quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A CIDADANIA, A LUZ DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO E AS LIÇÕES PARA UMA NOVA CULTURA

“A tecnologia na educação
        Recentemente a Unesco divulgou um estudo que mostra que 67% dos estudantes de países em desenvolvimento e emergentes, que utilizam o celular para ler, consideram o aparelho adequado para a leitura, justamente por estar o tempo todo com o usuário. A mobilidade, a rede WiFi e redes móveis nas escolas permitem aos alunos o acesso a conteúdos de qualidade. A utilização da tecnologia como ferramenta de interação entre alunos e professores tira os estudantes da condição de metros espectadores.
         Nesse sentido, os dispositivos móveis tornam-se parte do processo de aprendizado e são imprescindíveis, principalmente na aplicação do processo de aprendizagem por pares. Um dos aspectos positivos da aprendizagem que utiliza a tecnologia como aliada é que o professor também não é um mero expositor. Outra vantagem é que as aulas tornam-se mais interessantes, dinâmicas e lúdicas. Os estudantes, já familiarizados com os dispositivos móveis, acabam por se interessar mais pelo conteúdo ministrado em sala de aula a qualquer momento, de qualquer lugar. A metodologia exige mais dos alunos, tornando-os mais responsáveis. A tecnologia permite que as instituições de ensino organizem o conteúdo para disponibilizá-los no formato de vídeoaulas, podcasts (formas de transmissão multimídia na internet criadas pelos próprios usuários), textos, games, etc. Tais ferramentas prendem a atenção dos alunos, facilitam o processo de aprendizagem e respeitam o ritmo individual de cada estudante. Em outras palavras, a aula acontece fora da sala de aula, e a lição de casa, na instituição de ensino, o que é denominado de “sala de aula invertida” ou flipped classroom. Entre as propostas de utilização da tecnologia, estão: aprofundar os temas estudados; incentivar a produção, a criatividade e a criticidade; criar desafios aos estudantes; gerar produções; explorar o uso de recursos, tanto na web quanto fora dela; proporcionar integração e colaboração; e trabalhar diferentes opiniões e diversas fontes, entre outros objetivos. Em instituições que utilizam o método tradicional de ensino, a tecnologia é vista como fim, e não como meio para alcançar determinado objetivo, ou até mesmo soa como uma ameaça ao bom andamento da aula. Nesse caso, o professor é uma figura que transmite todo o seu conhecimento em via de mão única, pois os estudantes são meros ouvintes, agentes passivos da aprendizagem, que vão esclarecendo suas dúvidas conforme a necessidade. E se o conteúdo ministrado não for interessante, é óbvio que as redes sociais distrairão os alunos facilmente.
         A verdade é que as instituições de ensino não podem andar na contramão da tecnologia, pois a maioria dos estudantes do ensino superior é formada por nativos digitais, que estão sempre conectados e não conseguem ficar distantes dos seus dispositivos móveis. Dessa forma, torna-se imprescindível a adaptação dos professores a tal realidade, pois a tecnologia veio para ser um facilitador ao engajamento dos alunos, desde que sustentado por metodologia pedagógica adequada.”

(LÁZARO PONTES. Advogado, empresário, mestre em direito educacional e empresarial, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de setembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 7 de agosto de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Crises e nova cultura
        O momento atual se caracteriza pelas crises, cada vez mais evidentes, com consequências reais, para além do mero alarmismo. É real a situação difícil vivenciada por pessoas e setores afetados. As análises comprovam que a gênese dessas crises enfrentadas pela sociedade brasileira tem um histórico que é fruto das escolhas políticas, da eleição equivocada de prioridades sociais e também do tipo de tecido cultural sobre o qual está assentada.
         O fato é que há crises e elas trazem consequências de diferentes naturezas. Momento oportuno para se refletir sobre o ensinamento que aloja no reverso dessa realidade desafiadora. O ponto de partida para essa reflexão é admitir que nenhuma crise é acontecimento súbito. Sua geração é um longo desdobramento que pode revelar preciosas lições no que diz respeito a reações e novas respostas. Um processo capaz de proporcionar aprendizagens relevantes e transformadoras. Seria um grande risco deixar passar em “brancas nuvens” a singular oportunidade de se aprender novas dinâmicas nas relações sociais. São imprescindíveis as atitudes fundamentadas nos princípios dessas lições.
