“Ciência
para a sociedade
Nasce mais um acervo
científico em Minas. O Espaço Interativo de Ciências da Vida, inaugurado em 24
de agosto, tem propósitos nobres: ensinar e divulgar, de maneira atraente e
lúdica, conhecimento sobre o corpo humano. Localizado na área do Museu de
História Natural e Jardim Botânico da UFMG, no Bairro Santa Inês, o espaço é
equipado com experimentos interativos sobre os sistemas circulatório e
reprodutivo, células, sentido, entre outros. Os experimentos convidam o
visitante a participar de brincadeiras, a tocar e sentiras peças e a traçar seu
próprio caminho rumo ao aprendizado. Espaços com esse são importantes para
tornar o conhecimento mais acessível ao público em geral. A divulgação da
ciência para a população cumpre vários papéis. Ela contribui para a educação de
crianças, jovens e adultos ao apresentar temas e estimular o debate,
complementando a educação formal oferecida nas escolas. Por outro lado, a
divulgação científica é capaz de municiar a sociedade de informações que lhe
possibilitem opinar e se posicionar sobre temas diversos. Com isso, as pessoas
podem exigir posturas de seus representantes nos órgãos executivos e
legislativos e influenciar a elaboração de políticas públicas. Podem, enfim,
exercer seus direitos de cidadãos.
No
caso dos órgãos públicos, a divulgação científica funciona também como um
prestação de contas dos investimentos, já que os recursos utilizados para o
fomento à área têm origem em fontes públicas. Por isso, várias entidades têm se
esforçado para abrir canais de troca de informações e aprendizados. Em Minas, a
Fapemig mantém há 15 anos um programa de divulgação científica chamado Minas
Faz Ciência. Por meio dele, são produzidos revista, vídeos e programas de rádio
sobre pesquisas desenvolvidas no Estado. Além disso, financia iniciativas de
popularização da ciência por meio de editais específicos e promove parcerias
diversas, como essa que deu origem ao Espaço Interativo de Ciências da Vida.
Nesse caso, contou com uma parceria internacional com a Fundação Lampadia
(Liechtenstein), significando mais recursos para a ciência no estado. A
proposta é que o espaço atue, também, nas áreas de pesquisa e extensão. Para
isso, estão previstas mostras especiais para a apresentação de novos conteúdos
e oficinas temáticas sobre os ambientes voltadas para professores dos ensinos
fundamental e médio. Dessa forma, eles levam para as escolas os novos
conhecimentos e perspectivas. A comunidade acadêmica em geral, e também o grupo
que realiza pesquisas sobre divulgação científica e percepção pública da
ciência, será beneficiada com um novo local para desenvolver seus estudos,
ampliando a literatura sobre a área, ainda escassa no país.
No
Brasil, ciência, tecnologia e inovação ainda estão longe de ter o mesmo apelo
que a política e o futebol. Esse cenário pode mudar quando as pessoas
enxergarem o quanto a área influencia a qualidade de vida e o desenvolvimento
econômico e social do país. Afinal, a ciência está presente em todos os
momentos de nosso cotidiano: nos alimentos mais saudáveis, em novos
medicamentos e tratamentos, em produtos que facilitam nossas tarefas
rotineiras, nas tecnologias que facilitam nossa comunicação. Apresentar essas
conquistas é criar um ciclo positivo, em que a ciência, tecnologia e inovação
sejam encaradas pelas pessoas como valores a serem defendidos e preservados.”
(MÁRIO NETO
BORGES. Presidente da Função de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(Fapemig), em artigo publicado no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 4 de setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de FREI
BETTO, que é escritor, autor de Calendário
do poder (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral
transcrição:
“Contrapoder
popular
Reduzidas as manifestações
de rua, cujo auge se atingiu em junho, temos agora, em vários pontos do país,
ocupações de espaços públicos: câmaras municipais, assembleias legislativas,
calçadas da casa de políticos etc. Nossas autoridades estão surpresas e
assustadas. Antes, contavam com o concurso da grande mídia, que não dava
importância a manifestações pontuais ou criminalizava-as, e a polícia agia
contra elas com ação preventiva e repressiva.
