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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A CIDADANIA, A HARMONIA ENTRE MENTE E CORAÇÃO E AS AINDA ACIRRADAS DIFERENÇAS

“A harmonia por meio da integração entre mente e coração
        A partir dos níveis internos, elevadas energias espirituais trabalham incessantemente para favorecer o despertar da luz no interior dos seres humanos. Não visam à formação de devotos a seguir passivamente suas instruções. Trabalham pelo desenvolvimento da consciência, pela dinamização do intelecto superior, pelo crescimento de indivíduos que possam refletir as energias criadoras que guardam em seu íntimo.
         Sobretudo na época atual, os estímulos que essas elevadas energias vertem sobre o planeta facilitam a integração entre coração e mente. A compreensão dos fatos da vida, compreensão não confundida por aparências ou por elementos efêmeros, depende dessa integração. Quando a sensibilidade para perceber o estado real das criaturas e do universo e a capacidade organizadora da mente se fundem e se deixam guiar pela luz interna do coração, a melhor conduta a seguir, a mais adequada e evolutiva, se revela.
         Só existe uma maneira de a harmonia se estabelecer na face da Terra: a mente e o coração de cada indivíduo integrarem-se e elevarem-se. Nos níveis superiores da consciência encontra-se a verdade que considera o bem de todos. Entre os que atingiram esses níveis não há possibilidade de desentendimento, pois prevalece a unidade de propósito.
         Diante dos horizontes que essa integração descortina, é preciso estar disposto a renunciar ao que possa manter a consciência presa a antigas formas de ser e de compreender. É preciso também abrir mão do hábito de criticar e da tendência a cristalizar-se em condutas passadas. O processo de fusão da mente e do coração é libertador: permite constante renovação, constante ampliação do potencial de serviço aos semelhantes.
         Um número cada vez maior de seres humanos, movidos hoje pelos impulsos de energias elevadas, superiores, começa a desenvolver essa visão mais universal e integrada. A interdependência entre os reinos da natureza vai-se tornando para eles evidente, o que multiplica suas oportunidades de atuar de modo positivo no estabelecimento de padrões de vida superiores.
         À medida que se elevam, sentem-se insatisfeitos ao perceber a progressiva deterioração da existência ao redor. Saber que a paz só se estabelecerá sobre a Terra quando estiver viva na maioria dos homens faz com seus limites se alarguem e com que busquem compartilhar o que de melhor colhem do mundo interior.
         No presente período planetário tudo está sendo movido, purificado e renovado para que se eleve o nível vibratório da Terra. Desde as estruturas mais básicas da sociedade humana – familiares, econômicas, religiosas e geopolíticas – até as profundezas dos sentimentos e pensamentos estão sendo sacudidas sob a luz de um tempo que requer síntese, visão universal, consciência no uso dos recursos que a natureza oferece.
         Aqueles que no íntimo se percebem prontos para colaborar com a nova vida que se anuncia mantenham-se atentos sobretudo para não se iludir com a atual desarmonia, característica das fases de transição. Busquem a síntese dos fatos da vida, interpretando-os a partir de uma ótica que integra mente e coração, desapegados de padrões antigos. Busquem dentro de si mesmos o núcleo que conhece a Verdade além das aparências. E, então, bem alicerçados nele, semeiem pelos campos deste mundo sua Luz e seu Amor.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 19 de outubro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 24).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de setembro de 2014, caderno PENSAR, página 3, de autoria de Inez Lemos, psicanalista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Diferenças

ACIRRADAS
        O preconceito em relação ao pobre, gordo, feio, idoso, negro, homossexual, deficiente físico e à mulher, entre tantas outras formas de discriminação, merece debate. A exclusão é um traço da estrutura histórica que permeia as sociedades que cresceram sob a égide da acumulação de capital. Em diferentes períodos do processo histórico, a moralidade e os códigos éticos funcionaram em nome de uma razão, de uma lógica construída em nome de interesses ocultos. A maioria dos discursos morais esconde aspectos extremamente imorais. Contudo, a nossa era revive ondas de preconceito e intolerância assustadoras.
         Muitos são os exemplos que apontam para o recrudescimento da violência, exemplos de intolerância que hoje se manifestam nas redes sociais. Interessa investigar a tendência em detonar as pessoas. Que ódio é esse? A intolerância que assusta é a do campo pessoal, é um ódio ao indivíduo. Qualquer atitude é uma justificativa para se jogar sobre o outro a insatisfação e a frustração. Em tempo de eleições, o debate é permeado por várias formas de preconceito. Partidos se digladiando nas redes sociais, onde o ódio é destilado numa demonstração de que, quando se trata de interesses políticos envolvidos, avançamos pouco.
         Os códigos morais são inventados pelos homens, embora fundamentalistas de várias religiões se esforcem em afirmar que o discurso da intolerância resulta em decretos divinos. Hoje, o cenário político no Brasil é disputado entre pastores – muitos são os candidatos da igrejas evangélicas . Nos anos 1960 a 1980, uma parte do debate político, na Igreja Católica, contava com a presença das Comunidades Eclesiais de Base, que, incentivadas pelo teologia da libertação, lutavam pela promoção da inclusão. Hoje, predomina uma guerra suja com a presença de pastores homofóbicos e retrógrados. O pensamento obscurantista, em nome da moral e da manutenção da família, tenta se estabelecer de forma truculenta. Trata-se de regras elaboradas em torno de interesses de um grupo que discursa em nome de Deus.
         Defender uma religião ou um partido. Como diferenciar o certo do errado? Valores, interesses, posturas, crenças. Importa desvendar o que subjaz ao discurso da intolerância, ao acirramento do preconceito. Quais são as pressões, ambições e motivações que levam à defesa de um partido ou de uma crença? Geralmente, o debate sem manipulações e jogos perversos é o melhor caminho. Contudo, num país comandado, quase sempre por um jornalismo comprometido, uma mídia tendenciosa e pouco transparente, torna-se impossível. O método da persuasão funciona quando a maioria dos cidadãos não cultiva o hábito da leitura, não pesquisa e não gosta de raciocinar a respeito de temas que envolvem a vida do cidadão. Toda eleição requer reflexão sobre propostas que atendam melhor aos interesses da maioria. Com a presença maciça da tecnologia, da internet e da televisão, as escolhas precisam ser elaboradas, debatidas, analisadas.