         Vista desse modo, a crise torna-se possibilidade de se ingressar em um processo de correção de rumos. Desvencilha a sociedade do perigo de um tratamento cultural da situação com o conhecido “jeitinho” próprio de dissimular os pontos críticos e justificar a manutenção de um sistema que neutraliza ações eficazes para a superação dos desafios.
         A hora é oportuna para vencer a desconfiança, o desespero e a desorientação provocados pelas dificuldades. É o momento certo para se exercer a cidadania ao mesmo tempo em que se esperam, com justeza, novas configurações na postura dos órgãos governamentais, instâncias públicas de representação e daquelas que, diretamente, prestam serviços ao povo. Não menos exigente é a expectativa quanto às atitudes dos construtores da sociedade, para que ajam norteados por princípios que garantam o bem comum, prezando o crescimento e o desenvolvimento das instâncias responsáveis pela produção e sustentação do equilíbrio social e econômico.
         Além dos aspectos que atingem altas esferas e intervenções de caráter sistêmico, vale considerar a crise como oportunidade para uma nova cultura modulada em hábitos e atitudes – reações e respostas a favor daquilo que a própria crise aponta como solução. Assumir outro modo de pensar e agir, no entanto, não é tão fácil assim. Existe uma forte tendência do ser humano ao comodismo, o que o predispõe a manter os mesmos costumes, diferentemente das pessoas que enfrentam rupturas drásticas da ordem social e econômica provocadas pelas guerras ou catástrofes naturais. Nesse contexto, o estado de penúria impõe a aprendizagem das lições sobre economizar, evitar desperdícios e a adoção de novos hábitos. Essas rupturas e as consequências com força de testemunho funcionam sempre como forte apelo para novas atitudes. Nesses momentos, por exemplo, é comum presenciarmos gestos de pessoas que doam parte de suas fortunas ou de seus altos salários em prol do bem comum. São iniciativas que contribuem para a construção de uma cultura solidária e sustentável.
         Condutas como essa ainda não fazem parte de nossa realidade. Sequer ousamos esperar que, diante das necessidades do governo de atender as demandas do setor educacional, políticos e funcionários do alto escalão aceitem ter os vencimentos reduzidos. O que se vê são atitudes em causa própria, tomadas em todas as instâncias do poder.
         A própria superação da crise econômica exige novos parâmetros. É urgente encontrarmos um modelo que não dependa do consumismo. No momento atual, torna-se indispensável um processo de reeducação no consumo que pode começar no momento das refeições diárias diante da discrepância entre a quantidade servida e a necessidade das pessoas. O equilíbrio ao consumir é, sem dúvida, um desafio cultural que precisa entrar agora como legado advindo do tratamento e do enfrentamento da crise.
         Não se pode restringir o olhar sobre os expressivos números do contexto econômico nacional ou global – é curioso como são predominantes nos noticiários quantias astronômicas. Torna-se necessário, primeiro, atender a poupar, a valorizar o próprio dinheiro, a partir de cada centavo, para saber respeitar e exigir respeito ao erário. O propósito não é o de fazer apologia à usura, mas sim de sugerir o princípio da otimização do consumo cultural daquilo que é realmente necessário. Certamente, se a sociedade aprendesse a superar o desperdício com as crises em curso, já haveria uma radical transformação de hábitos com os ganhos incidindo sobre o atendimento às necessidades de outros que hoje estão às margens do mercado. É possível vislumbrar que essa reeducação aponte até mesmo para a correção de critérios morais, pois a cultura da ganância também patrocina a tolerância à corrupção. Que as crises se tornem escolas de aprendizagem e de construção de uma nova cultura.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 350,79% ao ano; e mais, também em agosto, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,52%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     



            

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DOS JOGOS DE EMPRESAS E OS DESAFIOS DA ACOLHIDA AOS MORADORES DE RUA

“Jogos de empresas para motivar alunos
        Os jogos de empresas, uma atividade secular, têm sido explorados como uma nova alternativa de ensino nas escolas, não apenas como um modismo, mas uma tendência que se expande exatamente por motivar o exercício da tomada de decisão em ambientes complexos e de alta competitividade. Os jogos de empresas proporcionam ao aluno, em cenários que retratam a realidade das empresas, o exercício de papéis similares aos ali existentes, privilegiando o aprender fazendo em um ambiente simulado.
