para que possam também competir por essas oportunidades.”
(KLEBER CÂMARA. Diretor da Faculdade IBS/FGV, coordenador dos convênios internacionais da FGV em BH, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 30 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 3 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Renzo e a solidariedade
        
         Ensina a catequese que alguns cristãos lograram o impossível: viver segundo a vontade de Deus. Tiveram vida coerente, praticaram virtudes heroicas,  deram testemunho do Evangelho como discípulos de Jesus. São chamados santos.
         Com o tempo descobri que nem tudo que reluz é ouro. Há inúmeros santos anônimos que jamais serão canonizados, e há santos que merecem a glória dos altares e, no entanto, tiveram atitudes nada condizentes com os valores evangélicos. Aliás, os processos de canonização custam caro, e são inacessíveis àqueles que viveram para os pobres, como Padre Cícero, dom Helder Câmara, dom Luciano Mendes de Almeida, dom Oscar Romero, para citar apenas alguns clérigos.
         Na segunda, 25 de março, perdemos um santo real, incontestável, de quem tive a graça de ser amigo: padre Renzo Rossi, italiano de Florença, jesuíta como o papa Francisco. No sábado, 23, eu deveria visitar Renzo no hospital. Como a Universidade de Florença cancelou minha palestra, deixei de abraçar o amigo de 87 anos, que padecia de câncer no pâncreas.
         Renzo era movido a uma alegria exuberante. Parecia dotado de mil baterias. De aparência jovial, nunca o vi triste nem mesmo carrancudo. Falava alto, tinha por hábito tocar seus interlocutores e tratá-los com irreverência. Nada parecia abatê-lo nem constrangê-lo.
         Em 1965, ele veio integrar, no Brasil, a missão jesuíta de Salvador. Um ano depois do golpe militar. Atuava junto aos pobres sem se envolver com a militância em luta contra a ditadura. Em 1969 nós, frades dominicanos, fomos presos, acusados de subversão. Ao todo, sete frades. Um deles, Giorgio Callegari, era italiano de Veneza. No ano seguinte, ao retornar de férias à Itália, Renzo encontrou a mãe de frei Giorgio. Ela pediu-lhe que, ao retornar ao Brasil, fosse a São Paulo visitá-lo.
         Padre Renzo foi ao Presídio Tiradentes, onde nos encontrávamos presos em companhia de quase 200 companheiros (Dilma Rousseff se encontrava na ala feminina). Frei Tito de Alencar Lima tinha sido reconduzido à tortura em fevereiro de 1970. Renzo ficou impressionado ao vê-lo. Decidiu que, dali em diante, sua missão seria apoiar as vítimas da ditadura. Ao longo de seis anos. Renzo visitou 14 cadeias brasileiras que abrigavam prisioneiros políticos. Como ele não tinha nenhum vínculo com política, e aparentava ser um cristão destituído de ideologia, não levantou suspeitas.
         Renzo não era “neutro”. Estava ali para servir às vítimas, não aos algozes. Tanto que, por ocasião de uma greve de fome nacional, quando todas as comunicações entre presídios foram interrompidas, a repressão cometeu o equívoco de permitir que aquele sacerdote insuspeito visitasse os grevistas. Talvez pensasse que suas preleções poderiam demover os prisioneiros do “gesto suicida”. Mal sabia a ditadura que Renzo servis de pombo-correio entre os cárceres, passando informações e alento.
         Em Salvador, foi preso um jovem de 18 anos: Theodomiro Romeiro dos Santos. Já no carro de polícia, sacou seu revólver e atingiu três agentes, matando um quarto, um sargento da Aeronáutica. Renzo passou a visitá-lo. Em 1971, Theodomiro foi condenado à pena de morte, mais tarde comutada em prisão perpétua. Veio a anistia, em 1979, e o jovem marcado para morrer não foi beneficiado.
         Renzo temia, como todos nós, pela vida de Theodomiro, isolado em um cárcere e alvo do ódio da ditadura que, aos poucos, desmoronava. Era preciso libertar Theodomiro. Isso implicava subornar carcereiros e policiais. Renzo voltou à Europa e levantou recursos. Conseguiu tirar Theodomiro da prisão e do Brasil, conforme relato detalhado no inestimável livro  de Emiliano José, As asas invisíveis do padre Renzo, que em breve deve chegar às telas de cinema.
         Renzo se foi. Seu exemplo fica. Exemplo de algo que constitui a essência de nossa condição humana e, no entanto, nada fácil de ser praticado: a solidariedade. Jesus ensinou que isso, que é tão humano, é também divino aos olhos de Deus. E quando se traduz em arriscar a própria vida para salvar outras vidas se chama amor.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação –  universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...    