CERTO E ERRADO Qual a participação da mídia, das famílias e das escolas ao investigar o rancor que tem pautado as relações humanas? Como debater propostas, condutas e formas de convivência, respeitando o diferente? Historicamente, as circunstâncias econômicas são as que mais influenciaram o discurso político e social. Conceitos de certo e errado variam conforme os interesses de cada época, eles não são naturais ou intuitivos, mas implantados por meio de pressões – via mídia, partidos ou religiões. Destaco o rancor, a violência simbólica contra determinadas classes sociais. Agressão aos médicos cubanos, a moradores de rua, mendigos, jogadores de futebol negros. Comentários preconceituosos contra cidadãos de baixa renda, que, devido a uma pequena ascensão social, hoje frequentam ambientes antes exclusivos de uma elite bem nascida e bem-empregada. Vivenciamos uma crescente onda de violência social contra determinadas etnias e classes econômicas.
         Exemplos recentes de preconceito contra negros, nordestinos e homossexuais colocaram  em xeque o mito do brasileiro cordial elaborado pelo historiador Sergio Buarque de Holanda, como também a falácia de uma democracia racial. Para o antropólogo Roberto DaMatta, o preconceito sempre existiu. Agora ele apenas está mais acirrado pelo fato de as “classes subalternas” estarem se movimentando. Nunca fomos uma sociedade miscigenada e harmoniosa. Enquanto o morro estava sob controle, cumprindo a função de reserva de mão de obra barata, as diferenças não incomodavam. A desigualdade operava como sustentação da estrutura social que beneficiava as classes economicamente dominantes.
         A manifestação da violência na esfera pública desvela a face de um país ressentido e rancoroso diante das perdas, lugar de privilégios. Os programas de transferência de renda e de cotas para negros, indígenas e alunos de escolas públicas promoveram a redução da desigualdade social, causando desconforto às classes abastadas. Na verdade, o brasileiro sempre cultivou o gosto pela hierarquia social, o que coloca a igualdade de direitos na ordem do insuportável. A desigualdade, em nossa cultura, sempre foi vista como natural, e a forma injusta e violenta com que as classes dominantes  tratavam os pobres, um direito. Aos filhos das domésticas e ao porteiro restava um lugar social já definido, enquanto aos filhos de médicos, herdeiros de uma posição social privilegiada, eram reservados os melhores cargos no mercado de trabalho.
         Para os fragilizados pela estrutura social injusta, a esperança de mobilidade social era vista como uma loteria, poucos conquistavam reconhecimento e boas condições de trabalho. O ódio de deve, muitas vezes, às mudanças operadas por programas de distribuição de renda que rompem com o gueto social a que o país estava condenado. Havia uma situação confortável, a concorrência desleal garantia, em terra, o paraíso sonhado. Mais vagas nos vestibulares e nos empregos. Em casa, boas empregadas por baixos salários. Com o aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores de baixa renda, uma nova estruturação social surge, o que não é bem visto pelos conservadores – revoltados com a perda do lugar de distinção social. Com isso, a inclusão social como fator de luta é hoje uma realidade na agenda do brasileiro.
         Como não aplaudir os avanços sociais que nos aproximam do Primeiro Mundo? Contudo, o que temos é um movimento descabido, insano e inconsequente por parte de uma parcela da população. Muitos, numa postura obscurantista, destilam o ódio diante das mudanças que rompem a separação geográfica entre negros e brancos, ricos e pobres. Sem debates nas escolas ou outros fóruns de discussões, que possibilitam aprofundar as questões envolvidas, dificilmente iremos abandonar o reducionismo dicotômico – forma banal de analisar o momento histórico em que vivemos.
         Como reconhecer o outro que sempre esteve distante, o diferente, como igual? Como aceitá-lo como um concorrente em pé de igualdade? Enquanto o país vivia a segregação social, a ira estava contida. Na verdade, poucos reconhecem a importância de corrigir as injustiças sociais causadas pelas classes economicamente privilegiadas. Oliver Thomson, em A assustadora história da maldade, adverte: “A segunda maior área de ilusão cumulativa tem sido a justificativa da desigualdade econômica, resumida no dístico medieval ‘O rico em seu castelo/ O pobre no portão’. O que começa com uma ética que recompensa diferentes membros de uma sociedade em diferentes níveis, dependendo do valor de sua contribuição, em geral evolui para uma indefensável justificação de desigualdades permanentes”.

LÓGICA Muitas famílias, escolas e faculdades abandonaram o discurso da ética e da cidadania. Preferiram, de forma obsessiva, ocupar-se com a preparação para o mercado de trabalho. Trocaram a lógica dialética pela lógica formal, operacional. O debate de ideias não ocupa mais as agendas universitárias. Aderiram às pressões do mundo técnico. Com isso, a educação está abrindo mão do espaço de formadora de cidadãos, aquela que prepara para uma convivência saudável entre valores contraditórios e discordantes. A polêmica e o conflito são formas de expansão do pensamento. O caráter negativo de focarmos apenas as matérias técnicas é o distanciamento dos jovens em relação à essência humana.
         A maldade não brota do nada. O rancor expõe insegurança, infantilismo, inveja. Ele é lançado sobre o outro que nos incomoda, provoca. A fúria tenta impedir que desfrute da posição que conquistou. Mais que ódio, rancor é sentimento que se guarda e, ao ressurgir, volta a atacar. Educar implica ensinar a ganhar e a perder. O fracasso é parte da condição humana. No deserto, longe dos bons sentimentos, a moçada solta os leões exigindo privilégios historicamente petrificados.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional – na perversa lógica do “dinheiro público versus interesses privados”), gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional;assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

terça-feira, 10 de junho de 2014

A CIDADANIA, A LIBERTAÇÃO DO SER E A SELEÇÃO DOS RESSENTIDOS

“A obediência como caminho para a libertação do ser
        
         A contaminação e a desordem psíquica no mundo agravam-se dia a dia, e para conviver com essa situação sem se prejudicar é necessário preservar a harmonia, cultivando a fé e o pensamento elevado.
         À medida que os problemas nas grandes cidades forem aumentando, surgirão novas oportunidades de cura, principalmente de curas internas, espirituais, que ocorrerão no silêncio do ser.
         Porém, a maioria dos seres humanos passa a vida sem perceber e, muitas vezes, sem ao menos perguntar sobre o motivo real de sua presença na Terra. Prende-se à superficialidade do cotidiano e deixa de enxergar os valores da existência.
         Essa ignorância, além de constituir-se em uma hibernação para a chispa de luz oculta no âmago do ser, impede que os fluidos vitais e as correntes energéticas oriundas de núcleos profundos circulem livremente. A abertura à transformação e às leis evolutivas são chaves para reverter essa situação.
         A adesão de cada indivíduo ao trabalho evolutivo – aquele traçado por Deus para nós – será tanto mais sincera e estável quanto mais ele tomar consciência do papel que tem a desempenhar. Todos os que despertaram espiritualmente compartilham do mesmo impulso de crescimento.
         Entretanto, também os que chegam no caminho espiritual trazem consigo uma série de hábitos, tendências e idiossincrasias que no decorrer das épocas se foram impregnando em seus corpos. Por influência das forças do ego, tendem a querer afirmar seus pontos de vista, a assumir as tarefas do trabalho evolutivo com excessivo sentido de posse, como se dissessem respeito à própria realização, desvirtuando assim as oportunidades que lhes são oferecidas. Ao longo do caminho são levados, de modo às vezes abrupto, às vezes gradual, a libertarem-se desses condicionamentos há muito arraigados.
         Um instrumento importante nesse processo de libertação, mas em geral relegado a segundo plano, é a obediência. No passado, quando se aderia ao caminho evolutivo, tinha-se a possibilidade de estar fisicamente próximo a alguém de elevado desenvolvimento espiritual, a quem se podia prestar conscienciosa obediência. Desse modo, com maior segurança, o egotismo – o sentimento exagerado da própria personalidade – era transcendido.
         Mas na presente fase planetária, raros são os casos em que se pode estar junto de um ser liberto das leis materiais em sua consciência-visão. Hoje, os grandes seres trabalham nos níveis internos da vida e é infrutífero procurar obter a verdadeira instrução a partir dos homens: ela não pertence a ninguém, embora, misteriosamente, encontre-se no interior de cada um de nós. Será, pois, na luz desses níveis internos que o discípulo encontrará o Instrutor a quem espontaneamente seguir.
         Por isso, mais do que nunca é necessário equilíbrio: ao mesmo tempo que toda a orientação segura provém do interior e se deve prestar total obediência à fonte interna de sabedoria, o indivíduo precisa estar suficientemente desapegado de si e de suas percepções para distinguir o falso do verdadeiro, pois mesmo um impulso interno genuíno pode ser desvirtuado por tendências subconscientes.
         À obediência devem estar aliados, portanto, a entrega à realidade superior, o desapego e o discernimento.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 1 de junho de 2014, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 31 de maio de 2014, caderno PENSAR, página 3, de autoria de Inez Lemos, que é psicanalista, e que merece igualmente integral transcrição:

Seleção de
RESSENTIDOS
        Como explicar a gênese da violência que assola o país? Depredação de ônibus, bancos, linchamentos aos supostos bandidos, execuções a pedradas, vasos sanitários e pauladas. Crueldade, vingança, ira e ressentimento. O caldo da maldade é engrossado dia a dia. Ao analisar os sinais de descontentamento e vandalismo, esbarramos em questões políticas e psíquicas. O inconsciente, ao ser contaminado pela realidade social, sobre os efeitos da vida política.
         O descobrimento do Brasil fez parte de um projeto de modernidade, em sua corrida pela acumulação de riquezas. Somos filhos da pirataria, da contravenção e da corrupção. Filhos de uma relação de interesses – o português que engravidou a índia como forma de obter informação de quem aqui vivia. Estratégias de dominação. A arte de manipular para melhor reinar. Alienar, impedir que o outro participe, interaja. Quanto mais alienado, mais fácil de controlar. Contudo, o brasileiro, cansado de desrespeito e descaso, resolve se rebelar contra o poder público e privado. Não sobrou ninguém. A espada está no pescoço de todos nós.
         O que move o mundo é o desejo insatisfeito. O capitalismo manipula, os políticos fingem que não escutam, mas a verdade é que não se controla um país oferecendo apenas pão e circo, celulares, tablets, lipoaspiração. O trabalhador, além de cartão de crédito, exige transporte, saúde e educação de qualidade. Anseia por dignidade, direitos, justiça. A desigualdade provoca revolta e ressentimento. O sonho agora é por igualdade de oportunidades. Punição aos ladrões de baixo e de cima. Quando o crime é uma prática da classe política, rebelar é a palavra de ordem entre os que sofrem as consequências.
         O Brasil é terra de ninguém, onde as leis dificilmente são cumpridas, onde viceja o racismo, a homofobia e a intolerância. A onda fascista é um efeito da anomia, da farra e desfaçatez dos poderosos. Como circular ideias de ética, honestidade e honradez, se grande parte dos governadores, prefeitos e deputados direciona o olhar para suas contas bancárias? Educar e governar são tarefas intermináveis. Aprendemos a amar, respeitar e governar com os pais. Pai é aquele que, ao exercer a função paterna, simboliza a lei: interdita o desejo descabido. Cobrar doçura de um povo injustiçado é despautério. Sem o bom exemplo, os filhos continuarão no vandalismo. Seria o Brasil um convite ao banditismo?
         Por que somos tão condescendentes com os políticos corruptos? Se a corrupção sempre foi um direito dos que dela se beneficiam, privilégios e injustiças sempre fizeram parte dos que detêm o poder econômico e político. Educar é barrar os filhos em seus impulsos destrutivos, inserindo-os nos limites da lei. Sem interditar, frustrar, a chance da criança tornar-se perversa é grande. A política é o palco privilegiado dos perversos, é onde eles são amparados em seus atos ilícitos e soltam as garras da ambição.
         O passado coronelista e patrimonialista a utilizar o espaço público como se fosse privado. Ao mesmo tempo que o criticamos, repetimos posturas que condenamos. Como ultrapassar o atavismo moral que parece nos definir? Mudar uma cultura, fundar outra ideia de nação, quão difícil! É trabalho profundo, há de se tocar entranhas e rever o lixo recalcado. Todo sintoma aponta para uma tentativa de cura. Ao mesmo tempo que denuncia o que não vai bem, revela um gozo–prazer e desprazer na compulsão à repetição. Reclamamos dos corruptos, mas somos tolerantes quando eles defendem nossos privilégios.
         Ao analisar a violência, penso na palavra ressentimento. Res-sentir – sentir duas vezes, não perdoar, guardar mágoas, alimentar vingança, não se implicar nos conflitos. Ressentimento é sentimento que fixa o sujeito na neurose. A neurose paralisa o sujeito no sintoma, impedindo-o de avançar nos bons sentimentos. O ressentido é um infeliz, pois se cristaliza na amargura. O brasileiro, que sempre gozou da condição de ressentido e trapaceado, agora quer, nas ruas, exigir políticas públicas de qualidade. Melhor que reclamar em mesa de bar ou descontar no erário, engrossando o caldo dos corruptos.
DESEJO DE DESFORRA  A exposição de um cotidiano promíscuo provoca no brasileiro o desejo de desforra, de botar para quebrar. Se para o político a demanda da população é o que menos conta, se poucos se ocupam com suas necessidades, é de se esperar que o muro se rompa. No filme Getúlio, quando não havia mais o que esconder, o presidente Vargas confessa: “Nunca me pediram nada para o país (ou para o povo), sempre me pediram algo para alguém”. A violência das ruas metaforiza o filho lesado contra o pai perverso. Passa-se ao ato de forma impulsiva, impensável. É sangue fervendo na veia.
         Nossa história ressalta a ausência de interdição capaz de regulamentar o apetite pelo gozo e organizar um quando social que outorgue a cidadania. O romance familiar brasileiro, nossa mitologia, produziu a fantasia do privilégio e da violação de direitos. Revisitando as determinações histórico-sociais dos processos de subjetivação, identificamos o descaso pela res-publica  (coisa pública). O ethos que nos funda é o do prazer e não o da felicidade. A imagem que vendemos é do paraíso sexual. Mulheres gostosas e de fácil acesso.
         País idílico, frívolo, que não soube se fazer respeitar. A copa promete jogos e orgia. Goleada no campo e na cama. A volúpia e o fascínio que exercemos no imaginário dos estrangeiros condena nossa filiação. Submetidos ao imperativo do gozo, deixamos de cobrar o ouro que o mundo nos deve. Filhos de um amor pérfido. Sedução e traição.
         A filha pobre e de pouca escolaridade, diante do dinheiro, se corrompe e se prostitui. Promiscuidade que lhe atravessa a alma e a lança na sarjeta das perdidas. Menina de um futuro morto. O que não nos faltam são motivos para subverter a ordem, romper com a imagem do negativo social. Chega de manipulação. Mídias e governantes nos alienam e dominam. Submissos aos interesses do mercado, nos fixamos no gozo.
         A herança escravocrata explica a sujeição ao grande outro e a vocação à dependência. Consumista, imediatista e permissivo. Reserva libidinal do mundo. Aos olhos dos estrangeiros, a imagem será de eterno prostíbulo? Como explicar a tendência da mulher brasileira à nudez? Nossa condescendência com os sedutores revela o fracasso da função paterna. Adoramos nos exibir. Do carnaval ao Facebook, não perdoamos os flashes. Repetiremos na Copa o destino colonial? Permitiremos que o estrangeiro entre e explore o melhor, seja açaí ou adolescentes?
         Sem Marx e Freud, sem pudor e ética, vencerá a violência. O niilismo quer acabar com a consciência social – utopia por maior distribuição de renda e oportunidades. O fantasma fundamentalista, aliado ao obscurantismo que se esconde nas religiões de esquina, prega a ignorância e a insanidade. Viver é enfrentar contradições. Saber lidar com os paradoxos humanos.
         A anomia revela a desorganização social, a ausência de leis. Para que o tecido social se articule, é necessário mais que renúncia pulsional. Não se constrói uma nação apenas com repressão. O respeito aos pais se deve ao amor – o temor apenas é insuficiente para que a criança internalize a lei. Para que o brasileiro se anime e torça para o Brasil, é preciso haver paixão. É preciso motivo para que o filho torça pelo pai. Contudo, a questão da violência no Brasil, antes de ser política, é psíquica.
         Se a Copa servir para deflagrar a consciência de cidadania, que indica que a responsabilidade na construção de um país é de todos, valeram os investimentos. Ser servir para estancar o masoquismo e investigar a condição de vítima, melhor ainda. Toda neurose, todo lugar de gozo, responde por uma filiação. A violência tanto pode ser efeito de uma metáfora paterna inconsistente, como do desamor do pai pelo filho. Como respeitar a casa se nela somos violentados, desprezados? Por tudo isso é difícil para o brasileiro sair às ruas com bandeiras e apitos. No lugar da torcida, prepara-se a revolta. Como sustentar um outro lugar, uma outra filiação?
         O significante que operou como referência simbólica foi o da permissividade – riqueza e sexo em terras tropicais: praias, borracha e minério. Quando a filiação fracassa, a maledicência ganha espaço e se instaura como arremedo da função paterna. Colonização e exploração, corrupção e impunidade, permissividade e leviandade. A história e os significantes nos condenam. A onde de ações predatórias revela a condição de rebotalho, ela está no inconsciente do sujeito e não em sua condição econômica. Traço de filho rejeitado, com mãe omissa e pai ambicioso. Filho do português com a índia, do coronel com a escrava. Como reparar as perdas? Não estariam os black blocs denunciando o fracasso da função paterna?”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, na pré-escola) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