         Acompanhando essa tendência, vários pesquisadores e associações internacionais ligadas ao tema têm discutido a eficácia da utilização desses instrumentos como alternativa de ensino, e os resultados têm demonstrado elevada aceitação, tanto para alunos, quanto professores. Há desafios, sim, principalmente aqueles ligados à motivação dos alunos que, apesar dos jogos simularem uma situação real, nada se compara à emoção e angústia associadas às consequências positivas ou negativas que, no ambiente real, são decorrentes de decisões, via de regra, ancoradas em expectativas futuras.
         Os jogos de empresas, evidentemente, são baseadas em modelos de situações reais e, em razão disso, simplificam a realidade, recortando-a de acordo com as percepções e fins desejados, o que não impede que possam oferecer vivência, apreciação, experimento e reflexão quanto a uma situação real. De alguma forma, o uso de jogos de empresas incorpora à metodologia de ensino uma série de vantagens, tais como: aprendizagem participativa, maior significado pessoal, desenvolvimento de habilidades gerenciais, além de permitir observar atitudes empreendedoras em coordenadores, professores e alunos.
         Em termos de habilidades, a mais significativa é o desenvolvimento de uma postura gerencial integrada, tão necessária no processo de tomada de decisão. Há de se considerar, também, a importância da abordagem sistêmica, importante na gestão empresarial. Outro aspecto relevante refere-se ao tempo e espaço reservados às experiências. Ainda com esses atributos reduzidos, é possível analisar as possíveis consequências de decisões agora tomadas, em termos de resultados e impactos no todo e até em partes da organização. Pode-se praticar aqui, o que já defendia Paulo Freire: “A educação verdadeira é a problematizadora, isto é, aquela que busca o desenvolvimento da capacidade de crítica e de reflexão”.
Há, no entanto, deficiências e limitações, principalmente aquelas relacionadas à motivação e às expectativas dos alunos. Devido à impossibilidade de se inserir a emoção e o risco iminente, alguns alunos consideram essa prática ainda irrelevante. Alerta-se, portanto, para a importância da atuação do professor como mediador da atividade que, por sua natureza dinâmica, necessita de intervenção ocasional com novas ações que possam reavivar a motivação dos alunos. Conclui-se, portanto, que o professor acaba por exercer a função de coordenador da simulação e, por essa razão, deve manter uma postura de facilitador do processo, de forma que os objetivos previamente estabelecidos pelas equipes, sejam continuamente revistos e analisados, de forma racional, até que, possivelmente, sejam atingidos.
Conclui-se, portanto, dentro da linha andragógica onde se encaixam os jogos de empresas como instrumento de aprendizagem, citando aqui um pensamento do filósofo Confúcio, que reforça o objetivo central desse instrumento, que, apesar de secular, tem sido uma inovação na arte de ensinar: “Ouço e esqueço; vejo e recordo; faço e compreendo”.”.

(ANDRÉ LUIZ PIRES DE MIRANDA. Professor da Universidade Fumec, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16 de agosto de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 11 de setembro de 2015, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Da rua ao acolhimento
        O Santuário Nossa Senhora da Piedade recebeu uma visita especial nesta semana preparatória para a festa da padroeira de Minas Gerais, celebrada no segundo domingo de setembro, dia 13. Muitos que vivem na rua acolheram o convite e, acompanhados pela Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, peregrinaram ao Santuário. A expressão de um dos peregrinos, ao dizer que por si só        seria impossível chegar ao alto daquela montanha, toca o conjunto dos desafios da vida de todos os enfraquecidos e vítimas da exclusão social.
         São muitas as causas da situação excludente que marca a realidade dessas pessoas – que são cidadãs. Cada um tem sua história, mas no coração de todos há um sonho: a conquista de uma vida minimamente digna, a começar pela superação dos sofrimentos que são consequência da discriminação. A peregrinação desses excluídos da sociedade coloca em evidência a necessidade de posturas mais comprometidas, a exigência da participação de todos os cidadãos, para transformar essa realidade. Comprometimentos que possam estar além de políticas públicas compensatórias e pouco emancipatórias. Iniciativas que, lamentavelmente, surgem mais como argumento eleitoreiro, ou justificativa de opção partidária, ajudando a compor cenários de uma sociedade que não sabe cuidar de seus pobres.
