quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA BOA ESCOLA E OS DUELOS ENTRE OPINIÕES

“Salvemos a escola pública
        Antes de ingressar na faculdade, em 1964, estudei oito anos em escola pública. Como ocorre agora com as universidades, em geral elas superavam em qualidade os colégios particulares. Além da inigualável vantagem de serem gratuitas.
         Hoje, nossas escolas públicas de ensino básico estão sucateadas. Foram deterioradas pela má administração pública, a corrupção, o descaso para com alunos e professores. Há, no Brasil, 55 mil escolas públicas. Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 0,2%, ou seja, 160 alcançam um índice de desempenho considerado médio.
         Adota-se no Brasil, para classificar nossas escolas de ensino básico, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), feito por amostragem, e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que dá nota de 0 a 10 às instituições de ensino, tendo por critério o desempenho dos alunos na Prova Brasil, exame aplicado a todos os alunos de 4ª e 8ª séries.
         Em todo o país, apenas 110 escolas mereceram nota seis ou acima. Nas séries iniciais do ensino fundamental nossa nota é 3,8. Os cursos de 5ª a 8ª séries ganharam nota 3,5. No ensino médio, 3,4. A meta do Ministério da Educação (MEC), estimulado pela Campanha “Compromisso todos pela educação”, é que a maioria de nossas escolas atinja a nota seis em 2021. O Ideb atual da Holanda é 7; do Reino Unido, 6,5. Há no Brasil colégios, raros, que receberam nota 8,5, como a Escola Professora Guiomar Gonçalves Neves, em Trajano de Morais (RJ). É a de melhor qualidade no país.
         Será que daqui a 15 anos – véspera do bicentenário da independência do Brasil – alcançaremos a meta almejada? No estado do Rio, 20 mil crianças não frequentam salas de aula por falta de professores. O índice nacional de reprovação é de 11,9%. A distorção idade/série é de 17,3%.
         O que faz uma boa escola? Muitos fatores, entre os quais disciplina, ou seja, não tolerar atrasos de alunos; contar com professores efetivos e qualificados (mestrado, doutorado ou especialização) trabalhando em tempo integral; remunerar dignamente o corpo docente; aumentar a permanência do aluno na escola; contar com oficinas de música, teatro e artes plásticas; laboratórios de idiomas, ciências e informática; grêmio estudantil; salas de leitura e vídeos etc.
         O MEC promete que o governo haverá de liberar, ainda este ano, R$ 30 milhões para as escolas urbanas, e R$ 66 milhões para as rurais. As 5 mil escolas com piores índices no Ideb terão direito, cada uma, a módicos R$ 6 mil para investirem em infra-estrutura, material pedagógico e apoio metodológico. Por meio de sistema de educação a distância – a Universidade Aberta do Brasil –, o MEC pretende qualificar 2 milhões de professores do ensino básico.
         Recente pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em parceria com o governo federal, comprovou que 82,4% dos alunos reprovados no ensino fundamental culpam a si mesmos pelo atraso. A mesma pesquisa indica que a culpa não pode ser atribuída às crianças. Ela recai na falta de motivação dos professores, na péssima infra-estrutura das escolas e no fato de diretores e professores não darem importância à realidade pessoal e familiar do estudante.
         Não se pode culpar uma criança de 10 anos pelo fracasso escolar. No entanto, se isso não fica claro para ela, se não se sente valorizada na escola e querida pelos professores, ficará com sentimento de derrota, o que pode revoltá-la ou levá-la ao desânimo precoce.
         A maioria de nossos estudantes chega à 4ª série com dificuldade de leitura e redação. Falta estímulo ao professor, muitas vezes submetido a carga excessiva de trabalho, sem condições de aprimorar sua qualificação e humilhado por salário irrisório.
         Em fins de junho, o Banco Mundial divulgou o relatório Jovens em situação de risco no Brasil. As conclusões preocupam: nossos jovens matam em morrem mais, iniciam a vida sexual cada vez mais cedo e são vulneráveis às drogas. Dados da Secretaria Nacional da Juventude mostram que, hoje, 9,5 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos não estudam e estão desempregados. Desses, 4,5 milhões não completaram o ensino fundamental. É entre esses que se inclui a maioria dos assassinos e dos assassinados.