      b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades,  também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade – e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

  

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A CIDADANIA, A SAÚDE, A CIVILIDADE E A FELICIDADE

“Saúde do povo, descaso do Estado

O neoliberalismo deu um tiro de misericórdia no Estado de bem-estar social. Destruiu os vínculos societários nas relações de trabalho, deslegitimou a representação sindical, deslocou o público para o privado. O que era direito do cidadão, como a saúde, passou a depender das relações de mercado e da iniciativa pessoal do consumidor.

Quem não tem plano privado de saúde entra na planilha dos cemitérios. Hoje, 40 milhões de brasileiros desembolsam, todo mês, considerável quantia, convictos de que, doentes, serão atendidos com a mesma presteza e gentileza com que foram assediados pelos corretores das empresas de saúde privada.

Os clientes se multiplicam e os planos proliferam, sem que a rede hospitalar acompanhe essa progressão. O associado só descobre o caminho do purgatório na hora em que necessita de resposta do plano: laboratórios e hospitais repletos, filas demoradas, médicos escassos, atendentes extenuados.

Em geral, o pessoal de serviço, que contato imediato com os beneficiários, não demonstra a menor disposição para o melhor analgésico à primeira dor: gentileza, atenção, informação sem dissimulação ou meias palavras.

Ora, se faltam postos de saúde e hospitais; se consultórios têm salas de espera repletas como estação rodoviária em véspera de feriado; se na hora da precisão se descobre que o plano é bem mais curvo e acidentado do que se supunha... a quem recorrer? Entregar-se às mãos de Deus?

O Brasil é o país dos paradoxos. O que o governo faz com u’a mão, desfaz com a outra. O SUS banca 11 milhões de internações por ano. Muitas poderiam ser evitadas se o governo tivesse uma política de prevenção eficiente e, por exemplo, regulamentasse, como já faz com bebidas alcoólicas e cigarro, a publicidade de alimentos nocivos à saúde. A obesidade compromete a saúde de 48% da população.

Entre nossas crianças, 45% estão com sobrepeso, quando o índice de normalidade é não ultrapassar 2,3%. De cada cinco crianças obesas, quatro continuarão assim quando adultos. No entanto, as leis asseguram imunidade e impunidade a uma infinidade de guloseimas e bebidas, muitas anunciadas ao público infantil na TV e em outros veículos. Haja excesso de açúcares e gordura saturada.

A boa-fé nutricional insiste na importância de verduras e legumes. Mas a Anvisa (vigilância sanitária) não se empenha para livrar o Brasil do vergonhoso título de campeão mundial no uso de agrotóxicos. Substâncias químicas proibidas em outros países são encontradas em produtos vendidos no Brasil. Haja câncer, má-formação fetal, hidroencefalia etc!

Entre 2002 e 2008, os acidentes de moto se multiplicaram 7,5 vezes no Brasil. Na capital paulista, são 4 mortes por dia. No entanto, a fiscalização de veículos e condutores é precária e as vias públicas não são adaptadas ao tráfego de veículos de duas rodas.

Quem chega ao Brasil do exterior deve preencher e assinar um documento da Receita Federal declarando se traz ou não medicamentos. Em caso positivo, o produto e o passageiro são encaminhados à Anvisa. Ora, toneladas de veneno entram diariamente por nossos portos e aeroportos, e são vendidos em qualquer esquina: anabolizantes, energizantes, enquanto a TV veicula publicidade de refrigerantes com alto teor de cafeína e poder de corrosão óssea.

Embora todos saibam que saúde, alimentação e educação são prioritárias, o Ministério da Saúde dispõe de poucos recursos, apenas 3,6% do PIB, o que equivale, neste ano de 2011, a R$ 77 bilhões. Detalhe: em 1995 o governo FHC destinou, à saúde, R$ 91,6 bilhões. A Argentina, cuja população é cinco vezes inferior à do Brasil, destina anualmente duas vezes mais recursos que o nosso país.

Nossa saúde é prejudicada também pelo excesso de burocracia das agências reguladoras, a corrupção que grassa nos tentáculos do poder público (vide o prontuário da Funasa na sua relação com a saúde indígena), a falta de coordenação entre a União, os Estados e os municípios. Acrescem-se a mercantilização da medicina, a carência de médicos e sua má distribuição pelo país (o Rio tem 4 médicos por cada 1.000 habitantes: o Maranhão, 0,6).