         Os moradores de rua, consideradas as suas condições, são a comprovação de que a alegria falsamente vivida em outros setores da sociedade está ruindo. E, no “salve-se-quem-puder”, acredita-se que o amparo e o bem-estar possam ser alcançados a partir da idolatria ao dinheiro. Porém, como bem sublinha o papa Francisco, na base da crise econômica, está uma séria crise antropológica, a desconsideração da primazia do ser humano. A situação dos moradores de rua, entre tantas outras, é o retrato do desrespeito a essa primazia. Trata-se de fruto da tirania do lucro, lógica que conduz o cidadão à insensatez de, desenfreadamente, procurar ganhar e ajuntar mais, riscando de sua agenda o compromisso da partilha. Trilha-se caminho na contramão da solidariedade, que é remédio para corrigir os descompassos nos funcionamentos da sociedade.
         No centro da situação vergonhosa de exclusão social, torna-se oportuno lembrar o que disse São Vicente de Paulo. Cada pessoa deveria sentir vergonha de si ao encontrar um pobre e miserável. Assim, todos se empenhariam mais no apoio a projetos sociais, trabalhariam para mudanças mais rápidas nos cenários de exclusão que exigem atitudes efetivas de instâncias governamentais, instituições religiosas, academias e das famílias que estão na outra ponta, distantes dos pobres, no esbanjamento. O papa Francisco, com gestos concretos, diante do tratamento inadequado recebido pelos migrantes no contexto europeu, pede a atitude cidadã de se estender a própria mão. Apresentar ofertas que efetivamente produzam diferenças nesses quadros que compõem a crise humanitária, mais grave do que a econômica.
         A peregrinação dos moradores de rua ao Santuário Nossa Senhora da Piedade e a acolhida a eles oferecida constituem profética e interpelativa cena, formada pela magnífica arquitetura divina e a presença dos esquecidos, os mais pobres. Um cenário que mostra a urgência de se promover a inclusão, com inventividade e coragem. Pode-se começar, justamente, pela escuta dos corações de quem é excluído. Eles guardam sabedorias que, retomadas e assimiladas, podem apontar o caminho de saída dessa grave crise humanitária e antropológica.
         Oportuno é deixar-se envolver pela presença abandonada dos moradores de rua. Convidá-los para estarem nas salas das escolas e universidades, dos escritórios, nas cortes, nas igrejas, nas mesas das famílias e nos recintos de festa. Assim, se investe na criação de uma nova sensibilidade que fortalecerá a cultura humanística. Chovia e fazia frio no dia da peregrinação dos moradores de rua ao santuário da Padroeira de Minas Gerais. Um disse que não se importava, pois ali era o céu. O céu pelo acolhimento dado, por ter experimentado o gosto gostoso de saber-se igual e digno na casa da Mãe da Piedade, a casa de clemência. A sociedade precisa viver um novo tempo: de acolher, ouvir, partilhar, renunciar e oferecer, a partir de gestos corajosos e proféticos, simples, singulares ou sistêmicos. É hora de clemências!”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA ÉTICA NA POLÍTICA E A LUZ DA ESPERANÇA

“Ética na
POLÍTICA
        
         O momento atual é dos mais propícios para se falar de ética na política. Convivi durante muitos anos com esta questão, em conversas, reflexões, discussões e atitudes, na companhia de Célio de Castro, ex-prefeito de Belo Horizonte e meu mestre na matéria. Através de sua sensibilidade e coerência, muito aprendi com ele, com sua incrível disposição de participar da política, sempre resguardando a ética. Graças a nossos diálogos, construí minha visão pessoal sobre as relações entre ambas.
         Hoje, a palavra “política” tem conotações bastante negativas. Costumamos relacioná-la a episódios recorrentes em nosso País, ligados à corrupção e à falta de senso moral de alguns políticos. Quando analisamos o desenvolvimento do estado, principalmente nos últimos 50 anos, observa-se como se desenrolou sua proteção social. Ela se deu num contexto de esforço mundial de reconstrução econômica do pós-guerra nos países destruídos, especialmente o Japão. Nos anos 50 do século XX, criou-se a necessidade premente de conhecimentos e tecnologia que pudessem dar conta não só dessa reconstrução, mas de um novo patamar de desenvolvimento.
         “Desenvolvimento” tornou-se uma palavra emblemática nos anos posteriores, marcados pela emergência de uma nova espécie de idolatria da razão. Nesse contexto, a humanidade se sentiu perplexa diante dos feitos da ciência e da tecnologia, que conseguiam equacionar satisfatoriamente a economia dos países envolvidos na reconstrução. Os esforços racionais do homem sobre a natureza e sobre si mesmo, no que se refere ao desenvolvimento da capacidade de controle do mundo, levaram ao endeusamento da razão. Tais esforços foram excepcionalmente bem sucedidos. Não existia mais a capacidade metafísica dos gregos para a transcendência do sentido da vida, na procura do bom, do belo e do verdadeiro. Não mais se valorizava a transcendência renascentista da arte. Já não se dava o mesmo valor ao ser humano capaz de transcender infinitamente a própria racionalidade.