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO, A MÍSTICA, A ÉTICA E A ECOSOFIA (46/14)


(Abril = Mês 46; Faltam 14 meses para a Copa do Mundo)

“Enem ‘trousse’ polêmica

A recente divulgação da nota mil nas redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 com erros graves de ortografia, como as palavras ‘rasoavel’, ‘enchergar’ e ‘trousse’, chocou a comunidade acadêmica e a população. O Ministério da Educação (MEC) informou que a ‘análise do texto é feita como um todo e que eventuais erros de grafia não significam que o aluno não domine os padrões da língua’. Com relação à ‘norma padrão da língua’, a matriz do exame exige que o participante de demonstre ‘excelente domínio’, sem ou com ‘pouquíssimos’ desvios gramaticais ‘leves e de convenções da escrita’. Como entender nota máxima com erros previsíveis e aceitos?
A nota mil teria que ter excelência na redação do texto, demonstrando também excelente conhecimento gramatical. Caso contrário, há o risco de a excelência virar ‘eiscelência’. Pesquisa de 2012 do Indicador de Analfabetismo Funcional do Instituto Paulo Montenegro, mostra que 38% das pessoas que têm ou estão cursando curso de graduação não têm alfabetização plena e apresentam dificuldade com leitura, escrita e interpretação de textos, além de cálculos mais longos. Com esse conceito de nota mil, como se formarão os nossos futuros bacharéis? Essa concessão com certeza contribui para aumentar esse inaceitável analfabetismo funcional constatado até no ensino superior brasileiro.
Segundo o recente Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Brasil precisa melhorar muito na educação. Na média de anos de escolaridade, o Brasil está abaixo do Paraguai e demais países da América Latina. Por outro lado, enquanto o Brasil tem 90,3% de adultos alfabetizados e 49,5% com ensino médio ou mais, o Chile tem 98,6% de alfabetizados e 74% de ensino médio ou mais. Na evasão escolar do ensino fundamental, os nossos dados são assustadores. Enquanto na Colômbia apenas 1,5% dos alunos abandonam a escola e, no Chile, apenas 2,6%, no Brasil, 24,3% deles deixam a escola. Por que tanta evasão?
O aumento de investimento em educação nos últimos anos, o programa de bolsa de estudos do Brasil e campanhas de alfabetização foram vistos positivamente. Mas é fundamental que o Brasil invista mais na qualidade da educação básica com bons e atraentes programas de ensino para reter os alunos nas escolas e qualificar e valorizar mais o educador brasileiro. Estimular competência e compromisso. O piso salarial dos professores de educação básica é hoje R$ 1.567 um valor muito aquém da maioria das categorias e mesmo assim, os governos do Rio Grande do Sul, do Ceará, de Mato Grosso e de Santa Catarina recorreram ao Supremo Tribunal Federal para dar mais tempo aos estados para o cumprimento da lei, de 2008. Felizmente, os embargos foram negados.
É importante que o Ministério do Planejamento reveja a política salarial vigente e que os profissionais sejam valorizados pelo grau de instrução ou titulação de forma mais democrática e justa. De modo geral isso não ocorre. Um professor universitário com mestrado ou doutorado pode ganhar menos do que um profissional apenas bacharel. Por que esse bacharel é mais valorizado na atual escala salarial do governo? Com certeza, essa equiparação por titularidade estimularia a excelência nos conhecimentos e na produtividade.
O relatório sobre o desenvolvimento humano do Pnud classifica o Brasil na 85ª posição entre 187 países avaliados. Posição apenas mediana. O índice é usado como referência da qualidade de vida e desenvolvimento. A América Latina é a região que mais cresceu no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desde o início do século, incluindo milhões de pessoas numa nova classe média. Porém, é a mais desigual do planeta. Os melhores índices são da Noruega, da Austrália e dos EUA e os piores são de Moçambique, Níger e República Democrática do Congo.
O Brasil recebeu alguns elogios: redução da desigualdade social, criação de programa de redução da pobreza, extensão da educação e o aumento do salário mínimo. O modernizado programa Bolsa-escola alcançou mais de 97% da população-alvo. Houve redução da pobreza e o empoderamento das mulheres, já que elas têm prioridade no recebimento dos cartões magnéticos para a retirada do benefício. Mas a verdade é que o Brasil precisa melhorar muito os índices especialmente na educação: uma educação de qualidade para todos.”
(VIVINA DO C. RIOS BALBINO. Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 27 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor do romance Aldeia do silêncio, que a Editora Rocco faz chegar às livrarias neste mês, e que merece igualmente integral transcrição:

“Mística, ética e ecosofia
        
         Há estreito vínculo entre religião e ecologia. Os calendários litúrgicos refletem os ciclos da natureza. Toda religião expressa o contexto ambiental que lhe deu origem.
         Os hebreus e, em geral, os povos semitas, viviam em regiões inóspitas, desérticas, o que os levou a desenvolver o senso do sagrado centrado na transcendência. Onde a natureza é exuberante, como nos trópicos, se acentuou a imanência do sagrado. Todo o entorno geográfico e climático influi na relação religiosa que se tem com a natureza.
         O cristianismo teve sua origem em áreas urbanas. Via a natureza a distância, como algo estranho e adverso. A palavra pagão, que englobava todos os cristãos, significa etimologicamente habitante do campo.
         Todas as tradições religiosas indígenas mantém estreito vínculo com a natureza. São teocósmicas, o divino se manifesta no cosmo e em seus componentes, como a montanha (Pachamama). Hinduísmo e taoísmo cultuam a natureza. Já o confuncionismo e o budismo são tradições mais antropocêntricas, voltadas à consciência e às virtudes humanas.
         O islamismo mantém uma relação singular com a natureza. É uma religião semítica, cultua a transcendência de Alá, mas conserva, como o judaísmo, estreito vínculo com o entorno ambiental, o que se reflete na distinção entre alimentos puros e impuros, jejum, cuidado com a higiene pessoal etc.
         As religiões aborígenes  (ab-origem = que estão na origem de todas as outras) não separam o humano da natureza. Há um forte sentido de equilíbrio e reciprocidade entre o ser humano e a Terra. O que dela se tira a ele deve ser devolvido.
         Entre as grandes tradições religiosas é o hinduísmo que melhor cultiva essa harmonia. Toda a Índia respira veneração sagrada por rios, animais, árvores e montanhas. A veneração pelas vacas reflete esse senso de equilíbrio, pois se trata de um animal do qual se obtém muitos produtos, do leite e seus derivados ao esterco como fertilizante, e isso é mais importante do que comê-las.
         Três grandes desafios, segundo o místico catalão Javier Melloni, estão inter-relacionados: a interioridade, a solidariedade e a sobriedade. A interioridade nos impele à via mística; a solidariedade à ética; e a sobriedade à preservação ambiental.
         Nossa civilização estará condenada à barbárie se as pessoas perderem a capacidade de interiorização, de fazer silêncio, de meditar, de modo a saber escutar as necessidades do próximo (solidariedade) e o grito agônico da Terra (sobriedade).
         Urge submeter a ecologia à ecosofia, a sabedoria da Terra, na expressão de Raimon Panikkar. Não se trata de impor a razão humana sobre a natureza (eco-logos), mas sim de dar ouvidos à sabedoria da Terra, captar o que ela tem a nos dizer com seus ciclos, sua mudanças climáticas e até com suas catástrofes.
         Embora haja avanços em nosso comportamento, graças ao crescimento da consciência ecológica (reciclagem, uso da água, produtos ecologicamente corretos etc.), ainda estamos atrelados a um modelo civilizatório altamente nocivo à saúde de Gaia e dos seres humanos.
         Continuamos a consumir combustíveis escassos e poluentes e, na contramão de todo o movimento ecológico, submergimos à onde consumista que produz, a cada dia, perdas significativas da biodiversidade e toneladas de lixo derivado do nosso luxo.
         Três grandes mentiras precisam ser eliminadas de nossa cultura para que o futuro seja ecologicamente viável e economicamente sustentável: 1) Os recursos da Terra não são suficientes para todos; 2) Devo assegurar os meus recursos, ainda que outros careçam deles; 3) O sistema econômico que predomina no mundo, centrado na lógica do mercado, e o atual modelo civilizatório, de acumulação de bens, são imutáveis.
         Nosso planeta produz hoje alimentos suficientes para 12 bilhões de pessoas, e é habitado por 7 bilhões. Portanto, não há excesso de bocas, há falta de justiça.
         Não haverá futuro digno para a humanidade sem uma economia de partilha e um ética da solidariedade.
         Durante milênios povos indígenas e tribos desenvolveram formas de convivência baseada na sustentabilidade, na harmonia com a natureza e com os semelhantes. Como considerar ideal um modelo civilizatório que, dos 7 bilhões de habitantes do planeta, condena 4 bilhões a viverem na pobreza ou em função de suas necessidades animais, como se alimentar, abrigar-se das intempéries e educar suas crias?”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, sérias e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, severo e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito, “...Nosso planeta produz hoje alimentos suficientes para 12 bilhões de pessoas, e é habitado por 7 bilhões. ...);
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e de modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos); a educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; segurança alimentar e nutricional; assistência social; previdência social; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; sistema financeiro nacional; esporte, cultura e lazer; turismo; logística; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação,  do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...
  


