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segunda-feira, 4 de março de 2013

A CIDADANIA, O PAPA, AS DINÂMICAS HISTÓRICAS E A FORÇA DA ESPIRITUALIDADE


“O papa e as tensões internas da Igreja no mundo e na história
         
         Há uma tensão sempre viva dentro da Igreja e que marca o perfil de cada papa. Quais são a posição e a missão da Igreja no mundo?
         Uma concepção equilibrada deve assentar-se sobre duas pilastras fundamentais: o Reino e o mundo. O Reino é a mensagem central de Jesus, sua utopia de uma revolução absoluta que reconcilia  a criação consigo mesma e com Deus. O mundo é o lugar onde a Igreja realiza seu serviço ao Reino e onde ela mesma se constrói. Importa saber articular Reino-mundo-Igreja. Ela pertence ao Reino e também ao mundo. Possui uma dimensão histórica com suas contradições e outra, transcendente.
         Como viver essa dentro do mundo e da história? Apresentam-se dois modelos diferentes e, por vezes, conflitantes: o do testemunho e o do diálogo.
         O modelo do testemunho afirma com convicção: temos o depósito da fé, dentro do qual estão todas as verdades necessárias para a salvação; temos os sacramentos que comunicam a graça; temos uma moral bem-definida; temos a certeza de que a Igreja Católica é a Igreja de Cristo, a única verdadeira; temos o papa, que goza de infalibilidade em questões de fé e de moral; temos uma hierarquia que governa o povo fiel; e temos a promessa da assistência permanente do Espírito Santo. Isso tem que ser testemunhado face a um mundo que não sabe para onde vai e que, por si mesmo, jamais alcançará a salvação. Ele terá que passar pela mediação da Igreja.
         Os cristãos desse modelo se sentem imbuídos de uma missão salvadora única. Nisso são fundamentalistas e pouco dados ao diálogo.
         O modelo do diálogo parte de outros pressupostos: o Reino é maior que a Igreja e conhece, também uma realização secular, onde há verdade, amor e justiça; o Cristo ressuscitado possui dimensões cósmicas e empurra a evolução para um fim bom; o Espírito está sempre presente na história e nas pessoas do bem; Ele chega antes do missionário. Deus nunca abandonou os seus e a todos oferece chance de salvação.
         A missão da Igreja é ser sinal dessa história de Deus dentro da história humana e, também, um instrumento de sua implementação junto com  outros caminhos espirituais. Se a realidade está empapada de Deus, devemos todos dialogar.
         O primeiro modelo do testemunho é da Igreja da tradição. Era o modelo do papa João Paulo II, que corria o mundo empunhando a cruz como testemunho de que aí vinha a salvação. Era o modelo, mais radicalizado ainda, de Bento XVI.
         O modelo do diálogo é do Concílio Vaticano II, de Paulo VI, e de Medellin e de Puebla, na América Latina. Viam o cristianismo não como um depósito, mas como uma fonte de águas vivas e cristalinas que podem ser canalizadas por muitos condutos culturais.
         O primeiro modelo, do testemunho, assustou muitos cristãos que se sentiam infantilizados e desvalorizados em seus saberes profissionais. O segundo  modelo, do diálogo, aproximou a muitos, pois se sentiam em casa, ajudando a construir uma Igreja aprendiz e aberta ao diálogo com todos. O efeito era o sentimento de liberdade e de criatividade.
         Esse modelo do diálogo se faz urgente caso a instituição Igreja queira sair da crise em que se meteu.
         Devemos discernir com inteligência o que atualmente melhor serve à mensagem cristã no interior de uma crise ecológica e social de gravíssimas consequências. O problema central não é a Igreja, mas o futuro da Mãe Terra, da vida e da nossa civilização. Como a Igreja ajuda nessa travessia? Só dialogando e somando forças com todos.”
(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 15 de fevereiro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Agradecidos, Bento XVI
        
         Com reverência e grande apreço, somos agradecidos pelo pontificado de Bento XVI, que, como sucessor do apóstolo Pedro, ajudou a Igreja, em tempos de aceleradas mudanças e enormes desafios humanitários, a cumprir sua tarefa missionária: anunciar o evangelho da vida, para fazer de todos discípulos e discípulas de Jesus Cristo.
         O agradecimento reverente projeta luzes sobre um ministério exercido com extrema lealdade, humildade edificante, cultivado a partir de uma sabedoria temperada, admirável envergadura intelectual aliada a uma espiritualidade reveladora de uma profunda intimidade com Deus. Essas qualidades de Bento XVI, para além das vicissitudes humanas enfrentadas nas instituições todas, produzindo desafios relacionais e existenciais, traçou para a Igreja horizontes que a capacitaram ainda mais no enfrentamento das questões fundamentais da fé no seu diálogo imprescindível com a razão.
         Um caminho exigente, na contramão de uma religiosidade entendida e vivida com mágica milagreira ou como lugar da conquista e de exercícios inadequados do poder que seduz, desfigura e distancia-se da condição de todos como servos da vinha do Senhor. Há de se recordar que Bento XVI, em 2005, dirigindo-se pela primeira vez à multidão presente na Praça de São Pedro, delineou a consciência clara de seu entendimento sobre sua pessoa e sobre seu ministério iniciante como sucessor de Pedro. Ele se apresenta – como não pode deixar de ser a apresentação dos discípulos de Jesus, sejam quais forem as circunstâncias, cargos, ofícios e responsabilidades -  como simples servo da vinha do Senhor, chamado naquele momento ao exigente serviço como papa.
         Esse simples servo, com envergadura moral, intelectual e espiritual de gigante da fé, dialogou com seu Deus, em confiança amorosa, para decidir, por iluminação própria da fé e da inteligência, que era um bem maior concluir sua tarefa no ministério petrino. Sua renúncia causou, naturalmente, comoção e reações de grande surpresa. Ninguém destes tempos havia vivido uma situação semelhante. O inusitado da renúncia de um papa, na realidade dos tempos atuais, em se considerando os enormes desafios vividos pela Igreja Católica, no enfrentamento de questões espinhosas, como a chaga da pedofilia ou diálogo com o mundo, quando se pensa a secularização e o relativismo ético, projetou um oceano de conjeturas e suposições.
         No turbilhão de hipóteses e análises, muitas delas inadequadas, maliciosas e até perversas, uma luz de razão e humanismo focaliza a dimensão da fé. A renúncia do papa Bento XVI desenha no horizonte da Igreja e também da sociedade contemporânea a mais genuína e indispensável lição do evangelho. Sua renúncia se assenta, antes de tudo, na confiança no seu mestre e Senhor e na mais qualificada conquista espiritual de simplicidade e humildade. Essas virtudes geram a coragem do desapego, a alegria da liberdade e a consciência lúcida do seu lugar, agora como orante no acompanhamento e sustento da Igreja na sua missão.
         Houve quem jogou a hipótese de uma “descida da cruz”. Bento XVI, sabiamente e de modo sereno, ajusta a possível incompreensão, ponderando que não desceu da cruz, mas está aos pés do crucificado. Sublinha sua condição de discípulo e servo, jamais de Senhor e salvador. A lição é desconcertante e interpelante. Não simplesmente porque é inusitado um papa renunciar, mas, sobretudo, porque remete ao mais genuíno sentido de humildade e desapego para a ajudar a humanidade e, particularmente, a Igreja no exercício mais essencial de seu peregrinar, aquele de fixar mais, acima de tudo, seu olhar em Jesus, o salvador.
         Esse é o ensinamento que Bento XVI nos oferece como testemunho de fé, de sábia localização da condição humana nas mãos e no coração de Deus. Uma lição simples e profunda. Deus fez de Bento XVI um instrumento para indicar ao mundo contemporâneo e à sua Igreja que o terror da falta de sentido, os absurdos das lutas pelo poder, a desqualificação humana produzida pela maledicência e pelas arbitrariedades só têm cura quando se elege esse lugar de simples servo da vinha para viver e para ser. Essa lição, aprendida e vivida, dará rumo novo à sociedade e à Igreja. Somos agradecidos, Bento XVI.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, lúcidas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tamanha sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da  justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, AS URGÊNCIAS EDUCATIVAS E O PAPA CONTRA A CULTURA DA MORTE


