(Junho
= mês 48; Faltam 12 meses para a Copa do Mundo)
“Gargalos
da produção científica
O número de mestres e
de doutores aumentou consideravelmente no Brasil nos últimos 10 anos. De acordo
com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em
2001 eram 26 mil pesquisadores e, em 2010, chegamos a 53 mil. Esse incremento
se deve, em grande parte, ao crescimento da oferta de cursos por instituições
de ensino particulares. Entretanto, o número de vagas disponíveis para essas
pós-graduações ainda é tímido; para pós-doutorado pode ser ainda mais difícil.
Mestres,
doutores e pós-doutores são extremamente importantes para o progresso de uma
nação por que ampliam a capacidade de contribuir para a prosperidade nacional e
internacional em diversos segmentos, à medida que geram mais inovações e
produções científicas e que garantem o aumento
da base tecnológica do país e a competitividade internacional da
pesquisa. Apesar do aumento do índice de profissionais com esses títulos no
Brasil, a quantidade ainda é considerada baixa se comparada à China, aos
Estados Unidos, ao Japão e à União Europeia. Segundo relatório da Unesco sobre
ciência, enquanto o Brasil tinha mais de 500 pesquisadores por milhão de
habitantes em 2007, a média mundial era de 1.000.
Quem
descobre a pesquisa como vocação e decide se dedicar a tantos anos de estudo
enfrenta muitos desafios, entre eles a falta de vagas em universidades
brasileiras. A situação do pós-doutor ainda é desconhecida para a maioria da
população. Não temos poucos “pós-doc” por falta de interesse, mas por falta de
oportunidade. Algumas instituições abrem apenas cinco vagas de doutorado por
ano, que é um pré-requisito para o pós-doutorado. Diversos profissionais passam
anos aguardando uma vaga. Fica difícil persistir tanto, por isso alguns para
por aí. Mesmo com ações de incentivo como o Programa Nacional de Pós-Doutorado,
as oportunidades ainda são escassas.
O
pós-doutorado tem objetivo de aprimorar o nível de excelência na área
escolhida. Com duração média de três anos, o pesquisador pode, em alguns casos,
receber uma bolsa mensal de R$ 4,1 mil, segundo o último reajuste da Capes.
Durante esse período, o profissional desenvolverá artigos e outras publicações,
participará de conferências e terá contato com outros pesquisadores que podem
enriquecer a formação e o desenvolvimento do trabalho.
A
falta de opções nas instituições brasileiras de ensino tem levado brasileiros a
procurar oportunidades de realização desse projeto de vida no exterior. Países
como a Argentina são bons anfitriões, fazem um investimento profundo em
educação e têm universidades renomadas que abrem processo seletivo para um
número maior de vagas para mestrados, doutorados e pós-doutorados. Algumas instituições
de ensino oferecem, inclusive, uma formato exclusivo para brasileiros que não
podem se afastar de suas atividades no Brasil por um período prolongado. O
pós-doutorado é realizado intensivamente em uma semana. Após esse módulo
acadêmico, o pesquisador participa de seminários e de conferências, que são
atividades mais flexíveis e agendadas, e pode desenvolver seu artigo científico
no Brasil com o apoio dos docentes argentinos a distância, sempre que
necessário.
O título
de pós-doutor agrega para o currículo e também para o salário. Mas esse
investimento em pesquisa é muito mais do que um número atrativo no
contracheque. Os benefícios não alcançam apenas os profissionais que buscam o
aprofundamento técnico, mas toda uma nação, que ganha em inovação e em
pesquisa. Os nossos guerreiros do universo acadêmico conhecem a realidade
brasileira e podem pesquisar, analisar e propor soluções para as nossas
necessidades, além de contribuir para o progresso do país.”
(JASUBE GOUVEA.
Diretor do Instituto de Educação Superior Latino-Americano (Iesla), em
artigo publicado no jornal ESTADO DE
MINAS, edição de 31 de maio de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM
WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
que merece igualmente integral transcrição:
“Eucaristia
e caridade
A Igreja Católica, em
todo o mundo, celebrou a solenidade de
Corpus Christi ontem. Nesse dia, a eucaristia, centro e ápice da fé cristã, é
testemunhada publicamente, com procissões pelas ruas, programações especiais
nas paróquias e nos bairros. A celebração de Corpus Christi é a oportunidade
para que todos os fiéis fortaleçam a compreensão deste sacramento como
experiência e compromisso social. Assim, não se trata simplesmente de um culto.