         O que fazer diante desse quadro aflitivo? Pressionar o poder público? Sim. Votar ano que vem em vereadores e prefeitos comprometidos com a prioridade à educação? Também. Mas por que não reunir as famílias de seu bairro ou comunidade e promover um mutirão para a melhoria das escolas públicas da região? Por que não assegurar instrução e/ou emprego a um ou dois desses 9,5 milhões de jovens vulneráveis ao narcotráfico?”.

(FREI BETTO. Escritor, autor de Alfabetto – autobiografia escolar (Ática), entre outros livros, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de agosto de 2007, caderno CULTURA, página 10).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 9 de janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Duelos entre opiniões
        Há uma palavra magistral de Jesus, no templo de Jerusalém, dirigida aos judeus, que acreditaram nele, conforme narra São João no seu Evangelho: “Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Essa palavra é a indispensável evocação de que existem princípios e valores inegociáveis que permitem à humanidade aproximar-se da verdade que liberta. Trata-se de um ensinamento que não impede a diversidade das opiniões, mas adverte a respeito da verdade como condição insubstituível para que haja autêntica liberdade.
         Compreende-se que há um perene e exigente percurso na busca da aproximação da verdade. Ninguém dela é dono ou a possui na sua inesgotável inteireza. Afastar-se desse entendimento produz consequências sérias e abomináveis, como os fundamentalismos religiosos, políticos e outros, que muitas vezes são usados para justificar a perpetração de crimes, atentados e outros tipos de desrespeitos à dignidade humana. Especialmente na contemporaneidade, diante de tantos avanços e conquistas no âmbito dos direitos e cidadania, não se pode encastelar a verdade nas estreitezas de parâmetros culturais, religiosos e políticos que cegam e tentam justificar ações inaceitáveis.
         As muitas ameaças à liberdade e à cidadania que ocorrem pelo mundo, em razão de opiniões equivocadamente elaboradas – particularmente as que nascem de convicções religiosas e políticas –, são motivo de grande preocupação. Não menos preocupantes são os cenários que se formam no interior de culturas e nações quando mecanismos degradam o erário, a violência ceifa vidas, as disputas desumanas intermináveis destroem sonhos e possibilidades. Cada relato de violência, vandalismo, atentado e outras abominações deve levar a um exame de consciência e a uma postura mais cidadã que indiquem a necessidade permanente de se buscar a verdade para balizar opiniões.
         Esse processo educativo e civilizado é uma urgência no contexto do mundo contemporâneo que, na contramão de seus avanços e conquistas, continua a alimentar barbáries e inseguranças. Uma triste realidade em que cada pessoa busca justificar suas ações apenas a partir do próprio ponto de vista. O distanciamento da verdade é o caminho mais curto para todo tipo de terrorismo, corrupção e atentados contra grupos, sociedades e culturas.
         O exercício civilizatório que o contexto atual preocupante exige é desafiador, urgente e precisa ser considerado em todos os âmbitos. Não pode restringir-se às estratégias de Estado em defesa de sua integridade, ou às instituições na preservação de suas identidades, nem mesmo à família, na sua indispensável condição de ordenar a sociedade. Inclui também, e de modo muito especial, a postura cidadã de cada um diante do outro, da realidade, dos projetos e das diversas situações. Não se pode viver da alimentação indiscriminada e facilitada pelos meios todos disponíveis de um duelo entre opiniões. Continuar nesse caminho é viver sob a ameaça constante de uma “bomba-relógio”, que pode explodir aqui ou em qualquer outro lugar, com danos de toda a natureza para povos, culturas, grupos e indivíduos, acabando drasticamente com projetos, sonhos e possibilidades.
         É preciso averiguar e mapear fundamentalismos de todo tipo, lacunas sérias em processos educativos, para desenvolver programas e dinâmicas que garantam aos indivíduos, nas diferentes culturas e realidades, um sentido de apreço pela verdade. Somente assim será possível a convivência de opiniões que contribuam para as escolhas e para a adoção de novas posturas, pois prevalecerá a perspectiva de que o mais importante, e está acima de tudo, é o respeito a direitos e a dignidades. Oportuno lembrar o que diz o papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano: “A Boa Nova de Jesus Cristo – por meio de quem Deus renova todas as coisas – é capaz de redimir também as relações entre os homens, incluindo a relação entre um escravo e o seu senhor, pondo em evidência aquilo que ambos têm em comum: a filiação adotiva e o vínculo de fraternidade em Cristo”.
