“Crianças
e as eleições
Inúmeros artigos são
publicados a respeito do desenvolvimento da criança no mundo contemporâneo.
Diante do aumento da violência e dos maus tratos às crianças e aos adolescentes,
essa questão é motivo de preocupação crescente entre as entidades e
profissionais de saúde que atuam na área. A felicidade está intimamente
relacionada com o desenvolvimento de todas as pessoas. Contribuir para esse
desenvolvimento integral da criança, promovendo, assim, a sua felicidade, é
tarefa árdua, leva tempo e depende não só da família e dos pediatras, mas
também do interesse governamental. Nada melhor do que discutir esse assunto em
tempos de eleições.
Vivemos
em uma sociedade onde a busca pela riqueza material deixa pouco tempo para os
pais se dedicarem aos filhos. O sistema capitalista exige desses pais uma
presença no mercado de trabalho, e o envolvimento com a natureza, os amigos, as
práticas espirituais, ou com o desenvolvimento, ficando em segundo plano. Tal
ciclo ocasiona o que poderíamos designar de fenômeno da terceirização do afeto.
Pessoas e instituições são contratadas para assumir a educação dos filhos: as
cuidadoras, os motoristas, os parentes, as escolas e as creches. Para se
conseguir que as crianças fiquem quietinhas, muitas vezes, são colocadas diante
de “babás eletrônicas”, como a TV, jogos eletrônicos, DVDs e filmes, durante
horas a fio.
Por
outro lado, temos os pais que se dedicam integralmente aos seus filhos. As mães
que abdicam da vida profissional com objetivo de cuidar somente da família são
exemplos concretos. Os fortes vínculos afetivos podem prevenir o crescimento de
uma geração egoísta, indiferente, imatura e inapta para lidar com situações
mais exigentes.
Indubitavelmente,
entre os extremos de delegar a terceiros a educação dos filhos e da dedicação
integral, temos vários outros modelos de mães e famílias que variam de acordo
com as características econômicas, geográficas, culturais, religiosas, entre
outras. Definir modelos únicos de mães, com o objetivo de melhor educar as
crianças, seria colaborar para o aumento da angústia e sentimento de culpa de
milhares de mulheres que, na vida real, não podem segui-lo. Não há dúvidas de
que a terceirização da crianças se associa a problemas graves como o abandono e
a indiferença, que podem causar sequelas cognitivas, comportamentais e sociais,
com danos irreversíveis à formação dessa criança e também das próximas
gerações. Algumas medidas são consideradas preventivas e fundamentais nessa
difícil missão de sermos pais: amamentar ao seio materno, participar
diretamente da vida escolar e social dos nossos filhos, limitar o tempo de uso
das mídias digitais e televisão a, no máximo, duas horas diárias.
O
apoio da sociedade como um todo poderá auxiliar na importante detecção dos
sinais e sintomas que podem denunciar o abuso e maus tratos físicos e
emocionais à criança e ao adolescente. A depressão e outras alterações
comportamentais, como distúrbios de aprendizagem e abuso de drogas e álcool, podem ser percebidas por
quem está à volta.
Considerando
a proximidade do pleito para escolha do presidente do nosso país, a Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP) publicou algumas propostas que considera
imprescindíveis para o bom desenvolvimento da criança e adolescente.
Resumidamente: acesso universal de fetos, crianças e adolescentes à atenção
pediátrica; licença maternidade de seis meses; programa de residência médica em
pediatria, com duração de três anos; hospitais infantis em pontos estratégicos
do país; credenciamento de pediatras para atender demanda do SUS em
consultório; consulta de puericultura feita por pediatra; Programa Nacional de
Educação Infantil (Pronei), projeto de lei concebido pela SBP em 2007, que
ampliará a rede de creches e pré-escolas de qualidade em todos os municípios;
criar a profissão de cuidador da primeira infância; ensino fundamental de
qualidade, em tempo integral; prevenção do alcoolismo e do uso de drogas
ilícitas; fim de propaganda com crianças.
Um futuro
melhor para o nosso país está diretamente aliado à capacidade da nossa
sociedade de promover as boas práticas dos cuidados individuais. Além disso,
necessitamos de um apoio governamental com implementação das medidas
necessárias para que um dia todas as nossas crianças e adolescentes possam ter
o direito de ser verdadeiramente amadas, cuidadas e valorizadas.”