         No Brasil, o desenvolvimento da cultura e da ética ocorre no Estado Novo, tutelador e paterno. Sua marca foi a resposta dada à necessidade de distribuição da enorme capacidade de produção de riqueza, através da expansão de sindicatos, ainda que corporativos. Em inúmeros movimentos sociais surgem indagações sobre as causas e a finalidade do desenvolvimento econômico sem a distribuição da riqueza. Surge, também, o chamado comunismo legalizado, e, depois a Glasnost, a queda do Muro de Berlim. Agenciam-se as palavras de Gandhi: “Façamos em nós a mudança que queremos que os outros façam neles.” Incrementa-se a orientalização filosófica do Ocidente, no geral caricaturada e capenga.
         Tudo isso revela uma necessidade de se encontrar sentido para a vida, muito além do consumo e do prazer, da mediocridade da vida social e familiar que olha apenas para o próprio umbigo. O emblema da ética na cultura é a luz do fim do túnel para o ceticismo, o niilismo e a depressão – trilogia que o ex-prefeito observou por tantos anos em seus pacientes, combatendo-a com crença e otimismo.
         Quantos de nós podemos dizer que acreditamos em ética na política? Poucos seriam os braços levantados. Eu mesma, se não tivesse sido intensamente influenciada pela crença de Célio, teria hesitado em levantar meu braço. Ou, no mínimo, levantaria o braço direito e taparia o nariz com a mão esquerda. Em 1992, ante o movimento dos caras-pintadas, sugeriu-se que a ética deveria ser introduzida não só na política como também na economia: “A bandeira da ética e da dignidade levantada nas ruas não termina no combate à corrupção. Essa ética passa por pão, casa, trabalho, educação, saúde e segurança para todos os brasileiros.”
         Assim, ser um grande ícone da ética é acreditar no ser humano, na sociedade civil organizada ou não, pois na política se pode encontrar a expressão de nossa responsabilidade social. A crença do nosso ícone na política e nos políticos nasce de uma profunda crença em si mesmo, na sua natureza, que transcende a razão e a experiência. A metáfora dessa natureza corresponde a uma pequenina e ofuscante luz, surgida muito mais muito mais do que além do tempo em que aconteceu o Big Bang, há 150 milhões de anos.
         A pequenez desta luz, tão distante no tempo, nos fala das milhares de mudanças que foram necessárias para que ocorresse o surgimento do planeta, do ser humano e dos fantásticos acontecimentos dos últimos 50 anos. Esses acontecimentos, na verdade, tornam-se insignificantes quando colocados numa linha do tempo tão extensa. É na consideração desta aparentemente inexpressiva história da humanidade e suas conquistas que nasce a perplexidade que possibilita a crença nas transformações ainda passíveis de serem construídas pelo homem. Principalmente, se levada em conta a unidade de grandeza dessa linha do tempo em direção ao futuro. É refletindo na relatividade do tempo humano que o nosso mestre fundamenta a crença em si mesmo, no ser humano e, por conseqüência, na ética e na política.”

(ISABEL DE OLIVEIRA HORTA, é médica homeopata, presidente da ONG Instituto Ethica – Desenvolvimento de Projetos e Pesquisas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de julho de 2004, caderno PENSAR, página principal).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 30 de novembro de 2007, caderno OPINIÃO, página 15, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Uma esperança fidedigna
        O Santo Padre, o papa Bento XVI, mais uma vez, se dirige aos membros da Igreja Católica e a todos os homens e mulheres na sociedade contemporânea, de modo brilhante e monumental, brindando a todos com uma nova carta encíclica SPE Salvi, sobre a esperança cristã. O brilhantismo desta carta encíclica não é referência a um enfeite para encher os olhos com a força de uma imagem, impressionando, como sempre acontece, com muitas coisas, nos andamentos da sociedade atual. A carta encíclica é brilhante e monumental porque Bento XVI oferece elementos essenciais e indispensáveis para uma profunda radiografia do que está se passando em torno da esperança e da fé. Um procedimento radiográfico que traz uma insubstituível resposta para as questões existenciais mais candentes nos inícios deste terceiro milênio.
