quarta-feira, 30 de abril de 2014

A CIDADANIA, A GESTAÇÃO DO NOSSO POVO, A UNIVERSIDADE, O SABER POPULAR E O JORNALISMO COM ALMA

“A gestação do povo brasileiro, a universidade e o saber popular
        
         O povo brasileiro ainda não acabou de nascer. Vindos de 60 países diferentes, aqui estão se mesclando representantes  desses povos num processo aberto, todos contribuindo na gestação de um povo novo que um dia acabará de nascer.
         O que herdamos da Colônia foi um estado altamente seletivo, uma elite excludente e uma imensa massa de destituídos e descendentes de escravos. Mas, apesar desse constrangimento histórico-social, no meio dessa massa enorme, maduraram lentamente lideranças e movimentos que propiciaram o surgimento de todo tipo de comunidades, associações, grupos de ação e de reflexão.
         Do exercício democrático no interior desses movimentos nasceram cidadãos ativos; da articulação entre eles está nascendo uma energia geradora que lentamente chega à consciência de sua história e projeta um futuro diferente e melhor para todos.
         Nenhum processo  dessa magnitude se faz sem aliados, sem a ligação orgânica daqueles que manejam um saber especializado com os movimentos sociais comprometidos. É aqui que a universidade é desafiada a alargar o seu horizonte. Importa que os mestres e alunos frequentem a escola viva do povo e permitir que gente do povo possa entrar nas salas de aula.
         Essa visão supõe a criação de uma aliança entre a inteligência acadêmica com a miséria popular. Todas as universidades se tornaram o lugar clássico da problematização da cultura, da vida, do homem, de seu destino e de Deus. As duas culturas –, mais e mais, se intercomunicam no sentido de pensar o todo, o destino do próprio projeto científico e técnico face às intervenções que faz na natureza e sua responsabilidade pelo futuro comum da nação e da Terra. Tal desafio exige um novo modo de pensar que não segue uma lógica do simples e linear, mas com do complexo e do dialógico.
         As universidades são urgidas a buscar um enraizamento orgânico nas periferias, nas bases populares e nos setores ligados diretamente à produção. Aqui pode se estabelecer uma fecunda troca de saberes, entre o popular e o acadêmico; dessa aliança surgirão seguramente novas temáticas teóricas nascidas do confronto com a antirrealidade popular e da valorização da riqueza incomensurável do povo na sua capacidade de encontrar, sozinho, saídas para os seus problemas.
         Desse casamento se acelera a gênese de um povo; permite um novo tipo de cidadania, baseada na concidadania dos representantes da sociedade civil e acadêmica e das bases populares que tomam as iniciativas por si mesmos e submetem o Estado a um controle democrático.
         Nessas iniciativas populares, os movimentos sociais sentem necessidade de um saber profissional. É onde a universidade pode e deve entrar, socializando o saber.
         Desse ir e vir fecundo entre pensamento universitário e saber popular pode surgir o biorregionalismo com um  desenvolvimento adequado àquele ecossistema e à cultura local. A partir dessa prática, a universidade resgatará seu caráter de servidora da sociedade.
         Esse processo dinâmico e contraditório só prosperará se estiver imbuído de um grande sonho: de ser um povo novo, autônomo, livre e orgulhoso de sua terra.
         Apesar de todas as tribulações históricas, o povo brasileiro nunca perdeu sua autoestima e o encantamento do mundo. É um povo de grandes sonhos.
         Talvez seja essa visão encantada do mundo uma das maiores contribuições que nós, brasileiros, podemos dar à cultura mundial emergente, tão pouco mágica e tão pouco sensível ao jogo, ao humor e à convivência dos contrários.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 7 de março de 2014, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 28 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, diretor do master em jornalismo, professor de ética e doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral transcrição:

“Jornalismo com alma
        
         Antes da era digital, em quase todas as famílias existia um álbum de fotos ou uma caixa de sapatos cheia de fotografias. Lá estavam as nossas lembranças, os nossos registros afetivos. Muitas vezes abríamos o álbum ou a caixa e a imaginação voava. Era bem legal.
         Agora, fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nossa antiga caixa de sapatos foi substituída pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição daqueles momentos. Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando. Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um instante. É importante guardar imagens. Mas é muito mais importante viver cada momento com intensidade.
         Algo análogo, muito parecido mesmo, ocorre com o consumo da informação. Navegamos freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersam a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre. É preciso olhar para trás para dar saltos consistentes.
         “Hoje”, dizia Nelson Rodrigues, “ninguém imagina o que eram as velhas gerações românticas da imprensa. Mudaram o jornal e o leitor. No ano passado, houve uma chuva inédita, uma chuva bíblica, flagelando a cidade. Desde Estácio de Sá não víamos nada parecido. E todo mundo morreu e desabou, e se afogou, menos o repórter. Não houve uma única baixa na reportagem. Fez-se toda a cobertura do dilúvio e ninguém ficou resfriado, ninguém espirrou, ninguém apanhou uma reles coriza. Por aí se vê que há, entre a nossa imprensa moderna e o fato, uma distância fatal. O repórter age e reage como um marginal do acontecimento. Antigamente, não. Antigamente, o profissional sofria o fato na carne e na alma.”
         Jornalismo sem alma. É o diagnóstico de uma doença que contamina inúmeras redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm o cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem-editado, sério, preciso, isento.
         É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. Na verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Mas alguns procedimentos, próprios de opções ideológicas invencíveis, transformam um princípio irretocável num jogo de aparência.
         A apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à qualidade informativa. Matérias previamente decididas em guetos sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é honesta, não se apóia na busca da verdade, mas num artifício que transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada, hermético e dogmático, convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.
         Resultado: a credibilidade, verdadeiro capital de um veículo, se esvai pelo ralo dos preconceitos. O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o cara a cara, o coração e a alma.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção de nosso País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas múltiplas  modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...


segunda-feira, 28 de abril de 2014

A CIDADANIA, A ÁGUA NO SEU LUGAR E A ALEGRIA NAS MUDANÇAS

“O lugar da água
        
         Deveria ser na Cantareira, mas ela não está lá; não deveria ser sobre a Francisco Sá, mas ela estava lá, arrastando veículos. São Paulo com reservatório seco e ruas alagadas; Belo Horizonte com partes altas já enxutas e a cidade baixa ainda submersa, com bocas de lobo mandando jatos de água para cima como se repuxos projetados fossem. Muito se tem falado de falta e de excesso de água. A falta d’água é atribuída à falta de chuva e o excesso de água ao descontrole do clima. Simples como isso? Nada mais errado!
         O descontrole da água nos meios urbanos é uma espécie de punição por pecados originais das cidades, que não cogitaram de definir lugar para aágua a substituir o que lhe foi tomado, com vias implantadas em nível colado aos fundos de vales, ou o que lhe foi tornado inacessível pelos telhados e asfalto (placa tectogênica, ou algo mais pedante, chamado antropostroma de Passerini).
         Como começa: os arruamentos pioneiros não contam com drenagem formal, mas sua implantação corresponde a um processo de drenagem, não dirigida, mas drenagem; rios e córregos começam a ter cheias maiores que as naturais. São Paulo e Belo Horizonte já tiveram 5 km de diâmetro. As inundações urbanas duravam o tempo da chuva e na segunda esquina já caíam no meio rural, para sossego dos citadinos. A cidade cresce e as vias vão se estendendo ao tempo em que a drenagem se sofistica, passando a distinguir-se em categorias de micro e macro. O conjunto assume formas arborescentes, em que córregos, quais galhos tortos, ficam retilíneos, levando a água rapidamente aos rios.
         Em Belo Horizonte, que cresceu rio acima, a árvore da analogia tem galhos grandes para um tronco (o Arrudas da parte baixa) que não pode mais crescer.
         Bocas de lobo das partes altas, tão reclamadas, ficam mais limpas com a coleta de lixo mais eficiente, e despejam águas abundantes sobre as baixas, onde se dão as inundações, que cobrem bocas de lobo, algumas projetando refluxos pela alta pressão de águas das galerias a que dão acesso.
         As cidades têm recursos que insistem em não adotar de forma decidida: usar resíduos inertes para absorver parte do fluxo em cabeceiras e fundos de vale não urbanizados; usar telhados como coletores; promover reconexão hidrológica do telhado ao subsolo sedento com enxurradas correndo por cima.
         Que fique claro: a falta d’água na seca não é só por falta de chuva e o excesso nas águas não é só por mudanças climáticas, mas por excesso de descarga. Pode piorar porque esse excesso leva com a água o solo que o processo geológico não substitui na vida curta da civilização. E pensar que não se fala do solo erodido como recurso não renovável! No plano mais amplo, que envolve o campo, pergunto por que defendemos todas as nascentes, inclusive as voçorocas, se queremos a recarga dos aquíferos, sendo elas tão eficazes dispositivos geológicos de descarga dos aquíferos!”