         Essa referência é um exemplo de princípio e valor que deve incidir sobre dinâmicas culturais e modificá-las na direção de uma incontestável qualificação. Trata-se de um ensinamento que promove a fraternidade, gera a paz e sustenta o sentido de igualdade que convence sempre, mentes e corações, sobre a importância de se respeitar a integridade do outro, seus direitos e a riqueza de sua cidadania. É preciso investir permanentemente nas dinâmicas sociais, políticas, religiosas e culturais presididas por valores e princípios capazes de preservar a vida em sociedade. Assim, será possível trilhar o caminho da verdade, distante das tiranias que sempre serão fonte de prejuízos e dos inaceitáveis “duelos entre opiniões” que comprometem o bem, a justiça e a paz.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches – a propósito, a revista VEJA desta semana traz fecunda matéria sob o título UMA BELA SINFONIA PUERIL: “ Nos três primeiros anos de vida de uma criança, o cérebro realiza mais conexões neurais do que na idade adulta. Um dos campos da medicina que mais avançam é o da investigação de como os estímulos podem exercitar os mecanismos mentais de um bebê...”; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO! 
        


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, A FELICIDADE E A ACUPUNTURA URBANA

“O que é o Eu? É a felicidade
        Um dos métodos de meditação oriental consiste em atentar para os pensamentos, mas sem viajar neles. Sem interferir, só observando e focando o intervalo entre eles. Cada um de nós pode ter uma média de 40 a 50 pensamentos por minuto. E seu houver muita dedicação, após um tempo, pode ser atingido de quatro a cinco pensamentos por minuto. O estado “vazio” mental aumenta. Para manter essa média é necessário continuar meditando. Esse resultado permite uma maior percepção de si mesmo. Ir além é quase impossível, exige muito talento.
         No Oriente e no zen-budismo, atingir o estágio sem pensamentos automáticos e repetitivos, estar no “vazio”, consiste em um estado de atenção plena, em inglês “mindfullness”. O Eu no Oriente é o “vazio” – conceito ainda sem tradução. É o conhecimento original com o qual nascemos e perdemos com a inserção na sociedade. Os monges, os samurais, os militares, os executivos japoneses aprendem esse método para agir com o máximo de foco sem se distrair com pensamentos. Mas esse Eu oriental é uma redução do Eu real e natural. É obtido pela denegação (nega que nega), pela repressão profunda e consciente das emoções. O resultado é um estado de impassividade.
         Aqui, no Ocidente, criamos um Eu idealizado com o qual nos identificamos. É uma projeção social, não é a natureza humana. O Eu é maior, de grande potencialidade, conforme pesquisas recentes das neurociências, das imagens cerebrais, da biologia comportamental, da psicologia experimental. Essa é a visão externa. Para a visão interna, uma proposta é apreender o Eu oriental e expandir os conhecimentos. Pode ser visualizado como o estar “vazio” e aprender que não sou meus pensamentos. São criações do Eu, mas não é o Eu. Também não sou: sensações, sentimentos, emoções e ações.
         As ações podem se estruturar em comportamentos, criando condutas, nos identificando. Mas não são o Eu, são criações do Eu. Por exemplo, nós temos medo de sentir medo. Esse estado ansioso vem do Eu, é parte dele, e pode ser percebido como uma possibilidade de crescimento. Se consigo avançar e identificar o medo como um fracasso, tenho condições pela minha natureza de poder enfrentar, fugir, ficar paralisado ou buscar ajuda. Aprender a lidar com a ansiedade de modo proativo é um método para visualizar o Eu. Estar diante do medo e permitir sentir angústia, desespero, pode fortalecer uma abertura para o Eu real e natural.
