“Água,
povo e poder
Estamos vivendo um
momento muito delicado no Brasil com a questão da água, cuja falta, cada vez
mais anunciada nos últimos meses, assusta todos os segmentos da nossa
sociedade. Ela é fundamental na vida das pessoas, sejam ricas ou pobres, para
famílias numerosas ou pequenas, para hospitais, escolas, indústria, agricultura
e, principalmente, para a boa saúde de todos. Como se sabe, problemas com falta
de água ou água inadequada geram doenças graves e mortalidade infantil. Tomar
um simples copo de água e tomar um bom banho, naqueles momentos em que sentimos
necessidade, deixa-nos mais felizes. Assim, com toda certeza, a falta de água
deixa as pessoas muito incomodadas e propensas a reavaliar com mais
profundidade as formas pelos quais os governantes lidam com o tema ao longo do
tempo.
É
importante lembrar que o corpo humano, como os de outros seres vivos, é formado
principalmente pela água, o que torna esse recurso essencial à vida. O homem
precisa ingerir água com frequência, diretamente ou por meio de diversos
alimentos. A ameaça da falta de água causa um grande desgaste para todos. Algo
como, sabendo dos sintomas de uma doença grave, ficamos sempre apreensivos com
a possibilidade de ela realmente surgir e não sabemos como reagir caso ela
apareça.
É
claro que há falta de água mesmo! Que as chuvas diminuíram muito nos últimos
anos, muitos rios estão vazios, assim como as represas mais importantes da
região Sudeste. Mas, as causas da atual crise hídrica não podem somente ser
atribuídas à falta de chuva. Há muito desperdício de água no país e falta de
planejamento do governo, pois trata-se de uma tragédia anunciada há tempos.
Mesmo com um ou outro governante afirmando ao longo de meses e meses que não há
falta de água, muitas torneiras estavam e estão vazias em algumas regiões do
país. Mas a população é sábia e famílias começaram a economizar água e a tomar
outras providências práticas, como abrir poços artesianos (quem pode) e comprar
baldes. Afinal, caro leitor, como diria a rainha Maria Antonieta, na Revolução
Francesa, “se não tem água, comprem baldes, guardem água e tomem seus banhos!
Ora bolas! Simples assim!”.
A
questão do meio ambiente, que envolve a água, chegou forte no Brasil nos anos
1970, principalmente depois da ditadura, e teve momentos significativos como o
Movimento contra o Programa Nuclear Brasileiro, nos anos 80; denúncia contra as
calamidades de Cubatão; surgimento do Partido Verde em 1986; a Eco 92/RJ; e
frequentes movimentos de combate aos agrotóxicos, que se estendem até hoje.
Mas
você acha que a maioria dos líderes políticos do Brasil, de diferentes matizes,
estavam mesmo preocupados com essas questões? Que entendiam profundamente
desses assuntos? Parece que não. Preocupados com o jogo do poder, não tinham
tempo e interesse verdadeiro por tudo isso. Você já imaginou, caro leitor,
líderes políticos falastrões do país discutindo temas como mata ciliar,
reaproveitamento da água, dessalinização da água do mar? Não conseguiu
imaginar, não é? Agora, a situação está grave e temos mesmo que economizar
água, o que é um processo educacional, cuja economia deve começar nos palácios
onde vive a nossa monarquia tropical, muito bem espalhada pelo Brasil.
Sabemos
que a pujante agricultura brasileira é um dos setores que mais consomem água,
não é o povo. E temos também a indústria, outra área importante. Por isso
mesmo, o governo deve ser eficaz nos programas de prevenção do consumo de água
de todas as áreas. É importante que saibamos todas as medidas de economia de
água, inclusive para esses setores. E vamos economizar água. Sejamos, então,
cidadãos conscientes, porque não vale chorar depois. E tomara que chova três
dias sem parar, conforme cantaria Emilinha Borba em época de carnaval.”