“Urgências educativas
         
          
         Os cenários socioculturais, religiosos e políticos indicam permanentemente que é preciso reconhecer as urgências educativas como prioridades, para fazer diferença nas dinâmicas, funcionamento e nas respostas de demandas inadiáveis. Essas respostas estratégicas e urgentes para o alcance de um novo cenário na infraestrutura e, particularmente, nas relações sociais e políticas dependem de uma cultura com força de inspiração.
         Princípios estratégicos e a inteligência da gestão não são suficientes para configurar o quadro novo que a sociedade brasileira, em se considerando o contexto socioeconômico propício, precisa – e sem mais adiamentos. Quando se analisa, por exemplo, a falta de mão de obra qualificada, torna-se mais visível o grande desafio que exige investimentos, formação técnica e articulações para inserir a população no contexto das dinâmicas e oportunidades de trabalho qualificado.
         Mas também não bastam os investimentos na formação técnica de profissionais. Ao se pensar num horizonte de intocável respeito à cidadania de todos, é preciso avançar na infraestrutura global, que abrange moradia, transporte, saúde, entre outros setores. A sociedade não vai avançar, na velocidade esperada e exigida, no ritmo das mudanças e das demandas que surgem neste terceiro milênio, se não for reconhecido o permanente desafio de empreender uma grande obra educativa e cultural.
         Nesse caminho, é preciso ir além das dinâmicas político-partidárias, que, sozinhas, não garantem o avanço da sociedade, sobretudo no que se refere ao exercício da cidadania e necessidades da população. Com  muita frequência, a exaltação partidária é uma atividade improdutiva e ultrapassada, particularmente quando se restringe a uma “ladainha”, com exaltação de feitos e de figuras. No mundo contemporâneo não cabe mais esse tipo de prática. Basta pensar, por exemplo, o nível de socialização, participação e abordagem que o mundo digital proporciona, gerando um cultura diferente, que dilui concepções piramidais de funcionamento nas relações políticas e sociais. E quando há um coro dos que insistem em permanecer nos velhos funcionamentos, as entidades e instâncias que abrigam esses atores caem no descrédito.
         É importante consultar os índices de credibilidade de instituições, pois são indicadores para a reflexão sobre o conjunto de procedimentos que incluem a consideração da fidelidade aos princípios éticos, dinâmicas de funcionamento, atendimento com serviço qualificado e proximidade com o povo a partir de um diálogo corajoso. Discursos em eventos e efeitos produzidos apenas pela força da mídia não são suficientes para se colaborar na construção de um processo educativo e cultural necessário. Se o teor dessa análise parece complexo, a referência é diretamente vinculada aos funcionamentos de uma sociedade que está exigindo da classe política maior coerência e competência, para ações mais rápidas e qualificadas.
         Exigência que expõe, particularmente, o desafio de se alcançarem mecanismos inteligentes de burocracias governamentais, também responsáveis pelos atrasos no desenvolvimento da sociedade. Um aspecto a se analisar, por exemplo, é o absurdo da demora nos investimentos nas estradas. A morosidade alimenta o processo vergonhoso que produz um número de mortes equivalente ao das guerras.
         A grande obra educativa e cultural, indispensável para avançarmos, supõe a participação de todos, investimentos acertados, empenho responsável de cada um. Sua influência determinante a faz ser, sempre, o ponto de partida, em tudo e para tudo, na compreensão de que é necessário deixar-nos guiar por uma imagem integral da pessoa, respeitando todas as dimensões do seu ser e subordinando as necessidades materiais àquelas espirituais e interiores. Uma obra educativa e cultural só é inesgotável quando assentada sobre valores morais e espirituais.”
(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO. Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2309 – ano 46 – nº 8, de 20 de fevereiro de 2013, páginas 90 e 91, de autoria de REINALDO AZEVEDO, e que merece igualmente integral transcrição:

“Bento XVI contra a cultura da morte
         
           Ao anunciar que deixará o pontificado no próximo dia 28, o papa Bento XVI  tomou a mais ousada decisão na sua luta contra a cultura da morte e contra o relativismo, que hoje reivindicam o estatuto de um humanismo superior e que se infiltraram no seio da Igreja Católica. Em muitos aspectos, são os inimigos mais poderosos e articulados que ela jamais enfrentou. O sumo pontífice empenhado na preservação da “Cidade de Deus”, para lembrar Santo Agostinho (354-430), de quem é admirador confesso, apelou à experiência do cardeal Joseph Ratzinger, um profundo conhecedor da “cidade dos homens”, e agiu. O teólogo mais influente da Igreja nos últimos 35 anos pode, assim, articular a própria sucessão. Nos dias que se seguiram ao anúncio da decisão, o papa não disse boa parte do que lhe atribuíram e falou bem mais do que muitos perceberam. Ao renunciar, definiu um caminho. Você pode não acreditar em Deus, leitor. Mas evite o ridículo em que vejo cair muitos colegas, daqui e de fora, de não acreditar na clareza da Igreja.
         Na Quarta-Feira de Cinzas, diante dos cardeais, Bento XVI censurou “os golpes dados contra a unidade da Igreja” e “as divisões no corpo eclesial”. No trecho mais significativo de sua homilia, a que se deu pouco destaque, citou o apóstolo Paulo: “Ele denuncia a hipocrisia religiosa, o comportamento que deseja aparecer, os hábitos que procuram o aplauso e a aprovação. O verdadeiro discípulo não serve a si mesmo nem ao público, mas a seu Senhor, na simplicidade e na generosidade”. No dia seguinte, num encontro com sacerdotes da Diocese de Roma, conclamou: “Temos de trabalhar para a realização verdadeira do Concílio (Vaticano II) e para a verdadeira renovação da Igreja”.
         Os “golpes contra a unidade da Igreja” e as “divisões no corpo eclesial” não remetem às picuinhas de bastidores do Vaticano. É um erro ler a vida intelectual da Igreja como quem analisava as divisões internas do Kremlim, e analisa agora as do Palácio do Planalto ou da CBF. Não se está discutindo se, depois da disciplina bronca de Dunga, é chegada a hora da bonomia molenga de Mano Menezes... O catolicismo é um pouco mais complexo. Ao citar São Paulo e lembrar “o verdadeiro discípulo não serve a si mesmo nem ao público, mas a seu Senhor”, Bento XVI está afirmando o óbvio,  frequentemente esquecido até pela hierarquia religiosa, especialmente pelos partidários de certa “Escatologia da Libertação”: para os católicos, a Igreja não é autora de uma verdade humana, submetida a uma permanente revisão, mas a depositária de uma verdade revelada por Deus, que é eterna.
         A confusão só fez aumentar quando o papa afirmou ser preciso trabalhar para “a realização verdadeira do Concílio Vaticano II” e para “a verdadeira renovação da Igreja”. Ignorou-se o adjetivo “verdadeiro”, dito e reiterado, e se deu destaque à “renovação”. Bento XVI estaria, assim, admitindo a própria obsolescência e a da instituição que dirige. O Concílio teve duas faces, a boa e a má. Com ele, o catolicismo buscou se abrir mais à experiência comunitária, um retorno às origens. Fez bem. É preciso radicalizar essa experiência. Mas se deixou infiltrar pelo proselitismo ideológico de esquerda, substituindo, especialmente nos anos 60 e 70, os Evangelhos por uma versão da luta de classes ainda mais primitiva do que a dos comunistas. Nos dias correntes, essa expressão particular do laicismo degenerou no que aqui se chama “cultura da morte”, manifesta especialmente na defesa da legalização do aborto e da eutanásia e no relativismo, segundo o qual a verdade revelada por Cristo e iguala a outras tantas. Não para a Igreja. Não para os católicos. A “verdadeira renovação” de Bento XVI significa a reiteração de fundamentos que não são nem velhos nem reacionários, mas apenas eternos. Para quem crê, é evidente.
         Decisão como essa não de toma de inopino, muito menos em solidão. Quando tornou pública a sua mensagem em homenagem ao Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro, Bento XVI já tinha traçado o caminho da Igreja. E lá se lê com todas as letras e sem nenhuma ambiguidade: “Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autônoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus”.
         Bento XVI é aquele que veio restaurar na cristandade contemporânea a convicção de que fé e razão podem conviver e se iluminar mutuamente, como já queria Santo Agostinho no século V, de quem o papa, na verdade, fez uma glosa. O chefe da Igreja reafirma a herança do Agostinho da maturidade, segundo quem a Divina Providência dotou o homem do livre-arbítrio – a “lei moral natural inscrita por Deus em nossa consciência”. Ocorre que esse exercício da vontade, como queria o santo, “só é meritoriamente livre quando liberado pela graça de Deus”. Nesse mesmo texto, Bento XVI atacou a cultura da morte: “O caminho para a consecução do bem comum e da paz e, antes de mais nada, o respeito pela vida humana. (...) Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida. Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se deem conta de que, assim, estão a propor a consecução duma paz ilusória. (...) Tampouco é justo codificar  ardilosamente falsos direitos ou opções que, (...) com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida”.
         A “verdadeira renovação”, e não a falsa, da instituição de 2000 está na conservação dos seus valores. Não será desta vez – e, por óbvio, nunca será – que a Igreja vai aderir a uma pauta que a destruiria em busca, como advertiu o apóstolo Paulo, “do aplauso e da aprovação”. Ao contrário! É preciso combater com vontade e energia “o desregramento  perverso dos pecadores”. A Igreja, é verdade, perde fiéis e tem dificuldade de formar sacerdotes na Europa, mas se expande na África e na Ásia, onde a defesa incondicional da vida e da família dita “tradicional” tem potencial subversivo, a exemplo do que acontecia no mundo helênico, nos primeiros tempos do cristianismo. Não por acaso, o cristianismo, em especial o catolicismo, é a religião mais perseguida no mundo.
         Em pleno século XXI, milhares de pessoas são mortas porque ousam proclamar a mensagem de Cristo. Em Darfur, no Sudão, 500 000 foram assassinadas no que a imprensa ocidental chamou candidamente de “conflitos sectários”. Eram cristãos sendo massacrados por milícias islâmicas. No dia 11 de abril, a encíclica Pacem in Terris, do celebrado João XXIII, completa cinquenta anos. Lá está: “Em uma convivência humana bem constituída e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza. Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais, invioláveis e inalienáveis. E, se contemplarmos a dignidade da pessoa humana à luz das verdades reveladas, não poderemos deixar de tê-la em estima incomparavelmente maior. Trata-se, com efeito, de pessoas remidas pelo Sangue de Cristo, as quais com a graça se tornaram filhas e amigas de Deus, herdeiras da glória eterna”. Bento XVI renunciou ao comando dessa Igreja para que a Igreja não corra o risco de renunciar a si mesma e à herança que nos torna filhos de Deus porque filhos do homem.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas.

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, A HORA DA BARBÁRIE E A FÉ NA JUVENTUDE