         O zen-budismo propõe não nomear conceitos. Aprender o que é, sem palavras, direto na essência. O estado “vazio” é o lugar onde não há nada, como escreveu o samurai Musashi, não faz parte do conhecimento cultural. Só pode ser alcançado pelo desenvolvimento da atenção sobre si mesmo, o que exige coragem, até que a atenção plena começa a parecer um sentimento de muita liberdade. O “vazio” é um estado de paz no Oriente. Aqui, no Ocidente, queremos felicidade: paz com alegria – o que é muito difícil.”

(Jorge Raggi. Empresário, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de dezembro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 15).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 7 de janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FABÍOLA CARVALHIDO, arquiteta e urbanista da CSul Desenvolvimento Urbano, e que merece igualmente integral transcrição:

“Acupuntura urbana
        Assim como o corpo humano, uma cidade também apresenta uma importante característica que a torna mutável e adaptável às necessidades das pessoas ao longo do tempo: a organicidade. Podemos comparar a dinâmica de um centro urbano às funções exercidas pelos diferentes sistemas que compõem um indivíduo. E, se formos mais a fundo nessa analogia, nos é permitido afirmar que, assim como as pessoas, as cidades também apresentam “fraquezas” e estão suscetíveis a “doenças” que, se não tratadas, podem comprometer o funcionamento do todo. É por isso que, há alguns anos, diversos arquitetos, urbanistas e estudiosos da área do mundo inteiro trabalham com um conceito que propõe modificar a relação entre o ser humano e o espaço que ele ocupa, refletindo em melhorias para toda a cidade: a acupuntura urbana.
         Criado pelo arquiteto e teórico social francês Marco Casagrande, o termo faz parte de uma teoria que combina o desenho urbano e a milenar terapia chinesa. O grande pensamento por trás da ideia é: da mesma forma como a acupuntura estimula pontos específicos do corpo que se irradiam para o resto do organismo, nas cidades também é possível realizar pequenas intervenções que são sentidas em toda a tessitura urbana. Essas ações pontuais, embora pequenas, podem promover impactos significativos na cidade e contribuem para resolver questões que vão muito além da mobilidade urbana ou acessibilidade – fatores importantes para o bom funcionamento da cidade – mas contemplam, também, pilares como sustentabilidade e socioafetividade.
         Existem alguns exemplos no Brasil que servem para ilustrar a aplicabilidade do conceito de acupuntura urbana, como a reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo, que refletiu em toda a área do Parque da Luz, dando vitalidade ao local; e a revitalização do Pelourinho, em Salvador, que incluiu a instalação de bares, lojas, pequenos comércios, escolas e a recuperação de fachadas e prédios, atraindo um maior movimento de pessoas e gerando mais visibilidade ao Centro Histórico. Em Belo Horizonte, podemos considerar como principal modelo de acupuntura urbana o Complexo da Pampulha, que foi projetado, inicialmente, para ser apenas um ponto de retenção de água, mas, devido ao seu conjunto arquitetônico, acabou se convertendo em um símbolo da capital mineira, famoso em todo o mundo.
         O conjunto de ações pontuais e de revitalização, que podem mudar progressivamente a dinâmica de áreas urbanas degradadas e/ou abandonadas, também é uma estratégia para regiões que ainda serão desenvolvidas. Nesse caso, a intervenção ou acupuntura urbana funciona como um catalisador da ocupação e apropriação do espaço. O resultado a médio e longo prazo é a consolidação da ocupação e a apropriação dessas regiões por parte da população, que passa a conferir diferentes usos a esses locais, entendendo-os como parte importante do conjunto da cidade.
         Há uma tendência geral em analisar os problemas dos centros urbanos com certo pessimismo, pois ainda persiste a ideia de que a única maneira de resolvê-los é realizando obras grandiosas e projetos megalomaníacos. No entando, a acupuntura urbana mostra que, com pequenas “agulhadas” nos lugares certos, é possível irradiar uma nova vitalidade para todo o conjunto e promover melhorias gradativas nesse corpo humano que é a cidade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, noticia a mídia que “o jornalista Paulo Francis, por exemplo, já havia afirmado em 1997 no programa Manhattan Conection que existia esquema de roubalheira na Petrobras. Ao contrário de ver o início de uma investigação séria sobre a acusação, foi o próprio condenado em um processo de US$ 100 milhões...”); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo o projeto de Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO! 