Governo é que nem feijão, só funciona na panela de pressão. Se a sociedade civil não exigir melhorias na saúde, no atendimento do SUS, no controle dos planos privados e dos medicamentos (pelos quais se pagam preços abusivos), estaremos fadados a ser uma nação, não de cidadãos, e sim de pacientes – no duplo sentido do termo. E condenados à morte precoce por descaso do Estado.”
(FREI BETTO, é escritor, autor de Calendário do poder (Rocco), entre outros livros, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de maio de 2011, Caderno CULTURA, página 10).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 16 de julho de 2011, Caderno PENSAR, página 3, de autoria de INEZ LEMOS, que é psicanalista, e merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“Civilidade e FELICIDADE

A obsessão do homem contemporâneo em consumir o torna escravo da tirania da felicidade. Isso impede o enfrentamento de questões como o fracasso e a necessidade de lidar com as frustrações

O dever de felicidade marca a nossa era e pauta o sentido de viver. Freud, em O mal-estar na civilização, nos lembra de que a felicidade é sempre uma aspiração, um desejo negociado entre os limites impostos pela cultura. Significa que, para viver bem, devemos aprender a renunciar às pulsões – domar os impulsos que insistem em nos comandar. Talvez aqui resida uma das questões-chave para atingir, senão a felicidade, pelo menos uma vida sintonizada com sonhos e convicções. Contudo, o que presenciamos, muitas vezes, é a desarmonia, desencontro entre o que gostaríamos de viver e o que vivemos. Lembramos que o compromisso do projeto civilizatório é com o progresso, não com a felicidade dos homens. Não faz parte do plano se ocupar com os aspectos subjetivos da humanidade.

Com a passagem do capitalismo de produção centrado no trabalho para o sistema de produção focado no consumo, é estratégico vender o ideal de felicidade como dever e obrigação. Logo, os mentores desse modelo de civilização perceberam que o caminho para o Éden deveria se tornar livre. Permitir e não coibir, eis a receita da promoção do gozo eterno. Assim, caso fraquejemos em nosso propósito de felicidade, toda a responsabilidade recai sobre nós. O furo está justamente na crença de que o caminho a percorrer é o estabelecido e propagado. Não é de bom tom expor infortúnios, assumir os fracassos. Demonstrar alegria se tornou sinônimo de polidez. A herança de Maio de 1968 culmina com a liberação para viver o desejo sem restrições. Na esteira do “é proibido proibir”, acabamos sob a tutela dos exploradores da libido – trocamos qualquer possibilidade de sofrimento pela tirania da felicidade. Esquecemos que o sofrimento salva a existência, como disse Simone Weil.

Aos insatisfeitos em relação à determinação maldita de felicidade, à sobrevida vegetativa a que estamos condenados, cabe desafiar a crença de que só há felicidade possível se seguirmos a humanidade consumista e moribunda. Como sair do que Henry Miller, num rompante agressivo contra a América, chamou de “o pesadelo refrigerado”? Ao nos submetermos à razão mercantil e corrosiva que destrói o sentido da vida, quando as coisas importantes não mais nos interessam e o que nos atrai são as coisas desimportantes, nos tornamos servos embriagados de falsa sedução. Escravos de mestres que nos querem assujeitados e fragilizados. Como testemunhou Raoul Vaneigem, um dos críticos de 1968: “Não queremos saber de um mundo em que a garantia de não morrer de fome deve ser trocada pela certeza de morrer de tédio”.

E agora, moçada, como resistir ao triunfo do consumismo se sabemos que ostentar objetos não é sinônimo de civilidade? Dirigimos carros importados e jogamos lixo na rua. Estacionamos em fila dupla – convictos de que esse é um direito, lançamos o olhar cínico da arrogância. Estimulamos a esperteza, adoramos nos sentir privilegiados e tratados com deferência. Detestemos a igualdade. Como conciliar grana com elegância, ética com poder?

O antropólogo Roberto DaMatta, em Fé em Deus e pé na tábua, ao analisar o comportamento competitivo do cidadão brasileiro, relaciona-o com as estruturas hierárquicas e concepções imobilistas – viés racista e aristocrático. “O cão do senador tem mais direitos que o do cidadão anônimo. Saber de quem é Rolex faz com que os policiais trabalhem com mais afinco e eventualmente o devolvam ao dono”, escreve ele. Não gostamos de obedecer às leis – a obediência nos coloca na posição de igualdade, enquanto a transgressão traz o gosto da superioridade, lugar diferenciado. Obediência à lei exprime subordinação social e revela confusão entre obedecer às pessoas e à lei. Geralmente, o cidadão de classe social elevada se sente humilhado quando coagido a se portar igual aos demais. Muitos se revoltam e agem com brutalidade. O uso da violência é visto como direito de muitos bacanões que dirigem alcoolizados e armados. O exercício da brutalidade nos remete ao passado escravista, que associava às posições de poder com o direito à agressão ao inferior. Para quem dirige um Porsche, pedestre não passa de Zé-ninguém.

Arrogância cínica é necessidade de se sentir superior e deflagra a superficial igualdade republicana – forte matriz aristocrática e hierárquica. “O carro é uma prova de que as pessoas existem concretamente no mundo como proprietários de personalidades, que, além de terem emoções e sentimentos abstratos, se afirmam material e indiscutivelmente nos objetos e por meio das coisas que possuem”, registra DaMatta. A democratização do consumo tem despertado ira entre as classes historicamente abastadas. Muitos se indignam com a ascensão social da classe C, que hoje circula motorizada, frequenta aeroportos, bons supermercados e universidades. Invade espaços anteriormente reservados aos bem nascidos. Se desigualdade social é incompatível com desenvolvimento, não deveríamos aplaudir tal acontecimento? Uma família com maior poder aquisitivo em mais chance de educar melhor os filhos. Desde que esta seja a prioridade: inserir a criança na civilização e nos bens culturais.

O Brasil nunca foi um país de leitores, o mercado editorial jamais esteve entre os mais rentáveis. Atualmente, seu crescimento realiza-se principalmente no gênero autoajuda. Cada vez mais, os letrados escasseiam. Lamentamos o crescimento econômico desvinculado do avanço cultural e educacional. Bombamos no bolso, mas não na cabeça. Contudo, o afã pelo consumo se tornou característica nacional e mundial. Os jornais noticiam: seja em Nova York ou em Paris, consumidores, debaixo da chuva, fazem fila para comprar o iPad 2, a nova versão do tablet.

Será que, quanto mais nos sofisticamos por fora, mais regredimos por dentro? É claro que essa equação não é direta e determinante. Mas, ao se tratar de cultura de massa, quando jovem (de periferia ou de Zona Sul) direciona a maior parte do salário para o consumo de bens supérfluos – gastos com telefonia celular, roupas, produtos de beleza –, ele registra nas escolhas sua posição. Muitos julgam absurdo gastar com livros e cursos, mas não se indignam em torrar dinheiro com grifes.

As vincularmos violência, empobrecimento intelectual e aumento de consumo, atribuímos à educação valor existencial e transcendental. Educar é estimular o interesse por maior densidade interior. A convivência excessiva com a matéria atravanca o mergulho nas entranhas – viagem pelos caminhos da interioridade. Outrora, a aquisição de um objeto era orientada pela necessidade. Os objetos apresentavam valor de uso. Hoje, são símbolos de poder e ostentação – ir às compras se tornou sinônimo de inteligência e entretenimento.

Sonhar com um objeto de consumo era tarefa árdua – que estratégia se deveria usar no convencimento dos pais? Mas se tornou comum os pais se renderem diante da primeira manifestação de desejo do filho por quinquilharias. Ao realizar o sonho rapidamente, a criança encerra o desejo e interrompe a viagem articulada à fantasia. O raciocínio perde o fio condutor, o elo entre desejo, pensamento e emoção. Quanto mais facilitarmos a vida das crianças, fazendo por elas e as impedindo do contato com o experimentar, menos elas entram em contato com a emoção, a inteligência e a criatividade. A erotização no saber se realiza quando o conhecimento nos chega vinculado a passagens subjetivas. Quando diz do sujeito e sua relação com o mundo. Sem Eros não teremos grandes pensadores.