         Na verdade, a reflexão incita e proporciona autocrítica da idade moderna bem como do cristianismo, na vivência de sua fé. Uma autocrítica da idade moderna em diálogo com o cristianismo. Os cristãos são chamados a rever sua esperança, sua oferta ao mundo. Basta pensar que há um entendimento a respeito de progresso que está comprometendo valores e deteriorando de modo irreversível a compreensão e a vivência da vida. Basta pensar. O papa aborda, de maneira profunda e questionadora, o comprometimento da consciência ética e a erosão na capacidade e na propriedade da decisão moral. Na verdade, essa carta encíclica, publicada hoje, na festa do apóstolo Santo André, enfrenta a questão gravíssima do déficit de fé que se abate sobre a humanidade, corroendo culturas e esterilizando estruturas institucionais, mesmo aquelas eclesiais e eclesiásticas. Um déficit de fé que produz uma linguagem equivocada a respeito de muitos temas e de muitas questões fundamentais.
         Está ocorrendo um grande desvio de direção a partir de entendimentos que estão sendo produzidos e articulados em linguagens que abrem mão ou mesmo desconhecem questões fundamentais e básicas para modelar adequadamente a própria existência. Esse déficit de fé tem sido terrível. Ele é a causa do desgoverno nos rumos da sociedade e na incapacidade ética de correções de condutas e de posturas comunitárias e sociais. Bem assim, é um veneno que vai tornando estéril a vivência da riqueza da fé cristã, lançando muitos nas valas do desânimo, da amargura, da reclamação e da desesperança. A inteligência do intelectual brilhante e a lucidez do pastor põem o papa em cena, descortinando um horizonte que precisa ser olhado e afrontado para abrir caminhos novos para a Igreja e para a humanidade.
         É indispensável e insubstituível, portanto, como possibilidade de um novo passo, abordar, compreender e vivenciar a esperança. Sem uma esperança fidedigna não é possível enfrentar o caminho que é difícil e custoso. Ao abordar a esperança, pela qual se é salvo, como proclama o apóstolo Paulo em Romanos 8,24, toca o núcleo da compreensão e da vivência da fé. Ora, afirma o Santo Padre, a fé é esperança. A plenitude da fé é imutável profissão da esperança (Hb 10,22-33). Quando o apóstolo Pedro (I Pdr 3,15) fala do cristão como aquele capaz de dar a razão de sua esperança, fala da sua fé vivida e testemunhada. Assim, essa esperança tem uma referência fundamental e insubstituível. É Deus. É uma pessoa que é verdade e amor. A experiência do encontro com Ele é fonte da esperança fidedigna. Assim, um mundo sem Deus é um mundo sem esperança. É um mundo que põe sua esperança meramente no progresso ou nas leis da matéria como governo único do planeta. Ora, sem Deus, o mundo é obscuro, tenebroso. Diz bem o que isto significa, relembra o Santo Padre, o dito de um epitáfio antigo: “No nada, do nada, tão cedo recaímos”.
         O cristão tem um futuro. Por isso, a mensagem cristã é performativa, e não simplesmente informativa. Quem tem esperança vive de modo diferente. O papa recorda, entretanto, o exemplo de Santa Josefina Bahkita, sudanesa, nascida em 1869, canonizada em 1998 pelo então papa João Paulo II. Sua vida de escrava foi terrível. Conheceu patrões que a exploravam. Seu corpo estava marcado de dezenas de cicatrizes. Sua vida não tinha horizontes. Conheceu Jesus Cristo. Seu patrão supremo levou-a a encontrar a verdadeira liberdade, razão para a vida, alimentada pela esperança vivida na fé. Essa esperança vivida na fé realiza grandes mudanças, interferindo e qualificando culturas com valores pouco nobres. O cristianismo não trouxe mensagem sócio-revolucionária. Trouxe o mais importante, com força de mudanças radicais e com propriedades para capacitações singulares, ao propor o encontro com uma pessoa, transformando a vida por dentro. O Santo Padre indica o caminho para se compreender a verdadeira fisionomia da esperança cristã, sedimentada no amor que redime, de verdade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     



quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A CIDADANIA, A QUALIDADE DA LIDERANÇA E OS DESAFIOS DA SAÚDE PSÍQUICA NO TRABALHO

“É preciso repensar a liderança
        Visão estratégica, foco no resultado e gestão de pessoas chegaram, desde 2009, ao topo das maiores preocupações dos executivos brasileiros. É o que mostra pesquisa da Keseberg&Partners envolvendo 6 mil deles e divulgada pela revista Exame. Todas elas demandam o desenvolvimento dos gestores em dimensões além da puramente “técnica”, gerencial ou conhecimento do próprio ambiente de negócios, sendo a dimensão humana pré-requisito e amálgama para a ampliação cognitiva. O desenvolvimento humano reflete-se diretamente na qualidade e no próprio modus operandi  dessas três grandes preocupações detectadas pela pesquisa.
