“A
outra beleza da mulher
A palavra “mãe”, em
qualquer lugar do mundo, desperta em quase todas as pessoas um sentimento de
tão alta hierarquia que linda o estatuto
da santidade. Igualmente, a beleza feminina, segundo o padrão dominante,
enche os olhos da mídia. Paradoxalmente, a mulher, mesmo que seja mãe, quando
exerce o seu papel em outros espaços da sociedade, tende a se colocar em plano
datado e subalterno e sofre limitações e restrições comuns de dois gêneros,
para cuja superação há longo caminho a percorrer.
Para
enfrentar a desconsideração e a discriminação que, por séculos, oprime as
mulheres, foi que a ONU instituísse, em 1977, com ponderável atraso histórico,
o dia que amanhã celebramos e cujo nome oficial é designado como Dia
Internacional dos Direitos das Mulheres – mais que calendário, uma declaração
destinada a fazer avançar a estrutura jurídica e política da igualdade de
gênero.
É o
caso de perguntar: por que se valoriza tanto a maternidade potencial ou efetiva
e a beleza estética temporalizada e se depreciam, em idêntica proporção, os
demais atributos do ser feminino? Essa pergunta nos remete, sem dúvida, a um
desvio observado no curso da história humana, que confluiu, no século XX, para
a coisificação da mulher como objeto sexual, simbolizado, por exemplo, na
sensualidade de uma Marilyn Monroe, ela própria vítima infeliz dessa mesma
inversão de valores. Tal distorção projetou o que hoje pode ser chamado de
urgência da maternidade das balzaquianas que temem a frustração da vocação
feminina.
A
beleza da mulher não reside na sua estética física ou nas expressões de idade
em seu corpo, mas acompanha, por indissociável afinidade, sua condição de
gênero feminino, nas dimensões da sensibilidade e do cuidado com a alteridade
que lhe são inerentes, impregnadas pela vocação de desafiar obstáculos e, às
vezes, pela coragem de transgredir.
São
esses atributos que lhe emprestam, nas relações de poder, por exemplo, maior
capacidade de colaboração, em contraponto à índole competitiva do homem, como
também mais disposição para riscos e capacidade de harmonização.
E
hoje, numa sociedade competitiva e agressiva, mais se necessita do belo e do
criativo que a alma feminina guarda na intimidade de sua criação, e que
transcende o tempo.
Necessitamos,
como nunca, dos valores expressos nos versos de Cora Coralina, escritos no
“Saber viver” da velha dama de Goiás: “Muitas vezes baste ser:/ Colo que
acolhe,/ braço que envolve,/ palavra que conforta,/ silêncio que respeita,/
alegria que contagia,/ lágrima que corre,/ olhar que acaricia,/ desejo que
sacia,/ amor que promove”.
Características
como essas dão beleza ao gênero feminino – no “colo que acolhe” em
solidariedade e na “lágrima que corre” – e não podem ser descartadas para
falsear a igualdade com o masculino. Ao contrário, devem expandir-se em busca
de uma sociedade de paz. E precisamos mais: da afirmação de um (re)encontro do
par humano em condições de verdadeira igualdade dentro e fora do lar, arrimado,
também, na consideração da beleza que transcende a temporalidade das estreitas
convenções.”
(Maria Coeli
Simões Pires. Professora; secretária de Estado de Casa Civil e de Relações
Institucionais de Minas Gerais, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 7 de
março de 2014, caderno O.PINIÃO, página
19).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem
de artigo publicado no jornal ESTADO DE
MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO,
página 9, de autoria de DOM WALMOR
OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que
merece igualmente integral transcrição:
“Primazia
da dignidade
O compromisso com a
promoção e o respeito à dignidade humana são a possibilidade real de mudanças
nos rumos da sociedade contemporânea e nos cenários que envergonham a
humanidade. A primazia da dignidade das pessoas é a meta mais importante na
vivência séria da cidadania. Lamentavelmente, a luminosidade da inteligência
humana contracena e é obscurecida por irracionalidades, que submetem homens e
mulheres a condições degradantes,
ofensivas e prejudiciais à liberdade e à
autonomia. É preciso promover mudanças e
uma nova compreensão capaz de impedir que a humanidade caminhe para o caos.
Vivemos um tempo propício para isso, a Quaresma, quando a Igreja Católica
convida a humanidade para ouvir Deus, fixando o olhar em Cristo Jesus, o
Salvador e Redentor, preparando-se para a celebração da Páscoa.
Exercício
de espiritualidade, o caminho quaresmal é marcado pela experiência de amorosa
escuta da palavra de Deus. Caracteriza-se também por uma disposição para rever
gestos e assumir atitudes mais condizentes com a dignidade humana. Trata-se de
oportunidade singular para fazer crescer a solidariedade e a fraternidade,
promovendo a qualificação pessoal e comunitária. A conversão do coração
possibilita a cada um assumir uma conduta digna, percebendo todos como filhos e
filhas de Deus, irmãos uns dos outros. No itinerário quaresmal, a Igreja enriquece
o horizonte com a promoção da Campanha da Fraternidade, que, neste ano, é
iluminada pela palavra de Deus com o lema “É para a liberdade que Cristo nos
libertou”, da Carta de São Paulo aos
Gálatas. Assim, convoca todos para a coragem de reconhecer, compreender e
atuar no horizonte da gravíssima situação gerada pelo tráfico humano.
“Fraternidade
e tráfico humano” é o tema campanha, que focaliza uma realidade chamada pelo
papa Francisco de “atividade ignóbil, uma vergonha para nossas sociedades que
se dizem civilizadas”. O texto base da Campanha da Fraternidade 2014, da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sublinha também o absurdo
desse atentado contra os filhos e filhas de Deus, limitando suas liberdades,
desprezando sua honra, agredindo seu amor próprio pela exploração de sua
vulnerabilidade social e econômica. Os traficantes geralmente são aliciadores
que se aproximam das vítimas e de seus familiares, agindo como se fossem
amigos. A pessoa é abordada com uma oferta irrecusável de trabalho, mas, levada
a lugares distantes, é escravizada e torna-se prisioneira.
Esses
aliciamentos se camuflam pelo recrutamento de pessoas para atividades diversas,
a partir da promessa de um futuro promissor em diferentes carreiras, como as de
modelo, jogador de futebol, enfermeira, babá, garçonete, cortador de cana,
dançarina, pedreiro e tantas outras. As vítimas são homens e mulheres, crianças
e adolescentes. São reais as histórias de jovens aliciadas por redes de
prostituição, levadas para lugares distantes de suas famílias, com a promessa
de altos salários semanais, mas que são mantidas em cativeiro, em péssimas
condições.
É hora
de colocar cotidianamente na pauta de nossas ações a questão do tráfico humano,
dedicando maior atenção aos acontecimentos para efetivamente oferecermos nossa
contribuição cidadã aos organismos estatais. Também é preciso maior cooperação
entre países na tarefa de se investir na solução desse grave problema. Torna-se
cada vez mais urgente a união de esforços para fortalecer o enfrentamento
dessas organizações criminosas que, entrelaçadas, se tornam cada vez mais
eficientes. O passo importante nesse enfrentamento será sempre o crescimento da
consciência da primazia da dignidade humana.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas
com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência (o que é da essência da República – coisa pública), eficiência, eficácia, efetividade,economicidade,
criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades
e potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016;
as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...