“A barbárie que nos cerca
         
        Basta olhar em volta para perceber que estamos perdendo o senso de humanidade. A cobrança, cada vez mais reiterada, de atenção aos direitos humanos parece ter se tornado um brado obsessivo, uma espécie de neurose que habita a alma das pessoas inconformadas. Defender os valores universais de dignidade tem se tornado quase uma forma de assumir certa “ingenuidade” frente à complexidade do mundo. Só os puros, tolos e alienados perdem tempo com “direitos humanos”.
         Essa situação tem criado um território propício para o cinismo. Em nome de um pretenso realismo, passamos a assistir a lutas violentas como se fossem esporte sadio; a acompanhar a privação da liberdade de usuários de drogas, como se fizesse parte de uma ação protetora; assistir a filmes  verdade histórica em nome de uma ética das conveniências ideológicas, como Argo, que transforma a ação política nacionalista iraniana em puro exercício de terrorismo.
         Em cada um desses eventos a ideia de homem é jogada para fora da luz da razão em nome de uma valor exterior ao homem, quase sempre de natureza econômica. A própria economia, que já foi um refúgio da racionalidade, se perde hoje na inversão absoluta de prioridades: volatiza os empregos (e com isso as oportunidades humanas reais de uma vida digna) enquanto materializa as estratégias de rendimento em torno do mundo especulativo e rentista.
         O que mais espanta nesse cenário é a sensação de concerto, de ordenamento, de um certo cumprimento de expectativas. As pessoas, por um mecanismo decorrente do esvaziamento da política, parecem ter mergulhado numa crise de segurança que vem se firmando nos frágeis esteios que ainda restam. Assim, como a derrocada parece próxima (seu filho pode ser o próximo desempregado ou, pior ainda, o drogado da esquina), o melhor é se aferrar em certezas que partem da autoridade.
         Há uma passagem no clássico Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol, que parece ter sido pensado para nosso. Alice é convidada a participar do julgamento e ouve, aos brados, a rainha mandar cortar a cabeça do acusado. Ao cobrar o julgamento, recebe como resposta: “Primeiro a sentença, depois o julgamento”. Esta é a justiça que nos acompanha hoje em dia: primeiro sentenciamos de morte, depois derramamos nossa piedade na forma de um julgamento vicário. Para o bem e para o mal. Há sentenças que condenam e que libertam.
         É assim que chamamos os usuários de drogas de bandidos ou vagabundos; tachamos os iranianos de Argo de terroristas; consideramos, na via inversa, os torturadores americanos como soldados; nomeamos os caçadores de lucro a qualquer custo (sobretudo do emprego e do pagamento de impostos) de empresários; damos aos latifundiários que envenenam a terra e a economia o título nobre de agroempresários; entronizamos os especuladores urbanos que empalidecem o horizonte como empreiteiros; elogiamos os jornalistas que mentem promovendo-os a formadores de opinião. Primeiro cortamos a cabeça, depois explicamos: é tudo para o bem da sociedade.
         O princípio de Alice é operacional em várias áreas. Ele reforça o julgamento social ao mesmo tempo que ameniza a consciência individual. No caso de usuários de crack, em vez de combater uma economia que gera excedentes descartáveis, acusamos o indivíduo de desvios morais e psicológicos. Para acolhê-los, oferecemos a internação compulsória, que nada mais é que prisão ilegal (primeiro a sentença, depois o julgamento) e que tem se mostrado ineficiente ao longos dos anos.

BELO E JUSTO A mesma lógica está presente na forma como as artes e entretenimento vêm se firmando como terreno de sedimentação da ideologia. Em Argo e A hora mais escura não é preciso muita atenção para ver como a humanidade é dividida em dois times, com nítida primazia moral de um dos lados. Tudo que é construção histórica, como mostrou Edward Said em Orientalismo,  ganha foros de naturalização no cinema americano. Os árabes são potencialmente perigosos, o islamismo é terrorista, os fins (a defesa dos interesses econômicos na região) justificam os meios (entre eles a tortura).
         Que essa lógica sirva aos interesses políticos e militares se entende, tem sido assim durante os séculos. O que chama a atenção é o fato de setores que sempre estiveram na ponta da defesa do humanismo, como a arte e o conhecimento, se tornarem hoje meros apêndices daqueles interesses. Quem imaginaria que, em 2013, fosse necessário gritar contra a tortura? Denunciar a naturalização de seu uso? Assistir impassivelmente ao seu exercício como se fosse apenas mais um dos instrumentos aptos para situações de risco?
         O que mais impressiona é o fato de ambos os filmes, Argo e A hora mais escura, se prestarem a esse papel, mesmo se tratando de produções extremamente benfeitas do ponto de vista artístico e técnico, o que explica os prêmios que vêm ganhando mundo afora. O divórcio entre ética e estética está se tornando uma clivagem. Um mundo, como queria Platão, habitado pela beleza, justiça e bondade está cada vez mais distante.”
(JOÃO PAULO. Editor de Cultura, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de fevereiro de 2013, caderno PENSAR, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 15 de fevereiro de 2013, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Fé na juventude

A Igreja Católica, rumo à Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no Rio de Janeiro em julho de 2013, promove a 50ª edição da Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e Juventude”. Nesse caminho, a Igreja consolida sua opção preferencial também pelos jovens, consciente dos desafios que tem de enfrentar para renovar sua linguagem, articular seu diálogo, inserir-se nas redes sociais e garantir espaço privilegiado aos jovens na experiência do seguimento de Jesus Cristo, sua mais importante tarefa evangelizadora.
Para a Igreja Católica, particularmente no Brasil, este é um ano da juventude. As grandes metas incluem a oferta de caminhos para que os jovens experimentem o encontro pessoal com Jesus Cristo, na condição de discípulos missionários, com uma presença mais ativa nas comunidades de fé. Assim, é possível fazer crescer os dons e talentos da juventude, ampliando sua participação na busca de uma sociedade mais solidária, lugar de convivência respeitosa e comprometida com o bem comum.
Essa aposta tão importante no caminho deste tempo de quaresma está iluminada pelo horizonte comovedor e evangelicamente rico anúncio feito pelo papa Bento XVI, de que deixará o ministério petrino dia 28. Um acontecimento que remete a Igreja, de modo muito forte, pela envergadura espiritual e moral do papa, ao mais genuíno da simplicidade evangélica. As inteligências são desafiadas na busca de razões que, elaboradas, ancoram a decisão de tal porte e tão impactante. As mentes também ganham uma luminosidade incomum que exige assentamento na mais qualificada significação da condição de simples “servos da vinha do Senhor”, como o papa Bento XVI dizia no dia de sua eleição como sucessor de Pedro, em 2005.
Ainda muito importante é considerar o desafio posto a todos os que servem na Igreja, impulsionados a uma corajosa revisão na ocupação de cargos e lugares, no desempenho de responsabilidades e na coragem saudável de não gabar-se de nada e nem se considerar, absolutamente, mais importante ou privilegiado. Na apresentação de sua renúncia, o papa Bento XVI diz que, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância na vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o evangelho é necessário vigor, do corpo e do espírito.
Não há inteligência que substitua, estratégias que se equiparem ou ações políticas e diplomáticas que alcancem a estatura e força transformadora que virá sempre de que cultiva esse acenado vigor espiritual. Neste momento oportuno, a Igreja percorre o caminho rico e interpelador do tempo da quaresma, iluminada pelo brilhante testemunho de fé e de profunda intimidade com Deus, na vida e ministério do papa Bento XVI. É chamada a avaliar, compreender e dar uma resposta adequada ao tesouro inesgotável de sua fé. Entre muitos capítulos que estão sendo repassados, em busca de posturas e respostas novas, está o compromisso emanado da opção preferencial pelos jovens. A efetivação dessa aposta, indispensável, inadiável e sempre atual no caminho evangelizador da Igreja, é um enorme desafio. Supõe muitas e profundas mudanças.
O intocável tesouro da fé, buscado cada vez mais na sua riqueza inesgotável, para ser aprendido e vivido, desafia o caminho pedagógico e formativo da Igreja, exigindo mudanças iluminadas por uma compreensão capaz de produzir nova lucidez e intuir novas respostas. Não se trata apenas de multiplicar alguns eventos, retomar práticas ou simplesmente dar algumas indicações. Os desafios são amplos. A cultura midiática, por exemplo, requer um conhecimento mais apurado, com resultados na abordagem das muitas e novas linguagens, para garantir aos jovens a vivência de experiências interativas, diálogos e, particularmente, testemunhos.
Importante, sobretudo neste tempo de quaresma e na vivência da Campanha da Fraternidade, é cultivar, pela simplicidade evangélica, uma espiritualidade capaz de fortalecer sempre a opção preferencial pelos jovens.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas  e oportunas  abordagens e reflexões que acenam, em meio a maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente no mês de seus nascimento –, ate a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