        



sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, A BUSCA DE MOTIVOS PARA COMEMORAÇÃO E O PODER DA EDUCAÇÃO

“Eu não sei o que comemorar
        Quando eu era criança, comemorava como criança: bolo, velas, refrigerantes e votos de ‘parabéns para você’, e se recebia presentes, eram presentes de criança.
         Hoje, adulto, 39 anos, busco motivos adultos para comemoração.
         Ontem, não minha infância, mas dia 27, houve a solenidade de proclamação dos vencedores do primeiro turno. Um até mandou representante.
         Essa proclamação seria um bom motivo para comemoração se os dois candidatos dessem provas concretas, irrefutáveis, de que enxergam, em toda sua amplitude, o verdadeiro universo de suas responsabilidades: - o Brasil. É difícil entender?
         Não é difícil compreender, penso eu, que procuramos e necessitamos de um Presidente que se aproxime de um Estadista. Que saiba, ao menos, que do governante de uma Nação não é muito esperar sabedoria e inteligência, competência e honestidade, austeridade e imaculabilidade, para que se possa assimilar bem sua verdadeira missão: - governar pelo e para o Povo. Isso mesmo, com maiúscula, para não se excluir ninguém: - nem branco, nem negro; pobre ou rico; trabalhador ou empresário; profissional liberal, autônomo ou industrial; religioso ou ateu; criança ou velho; tarefeiro ou artista; bancário ou banqueiro; aluno ou professor; militar ou civil; modelo ou mendigo; menor ou maior de rua; dona-de-casa ou dos de meios de comunicação. Penso que já seja suficiente para entender o que quero dizer: - governa-se para todos, sem exceção. Todos são igualmente importantes e responsáveis pelos destinos da Nação.
         Antes de continuar, permitam-se uma profissão de fé: creio em Deus, creio no Brasil e creio na humanidade.
         Parece-me que os graves problemas que assolam o Brasil, advêm de causas elementares. Ou elementar é minha inteligência. Senão vejamos:
         Os políticos não vêem a política como a arte de bem governar. Mas, sim, no geral, como um meio de se locupletarem às sombras magnânimas da Pátria. O preço disso não é outro senão a grande massa de brasileiros sem voz e sem vez, analfabetos, famintos, maltrapilhos, doentes, ignorantes dos seus mais elementares direitos. O governo se desvia dos grandes instrumentos que dariam dignidade e até felicidade a esses nossos irmãos: saúde, saneamento básico, previdência social, educação, habitação, transporte, emprego e salários justos e, por que não, lazer. Não é favor, é obrigação do governo. Ou não, senhores governantes?
         O povo não pede nada disso. É a dignidade humana que o exige. Tudo isso e muito mais: espírito público, patriotismo e grandeza de alma, são atributos inalienáveis dos que se lançam a cargos públicos, eletivos ou não.
         A função pública, para mim, se aproxima, e muito, de um sacerdócio.
         E, de passagem, por em falar em sacerdócio: será que a Igreja se esquece de sua sagrada missão, que é curvar-se ao ministério de Deus? Para mim, leigo e pecador, sem formação específica – Teologia e Filosofia, para ficar só em duas disciplinas, tenho que a Igreja é Católica, Apostólica e Romana. Esclareçam-me senhores Teólogos da Libertação, pois sei que os partidos políticos são instituições temporais, mundanas e finitas. Ou não? Por favor...
         Os empresários sabem que ‘o mais importante numa empresa são os seus recursos humanos’. Grandes profissionais, grandes empresas. O que se sente bem consigo mesmo, produz melhor. Ou não, Esclareçam-me, por favor, senhores administradores, empresários e industriais.
         Os grandes latifundiários sabem que as cidades não sobreviverão sem os campos produtivos. E mais, que os campos só serão produtivos com investimentos: homens, insumos e máquinas. E sabem também que, sem um mínimo de conforto e segurança, sem uma vida digna, o homem não fica no campo. Ou não? Esclareçam-me, por favor senhores, proprietários.
         Eu estou procurando, já disse, motivos para comemoração.