quinta-feira, 5 de abril de 2012

A CIDADANIA, A JUVENTUDE, A CRUZ E A PÁSCOA

“Os jovens e a cruz

A Igreja Católica prepara-se para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em julho de 2013, no Rio de Janeiro. Para isso, volta cada vez mais sua atenção para os jovens, em sintonia com toda a sociedade, consciente do quanto é importante entender bem a juventude e comprometer-se com o seu presente e futuro. A opção preferencial da Igreja pelos jovens tem raízes na 3ª Conferência dos Bispos da América Latina, em 1979, em Puebla, México. Um exemplo da especial atenção da Igreja é a utilização da sua consolidada experiência na promoção da Campanha da Fraternidade, durante a quaresma de cada ano: em 2013, vamos retomar o tema fraternidade e juventude.

Mais que oportuno, é urgente a priorização da juventude nas agendas das igrejas, dos governos e de todos os segmentos da sociedade. Os jovens e adolescentes ainda constituem a grande maioria de nossa população. É um enorme potencial para o presente e o futuro da Igreja e dos povos. Os jovens são chamados a ser ‘sentinelas do amanhã’, como disse o bem-aventurado João Paulo II, por ocasião de uma das edições da Jornada Mundial da Juventude.

Essa consideração patenteia o grau de responsabilidade que todos temos junto aos jovens. Intensifica-se a responsabilidade e crescem as exigências quando se considera a tarefa do enfrentamento das seqüelas da pobreza gerando sua exclusão, afetados, em larga escala, por uma educação de baixa qualidade, com horizontes de vida estreitados pelos reducionismos e outros descompassos da sociedade contemporânea. Preocupante é o problema das drogas, criando dependências, dizimando vidas, impedindo o desabrochar da juventude sob o impulso inspirador de valores e princípios ancorados no amor, na justiça e na solidariedade.

A Jornada Mundial da Juventude é, pois, um percurso que convoca e põe a Igreja em estado de missão entre os jovens, proporcionando-lhes a centralidade do encontro com Jesus Cristo, o maior bem da vida, e trabalhando, nos que diz respeito à mancha de óleo que é a dependência química, na prevenção, acompanhamento e apoio a políticas governamentais para reprimir essa pandemia.

A prevenção se faz com processos educativos, com incidência para introduzir as novas gerações no âmbito do valor da vida e do amor, despertando a consciência da própria dignidade de filhos de Deus. O Documento de Aparecida nº 424 reza que “a Igreja deve promover luta frontal contra o consumo e tráfico de drogas, insistindo no valor da ação preventiva e reeducativa, assim como apoiando os governos e entidades civis que trabalham nesse sentido, exortando o Estado em sua responsabilidade de combater o narcotráfico e prevenir o uso de todo tipo de droga”.

A Jornada Mundial da Juventude no Brasil, já em curso com a peregrinação da cruz e ícone de Nossa Senhora, é experiência de espiritualidade, reconhecendo a religiosidade como fator de proteção e recuperação importante para o usuário de drogas. Também é um evento de grandes proporções para mobilizar a juventude em torno de temas, preocupações e questões decisivas para a vivência de cada dom. Os jovens, portanto, merecem e requerem um caminho percorrido com eles em busca dessas conquistas e na consolidação de uma vida vivida no amor e na justiça.