(Edézio T. de Carvalho. Engenheiro geólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 22 de abril de 2014, caderno O.PINIÃO, página 17).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 5).

“Mudar pela alegria
        
         Alegrai-vos! Esse é o impactante convite de Jesus ressuscitado a cada discípulo. Mais que isso, é uma intimação que o Mestre faz ao coração dos homens, que foi feito para hospedar a alegria. A humanidade procura a felicidade e sem ela não dá conta de viver. Mas, tantas vezes, busca ser feliz de modo desarvorado, comprometendo situações sociais e humanas. É importante compreender que a verdadeira felicidade é o bem supremo. Por isso, o Mestre ressuscitado, vencedor da morte, faz o convite para que todos se alegrem diante dos dons e bênçãos, tesouro inesgotável do amor de Deus.
         O tempo pascal é, pois, força pedagógica da liturgia da Igreja Católica, a oportunidade rica de exercitar o coração na procura do bem supremo, a verdadeira felicidade. Essa tarefa deve ser vivida fixando o olhar no Ressuscitado, a vitória perfeita e completa na história da humanidade, vida que venceu a morte, amor que venceu o ódio. Há que se ter presente o que Aristóteles sublinhava quanto às diferentes concepções de felicidade, identificada com a conquista de bens diversos, desde virtudes, sabedoria prática, sabedoria filosófica, acompanhada ou não do prazer, ou até a posse de bens materiais. Nem mesmo ele, admirável nas raízes da sabedoria filosófica, conseguiu articular uma conclusão que pudesse fazer entender o significado da felicidade.
         Santo Agostinho a definia como a posse do verdadeiro absoluto, isto é, a posse de Deus, fonte de todas as outras felicidades. Nessa mesma direção, São Boaventura a compreende como ponto final do itinerário que a alma ao Criador. Essas reflexões concluem que a felicidade não é, então, a conquista de patrimônios nem de poder, mas conhecimento, amor e posse de Deus. Assim, ela não é um simples estado de alma, mas algo recebido de fora, que se relaciona a um bem maior e verdadeiro.
         Essas ponderações apontam para o enorme desafio existencial vivido atualmente, quando a experiência da felicidade é confundida com a conquista de bens materiais e prazeres efêmeros. Um entendimento inadequado que sustenta a dinâmica perversa de se buscar conquistas a qualquer preço. Desse modo, cresce o egoísmo, a mesquinhez, e a humanidade se distancia da vivência da solidariedade, o que acaba com qualquer perspectiva de alegria verdadeira. A solidariedade é o que pode curar os males da convivência humana, tão deteriorada em um tempo de tantas possibilidades. A razão crucial dessa crise, indiscutivelmente, está na identificação da felicidade como acúmulo, sem limites, de bens materiais e de poder, o que resulta na efemeridade dos bens da criação e no distanciamento do Criador.
         São vários os entendimentos a respeito da felicidade no pensamento filosófico. Em comum, a anuência de que ela não é um bem em si mesma, já que para ser felicidade é indispensável o conhecimento dos bens que são a sua fonte. Assim, pode-se afirmar que sua conquista, com simplicidade, é a experiência do encontro com Deus, o bem supremo, tão próximo de nós. Sua experiência existencial tornou-se possível pela encarnação do Verbo, Jesus Cristo, o Filho de Deus que morre e ressuscita para resgate e salvação da humanidade. Ele é o Salvador do mundo, o bem supremo, próximo de cada pessoa.
         A conquista da felicidade é o encontro pessoal com Deus, que produz a efusão da alegria. Trata-se de uma felicidade que não é passageira ou periódica e tem a força que possibilita grandes transformações. É exemplar para a história da humanidade a força da alegria produzindo a radical mudança dos discípulos de Jesus. A presença amorosa de Cristo ressuscitado faz dos discípulos ignorantes homens sábios. O medo cede lugar à audácia amorosa. Essa alegria experimentada é fruto da ação do Espírito de Deus, que tira Jesus da morte, vencida definitivamente pela vida. Uma felicidade autêntica e duradoura, fonte da força dos discípulos de Jesus, origem da sabedoria necessária para transformar tudo o que precisa ser mudado pela alegria.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, com um câncer a espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, irremediavelmente irreparáveis;

     c)     dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A CIDADANIA, A BUSCA DE CURA DA CORRUPÇÃO, O EDITADO E O INÉDITO