         

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A CIDADANIA, A IGUALDADE, A CIVILIDADE E O BEM COMUM

“Bárbaros crimes sexistas

A proteção universal dos direitos humanos como norma para todos os povos e nações tem uma diretriz desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris. Traduzido para mais de 360 idiomas, o documento inspirou as constituições de muitos Estados e democracias de todo o mundo. Uma série de tratados internacionais de direitos humanos, adotados desde então, expandiram o corpo do direito internacional dos direitos humanos. É inquestionável a responsabilidade de cada país no cumprimento dessa Convenção Universal dos Direitos Humanos. Infelizmente grupos sociais historicamente violados em seus direitos continuam sofrendo perversidade em pleno século 21. Violações brutais de direitos humanos ainda acontecem no Brasil e no mundo todo.

Em pleno século, violências sexistas são mundiais e afrontam os avanços da tecnologia, os índices econômicos e de civilidade. Como conviver com tamanho abismo entre crescimento econômico, tecnológico e degradantes problemas sociais crescentes? Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que mais de 70% das mulheres em todo o mundo sofrem violência de gênero. A estimativa é que uma em cada cinco mulheres seja vítima de estupro ou de tentativa de estupro. Noventa milhões de mulheres africanas foram vítimas de mutilação genital feminina, enquanto em algumas partes da África 17% a 22% das meninas entre 15 e 19 anos são soropositivas. Cerca de 4 milhões de mulheres e meninas são traficadas anualmente, enquanto um milhão delas entram no comércio sexual. Até nos Estados Unidos, 17,6% das mulheres sofreram algum tipo de violação, sendo 21,6% menores de 12 anos e 32,4% entre 12 e 7 anos. A cada dois minutos, uma mulher e/ou criança é violentada nos EUA. No Oriente Médio, as violações dos direitos das mulheres também são altíssimas. Sem dúvida, são crimes revoltantes que causam repugnância.

Um bárbaro e recente crime de estupro coletivo chocou e comoveu o mundo. A barbárie aconteceu em 16 de dezembro de 2012. Uma jovem de 23 anos foi estuprada, espancada por seus homens num ônibus em Nova Délhi e atirada para fora do veículo seminua. Gravemente ferida, foi hospitlizada, mas morreu em 29/12, tendo suas cinzas jogadas no Rio Ganges, sagrado para os hindus. O caso causou grande comoção na Índia. Uma série de protestos violentos pedia mais rigor na punição dos casos de estupro. A conduta omissa dos policiais também foi criticada. As comemorações de ano-novo foram canceladas em todo o país devido ao risco de mais manifestações violentas. Os homens processados estão na faixa dos 17 aos 35 anos. Outro recente crime sexista também chocou o mundo pelo crueldade. Malala Yousulfza levou um tiro na cabeça por fazer campanha pela educação de meninas no Paquistão. A menina de 15 anos foi acusada de fazer campanha pró-Ocidente defendendo a educação de meninas. Gravemente ferida e tratada num hospital no Reino Unido, ela teve alta recentemente.

No Brasil, apesar da Lei Maria da Penha e do maior investimento em políticas públicas, o índice de homicídios de mulheres é alto. O Brasil é o sétimo numa lista de 84 países em assassinatos de mulheres, só perdendo para El Salvador, Trinidade e Tobago, Guatemala, Rússia, Colômbia e Belize. Em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres, o Conselho Nacional de Justiça atuará em 2013 na campanha Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha – a Lei é mais forte. As ações fomentarão maior combate à violência de gênero no Brasil. Uma delas é priorizar os processos criminais que envolvem assassinatos e agressões de mulheres. Pesquisa de 2012 do Instituto Sangari e SPM mostra que, de 1980 a 2010, aproximadamente 91 mil mulheres foram assassinadas no Brasil, sendo 43,5 mil apenas na última década. O estado do Espírito Santo lidera o ranking nacional de crimes femininos.

Com certeza, o Brasil e o mundo precisam de urgentes e eficientes programas de prevenção de crimes sexistas nas famílias, nas escolas e na mídia, além de leis mais severas para esses hediondos crimes. Como conceber tamanha estupidez humana em pleno século 21? Torna-se urgente reeducar homens para a cultura de respeito aos direitos das mulheres e dar poder às mulheres para a defesa legítima dos seus direitos. Somente dessa forma teremos relações sociais saudáveis pautadas na cidadania e na civilidade.”

(VIVINA DO C. RIOS BALBINO. Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de janeiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 25 de janeiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Tarefa do bem comum

Os noticiários mostram, diariamente, os horrores e a gravidade da violência na sociedade contemporânea. Violências de todo tipo, que têm como agentes jovens, muitos deles ainda adolescentes, e adultos, que perdem o senso de responsabilidade, praticam crimes, arquitetam esquemas de corrupção. Esse quadro de horror precisa ser diariamente enfrentado à luz da fé e do compromisso cidadão de cada um. Nesse horizonte, é importante investir na compreensão e na prática do princípio do bem comum, para despertar em cada mente o gosto pela conduta zelosa, pela justiça e verdade.

É imprescindível ensinar nas escolas e famílias, nas igrejas e instituições todas da sociedade, a respeito da dignidade, unidade e igualdade de todas as pessoas. Aí se inscreve o sentido do bem comum, com sua força para equilibrar todos os aspectos e relacionamentos na vida social. Trata-se de uma aprendizagem permanente, que requer o anúncio desses princípios, sua prática com força de exemplaridade, a partir de gestos pequenos àqueles com propriedade para determinar novos rumos. Na verdade, é uma grande caminhada para recuperar a configuração perdida do sentido social, da fraternidade e solidariedade.

O bem comum não consiste apenas na soma dos bens particulares de cada sujeito, sublinha a doutrina social da Igreja Católica. Ela diz que “sendo de todos e de cada um, é e permanece comum, porque indivisível e porque somente juntos é possível alcançá-lo, aumentá-lo e conservá-lo em vista do futuro”. O agir social alcança sua plenitude realizando o bem comum. Não se pode cansar na sua prática e no testemunho de sua prioridade. Presente o sentido do bem comum, imediatamente se vê a diferença qualitativa do agir em busca do bem de todos. Na contramão está tudo aquilo que causa prejuízo, desde um papel jogado displicentemente na rua até a montagem ardilosa de esquemas de corrupção.