A celebração eucarística é a vivência do mistério pascal, a origem da Igreja.
A
Igreja nasce e vive da eucaristia. Nela, a escuta da palavra de Deus é
essencial, abrindo mentes e corações para a vivência do memorial do sacrifício
de Jesus Cristo, que se oferece na cruz, morre e ressuscita, para a salvação da
humanidade. Ao celebrar a eucaristia, os olhos da alma se fixam no Tríduo
Pascal, ápice da vivência da semana santa, a partir de tudo que se realizou na
quinta-feira santa e nas horas sucessivas. Quando Jesus institui a eucaristia,
na Ceia Pascal derradeira, antecipa sacramentalmente os acontecimentos vividos
logo em seguida, a começar pela agonia de nosso Salvador do Getsêmani. Jesus
sai do Cenáculo, vai o Horto das Oliveiras, vive a sua agonia em oração e
começa a entrega a Deus seu Pai, sofrendo a dolorosa paixão. Crucificado, morto
e sepultado, ressuscita no terceiro dia. É a vitória definitiva da vida sobre a
morte.
A
celebração de Corpus Christi é, pois, a Igreja – o povo de Deus – publicamente aclamando
e dizendo “anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa
ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”. Com essas palavras, nossa Igreja testemunha
e sublinha o traço marcante de sua identidade: ser uma Igreja eucarística. E
cada cristão católico é convocado permanentemente, pela eucaristia, como
compromisso de fé, a assumir prioritariamente a prática da caridade. Algo além
de um gesto pontual qualquer, ou rápida ação de misericórdia. Ao testemunhar
publicamente sua fé eucarística, a Igreja se compromete a praticar uma caridade
com força de transformação e com incidência profética sobre a vida da
sociedade.
Isso
significa que a eucaristia celebrada e professada exige um empenho em prol da
justiça. Em questão se coloca a justa ordem da sociedade e do Estado. Desse
modo, o culto eucarístico, sua celebração e adoração, se desdobra em
compromisso social cidadão, iluminado pela fé. Ao celebrar o Corpus Christi no
interior das igrejas e, especialmente, nas praças e ruas onde está o povo,
assume-se também o compromisso de acompanhar o Estado para que ele se conduza
segundo a justiça. Ignorar seus funcionamentos ou não interferir pela força da
cidadania, permitindo que ele se torne lugar da corrupção ou da indiferença para
com os mais pobres, é conivência. Aborrece Deus, que se oferece pelo bem da
humanidade. Segue-se na contramão da vida plena para todos.
A
Igreja é lugar para a expressão social da fé cristã, na sua dinâmica
comunitária, com força de diálogo e de recíproca relação com as instâncias da
sociedade civil. Os cristãos devem contribuir para que se alcance sempre a
justiça, medida intrínseca da política, que não pode ser entendida como mera
questão técnica nos ordenamentos públicos. A justiça é um compromisso de
natureza ética na vivência da fé e da cidadania. A razão trata propriamente da
questão da justiça. A fé tem, nesse âmbito, uma determinante contribuição. Ela
purifica a razão, que não raramente se resume em poder, dominação e desvios na
contramão de uma almejada sociedade justa e solidária. Política e fé, nesse
âmbito, devem se tocar. A celebração de CorpusChristi é importante oportunidade
para cada cristão assumir com vigor o compromisso no seguimento da palavra de
Deus e para a Igreja renovar o sem empenho na promoção da justiça, abrindo
mentes e vontades às exigências do bem.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
no mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, severo e sem trégua, aos
três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e
diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, isto é,
próximos de zero; II – a corrupção, como
um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades,
também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades
de ampliação e modernização de
setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; saneamento ambiental (água
tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana,
logística reversa); meio ambiente;
habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social;
segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia
federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; comunicações; esporte, cultura e lazer; turismo; sistema
financeiro nacional; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa das Confederações neste mês; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de
Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC
e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...