Em Escritores criativos e devaneio, Freud aprofunda a discussão sobre a sublimação. Que destino daremos à renúncia pulsional? Como manter a posição desejante, uma vez que a civilização nos obriga a abrir mão de algumas satisfações? A arte é uma boa escolha na sustentação da pulsão, o que nos mantém vivos e estimulados. Contudo, podemos dar outros destinos à pulsão, traçar outros vínculos para os filhos, uma vez que a fonte do impulso criativo reside em alguma fantasia inconsciente. Buscamos, ao longo da vida, formas simbólicas que representem o objeto perdido – as experiências de satisfação que nos marcaram. Para que a criança entre em contato com a fantasia, ela requer um ambiente que propicie visitar alamedas subterrâneas.

“A relação entre a fantasia e o tempo é, em geral, muito importante (...) O trabalho mental se vincula a uma impressão atual, a alguma ocasião motivadora no presente capaz de despertar um dos desejos principais do sujeito”. Aqui, Freud nos ensina: na fantasia, o sonhador tenta reconquistar o que possuiu em sua infância feliz. A sublimação ajuda a suportar a dor e o vazio existencial. No devaneio, abandonamos a vida cáustica e ganhamos gratificação da incompletude. Tratar o caos interno com coisas belas é enlaçar, de forma erótica, o objeto de desejo – conferir alegria no fazer e no saber.”

Eis, portanto, mais páginas contendo RICAS, ORIENTADORAS e ADEQUADAS abordagens e REFLEXÕES que nos acenam para os GIGANTESCOS DESAFIOS que se nos colocam frente à TRAVESSIA para o mundo DESENVOLVIDO ... para a PRIORIDADE ABSOLUTA: A EDUCAÇÃO, que não pode ser outra senão de QUALIDADE e para TODOS...

Porém, NADA, absolutamente NADA, ABATE e ARREFECE o nosso ÂNIMO e o nosso ENTUSIASMO nesta grande CRUZADA NACIONAL,visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para eventos como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDADES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO + 20) em 2012, a COPA DAS CONFEDERAÇÕES em 2013, a COPA DO MUNDO de 2014, a OLIMPÍADA DE 2016, as OBRAS do PAZ e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A CIDADANIA, O REALENGO, AS CRISES E UMA SOCIEDADE ENFERMA

“Isolamento humano

O computador, vedete tecnológica, já se inova com menos de um ano. Nosso espírito, que nos torna humanos, para modificar-se leva anos, décadas e muitos nem chegam a crescer espiritualmente.O distanciamento entre as pessoas chega a assustar-nos. Perdemos o senso de solidariedade e a tecnologia é uma das vilãs, pois, queira ou não, está a serviço do capital. O capitalismo, na essência, visa ao ganho, ao lucro e aí somos induzidos, demasiadamente, às recompensas financeiras e em valorizar todas as vantagens tecnológicas. A cooperação, o entendimento e a fraternidade ficam para segundo plano. Mesmo os países que se aproximam de um socialismo mais verdadeiro, como Suécia, Dinamarca, Noruega e outros, não se livram do ranço capitalista com ações empresariais e governamentais, em que o dinheiro é arrogante e até cruel.

O antropólogo e humanista Desmond Norris, em A fauna humana, explica muito a origem desse distanciamento, entre os humanos, que hoje vivenciamos. Diz ele que, no início histórico, os povos viviam em pequenas comunidades, sem tecnologia, é claro, interdependentes e fortemente ligados por afeto. À medida que as comunidades foram crescendo e, quando um passou a não conhecer o outro, esses laços afetivos foram se desfazendo, ao ponto de hoje não conhecermos nossos vizinhos, mesmo morando no mesmo lugar por muitos anos. A cada dia aumenta a atração pela tecnologia e dinheiro, com reais perdas de valores. A indústria bélica, que não está a serviço do bem-estar coletivo, tem crescimento e sofisticação galopantes. Nossa relação com a natureza é alarmante: já consumimos, indiscriminadamente, 30% de bens não renováveis do planeta, enquanto os índios norte-americanos, sem influência dos brancos, cultivavam o uso dos recursos naturais, avaliando o impacto nas sete gerações futuras.

Penso que as religiões e escolas podem ajudar muito na mudança de pensamento. Para tanto, é preciso, mais do que nunca, outra direção. O chamado bullying, ataque moral e físico nas escolas, que ocorre Brasil afora, é o maior sintoma de perda de valores entre crianças e adolescentes. As normalistas de outrora, verdadeiras mestras, diferentes das professoras de hoje, além de instruir não se descuidavam em formar cidadãos. O Brasil se viu em estado de choque com o massacre de escolares em Realengo, mas fecha os olhos para determinadas sociopatias. Hoje, os cursos, sobretudo, de graduação, sem filosofia nos currículos, pecam na formação humana, ficando longe de suprir valores transcendentes aos futuros profissionais. A maioria dos executivos industriais é composta por engenheiros e grande parte tem boa qualificação técnica, mas pouco conhecimento humanístico. Comandar máquinas é muito diferente de pessoas. Quem comanda precisa entender de gente. Josh MacDowell, em Evidência que merece um veredito, diz: “O coração não pode ter prazer naquilo que a mente rejeita”. O homem contemporâneo pensa muito, mas com pouco sentimento. O robô também “pensa”, mas isto só não basta, precisamos nos reciclar para encurtar a distância do coração para a cabeça.”
(GILSON FONSECA, Consultor de empresas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de16 de abril de 2011, Caderno OPINIÃO, página 11).


Mais uma IMPORTANTE e PEDAGÓGICA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo e edição, Caderno PENSAR, página 6, de autoria de INEZ LEMOS, que é psicanalista, que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

TRAGÉDIA DE REALENGO ESPELHA O QUE DE PIOR A SOCIEDADE OFERECE AOS JOVENS: BULLYING, COMPETITIVIDADE, VIOLÊNCIA E IMAGINÁRIO SOCIAL MARCADO SOBRETUDO PELO PRECONCEITO


“CRÔNICA DO
DESESPERO ANUNCIADO

Bullying, fanatismo, misoginia, psicose. Como debater a tragédia de Realengo em meio aos significantes usados para explicar o que motivou Wellington Menezes de Oliveira a invadir a escola, matar 12 crianças e se suicidar? Um psicótico desarmado não representa tanto perigo. O perigo se dá quando um indivíduo revoltado e angustiado sai pela rua armando tentando sanar a dor – ferida narcísica que sangra e faz sofrer. Ao tecer nosso fel moralista e de horror diante de barbáries, devemos questionar se essa não é outra tragédia anunciada. A sociedade brasileira votou em plebiscito contra o desarmamento. A maioria escolheu o direito de comprar armas para se defender. Infelizmente, Wellington usou a mesma estratégia para vingar dos que representavam, em seu delírio, o mau – escola, colegas. O psicótico delira com o imaginário social em que está inserido, não fabrica devaneios do nada.

Episódios assim expõem os valores em que os jovens são educados. Onde estão se espelhando? Quem são seus mestres? A maioria segue, madrugada adentro, os gurus cibernéticos. A internet vetoriza, instrui e comanda obsessões e delírios. O psicótico opera em busca de algo que supre a referência paterna – religão, seitas, mestres. Wellington, ao demonstrar preferência pelos animais, reprova o ser humano. O que o levou a se identificar com os bichos? Ao sofrer bullying, sentiu-se um vira-lata? Ex-alunos da escola, colegas de Wellington, lembraram que a turma, principalmente as meninas, “zoavam” dele por ser feio e esquisito. E reforçaram: ninguém gostava do rapaz.