Agora,
novos atores, difíceis de serem controlados, entraram em cena. É o caso das
mobilizações convocadas através de redes sociais. Fura-se o bloqueio da grande
mídia por meio de iniciativas como a rede Ninja (Narrativas Independentes,
Jornalismo e Ação).
O que
há de novo é a inversão do poder político. O contrapoder popular. Até junho,
autoridades e partidos ditavam a pauta política na qual a população devia ser
enquadrada. A classe política, do alto de seu elitismo, acreditava que só devia
dar atenção ao povo de dois em dois anos, nos períodos eleitorais. Considerava
a política uma roda gigante movida pelo mecanismo de alianças e pactos
partidários e cujos ocupantes miravam de cima a plebe ignara.
Súbito,
movimentos sociais decidiram recorrer à democracia direta e ocupar espaços que,
de direito, são “casas do povo”, frequentemente usurpadas por aqueles que
deveriam nos representar, como no caso da CPI das empresas de ônibus no Rio, na
qual a maioria dos vereadores que a integram foi contra a sua instalação. É a
raposa investigando quem ataca o galinheiro.
Eis o
incômodo: o movimento social escapa do controle governamental. O poder público
o ignorava ou, quando muito, o cooptava. Os raros representantes desses
movimentos nas esferas legislativas e executivas não tinham vez nem voz. Basta
conferir a paralisação dos projetos de reforma agrária no Congresso Nacional e
no governo federal.
Os
movimentos sociais buscaram, então, uma alternativa: a pacífica insurreição
popular. Por vezes violada por vândalos que são policiais infiltrados ou fazem
o jogo da direita, e cujas máscaras deveriam ser arrancadas por quem prefere a
não violência ativa. Minha geração foi para as ruas, de cara limpa, se
manifestar contra a ditadura.
O
risco desse processo (e protesto) popular é confundir o saudável
suprapartidarismo com o nefasto antipartidarismo. Partidos políticos são, como
o Estado, um mal necessário. Se é fato que muitos traem suas origens e
discursos, chafurdam na corrupção, estabelecem alianças promíscuas, fazem na
vida pública o que fazem na privada, a saída não é virar-lhes as costas e
torcer o nariz, erguendo a bandeira do voto nulo.
Quem
tem nojo de política é governado por quem não tem. E tudo o que desejam os maus
políticos é que haja bastante nojo, para que eles fiquem à vontade com a
rapadura nas mãos. O que temem é a interferência de novos atores na esfera
política e, nas eleições, a dança das cadeiras.
A
alternativa é a reforma política. Eis uma demanda urgente. Não apenas para
decidir se o voto será distrital ou misto e se as campanhas poderão ou não ser
financiadas por recursos privados. A reforma precisa abranger também exigências
como o fim do voto secreto no Legislativo, do sigilo dos cartões de crédito dos
poderes da República, das parcerias público-privadas, dos empréstimos de
recursos públicos na boca do caixa e na calada da noite, da privatização de
bens estatais e públicos etc.
A
reforma política, se não for profunda, permitirá que continuemos a ter eleições
viciadas pelo poder econômico, pelo tomo lá dá cá, pelos conchavos de cúpula,
pelo percentual de votos dados ao candidato honesto que acabam contabilizados
para eleger o corrupto. A reforma política terá ainda que incluir mecanismos de
transparência no exercício da atividade política, de modo que a soberania
popular possa exercer controle sobre o desempenho dos políticos e das
instituições públicas.
Pior
do que aquele presidente-ditador que não gostava do cheiro do povo é o político
que se diz democrata e detesta a proximidade do povo, preferindo que ele seja
mantido à distância pelas forças policiais.”
Eis, pois, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade de
nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e
nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil;
logística; sistema financeiro nacional; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as brasileiras
e com todos os brasileiros,
especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que
contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras
do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...