         A ampliação da dimensão qualitativa do desenvolvimento humano de gestores aborda aspectos diversos, tais como: autoconhecimento; comportamentos e peculiaridades humanas; valores e princípios; motivação; comunicação interpessoal; feedback; assertividade; ‘papéis ‘ vivenciados; criatividade e imaginação; apresentações e comunicações em público; liderança; equipes e sua evolução; negociar e lidar com conflitos; ética; postura diante de crises e pressões; além das relações humanas e do desempenho nos ambientes organizacional e de negócios, como também pessoal.
         A gestão de pessoas ou administrativo do fator humano nas organizações tem uma história tão antiga quanto a própria história das civilizações. Logo que os seres humanos realizaram seu instinto natural de socialização, formando famílias, tribos, clãs e etnias, surgiram necessidades de disciplinar comportamentos, normalizar interações e estabelecer valores culturais adequados àqueles agrupamentos de pessoas. Neles, as pessoas desejam, fundamentalmente, ter “uma vida boa para si e para os outros, em um ambiente de justiça para todos”, como propunha Aristóteles. Nessa ótica, quanto mais abrangente for o conceito de “outros” e a noção de “todos”, mais complexa e eticamente desenvolvida é aquela organização social.
         Historicamente, organizações como as militares, religiosas e políticas se anteciparam na formalização de seus processos e instrumentos de gestão do fator humano, tendo em vista o exercício do poder ou a preservação de espaços de domínio. No plano das organizações empresariais, o estudo sistemático da administração organizacional e particularmente, do chamado Fator Humano é bastante recente. Somente após a Revolução Industrial e o desenvolvimento da teoria científica da administração (Fayol, Taylor, Ford) começaram a ser investigadas as possíveis relações entre pessoas, produtividade e processos produtivos.
         Na medida em que essas organizações foram mudando suas estruturas formais, adquirindo e utilizando novas tecnologias, oferecendo novos produtos e serviços aos clientes e empenhando novos esforços adaptativos pela sobrevivência, o ser humano envolvido passou por sucessivas reavaliações e redefinições. Já se chamou empregado (que pode ser utilizado para realizar uma tarefa), funcionário (que tem uma função assinalada) mão de obra (que tem uma mão para trabalhar), recurso humano (que, se esgotar, pode ser substituído), servidor (que serve a alguém ou alguma instituição), colaborador (que trabalha junto e alinhado com a organização), parceiro (que está em pé de igualdade com a organização), terceirizado (que trabalha para uma organização, mas é remunerado por outra), cliente interno (que participa da cadeia de produção consciente de seus papéis de receptor de insumos e “entregador” de produtos). O fator humano reúne tudo que está presente nas pessoas e que tem importância para o desempenho das organizações empresariais.
         O momento atual e tendências apontam para o desenvolvimento e integração de capacidades variadas e tudo começa com a “excelência humana”, que permite a integração e sinergia de pessoas, sonhos e coisas, independentemente do número de colaboradores na empresa. O bom líder evita o paternalismo/assistencialismo, buscando sempre formas que englobem adaptabilidade aos desafios que o mercado impõe, assim como estímulo à criatividade e inovação; são formas estratégicas e muito importantes quando se trata de empresas familiares ou de pequeno e médio porte, onde a sucessão geralmente é familiar.
         A liderança é, em essência, a capacidade de tornar real o desenvolvimento e a concretização do potencial humano nas dimensões necessárias ao negócio da organização.”.