         Os policiais sabem que não são juízes, mas insistem em fazer justiça com o gatilho. A sociedade, é claro, não pode prescindir da missão árdua da Polícia. A dignidade humana também exige que haja justiça. O império deve ser o das leis. Ou não? Esclareçam-me, por favor, senhores agentes da Segurança.
         Os Congressistas, até a pouco também Constituintes, sabem que ainda devem muito: a Carta Magna ainda não está acabada. Onde estão e o que andam fazendo deputados federais e senadores? Trabalhando pela democracia? Parlamentarismo x Presidencialismo não é tarefa para 1993? E os graves problemas atuais, que exigem dedicação, patriotismo, coragem? Ou não? Esclareçam-se, por favor, senhores Congressistas.
         Os eleitores sabem que devem escolher o melhor. O momento é grave, já disse, e é também histórico. Aguardamos 29 anos. (Não me lembro mais se comemoração dos meus 10 anos foi servido bolo ou fel...). A omissão, a indiferença, são atitudes por tudo imperdoáveis, condenáveis, porque sinais de covardia. O País espera que cada um cumpra o seu dever. Foi dito, cada um. É difícil de entender? É o eleitor, o cidadão livre que decide. O voto é único e uno. O eleitor deve entender que a cabine eleitoral é um templo sagrado, sob o império de sua consciência. São os destinos da Pátria que estão em suas mãos, dependem do seu voto. Ouça, esclareça-se e decida-se com independência, autenticidade, sinceridade. Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Ou não? Esclareçam-me, por favor, senhores eleitores de todo o Brasil.
         Desculpem-me, é o meu aniversário e eu não sei o que comemorar. Sei, todavia, qual deveria ser o meu melhor presente: a consolidação definitiva da Democracia e o império da Liberdade e da Justiça.”

(MÁRIO LÚCIO MOREIRA, texto datilografado e esquecido em meios a tantos artigos e livros, por ocasião de meu aniversário em 28 de novembro de 1989).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de julho de 2009, caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de GERALDO MAGELA TEIXEIRA, reitor do Centro Universitário UNA, e que merece igualmente integral transcrição:

“Educação para a cidadania
        Diante do farto noticiário de escândalos em todas as estâncias do Estado Brasileiro, sentimos necessidade de uma verdadeira revolução nos costumes públicos. São escândalos federais, estaduais e municipais. Envolvem também, empresas públicas e privadas. Com isso todo o tecido social se esgarça e se banaliza o crime contra o erário.
         Neste ano que antecede as eleições mais decisivas do país, caberia uma campanha pela educação dos eleitores, tendo em vista que só eles serão capazes de fazer uma revolução nos costumes políticos, banindo da vida pública os assaltantes do tesouro. É evidente que os nossos políticos têm uma certa representatividade, pois a própria sociedade é vulnerável na medida em que pratica pequenas corrupções, tentando corromper o guardinha de trânsito encarregado das multas ou procurando políticos para pequenos privilégios. É dessa massa que é feita a maioria dos nossos políticos. Daí meu apelo por uma educação para a cidadania a partir da juventude.
         Todos nós, que condenamos os escândalos devemos ter autoridade para tal, nos policiando diante das tentações de abusos de atestados médicos para nossas falhas no serviço público e mesmo privado, na apropriação ou danificação de equipamentos públicos. Isso é fruto do patrimonialismo, por meio de instituições que ali se instalou com o colonizador, por meio de instituições como as capitanias hereditárias.
         Interessante é notar como os políticos mais vulneráveis a procedimentos inadequados sempre estão apelando para o termo republicano. Nem sei se sabem que a República, aqui como em Roma, veio como reação aos desmandos do império no trato da coisa (res) pública.
         O Partido Republicano, surgido no império, pleiteava, entre outras coisas, o fim dos privilégios da oligarquia, da fraude nas eleições, das benesses para os amigos do rei. Mas foram necessários poucos anos para que os verdadeiros republicanos se convencessem de que o imperador era inatacável e morria pobre num hotel de segunda em seu exílio na França. Enquanto isso, os mesmos privilegiados do império se apropriavam do Estado republicano. Além do mais a República foi aos poucos dominada pela ética weberiana, que justifica certa corrupção, desde que isso facilite o alcance de um bem público maior e mais abrangente. Norberto Bobbio contesta, exigindo que a chamada ética da responsabilidade não se afaste dos princípios morais, nem considerando a grandeza dos fins, ou as grandes coisas, segundo Maquiavel.