“A cura da corrupção
        
         Ao falarmos de corrupção, a primeira questão com que nos deparamos vem da grande dificuldade em conceituarmos tal tema e delimitarmos a sua abrangência. Considerando que a sua concretude deriva, principalmente, das relações negociais perniciosas entre agentes econômicos, não pode ser caracterizada como um fenômeno adstrito ao setor público. A sua ocorrência no setor privado leva a anomalias nos mercados, com o aumento do risco da atividade econômica e majoração dos custos de produção. Porém, no setor público adquire maior relevância, pois, a partir do momento em que leva à apropriação indevida de recursos, traz malefícios para toda a sociedade. No intuito de elaborar um indicador  que melhor mostrasse os níveis de corrupção entre os países e possibilitasse um ranqueamento desse fenômeno, a Transparency International (organização não governamental com sede em Berlim, Alemanha) tem elaborado um índice denominado Corruption perceptions índex, ou Índice de Percepção de Corrupção (IPC).
         Tal indicador, apesar de críticas quanto à sua metodologia, pode ser considerado como a mais conhecida e utilizada medição de corrupção em nível mundial. Nesse contexto, foi publicado, no final de 2013, o Índice de Percepção de Corrupção daquele ano para 177 países pesquisados. Olhando mais acuradamente o ranqueamento do IPC, nota-se claramente, ao considerar uma série histórica, que existe uma relativa perenidade do ordenamento, com poucas variações na classificação dos países, seja entre os primeiros ou entre os últimos colocados. Assim, fica a pergunta: por que algumas nações são condenadas a ter sempre altos níveis de corrupção, ao contrário de outras que possuem baixos patamares? Considerando a grande dificuldade ou mesmo a impossibilidade de se mensurar os níveis de corrupção de cada país, podemos tomar o Índice de Percepção de Corrupção, como uma variável proxy (variável utilizada para substituir outra de difícil mensuração) do grau de corrupção. Tomando ainda como referência o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), também de 2013, podemos analisar as variações ocorridas simultaneamente no IDH e IPC. Tais indicadores mostram que existe uma forte correlação entre níveis de corrupção e grau de desenvolvimento humano das populações relacionadas. O Brasil possui classificação mediana em ambos os indicadores, e países como Noruega, Holanda, Suécia e Suíça possuem altos níveis de IDH e baixos índices de percepção de corrupção. Na outra ponta, verifica-se que países com baixos níveis de IDH possuem, quase sempre, altos indicadores de percepção de corrupção.
         Nesse contexto, vale a pena reproduzir as palavras do presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim: “A corrupção rouba dos pobres”. Portanto, não restam dúvidas de que a diminuição dos níveis de corrupção das nações somente será possível a partir de melhoria de seus indicadores sociais, principalmente a melhoria dos padrões de escolaridade e conscientização política. Talvez aí esteja uma explicação por que vários governantes não se interessem em aumentar o nível de educação dos seus compatriotas. Eles perceberam, racionalmente, que o baixo nível de IDH de seus compatrícios e a consequente ausência de consciência política são o alicerce que os mantém no poder.”

(SINVAL DE DEUS VIEIRA. Mestre em administração pública, professor universitário, titular da Diretoria de Apoio Técnico ao Combate à Corrupção, da Controladoria-Geral do Estado de Minas Gerais (CGE), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 23 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 5).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de FREI BETTO, escritor, autor de O que a vida me ensinou (Saraiva), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“O editado e o inédito
        