O bem comum é a consciência de que a pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma, prescindindo do seu ser com e pelos outros. Por isso, a doutrina social da Igreja afirma também que “nenhuma forma expressiva de sociabilidade – da família ao grupo social intermédio, à associação, à empresa de caráter econômico, à cidade, à região, ao Estado, até a comunidade dos povos e nações – pode evitar a interrogação sobre o bem comum, que e constitutivo do seu significado e autêntica razão de ser da sua própria subsistência”.

Passo importante para cultivar um autêntico sentido do bem comum é compreender que a paz é dom de Deus e obra de cada pessoa, como sublinha o papa Bento XVI na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano. Assim, não basta amedrontar-se diante da violência, mas crescer na consciência de ser um operário da paz. Nesse sentido, o papa observa que para nos tornarmos autênticos e fecundos obreiros da paz são fundamentais a atenção a dimensão transcendente e ao diálogo constante com Deus. Sem a dimensão transcendente e sem referência a Deus, certamente mais difícil, por vezes, impossível, é superar o egoísmo que adoece e nega a paz, tutela tipos de violência, bem como a avidez e o desejo de poder e domínio, além das intolerâncias, do ódio e das estruturas injustas que perpetuam abomináveis exclusões sociais.

Trabalhar pela paz é um fecundo processo educativo para o sentido autêntico do bem comum. Para vivenciar esse processo, é imprescindível uma grande abertura da mente e do coração para o Senhor da paz, Jesus Cristo, o salvador do mundo. N’Ele se encontra o largo e completo horizonte da paz. Fixar o olhar em Jesus Cristo e anunciá-lo, corajosamente, é o caminho para que cada pessoa se torne um obreiro da paz.

Conforme afirma o papa Bento XVI, o obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade. Obreiros da paz são, portanto, aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade. Pautam-se pelo respeito à vida humana, buscando sua defesa, em todas as suas etapas, da fecundação ao declínio natural com a morte. É preciso um empenho conjunto de todos para que possamos cumprir nosso compromisso na tarefa do bem comum.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a) a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento-, até a  pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

b) o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

c) a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso da ordem de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...





sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A CIDADANIA, A PROSPERIDADE E A CONSTRUÇÃO DA PAZ

“Por um Brasil próspero

Se quiser ter prosperidade por um ano, cultive grãos. Por 10, cultive árvores. Mas para ter sucesso por 100 anos, cultive gente. Próspero, segundo o dicionário Houaiss, é o adjetivo que caracteriza quem têm êxito, quem progride, quem é bem-sucedido. Qualquer brasileiro, de todas as faixas de renda e educação, entende esse definição. Todos almejamos a felicidade. De na adianta alguns de nós sermos prósperos, se o país como um todo não o for. Para que o Brasil tenha êxito e se torne, definitivamente, uma grande nação é necessário bem mais do que crescer. É necessário desenvolver. Assim como ocorre com as pessoas, que para ser prósperas precisam primeiro ter o básico – moradia, alimentação, mobilidade, segurança, saúde e educação –, um país deve proporcionar a todas as pessoas o acesso a esses serviços, compreendidos como básicos para a prosperidade individual. A prosperidade também pode ser traduzida como a esperança e o estado de felicidade das pessoas ou de uma nação. Hoje mais do nunca poupar para assegurar um futuro melhor e investimentos em educação nos proporcionam esse estado de felicidade.

Segundo o estudo “O observador Brasil 2012”, os brasileiros têm investido mais na poupança e em outras aplicações. Entre 2005 e 2011, houve crescimento de 61,4% no valor poupado. Esse novo cenário reflete uma maior e melhor percepção do brasileiro do valor do seu dinheiro, ainda, uma mudança de cultura, com o cidadão privilegiando investimentos de médio e longo prazo, como a aquisição da casa própria. Além de poupar mais, há um número maior de pessoas em guardar em detrimento de compras supérfluas. De acordo com o censo semestral divulgado pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), pela primeira vez na história, mais da metade dos brasileiros têm alguma economia depositada na caderneta de poupança. São mais de 100 milhões de poupadores, um fato inédito e digno de registro. Nós, brasileiros, precisamos desenvolver uma nova mentalidade, onde o planejamento e a disciplina sejam valorizados. Precisamos valorizar o trabalho em detrimento da Lei de Gerson, de levar vantagem em tudo.

Em relação ao investimento em educação, o que tem crescido de forma consistente são os valores investidos em treinamento e educação profissional. A Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) realiza a pesquisa “Retrato do treinamento no Brasil”, divulgando os números em dezembro. De acordo com o levantamento, os investimentos em treinamento e desenvolvimento seriam 36,9% maiores ao aferido no ano anterior, com um valor médio superior ao verificado em 2011, que foi de R$ 3.627. A regra é clara: fazer mais com menos, melhor e mais rápido. Esse contexto, de poupança interna e de maiores investimentos em educação profissionalizante, gera uma expectativa de que, enfim, estejamos no caminho certo.

O momento mais propício ao aumento da produtividade é agora, em que vivemos o pleno emprego. Necessitamos valorizar, mais e mais, a educação e o treinamento para o trabalho, pois a produtividade do trabalhador brasileiro não aumentou quase nada, comparada à dos trabalhadores dos países desenvolvidos, nas últimas décadas. Maior produtividade, poupança, investimento em educação e melhor distribuição de renda. Só assim nos tornaremos uma nação próspera, de fato e de direito.”

(RONALDO GUSMÃO, Presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 4 de janeiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Responsáveis pela paz

Os bons augúrios trocados na entrada de 2013 devem guardar o compromisso responsável de quem deseja e de quem recebe os votos, na construção e na manutenção da paz. É mister concluir que a paz desejada e almejada precisa ser cultivada e efetivada como uma espécie de bóson na interioridade de cada pessoa para fazer dela um construtor apaixonado da paz. Não me refiro ao bóson, cuja existência foi comprovada pelos físicos. É algo de grandeza ainda maior. Antecede a tudo e tem origem e raízes em fonte que ultrapassa a complexidade e a grandeza apaixonante do universo.

O papa Bento XVI, na sua tradicional mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado em 1º de janeiro, faz referência à expectativa de um mundo melhor, unindo corações, mentes, culturas e diferentes realidades num coro único. Essa expectativa pode se tornar realidade também à medida que cada pessoa ilumina sua consciência com a bem-aventurança de ser obreiro da paz. O papa enfatiza: “O nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo”.