A preparação e vivência da Jornada Mundial da Juventude começou em setembro, lá em São Paulo, e chegou neste mês a Minas Gerais, seguindo Brasil afora até julho de 2013 no Rio de Janeiro. A referência central é a cruz peregrina – a cruz de Cristo Rei. É a cruz que a Arquidiocese de Belo Horizonte, neste sábado (19/11), vai iluminar no terreno da futura Catedral Cristo Rei, com a bênção de sua pedra fundamental. É a cruz que de patíbulo de suplício condenatório, por nela ter morrido Cristo, o salvador do mundo, se torna o trono de um rei servidor que dá sua vida para que todos tenham vida.

O símbolo da cruz, para todos os que a contemplarem, é lição estampada ao ar livre, publicamente, chamando todos à aprendizagem e vivência dessa lição mais importante da vida: servir. A cruz é o altar da eucaristia, memória da oferta que Cristo faz de seu corpo e sangue, a salvação da humanidade. É o poder e a sabedoria de Deus, sua manifestação eminente e garantia de como tornar operante a ressurreição na vida terrena do cristão.

A cruz é uma espiritualidade que orienta a fixar o olhar n’Ele, Cristo, mestre e senhor da vida. A cruz de Cristo Rei da futura Catedral é sinal da centralidade de Cristo, rei porque servidor e redentor. É um monumento a essa profissão de fé, com a tarefa de ser lugar do encontro com Ele e do compromisso com a vida plena para todos. Esta é hora de profunda comunhão e generosidade, de entendimento clarividente para que se construa a catedral e seja fecundada nossa opção preferencial pelos jovens.”
(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de novembro de 2011, Caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma IMPORTANTE, ADEQUADA e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 4 de abril de 2012, Caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, Escritor, autor do romance Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“Viver a Páscoa

Hélio Pellegrino, psicanalista e escritor dizia que não há nada mais radical do que crer na ressurreição da carne, conforme professa o dogma cristão. E registrou isso no texto “Aposta pascal”. O que significa acreditar, hoje, na ressurreição da carne? Carne significa, para a doutrina cristã, a consistência material do universo. Segundo o apóstolo Paulo, não apenas os seres humanos ressuscitarão com Jesus, mas toda a criação (Carta aos romanos, 8).

Por mais fantasiosa que essa crença ressoe aos ouvidos de quem não tem fé, o fato é ela é a única possibilidade de derrotar o nosso inimigo inelutável: a morte. Essa dama da foice que, à luz da razão, diz a última palavra, ainda que a ciência se empenhe em prolongar a nossa existência (haja cirurgias e malhação!), é subjugada pela esperança de que há luz no fim do túnel.

A Páscoa, na sua origem hebraica, é um fato político: sob o reinado do faraó Ramsés II, em 1250 a.C., liderados por Moisés, os hebreus se libertaram da escravidão no Egito. Basta isso para que, hoje, ela seja comemorada como incentivo a combater toda forma de opressão, preconceito e discriminação.

Nascemos do mesmo modo, ao morrer teremos todos o mesmo destino e, no entanto, as desigualdades imperam em nosso modo de viver. Diferenças de condições sociais e culturais incutem em nós deturpadas e, em geral, criminosas em relação ao outro. É o caso do homem que se julga superior à mulher, do branco que discrimina o negro, do heterossexual com preconceito ao homo, do rico indiferente ao pobre. Exemplos atuais são a criminalização dos imigrantes pelos países ricos, a suspeita de que todo muçulmano é um terrorista em potencial e os discursos eleitorais dos pré-candidatos republicanos às eleições nos EUA.

A Páscoa, para os cristãos, além do ato político encabeçado por Moisés, é sobretudo a proclamação de que Jesus, assassinado em Jerusalém por volta dos anos 30 de nossa era, condenado por dois poderes políticos, venceu a morte e manifestou a sua natureza também divina. Uma fé que comporta a crença na divindade de um pregador tido como subversivo pelas autoridades de seu tempo, deve ao menos se perguntar: por que o assassinaram? Não era um homem tão bom? Não fez apenas o bem?

A fé esvazia o sentido da ressurreição de Jesus quando não se pergunta pela razões de sua morte. Ele não queria morrer, suplicou a Deus, a quem tratava com a intimidade relacional de filho para pai, que afastasse dele aquele cálice de sangue. Teve medo. Refugiou-se numa plantação de oliveiras. Preso, não negou o que havia feito e pregado, e pagou com a vida a sua coerência.