         Meu amigo Alfredo não entende por que continuo frade, crítico ao capitalismo e convencido de que verdade e palavra de Jesus coincidem.
         Não cabe na cabeça dele minha opção de não formar uma família e ter “desperdiçado” as oportunidades que a vida me ofereceu de sucesso profissional como leigo.
         Aos 22 anos, fui assistente de direção de José Celso Martinez Corrêa na montagem de O rei da vela, pela de Oswald de Andrade. Aprendi o ofício e fiquei tentado a dedicar-me de corpo e alma à direção teatral.
         Aos 23, trabalhei como chefe de reportagem da Folha da Tarde, em São Paulo. E em 2004 renunciei à função de assessor da Presidência da República. Segundo Alfredo, “tivesse cabeça, você não estaria enfiado em uma cela de convento, vivendo de minguados direitos autorais e eventuais palestras remuneradas”.
         Embora Alfredo e eu sejamos amigos, há entre nós enorme diferença no modo de encarar a vida. Ele é alto executivo de uma empresa multinacional, tem um casal de filhos, possui fazenda e casa de praia e adora passar temporadas em Nova York.
         Em matéria de religião, ele cultiva um agnosticismo que não o impede de ser devoto de São Judas Tadeu e trazer no pescoço um cordão de ouro com a medalha de Nossa Senhora das Graças.
         Repito sempre a Alfredo: “Você é um homem editado”. Devidamente moldado, como um boneco de gesso, pela cultura capitalista-consumista que respiramos.
         Ele gosta de exibir roupas de grife, freqüentar clubes sofisticados e restaurantes da moda e trocar de carro a cada 15 mil quilômetros rodados.
         Prefiro ser um homem inédito. Não invejo o estilo de vida de Alfredo, nem duvido de que ele seja feliz assim. Recuso-me, porém, a submeter-me aos “valores” do sistema que exalta a competitividade, e não a solidariedade, e gera tanta desigualdade social.
         Minha felicidade estaria em risco se eu me deixasse possuir por bens materiais que me exigiriam cuidados constantes. Minha existência não é norteada por status, finanças ou patrimônio. É o sentido solidário que imprimo à vida que me faz feliz. Nem me considero mais feliz que a média. Felicidade não se compara.
         O poço no qual sacio a minha sede é aberto ao transcendente. E me faz muito feliz não ter que me preocupar com bens materiais, pois nada possuo, exceto as roupas que visto, os livros que coleciono e um carro Fox básico que me foi presenteado.
         Quem muito possui, muito tem a perder. Não é o meu caso. Meu bem mais precioso é também o de Alfredo e de todos nós – a vida. Sei que um dia haverei de perdê-la, como ocorre a todos. Alfredo fica horrorizado quando se toca neste tema. Ele quase se julga imortal. Porque teria muito a perder quando a  morte chegar.
         Essa diferença é marcante entre nós: o sentido que imprimo à minha vida justifica a minha morte. Não é caso de meu amigo nem de homens e mulheres editados. Eles nutrem sempre a ambição de terem mais e mais. O necessário jamais é suficiente para eles. Não suportam a ideia de terem um futuro de quem mora de aluguel, anda de ônibus e vai shopping apenas para ver as vitrines e tomar sorvete.
         O homem e a mulher editados são aqueles que apostam tudo no sistema no qual vivem e acreditam. O homem e a mulher inéditos olham além do próprio umbigo e ficam indignados com tanta miséria e injustiça. Empenham suas vidas na busca de outros mundos possíveis. Acreditam em ideais e utopia. E são felizes justamente por se sentirem como a cortiça na água, que nunca submerge. Por isso, raramente sofrem desilusões, temem o fracasso ou se enchem de medicamentos para evitar a baixa autoestima.
         O homem inédito é apenas alguém que não se deixa editar por nenhuma força – política, econômica, religiosa – que insiste em fazer dele o que não é. O homem e a mulher editados apreciam autoajuda. O homem e a mulher inéditos preferem o outroajuda.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção de nosso País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios  mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

         


       