Esse olhar global sobre o andamento da vida no globo terrestre alcança também os lamentáveis episódios trágicos da morte de um pai, acompanhado da família e de amigos, quando comemorava o ano-novo apenas iniciado; ou a jovem universitária, cheia de vida, acompanhada do seu namorado, coração exultante de esperanças para a vida e cheio de amor, a caminho da igreja para vivenciar a passagem do ano, em vigília de oração, vítima de uma bala perdida. O papa chama a atenção para a grande apreensão ante os focos de tensão como os conflitos causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, a mentalidade egoísta e individualista alimentada por um capitalismo financeiro desregrado, assim como variadas formas de terrorismo, criminalidade internacional, fundamentalismos e fanatismos distorcendo e pondo em perigo a paz, distanciando a meta dos augúrios no novo ano, a comunhão e a reconciliação entre os homens.

Essas referências não têm a intenção de sombrear o horizonte do novo ano. Ao contrário. É preciso lançar o olhar com esperança sobre as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo. Elas testemunham a vocação natural da humanidade para a paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial. Por isso mesmo, é indispensável trabalhar a articulação de cada pessoa no conjunto dos engenhos estratégicos na promoção e conquista da paz, em se considerando que cada um de nós carrega o desejo vivo por uma vida humana plena, feliz e bem-sucedida. Na verdade, lembra Bento XVI em sua mensagem, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus. Por isso, Jesus Cristo, na sua maestria e traçando programa de vida para seus discípulos, indica e convoca ao dizer: “Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus, 5,9). Essa palavra de Jesus engloba a compreensão de que a paz é dom de Deus e obra do homem. Como obra do homem supõe o desenvolvimento da consciência e de uma conduta própria de construtor da paz.

Sabiamente, o papa sublinha: “A paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência. É fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros”. Portanto, a obra da paz exige de cada pessoa o esforço para a comunhão e a solidariedade para a partilha. O construtor da paz não apenas oferece, mas ganha no ato de partilhar e de viver em comunhão. Ora, a ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Ser obreiro da paz inclui o envolvimento integral do ser humano. Trata-se de buscar e viver a paz com Deus. Envolve também a busca da paz interior, o desenvolvimento da capacidade de amar e perdoar para estabelecer a paz exterior com o próximo.

O papa Bento XVI destaca que, para ser construtor e obreiro da paz, é preciso dar atenção à dimensão transcendente e ao diálogo constante com Deus para vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que está presente nas formas do pecado do egoísmo, da violência, da avidez e do desejo de poder e domínio, da intolerância, do ódio e estruturas injustas. Indispensável é reconhecer que somos, em Deus, uma única família humana, sentido como próprias as necessidades e exigências alheias. Obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade. Que transformam a paz em um sonho possível. O obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade. Que cresça em cada um de nós a consciência, como pessoa e comunidade, religiosa e civil, educativa e cultural, como família e como diferentes instituições dessa importante tarefa, com incidências significativas no modelo de desenvolvimento e economia, nos direitos sociais, particularmente no direito ao trabalho, à saúde e à moradia, comprometidos com a justiça. Porque somos todos responsáveis pela paz.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a) a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento, até a pós-granduação, como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

b) o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

c) a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso da ordem de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos, a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já frágil dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade – e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

domingo, 16 de dezembro de 2012

A CIDADANIA, A EFICIÊNCIA, A COMPETÊNCIA E A HUMANIDADE

“Eficiência e utilidade

O resultado de apurado exame sobre os últimos 45 anos mostra que o Brasil deixou de ser um país agrário e atrasado e se tornou uma nação emergente. Esses avanços situam o país na condição de moderno, ou “quase moderno”. Obviamente, o resultado desse exame é fruto de consideração prioritária da evolução da técnica. De fato, quando se trata de avaliar o desenvolvimento, geralmente considera-se principalmente o progresso tecnológico, reconhecidamente importante. É oportuno recordar o que diz o para Bento XVI sobre a técnica, na sua encíclica sobre o desenvolvimento na caridade e na verdade, no capítulo seis. O papa sublinha que a técnica é um dado profundamente humano, ligado à autonomia e à liberdade do homem. O papa se recorda de um princípio importante: na técnica exprime-se e confirma-se o domínio do espírito sobre a matéria. A valorização e importância da técnica se situam na compreensão lúcida do quanto ela é necessária para melhorar as condições de vida, poupar fadigas e reduzir riscos. O papa Bento XVI, na encíclica, lembra que na técnica, considerada como obra do gênio pessoal, o homem reconhece-se a si mesmo e realiza a própria humanidade.

A técnica é, portanto, o aspecto objetivo do agir humano, cuja origem e razão de ser estão no elemento subjetivo, o homem que atua. É manifestação do próprio homem e de suas aspirações ao desenvolvimento. Aqui se situa um ponto fundamental na consideração da eficiência e da utilidade a partir dos avanços técnicos na contabilização do desenvolvimento e do progresso. O que se quer acentuar é a importância fundamental e o lugar imprescindível de cada pessoa nas engrenagens do desenvolvimento. Por isso, há de ser um desenvolvimento humano integral. Não basta um progresso técnico em si, para usufruto talvez de alguns. O avanço tem que ser benéfico para todos.

Observando o progresso tecnológico no mundo e no Brasil, causa impacto olhar para as últimas duas décadas. Nem é preciso rever a história dos últimos 45 anos, detalhados em pesquisa que acaba de ser divulgada, para constatar a intensidade de mudanças, os cenários de possibilidades e os desafios novos que estão postos. O bem que nasce a partir da técnica certamente porta a geração de comprometimentos que precisam estar na pauta do dia para que não tornem perdas os muitos ganhos, com incidências drásticas na qualidade humana e espiritual da vida.

Ao retomar o exame que traz auspiciosa notícia de que o Brasil é moderno, ou “quase moderno”, é preciso fazer presente o entendimento de que é necessário o desenvolvimento humano integral, com a participação mais ativa de todos, para continuar essa trajetória rumo ao progresso. O verdadeiro desenvolvimento não consiste simplesmente no fazer. Se o fosse, nosso horizonte seria inteiramente tecnocrático. Não conseguiríamos encontrar sentido e razões para além da materialidade. O papa Bento XVI, na referida encíclica, lembra que o agir será sempre humano, expressão de uma liberdade responsável. Não se pode prescindir do compromisso moral no uso da técnica. A construção de um mundo de justiça e paz encontra nas tecnologias uma força facilitadora. Mas é importante ter sempre a convicção de que as pessoas são o agente e o destinatário da paz e da justiça.

Essa compreensão evita que se despreze, no processo de desenvolvimento, a ação humana comprometida com o bem comum. É, assim, indispensável a qualificação de cada um, no campo profissional e ético. Nesse sentido, é preciso considerar como determinante o envolvimento e o engajamento de todos nos processos que permitem uma nação avançar, sempre. Trata-se de fazer crescer uma consciência sobre a necessária humanização do trabalho e do gosto em trabalhar, sem preguiça. Assim é possível alcançar um desenvolvimento integral sustentável. Humanismo e muito trabalho farão do Brasil um país moderno.”