(EDMARSON BACELAR MOTA. Professor de gestão de pessoas da Fundação Getúlio Vargas/Faculdade IBS, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de setembro de 2015, caderno ADMITE-SECLASSIFICADOS, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 5 de setembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de LÚCIA MARIA ALMENDRA CORREIA LIMA, mestre em ciências sociais, psicóloga e professora da Faculdade Arnaldo, e que merece igualmente integral transcrição:

“Saúde psíquica e trabalho
        Há muitas décadas, pesquisadores franceses, originalmente, tentam compreender com mais efetividade a relação entre a saúde mental e trabalho. Abordar o tema não equivale a desconsiderar a centralidade secular que a atividade do trabalho mantém, nem descaracterizar a possibilidade de essa atividade vir a estar relacionada com a construção de identidade das pessoas, com a realização e o prazer de profissionais, em geral. No entanto, visto de uma outra perspectiva, em que a forma como a organização do processo de trabalho se concretiza e as condições diversas que emolduram esse processo se manifestam no dia a dia do trabalhador, torna-se possível perceber e identificar como e o quanto o trabalho poderá vir a ser, igualmente, fonte geradora de adoecimento e de desprazer para as pessoas.
         De um lado, tem-se o indivíduo com sua singularidade, carregando diferente bagagem biopsicossocial, que influenciará sobremaneira sua habilidade maior ou menor e mais qualificada ou menos qualificada de relacionamento com o trabalho. De outra parte, a organização e contexto mais amplo, macroambiental, onde ela se insere. É evidente que, excetuando-se casos muito típicos ou extremos, não será suficiente para o adoecimento psíquico na relação com seu trabalho que aquele indivíduo carregue uma predisposição orgânica para isso, fazendo, da organização do processo de trabalho, apenas o desencadeador da doença. Assim, cai-se numa visão meramente organicista.
         Fatores psicossociais variados e geradores de estresse, o assédio moral contemporâneo no ambiente de trabalho, a precarização das condições de trabalho, a inversão da função psicológica do trabalho, não possibilitando ao homem mais desenvolver-se do que adaptar-se, o esvaziamento da atividade laboral como recurso de humanização do próprio homem-sujeito, a ausência de escutas no trabalho, as condições efetivas e concretas de existência das pessoas que trabalham, a atuação pouco efetiva ou acomodação das equipes multidisciplinares de saúde ocupacional dentro e fora das organizações, entre outros, poderão desfavorecer a saúde psíquica e levar ao adoecimento e sofrimento no trabalho.
         Subjetividade e realidade estão como que imbricadas, amalgamadas, são construídas num mesmo processo, uma não existindo sem a dependência da outra. Portanto, muito há que ser feito para assegurar saúde psíquica no trabalho, tanto pela procura espontânea/desejada do indivíduo para seu autoconhecimento mais real e consistente, via processo psicoterapêutico, quanto por melhor percepção e mais ações favorecedoras da saúde psíquica no e pelo trabalho, por parte das organizações e sua lideranças. O desajuste no trabalho não decorre apenas da estrutura do indivíduo. O que o homem faz de sua vida e o que a vida faz dele pesam para a saúde ou para o adoecimento quando esse homem se relaciona com sua atividade laboral.
         Até Dejours, expoente nesse tema e que parece privilegiar a estrutura psíquica, adverte, por exemplo: “A multiplicação atual de suicídios no trabalho não resulta apenas de injustiças, da desgraça ou de assédios. Resulta principalmente da experiência atroz do silêncio dos outros, do abandono pelos outros, da recusa de testemunhar dos outros, da covardia dos outros. A injustiça ou o assédio que, em outro momento, teriam sido uma experiência penosa ou dolorosa podem, no contexto de hoje, degenerar brutalmente para uma crise de identidade”. E, extrapolando, por mais contraditório que possa parecer, a patologia é ainda a última expressão da vida concreta do indivíduo, vamos dizer assim. Adoece-se para continuar vivo. A doença poderia ser concebida, desse modo, como uma forma extrema e necessária de defesa para o lidar-se com os conflitos e permanecer vivo.
         Yves Clot, outro expoente na França nessas questões, ao discorrer sobre o nosso poder de agir, lembra o que Vigotsky afirmou: “A vida está, a cada momento, plena de possibilidades não realizadas”. Assim, a saúde psíquica não é algo a priori, mas sim uma conquista que compromete, com seriedade e preventivamente, todas as partes da situação de trabalho. O poder de agir sobre si mesmo e sobre o mundo, envolvendo os outros, é construído. E, quanto mais flexível se apresentar ou for constituída a organização do processo de trabalho, maior será o poder de agir das pessoas, ou seja, maior será a possibilidade de real autonomia.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”