quarta-feira, 23 de abril de 2014

A CIDADANIA, A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E A BUSCA DE SAÚDE E CALOR HUMANO

“Aprendizagem significativa
        
         A educação ganhou um novo viés com a transformação do perfil dos estudantes. A nova geração tem amplo acesso à internet e, por isso, não pode ser tratada como se chegasse à escola sem nenhuma vivência. A construção do conhecimento deve seguir sete passos para que a aprendizagem aconteça de forma significativa, fazendo com que a criança de fato compreenda o assunto e não apenas decore. A aprendizagem significativa é aquela que ocorre a partir do surgimento de um sentido pessoal por quem aprende, o que desencadeia uma atitude proativa para desvendar o novo e reconstruir conceitos que ampliam a habilidade de aprender cada vez mais. Todo conteúdo ensinado em sala de aula deve ser associado à história de vida do aluno, para que faça sentido em sua educação.
         Todo sujeito tem um conhecimento prévio, saberes e conexões mentais que não devem ser desprezados. Por isso, é necessário utilizar esse conhecimento, reforçá-lo e auxiliá-lo a buscar um novo aprendizado, utilizando um modelo didático dinâmico, uma vez que o aluno o aplica e o modifica constantemente. A concretização dessa aprendizagem resulta da execução do que se entende como os sete passos da construção do conhecimento: sentir, perceber, compreender, definir, argumentar, discutir e transformar. De acordo com a didática aplicada pelo professor, a sala de aula pode se transformar em um rico espaço laboratorial, cuja criança passa todas as fases do processo de aprendizagem (vivências do concreto e do manipulativo e registro das suas conclusões).
         O primeiro passo é o sentir, momento em que se trabalha com o concreto, manipulativo. A vivência do aluno é levada à sala de aula e se torna parte de um significado contextual e emocional. Após contextualizar o assunto, o educando precisa ser levado a perceber as características específicas do que está sendo estudado. É a etapa em que o aluno associa, relaciona, troca seu conhecimento prévio. A terceira fase é o ato de “compreender”. É quando se dá a construção do conceito para garantir a possibilidade de utilização do conhecimento em diversos contextos. Ocorre quando o professor enriquece o vocabulário do aluno com questões, jogos e situações-problema, relacionando as experiências dos estudantes com o conteúdo pragmático.
         O próximo ponto é “definir”, o que significa esclarecer um conceito. O aluno deve fazer isso com suas palavras para que o conceito seja claro. Ocorre quando o professor faz um trabalho interdisciplinar de produções utilizando vários gêneros textuais, como comparações das definições dos textos dos alunos e criação de um texto coletivo. Depois disso, o aluno precisa relacionar logicamente vários conceitos, o que ocorre por meio de texto falado, escrito, verbal e não verbal. Aqui, o aluno começa a argumentar com todo o vocabulário já pesquisado, desenvolvido por meio de teatro, trabalhos expositivos e ações. Em seguida, deve formular uma cadeia de raciocínio por meio da argumentação, ocorrendo a discussão, quando o professor volta às comparações, afunila a fundamentação e avalia a coerência dos conceitos, buscando a síntese e a solução.
         O último passo da construção do conhecimento é a transformação. É a intervenção na realidade. Ocorre quando o aluno se torna proativo, pronto para responder, resolver questões levantadas sobre a leitura feita. A partir desse momento, a criança compreende o assunto e tem uma vasta experiência. Quando o processo de aprendizagem valoriza as vivências do estudante, o aprendizado é muito mais efetivo do que seria com uma didática tradicional.”

(PAULA MOURA. Coordenadora do ensino fundamental I do Colégio ICJ, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de ARISTIDES JOSÉ VIEIRA CARVALHO, médico, mestre em medicina, especialista em clínica médica e medicina de família e comunidade, e que merece igualmente integral transcrição:

“Doença e calor humano
        
         Na música Noites com sol, o compositor e cantor Flávio Venturini afirma que as “noites com sol são mais belas”. Tomamos por empréstimo essa frase para comentar sobre o impacto das doenças na vida das pessoas e seus familiares. Uso como analogia o lado sombrio da noite, que tem como companheiros o medo, a insegurança e as fantasias. A doença é como a noite, sobretudo nos casos graves, muitas vezes, incuráveis e/ou terminais. Uma atmosfera de insegurança toma conta dos doentes e de seus familiares. As reações das partes são diferentes; o que parece ser comum é a dificuldade em lidar com o novo ciclo da vida familiar.
         Com o surgimento dos casos graves ou crônicos das doenças, a pessoa pode encontrar dificuldade para aceitar e lidar de forma tranquila com a sua nova situação, ficando ora carente, ora sensível, ora hostil e frustrada com os resultados, muitas vezes, insatisfatórios. Os familiares se sentem perdidos, sem rumo, sozinhos, precisando de atenção e apoio para conduzir e/ou compartilhar a situação. Algumas vezes, a impressão para os doentes e familiares é de que a “noite” será interminável. Assim, os amigos, os profissionais da área da saúde, entre outros, fazem toda a diferença, e são luzes que podem transformar as noites escuras em noites com sol. Ter e poder contar com os amigos nos momentos delicados da vida é muito importante. Quando ocorre a doença, a amizade funciona como um sol. É impressionante o bem que faz a presença e a solidariedade dos amigos. São conhecidas as pesquisas realizadas pela Universidade de Harvard sobre os benefícios da amizade na saúde das pessoas.
         Os profissionais de saúde, quando sensíveis ao sofrimento da pessoa e dos familiares, são raios de luz na escuridão. Com a abordagem regada pela técnica e pelo humanismo, podem contribuir para que a convivência com a doença seja mais tranquila. No serviço privado de profissionais da área médica e de outras categorias profissionais, muitas pessoas construíram fortes e duradouros vínculos com os pacientes e seus familiares. No Sistema Único de Saúde (SUS), a estratégia de saúde da família (ESF) avançou na vinculação da equipe de saúde com os familiares dos doentes, com experiências muito ricas, humanas e vitoriosas.
         Imaginar os amigos e os profissionais como sol na noite nos remete ao lado belo da vida, em que a solidariedade abraça a existência e a valoriza. Entretanto, não é sempre assim. Em relação aos amigos, quando a doença chega, alguns se distanciam e, por diferentes razões – respeito aos familiares, indiferença ou descuido –, não se prontificam a conversar, não ligam, não dão notícia, não se envolvem. A vida corrida, o individualismo e a falta de solidariedade, muitas vezes, motivam o distanciamento das pessoas amigas dos doentes e familiares. Nas instituições para idosos, em suas diferentes modalidades, temos exemplos de abandono e de solidão. Analogamente, isso ocorre nos domicílios com os portadores de doenças crônicas em estágio mais avançado, que precisam se ausentar do trabalho ou do convívio social para obter tratamento e são esquecidos pelos amigos. Sem o calor da amizade, lidar com a doença é bem mais complicado. Quanto aos profissionais de saúde, um dos pontos fundamentais é o fortalecimento do vínculo com os pacientes e familiares. Não se cria vínculo em uma semana ou em um mês. Ele evoca identificação, empatia, partilha e confiança e, por isso, é construído por anos a fio.
         Temos acompanhado a ruptura de vínculos em vários serviços: profissionais que atendiam em um determinado plano de saúde e não o fazem mais (por atraso nos pagamentos, baixa remuneração, entre outros motivos); pessoas que migram de um plano de saúde porque estão descontentes com os serviços oferecidos; planos que são fechados e/ou vendidos; falta de fixação de profissionais em alguns serviços, sobretudo no setor público; valores muito altos de consultas e procedimentos, além de fatores ligados a pessoas (pacientes e familiares) e a profissionais, que, por suas características, não se abrem a novos vínculos, entre outros fatores. Em situações críticas (sintomas ou sinais preocupantes que sugerem doenças muito graves ou terminais), muitos familiares e pacientes sentem a falta de profissionais de referência, com os quais possam partilhar a dor e o sofrimento. Certamente, fatores socioculturais ligados ao individualismo e ao consumismo, além de modelos assistenciais fragmentados, interferem e contribuem nas relações superficiais, na falta e/ou fragilidade dos vínculos.
         No atendimento profissional, percebe-se que os melhores resultados surgem quando há apoio e atenção àquele que está doente e a seus familiares. Se as famílias tivessem profissionais e amigos com quem pudessem compartilhar suas dúvidas, preocupações e expectativas, o fardo seria mais leve. A presença dos amigos e dos profissionais torna as “noites escuras” em “noites com sol”. E “as noites com sol são mais belas”. Penso que precisamos considerar esses aspectos para que a vida seja mais suave e cheia de sentido.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios e de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, já se lançando também com raízes no mar, abaixo do mar...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, mesmo ameaças à reputação de empresas - públicas ou privadas - já significam perdas de energia, de valor, de mercado...) ;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A CIDADANIA E OS DESAFIOS NA BUSCA DE EXCELÊNCIAS ESCOLARES E DE NOVOS HORIZONTES PARA A JUVENTUDE