(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 14 de dezembro de 2012, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 30 de junho de 2012, caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, Editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“Ricos também choram. Ainda bem

A crise que assola a Europa trouxe de volta algumas questões importantes para o debate político. E não se trata de uma questão que interesse apenas ao Norte. Aqui, abaixo do Equador, se não é a economia que traz os problemas mais candentes, a questão da democracia se torna mais uma tributária de interesses particulares: há medo declarado da soberania popular e a cada crise se assacam argumentos autoritários e antipopulares.

Em outras palavras: há uma crise econômica poderosa e ameaçadora da ordem mundial que, depois de muitas décadas, chega aos países ricos (todos os sinais, da instabilidade dos mercados à injustiça social, quando afetavam países pobres eram considerados consequências da fraqueza moral e institucional das nações dependentes); há um espectro autoritário que ronda como fantasma, que teima em desafiar os valores democráticos quando eles apontam para a desconfiança em relação às receitas ortodoxas e elitistas.

Ao Norte, a economia despenca; ao Sul, a política é alvo de desconfiança.

Num cenário como esse voltam à discussão temas importantes que pareciam sepultados, como a justiça social, a intervenção estatal, a regulação dos mercados, a reinvenção da política, a superação do neoliberalismo, a retomada de estratégias de esquerda e até os valores da social-democracia. Algo precisa ser feito e todas as receitas anteriores parecem ineficazes.

Durante muito tempo, a ideia de regulação dos mercados era tomada como intervenção indevida e danosa ao caráter virtuoso do mercado. A atual crise mostrou que o sistema financeiro é por natureza amoral e destrutivo, não preservando sequer sua condições de possibilidade, confiando sempre no socorro público.

A recusa da população islandesa em amparar os bancos foi um ato simbólico poderoso: não se pode pedir a quem foi roubado que financie a retomada da saúde financeira dos ladrões. O fato de a atitude ter partido de um país considerado de Primeiro Mundo (e não de uma revolta ideológica terceiro-mundista) mostra que as regras estão mudando. A mesma situação, com outras manifestações, vem sendo percebida em países europeus que não aceitam receituários recessivos em nome do interesse do mercado financeiro.

O desafio que se coloca em termos econômicos e políticos para a Europa é combinar uma solução que preserve a estrutura da economia sem ferir de morte sua capacidade produtiva e de consumo. As pessoas não aceitam mais que a irresponsabilidade dos mercados se traduza em desemprego, abale a previdência pública e elimine garantias sociais conquistadas em décadas de mobilização.

Quando se propõe, hoje, a intervenção estatal, não se trata de regressão a estágios de planejamento centralizado nem de impedimento da iniciativa privada, mas da busca de um novo patamar de relacionamento entre sociedade e Estado que leve em consideração as demandas igualitárias, os objetivos moralmente justos e a eficiência do sistema. São desafios quase sempre capitaneados pela esquerda, que de crítica passa a formuladora de novas formas de política. As bandeiras antigas estão rotas: o mercado em si não garante estabilidade e o Estado hipertrofiado não é fiador da justiça social.

O curioso nesse processo todo é que os limites, ambos estritos, passam a simbolizar muito mais as zonas de sombra que de exclusão. Assim, tanto a perspectiva clássica do liberalismo como o projeto esquerdista passam a ser matizados por outros valores.

O QUE FAZER No campo econômico não se pode abrir mão do desenvolvimento, da livre iniciativa e da distribuição de renda. No âmbito político, não se pode barganhar a democracia e a soberania popular em nome de qualquer projeto de estabilidade e defesa das instituições. Socialmente, a necessidade de conviver com a diferença se torna um imperativo ético inalienável, independentemente das questões pontuais de afirmação da identidade de grupos minoritários.

O conjunto de crises por que atravessa o mundo, em vez de tornar os valores descartáveis, serviu exatamente para recuperá-los em outra dimensão mais responsável. O sofrimento dos ricos não é maior que o dos pobres. Suas lágrimas não são mais amargas nem suas revoltas mais densas. O que a crise dos países desenvolvidos aponta é exatamente para a dimensão humana que precisa ser resgatada.

Nessa chave crítica de nossos defeitos políticos e econômicos cabe de tudo, dos resultados pouco expressivos da Rio+20 à deposição de Lugo no Paraguai; do desemprego na Espanha à crise na Grécia; da eleição no Egito à ditadura na Síria; da ascensão de Obama ao ocaso político de Obama. Temos problemas econômicos decorrentes da irresponsabilidade e transpiramos questões políticas pela incapacidade em ampliar o alcance e efetividade das decisões populares. Somos egoístas em economia e autoritários em política, mesmo quando sofremos em razão desses dois defeitos de alma.

O capitalismo democrático mostrou que também é sujeito a crises profundas. Ele não é mais solução, mas parte do problema. O choro dos ricos apenas mostra que estamos todos no mesmo barco e que a arrogância é a pior das fugas. A saída vai nos obrigar a rever posições de defesa do individualismo (que foram traduzidas como mercado) e do intervencionismo.

A direita vai precisar de mais humanidade; a esquerda de mais competência.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ÉTICA, de MORAL, de PRINCÍPIOS, de VALORES –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas EDUCACIONAIS, GOVERNAMENTAIS, JURÍDICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS, ECONÔMICAS, FINANCEIRAS e AMBIENTAIS, de modo a promovermos a inserção do país no concerto das potências mundiais LIVRES, SOBERANAS, CIVILIZADAS, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDAS...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, desde a EDUCAÇÃO INFANTIL (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de seis anos de idade na primeira série do ENSINO FUNDAMENTAL, independentemente do mês de seu nascimento –, até a PÓS-GRADUAÇÃO (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

b) o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a INFLAÇÃO, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a CORRUPÇÃO, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o DESPERDÍCIO, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso da ordem de R$ 1 TRILHÃO, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos, a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz AUDITORIA...

Isto posto, torna-se absolutamente INÚTIL lamentarmos a FALTA de RECURSOS diante de tanta sangria, que corrói o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a JUSTIÇA, a VERDADE, a HONESTIDADE e o AMOR à PÁTRIA, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal fosse das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ÂNIMO nem arrefecem o nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande cruzada nacional pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma nação verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, CIVILIZADA, QUALIFICADA, LIVRE, SOBERANA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com TODAS as brasileiras e com TODOS os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013; a Copa das Confederações de 2013; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do século 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNACIONALIZAÇÃO das empresas, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INOVAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um possível e novo mundo da JUSTIÇA, da LIBERDADE, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e da FRATERNIDADE universal...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ, a nossa ESPERANÇA... e PERSEVERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...