(LUIZ
FRANCISCO CORRÊA. Jornalista, diretor da Via Comunicação, membro do
Conselho Curador da Fundação de Pesquisa e Ensino da Cirurgia, em artigo
publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição
de 17 de fevereiro de 2015, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM
JOAQUIM GIOVANI MOL GUIMARÃES, bispo auxiliar de Belo Horizonte, reitor da
PUC Minas, presidente da comissão da CNBB para o acompanhamento da reforma
política, e que merece igualmente integral transcrição:
“Afronta
ao povo
Os recém-empossados
deputados estaduais mineiros não hesitaram em dar mostras de que esta nova
legislatura não romperá com vícios, acordos e arranjos quando o assunto em
pauta é de interesse dos próprios parlamentares. Aprovado em tempo curtíssimo,
desavergonhadamente, o primeiro projeto votado pelos legisladores em seu novo mandato
foi para estender a todos os parlamentares o benefício do auxílio-moradia, que
pode chegar a R$ 4,3 mil a mais em seus vencimentos – mesmo para aqueles que já
vivem ou têm residência na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A
história do Poder Legislativo no Brasil é marcada, entre outros aspectos nada
nobres, pelo acúmulo de privilégios. Verbas indenizatórias, auxílios, apoios de
custeio, passagens aéreas. Ainda que algum benefício seja necessário, esses
privilégios, além de fazer escoar de modo covarde os recursos públicos,
impõem-se como verdadeira afronta a grande parcela da população, a quem se nega
atenção e qualidade nos mais fundamentais e básicos serviços públicos. O
contribuinte paga e paga caro para manter uma democracia representativa para a
qual é pouco convidado a participar.
De
modo contínuo, políticos vão alimentando no eleitor um desalento, pois ele, a
cada eleição, percebe as expectativas e desejos de uma política verdadeiramente
imbuída de construir o bem serem encobertos pelos interesses mesquinhos, o
ganho pessoal, o interesse próprio de alguns, que foram eleitos para buscar o
bem-estar de todos. Gera-se no cidadão a sensação de que a política é, por
definição, um exercício do malfazer, da ruptura de quaisquer possibilidades da
ação comum e solidária e a corrupção permanente de todo e qualquer projeto
coletivo, da busca de justiça e de igualdade. Exatamente o contrário do
ensinamento de um dos principais líderes mundiais contemporâneos, o papa
Francisco, que, à luz da fé cristã, afirma a “política como uma vocação
sublime, uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (Evangelli gaudium, 2005).
Para o
eleitor, resta a sensação fatalista de que esse desprezo pelo bem comum desfaz
a política, ao corroer-lhe a verdadeira essência. Dupla crueldade: o cidadão
que enxerga na participação político-partidária o efetivo mecanismo de mudança
e de construção de uma sociedade melhor, não raro se frustra, rapidamente, ao
perceber que essa mesma política – que ele legitima e à qual confere poder e
autoridade – e, seus subterrâneos, por baixo dos panos, o desconsidera e
abandona, ao estabelecer para si relevâncias muito particulares. Por um lado, o
desalento diante do esfacelamento das promessas e projetos. Por outro, o ressentimento
diante da percepção de que o direito do voto e o poder da escolha
retroalimentam um sistema viciado de benesses e compadrios. É imoral.
Reafirmamos
a necessidade urgentíssima de uma profunda, séria e democrática reforma
política no Brasil. A reforma política só será benéfica ao país se houver
participação do povo, das comunidades, dos movimentos sociais, da sociedade
civil organizada. O Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Coalizão, que reúne
mais de uma centena de entidades, propõe, entre outras coisas: impedir o
financiamento de campanhas eleitorais por empresas; implantar a eleição em dois
turnos, um para eleger um projeto, outro para eleger pessoas comprometidas com
o projeto; aumentar a participação de mulheres no mundo político; regulamentar
o artigo 14 da Constituição, que contém instrumentos de democracia
participativa.
A
impressão é de que se tivéssemos nos mobilizado mais, teríamos impedido esse
nefasto episódio da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Mais do que
impressão, fica a convicção de que é necessária a participação decisiva dos
brasileiros na reforma que poderá viabilizar muitas outras reformas
imprescindíveis ao país, a reforma política.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas;
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício,
em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e
danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e diante de novas facetas, a
agudíssima crise da dupla falta – de água e de energia elétrica...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!