“Excelências escolares
        
         O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) avaliou pela primeira vez a capacidade de estudantes de 15 anos do mundo inteiro de resolver problemas de matemática aplicados à vida real. O Brasil ficou em 38º lugar num total de 44 países. As avaliações do Pisa acontecem a cada três anos e abrangem: leitura, matemática e ciências. A cada edição ênfase é em uma dessas áreas. Em 2012, a ênfase foi em matemática. O objetivo do Pisa é produzir indicadores para subsidiar políticas de melhorias na educação, observar como as escolas estão preparando seus jovens para exercerem o papel de cidadãos na sociedade contemporânea e coletar informações básicas de indicadores contextuais relacionando o desempenho dos alunos a variáveis demográficas, socioeconômicas e educacionais. Questionários específicos para os alunos e para as escolas possibilitam uma análise apurada desses indicadores para a melhoria de projetos educacionais.
         Uma das questões aos estudantes era se eles haviam repetido de ano uma ou mais vezes em três etapas diferentes do ensino básico e/ou ao longo do ensino médio. Os alunos que disseram não ter se atrasado nas duas semanas anteriores ao Pisa tiveram melhor desempenho. Estudantes que “mataram” aula cinco ou mais vezes nesse período tiveram pior desempenho. Dados mostram que presença e pontualidade melhoram o aprendizado e que devem ser analisados no âmbito das condições socioeconômicas como pobreza e desestruturação familiar. A boa relação da escola com pais e comunidade é fundamental para competentes projetos na educação.
         Além da inclusão do Brasil no Pisa existem programas para estimular a excelência escolar desde a educação básica. O Prêmio Gestão Escolar, criado em 1998 e aprimorado, valoriza escolas públicas que adotam gestão democrática e de qualidade. Até hoje, 34.832 instituições já participaram. Em 2013 houve a premiação das 27 escolas destaques estaduais, das 5 escolas destaques nacionais, além da escola referência Brasil. Foram finalistas: Escola Estadual Olinda Conceição – MS; Escola Estadual Luiza Bezerra – MT; Escola Estadual Profª Terezinha Carolin – RN; Escola Estadual Mario Andreazza – RR e a Escola Estadual Senador César Lacerda – SP. Importante notar que existem muitas excelências escolares em regiões mais pobres fora do Sudeste, e isso demonstra que a boa gestão escolar que une escola, família e comunidade é determinante. A escola referência Brasil, considerada a melhor, recebe o prêmio de R$ 30 mil. A premiação em dinheiro não é cumulativa, e os diretores das escolas selecionadas de cada Estado são contemplados com viagens de intercâmbio para os Estados Unidos.
         Há intercâmbios também para estudantes campeões?Ciência sem  Fronteiras na educação básica? Recentemente, o MEC anunciou a criação, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, de cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior, para formar pesquisadores e professores que estudam os impactos das competências socioemocionais (otimismo, responsabilidade, determinação e curiosidade) no aprendizado dos alunos. Habilidades  muito valorizadas na sociedade contemporânea.
         Ainda sobre licenciaturas, existe o Projeto de lei nº 284/2012, tramitando no Senado, que valoriza licenciaturas competentes, inclusive com residência pedagógica e com benefício de bolsa. São excelentes programas que valorizam escolas e profissionais competentes e as licenciaturas com conteúdos atuais, críticos e socialmente comprometidos com a qualidade da educação brasileira.
         Com certeza, esses caminhos são altamente promissores e devem melhorar e muito o Brasil no ranking mundial da educação, proporcionando ao país grandes avanços sociais e tecnológicos, além de melhor qualidade de vida para os brasileiros.”

(VIVINA DO C. RIOS BALBINO. Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 14 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, diretor do Master em jornalismo, professor de ética e doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral transcrição:

“Juventude roubada 66
        
         O crescimento da Aids, o aumento da violência e a escalada das drogas castigam a juventude. A deterioração econômica exacerba o clima de desesperança. A percepção da falência do Estado em áreas essenciais (educação, saúde, segurança, transporte) gera muita frustração. Para muitos jovens, os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida.
         Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, Aids e drogas compõem a trafica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de violência. Além disso, a juventude não foi preparada para a adversidade. E a delinquência é, frequentemente, a manifestação visível da depressão.
         A situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência  é o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores. Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela falência das política públicas e a ausência de expectativas.
         Se a crescente falange de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em que ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues juvenis. As análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados e paralisados, a uma espiral de violência sem precedentes.
         Certas teorias no campo da educação, cultivadas em escolas que fizeram uma opção preferencial pela permissividade, também estão apresentando um amargo resultado. Uma legião de desajustados, que cresceu à sombra do dogma da educação não traumatizante, está mostrando a sua face criminosa.
         Ao traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lach – autor do livro A rebelião das elites – sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas sob a aparência da tolerância: “Gastamos a maior parte da nossa energia no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas”.
         O saldo é uma geração desorientada e vazia. A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores. O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.
         O pragmatismo e a irresponsabilidade de alguns setores do mundo do entretenimento estão na outra ponta do problema. A era do mundo do espetáculo, rigorosamente medida pelas oscilações do Ibope, tem na violência uma de suas alavancas. A transgressão passou a ser a diversão mais rotineira de todas. A valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade têm colaborado para o aparecimento de mauricinhos do crime.
         A transformação da internet num descontrolado espaço para a manifestação de atividades criminosas (a pedofilia, o racismo e a oferta de drogas, frequentemente presentes na clandestinidade de alguns sites, desconhecem fronteiras, ironizam legislações e ameaçam o Estado democrático de direito) estão na origem de inúmeros comportamentos patológicos.
         É preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem ou serenidade tragados por uma onde violência jamais vista. O resultado da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentada consequências dramáticas. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores – para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado),  como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inequivocamente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...