Assassinaram Jesus porque ele queria o óbvio. Esse óbvio é tão óbvio que, ainda hoje, muitos fingem não enxergá-lo: vida em plenitude para todos (João 10,10). Ora, não é preciso saber economia, basta a elementar aritmética, para de se dar conta de que há suficiente riqueza no mundo para assegurar vida digna a seus 7 bilhões de habitantes.

A renda per capita mundial é, hoje, de US$ 9.390. Porém, basta olhar em volta para ver nossos semelhantes jogados nas calçadas, catando lixo para se alimentar, morando em favelas, submetidos ao trabalho escravo. Basta ligar a TV para se deparar com o rosto cadavérico dos africanos famintos. Basta abrir o jornal para ler que dois terços da humanidade ainda vivem abaixo da linha da pobreza. E 20% da população mundial concentram em suas mãos 84% da riqueza global.

Páscoa significa passagem, travessia. Domingo, nós, cristãos, iremos à igreja celebrar essa que é mais importante festa litúrgica. E o que muda em nossas vidas? Vamos sair do comodismo para ajudar a quebrar as amarras da opressão? Vamos deslocar a nossa ótica do lugar do opressor para encarar a realidade pelos olhos do oprimido, como sugeria Paulo Freire?

É fácil ter religião e professar a fé em Jesus. O difícil é ter espiritualidade e ter a fé de Jesus. Feliz Páscoa!”

Eis, pois, mais páginas contendo IMPORTANTES, ADEQUADAS e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES que apontam, em meio à MAIOR crise de LIDERANÇA de nossa HISTÓRIA – que é de MORAL, de ÉTICA, de PRINCÍPIOS, de VALORES –, para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS MUDANÇAS em nossas estruturas EDUCACIONAIS, GOVERNAMENTAIS, JURÍDICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS, ECONÔMICAS, FINANCEIRAS e AMBIENTAIS, de modo a promovermos a inserção do PAÍS no concerto das POTÊNCIAS mundiais LIVRES, SOBERANAS, CIVILIZADAS, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDAS...

Assim, URGE ainda a efetiva PROBLEMATIZAÇÃO de questões deveras CRUCIAIS como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, desde a EDUCAÇÃO INFANTIL (0 a 3 anos, em creches; 4 e 5 anos, em pré-escolas) até a PÓS-GRADUAÇÃO (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;

b) o COMBATE, severo e sem TRÉGUA, aos três dos nossos MAIORES e mais DEVASTADORES inimigos que são: I – a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância, de forma a manter-se em patamares CIVILIZADOS; II - a CORRUPÇÃO, como um CÂNCER a se espalhar por TODAS as esferas da vida NACIONAL, gerando INCALCULÁVEIS e INTOLERÁVEIS prejuízos e comprometimentos de variada ordem: III – o DESPERDÍCIO, em TODAS as suas MODALIDADES, também a impor INESTIMÁVEIS perdas e danos, inexoravelmente IRREPARÁVEIS;

c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO, de ASTRONÔMICO e INSUPORTÁVEL desembolso da ordem de R$ 1 TRILHAO, a título de JUROS, ENCARGOS, AMORTIZAÇÃO e REFINANCIAMENTOS, a exigir igualmente uma IMEDIATA, ABRANGENTE, QUALIFICADA e eficaz AUDITORIA...

Isto posto, torna-se absolutamente INÚTIL lamentarmos a FALTA de RECURSOS diante de monstruosa SANGRIA, que DILAPIDA o nosso já escasso DINHEIRO PÚBLICO, MINA a nossa ECONOMIA e a nossa capacidade de INVESTIMENTO e de POUPANÇA e, mais GRAVE ainda, AFETA a CONFIANÇA em nossas INSTITUIÇÕES, negligenciando a JUSTIÇA, a VERDADE e o AMOR da PÁTRIA, ao lado de extremas e crescentes DEMANDAS, NECESSIDADES, CARÊNCIAS e DEFICIÊNCIAS...

São, e bem o sabemos, GIGANTESCOS DESAFIOS que, de maneira alguma, ABATEM o nosso ÂNIMO nem ARREFECEM o nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, CIVILIZADA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos e que contemplam EVENTOS como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO+20) em junho; a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE no RIO DE JANEIRO em 2013; a COPA DAS CONFEDERAÇÕES de 2013; a COPA DO MUNDO de 2014; as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNACIONALIZAÇÃO das EMPRESAS, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INOVAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um POSSÍVEL e NOVO mundo da JUSTIÇA, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e da FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA... e PERSEVERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...