(RAQUEL
PITHON DOS REIS. Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, em artigo
publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição
de 22 de outubro de 2014, caderno OPINIÃO,
página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
22 de agosto de 2014, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Diálogo
e emoção
A dinâmica entre
diálogo e emoção configura ou enfraquece a cultura de um povo e o sentido de
sua identidade. Cada pessoa sofre os efeitos desse complexo processo, com
incidências sobre o modo de viver. O resultado final é um tipo de cidadania, ou
aquilo que se reconhece por “brasilidade”. Vale a análise da seriedade com que um povo realiza e
respeita seus compromissos cidadãos. A corrupção é uma referência bem concreta
do resultado desse processo entre diálogo e emoção. Trata-se de um binômio que
entrelaça e influencia fortemente o jeito de ser de cada cidadão e o torna peça
da engrenagem que faz a sociedade funcionar de um determinado modo. Pode
produzir descompassos, alimentando as brechas vergonhosas entre ricos e pobres;
fazer da política um mecanismo de interesses exclusivamente partidários, com a
consequente perda do seu nobre sentido de priorizar o equilíbrio social. Esse
processo que envolve diálogo e emoção
também incide na ambiência religiosa, produzindo todo tipo de prática. É
possível que resulte em manipulação, enriquecimento e outros absurdos, em
detrimento da dimensão intrínseca à fé verdadeira, ao menos no que diz respeito
ao Evangelho de Jesus Cristo – o compromisso com a justiça e uma incansável
luta por ela.
A
discussão filosófica sobre a emoção é extensa. Aristóteles a compreende como
uma das três classes de coisas que se
encontram na alma. Ela desempenha, nesse sentido, um determinante papel na vida
humana. O consenso é que as emoções sejam harmonizadas, para que não se pendule
entre a hegemonia dos sentimentos e a tendência de eliminá-los. Existem emoções
más. Algumas, inclusive, são produzidas para se alcançarem metas questionáveis.
Há também aquelas que temperam a existência, sem deixar prevalecer a
perturbação que leva à perda da serenidade e o consequente comprometimento da
racionalidade. A prevalência dos sentimentos ruins prejudica a articulação
entre o diálogo e a emoção, produz nefastos resultados para a cultura e também
promove atrasos em respostas, aumento irracional da burocratização e disputas
injustificáveis entre grupos e pessoas. Consequentemente, convive-se com
grandes perdas de oportunidades e não se alcança a seriedade cidadã que
alavanca o desenvolvimento integral da sociedade. Essa fragilidade pode ser
corrigida com a força, a abertura e a exercitação do diálogo.
Dialogar
não é apenas uma disputa. Trata-se de uma arte, método rigoroso de
conceitualização que promove um processo cognitivo, temperado pelo que é bom
das emoções. A dinâmica dialogal, no entanto, não pode ser confundida com os
elementos que compõem um tratado geral sobre a fofoca, nem a produção de peças
para desmoralização dos outros, muito menos enrijecimentos conceituais que
irracionalmente levam muitos a construir, para si mesmos e para seus pares, um
lugar para julgar os outros. Isso está longe da dinâmica dialogal.
O
ensino formal e as práticas educativas na vida comum de uma sociedade podem ou
não emoldurar a cidadania no equilíbrio entre diálogo e emoção. As polarizações
emocionais produzem irracionalidades que cegam e comprometem processos políticos,
e a autenticidade da religiosidade. Formam os guetos institucionais e alimentam
a rigidez cultural. Inviabilizam, assim, a inovação, porque prejudicam a
racionalidade e, consequentemente, a inspiração necessária para as mudanças
importantes.
Essa reflexão pode
servir para analisar e gerar novos entendimentos a respeito do que se passa na
sociedade brasileira, no atual contexto eleitoral, como também contribuir para
o tratamento adequado a ser dado aos gravíssimos problemas sociais que pesam
sobre os ombros dos pobres, em relação à habitação, educação, saúde e trabalho.
São necessários entendimentos criativos e cidadãos, indispensáveis para que a
sociedade brasileira avance não apenas nos resultados econômicos, mas também
nos aspectos políticos e sociais.
A sociedade precisa de
cidadãos articulados entre diálogo e emoção, pilares de uma moralidade sadia e
remédio para os absurdos que estão sendo gerados pela falta de proximidade,
pelo descompasso emocional de muita gente. Pessoas que, muitas vezes, são amparadas
por certa militância digital, que, aparentemente, constitui lugar de
aproximação, mas apenas acentua distâncias. Atitude sábia diante das
irracionalidades é seguir a indicação poética de Fernando Pessoa: “Segue teu
caminho, rega as tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores
alheias”.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, como um câncer a se espalhar por todas as
esferas da vida nacional – na promíscua relação “dinheiro público versus
interesses privados” –, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem (a propósito, noticia
a mídia: “A sonegação fiscal no Brasil já atingiu R$ 318,6 bilhões este ano. Em
todo o acumulado de 2013, a cifra foi de R$ 415,1 bilhões, valor que representa
mais de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional...”); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes
riquezas, oportunidade e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...