Bullying significa ameaçar, oprimir, arreliar. A prática de agredir o outro, desrespeitando-o e fazendo chacota de seus pontos fracos, revela arrogância e violência. Traços da sociedade desigual que não suporta a convivência com o diferente. O indivíduo feio, velho, negro, pobre e homossexual será sempre merecedor de desdém do branco, loiro, rico e bonito. Contudo, não caberia perguntar como nós, adultos, estamos agindo diante das crianças? Como surge a ideia de “zoar” o outro? Sem perceber, acabamos alimentando tais comportamentos. A tragédia de Realengo também deve ser vista como exemplo da violência escolar, uma vez que o ódio foi gestado dentro da escola, quando colegas o flechavam no coração, com descaso e preconceito. “Dizíamos: ‘Sai daí, seu feio’, quando alguém sentar no lugar que ele estivesse ocupando”, lembra um ex-colega. Wellington escolheu o alvo, buscou em cada rosto bonito a vingança adiada. Em cada tiro depositou a esperança da redenção, alívio do ressentimento guardado há anos. O psicótico armado representa perigo, assim como um coração magoado, ferido em sua mínima dignidade, pode se transformar em arsenal de revolta.

NARCISO Sabe-se que uma das garotas que mais molestavam Wellington se sentia excluída entre as bonitas por ser gordinha. Agredir o colega era uma forma de adesão ao grupo dos bem-nascidos. Como canta Caetano: “Narciso acha feio o que lhe é espelho”. A escola e a família espelham a sociedade e dividem o mesmo tecido social. Portanto, são agenciadoras de violência. Bullying é instrumento de desforra, demonstração de poder utilizado, muitas vezes, para destilar o fel acumulado em ambientes competititivos, sórdidos e desrespeitosos. A instituição escolar, com suas mazelas humanas, provocou em Wellington o desejo de acabar com seu inferno – fogo que dilacera almas desamparadas e solitárias. Wellington delirou o momento de notoriedade – por bem ou por mal, vão me reconhecer e admitir minha existência. Há muito os jovens estão anestesiando a solidão na internet, instrumento de sobrevivência das sociedades de massa.

A imprensa se mobiliza em busca de saídas – todos anseiam por receitas na tentativa de se evitar outras tragédias. Vítimas de abandono e bullying, alunos feridos em sua dignidade e molestados na alma merecem escuta cuidadosa. Como dar ouvidos às diferentes formas de clamor por carinho e atenção? Como evitar que o colega escancare ainda mais a dor do diferente? Não é hora de a instituição escolar abrir espaço em sua agenda e debater com a comunidade escolar em que sociedade gostariam viver? Ao incluir em seus conteúdos os sintomas que rondam a vida de seus alunos, a escola dá provas de educa para a vida, de que seu compromisso é com a ética do bem viver. E não apenas com os resultados apregoados pelo mercado – garantia de futuro financeiro promissor.

Podemos confundir prioridades ao dar relevância a ações que fogem ao , papel de uma escola. Sabemos que, hoje, estudar é festa. A garotada, geralmente, vai munida de gadgets para exibir aos colegas, enquanto pais desfilam carrões na porta e disputam, de forma arrogante, a fila dupla. Melhor não seria a escola debater o consumo e suas vicissitudes, investigando as implicações para o adolescente de valorizar tanto os objetos? Estaríamos gostando mais de coisas que de gente?

HIPOCRISIA Podemos ajudar a minimizar a violência entre os jovens, basta sermos mais atenciosos e delicados com o diferente, o outro, que, sutilmente, excluímos de nosso convívio. Poucos perdem tempo com rebotalhos, os olhos da maioria se voltam para os jovens, bonitos e saudáveis. Chega de hipocrisia. A violência diminuirá quando gentileza, respeito e tolerância ocuparem o lugar da arrogância e da maledicência. Quando tivermos olhos dignos para os gordos, velhos, feios e pobres. Basta priorizarmo mais as pessoas, promovendo-as a gente.

A beleza da vida está na forma espontânea e natural com que crianças são educadas. Bartolomeu Campos Queirós, em Por parte de pai lembra-nos da infância e da vida escolar no interior de Minas. Uma ode aos bons sentimentos, reverenciando a emoção que brotava da terra bruta, nos quintais e fogões à lenha. Do convívio com os avós, das relações de amizades e confiança. Bem diferente do convívio com disputas, competições e estratégias de poder. “Filhos de muitos ofícios – pedreiros, lavadeiras, professores, médicos, motoristas, órfãos – e sem inquietações pelas diferenças, nós nos gostávamos em silêncio, vencendo o destino sonhado, um a um. E o recreio era o lugar das trocas: bolo por araticum, maçã por manga, goibada por chocolate, banana por doce cristalizado. E assim experimentávamos o gosto da vida do outro, sem reservas. A nossa diferença era a nossa alegria.”

Acredito que Bartolomeu, em seu belo livro, toca na ferida que, provavelmente, motivou o ex-aluno a voltar ao local do crime, uma vez que ele saiu da escola com a alma machucada, violentada, destroçada. Vivemos numa sociedade que ensina às crianças, desde cedo, não trocar, não perder. Nosso filho deve ser o melhor da classe, o mais bem vestido e preparado para ganhar o futuro. A infância, no espirito da colaboração (e não da competição) estimula o bem e o belo, como foi a de Bartolomeu. Desde menino, era provocado pelo avô, que cultuava as palavras. E as conservava nas paredes de casa, tal como conservamos joias. “Todo acontecimento da cidade, da casa, da casa do vizinho, meu avô escrevia nas paredes... As paredes eram o caderno do meu avô. Cada quarto, cada sala, cada cômodo, uma página.” Do reino das palavras nasce o escritor – alguém que rompe a solidão com pensamentos, transforma a vida simples em personagem de várias histórias. Somos movidos por aquilo que nos toca fundo. Bartolomeu foi cutucado pelo amor do avô, e com ele fez ouro.

FAROESTE Na cultura do “bateu-levou” todos querem ganhar a parada, niguém aceita perder. Se um indivíduo esbarra no carro ou olha para a namorada do outro, corre o risco de levar bala na testa. O clima de faroeste já se instalou. Não é de hoje que julgamos normal a violência – homofobia, eugenia, misoginia. Enquanto procurarmos fora de nós os responsáveis pelas tragédias que nos envolvem, dificilmente iniciaremos o processo de mudança.

Wellington é fruto da cultura da beleza. Narcísica e consumista, celebra a boa aparência e desmoraliza a fealdade e a velhice. Enquanto ensinarmos os filhos a passar a perna no outro, furar a fila, não assumir compromissos, a não respeitar serviçais e esquisitos, corremos o risco de cinicamente e estarrecidos em poltronas, assistir a massacres e chacinas. A banalidade da vida é consequência do desprezo pela alteridade. Não seria melhor repensar escolhas, revendo opções, conceitos e posturas?

Confinamos os jovens diante das máquinas, oferecendo-lhes uma vida fria, empobrecida de gente, de trocas e amizades. A pior solidão é não ter densidade interior para se envolver – ser incapaz de povoar a vida com a própria mente. A carta do assassino, o monstro solitário, revela o desespero de quem vive isolado e sonha
em ser lembrado, reconhecido.”

Eis, pois, mas RICAS e PROFUNDAS abordagens e REFLEXÕES que nos acenam para os GIGANTESCOS DESAFIOS a serem SUPERADOS e a URGENTÍSSIMA e INADIÁVEL necessida de ELEGERMOS, em DEFINITIVO, a EDUCAÇÃO como PRIORIDADE ABSOLUTA do PAÍS... de QUALIDADE e HUMANA...

Mas, NADA, NADA mesmo, ARREFECE o nosso ÂNIMO e o nosso ENTUSIASMO e, mais ainda, nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para eventos como a COPA DO MUNDO DE 2014, a OLIMPÍADA DE 2016, as obras do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO XXI, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A CIDADANIA, A URNA E A ESCOLA

“Futebol, poder e mulher

[...] Em sociedades injustas e desiguais, vários são os motivos que leva o indivíduo a transgredir a lei – como resposta ao desamparo, quando o cidadão não vê os seus direitos básicos assegurados, como objeto de punição legítima ao crime, ou de forma perversa, sobretudo pela elite. Mais que exigir punição aos que transgridem a lei, devemos protestar e exigir um código de ética. Ética, primeiro, se aprende em casa.

O Brasil da contradição, arcaico, racista e moderno, reflete na cabeça dos jogadores. Muitos são negros, oriundos de classe pobre e escolaridade precária. De repente, de garotos de periferia transformam-se em ídolos e se descontrolam meio a tanto poder, dinheiro e mulheres. É o país da corrupção e da contravenção, da desigualdade e do descrédito em que crueldade e violência se confundem com virtuosismo. O país dos salários baixos é o território que a elite do futebol pisa ao buscar parte de seus craques. Violência expressa revolta. Metaforiza o sentimento de abandono por atenção dos políticos despóticos – coronéis, empresários, gente que não conhece sua gente, nada sabe de pobre e vida miserável. Vida tramada na tristeza de todo dia. De nada resolve querer tapar o sol com a peneira. Modernizamos, mas continuamos atrasados, velhos na concepção de nação. Retrógrados no olhar sobre as mulheres – macheza e ignorância. Esporte e educação. Uma dupla que rende bons frutos.”
(INEZ LEMOS, que é psicanalista, em artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de julho de 2010, Caderno PENSAR, página 3).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado na Revista VEJA – edição 2175 – ano 43 – nº 30, de 28 de julho de 2010, página 162, de autoria de ROBERTO POMPEU DE TOLEDO, que merece INTEGRAL transcrição:

“A urna e a escola

O Tribunal Superior Eleitoral divulgou na semana passada o tamanho e o perfil do eleitorado brasileiro. Quanto ao grau de instrução, dos 135,8 milhões, 5,9 % são analfabetos, 14,6% dizem saber ler e escrever, mas não frequentaram a escola, e 33% frequentaram a escola mas não chegaram a concluir o 1º grau. Na soma das três categorias, 53,5% do eleitorado na melhor das hipóteses resvalou pela escola. Antes de mais nada, esses porcentuais são de desmontar o delírio de Brasil Grande que assola o país, a começar pela mente desavisada do presidente de turno. Não há país que tenha passado a desenvolvido ostentando tão pobres índices de nível educacional.

Outro lado a questão é a ameaça à qualidade da democracia brasileira, representada por um eleitorado tão mal equipado para se informar, entender o processo e julgar os candidatos. Essa afirmação merece desconto. Não é que a outra parte do eleitorado – os 46,5% que têm pelo menos o 1º grau completo – seja uma garantia de voto consciente. Sob a Constituição de 1946, os analfabetos estavam impedidos de votar. Nem por isso o período deixou de ser dominado pelos demagogos e pelos coronéis e de abrigar na vida pública corruptos tão notórios quanto os da cena atual. Mas saber e interpretar um texto será sempre um instrumento precioso para quem se dispõe a distinguir uma tendência política de outra e a melhor identificar os próprios interesses.

A parte menos informada do eleitorado é em tese a mais sujeita à manipulação. Isso é um problema para a democracia porque, segundo escreveu o cientista político Leonardo Barreto na Folha de S. Paulo, “ela é um sistema interminável que funciona na base da tentativa e erro: punindo os políticos ruins e premiando os bons”. O melhor da frase de Barreto é a classificação da democracia como um “sistema interminável”. Ela não fecha. Quem fecha, e afirma-se como ponto final das possibilidades de boa condução das sociedades, é a ditadura. Por sua própria natureza, a democracia convida a um perpétuo exercício de reavaliação. Isso quer dizer que, para bem funcionar, exige crítica. Ora, mais apto a exercer a crítica é em tese – sempre em tese – quem passou pela escola.

Como resolver o problema do precário nível educacional do eleitorado? Solução fácil e cirúrgica seria extirpar suas camadas iletradas. Cassem-se os direitos políticos dos analfabetos e semianalfabetos e pronto: cortou-se o mal pela raiz. Além do mais, a solução está em consonância com a prática dos nossos maiores. A história eleitoral do Brasil é um desfile de cassações a parcelas da população. No período colonial, só podiam eleger e ser eleitos os “homens bons”, curiosa e maliciosa expressão que transpõe um conceito moral – o de “bom” – para uma posição social. “Homens bons” eram os que não tinham o “sangue infecto” – não eram judeus, mouros, negros, índios – nem exerciam “ofício mecânico” – não era camponeses, artesãos nem viviam de alguma outra atividade manual. Sobravam os nobres representantes da classe dos proprietários e poucos mais. No período imperial, o critério era a renda; só votava quem a usufruísse a partir de certo mínimo. As mulheres só ganharam o direito de voto em 1932. Os analfabetos, em 1985. Sim, cassar parte do eleitorado se encaixaria na tradição brasileira. Mas, ao mesmo tempo – que pena –, atentaria contra a democracia. Esta será tão mais efetiva quanto menos restrições contiver à participação popular. Quanto mais restrições, mais restritiva será ela própria.

Outra solução, menos brutal, e por isso mesmo advogada, esta, sim, amplamente, é a conversão do voto obrigatório em voluntário. A suposição é que as camadas menos educadas são as mais desinteressadas das eleições. Portanto, seriam as primeiras a desertar. O raciocínio é discutível. Por um lado, o ambiente em que se pode ou não votar pode revelar-se muito mais favorável à arregimentação de eleitores em troca de favores, ou a forçá-los a comparecer às urnas mediante ameaça. Por outro, a atração da praia, do clube ou da viagem, se a eleição cai num dia de sol, pode revelar-se irresistível a ponto de sacrificar o voto mesmo entre os mais bem informados. A conclusão é que o problema não está no eleitorado. Não é nele que se deve mexer. Tê-lo numeroso e abrangente é uma conquista da democracia brasileira. Não tê-la, ou tê-la em precária condição, eis o entrave dos entraves, o que expõe o Brasil ao atraso e ao vexame.”

São, pois, páginas que oferecem FARTO E IMPORTANTE material para pertinentes REFLEXÕES e nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, LIVRE, EDUCADA, QUALIFICADA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para eventos como a COPA DO MUNDO DE 2014, a OLIMPÍADA DE 2016 e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do século XXI , da GLOBALIZAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um mundo da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...