         A purificação da sociedade brasileira não será tarefa de pouco tempo, nem de uma geração, nem pode ser alcançada apenas em tempo de eleições, quando ocorrem, essas campanhas saneadoras. É uma tarefa permanente que exige constante vigilância. Não pode restringir-se à elaboração de uma lista de candidatos confiáveis. Primeiro porque tais campanhas têm se demonstrado inócuas, segundo porque muitos candidatos recomendados costumam decepcionar. Precisa ser uma campanha permanente, a começar da escola, do lar, das igrejas, das ONGs. Deveríamos ter consciência de que a amizade cívica, de que fala Aristóteles, faz parte da formação dos nossos jovens.
         Tivemos poucos governantes preocupados com tarefa tão urgente e tão prioritária. Depois de José Bonifácio, que, infelizmente, só comandou o país por quatro anos, nenhum outro governo teve um projeto harmonioso de nação contemplando a educação nacional e a criação de um Estado moderno e probo.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, e mais uma vez, a pedagogia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot: “... Corruptos e corruptores precisam conhecer o cárcere e precisam devolver os ganhos espúrios que engordaram suas contas, à custa da esqualidez do tesouro nacional e do bem-estar do povo. A corrupção também sangra e mata...”); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo o projeto de Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO! 
        


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, A FORÇA DA EDUCAÇÃO E A SOLIDEZ DA FAMÍLIA

“Educação, o maior capital
        Houve um tempo em que o conhecimento intelectual era privilégio de pessoas abastadas e de família de classe alta. Cultura e conhecimento estavam diretamente ligados a dinheiro. Mesmo na era contemporânea, estudar, fazer uma faculdade, especializar-se eram prerrogativas de pessoas ricas. Felizmente, isso está mudando. O conhecimento e a cultura estão cada vez mais acessíveis a todos.
         Aqueles que desejam aprender, evoluir, acrescentar saber à própria vida já conseguem isso, com mais ou menos esforço, o que é muito bom. Contudo, ainda existe o desafio de incutir nas pessoas o verdadeiro valor do conhecimento, o prazer e os privilégios gerados. A assimilação precisa se dar, desde a infância, em um processo crescente de aprendizado e conscientização sobre a importância em nossa vida por meio das famílias. Capital financeiro nem sempre está associado a capital intelectual.
         Ainda nos deparamos com situações em que o capital financeiro é colocado como mestre, fator decisivo para todas as etapas do ensino. O consumismo exagerado leva muitas pessoas a entenderem a riqueza financeira como o bem maior, a mola mestra de toda a estrutura humana, seja cultural, seja social, seja familiar. Essa compreensão errada é levada para as salas de aula: da educação infantil à faculdade. Esse conceito de superioridade baseado no capital financeiro é uma ideia infeliz, mas muito mais presente do que se pensa.
         Existem alunos que se julgam acima das regras escolares e até do poder público, porque têm boas condições financeiras. Entendem que o dinheiro da família pode “comprar” notas e garantir sua aprovação. Entretanto, se assim fosse, o que seria dos que têm menos recursos financeiros? Estariam fadados ao analfabetismo, à clausura cultural, à eterna inanição mental de conhecimento? Não é assim que se dá o aprendizado. Ele se faz pelo anseio constante de crescimento, pelo prazer de se sentir mais capacitado a cada passo dado, mais perto da realização de sonhos, de metas estabelecidas. Isso é uma questão de princípios aprendidos e desenvolvidos com a família, com exemplos e com a decisão de querer aprender.
         Há aqueles que consideram o dinheiro moeda de compra do troféu dos vencedores. Entretanto, essa não é uma disputa de poder, de riqueza material, mas uma escalada de esforço e perseverança que tem não apenas um, mas vários vencedores, diversos primeiros lugares, porque o sucesso é dos que acreditam no próprio potencial e fazem da educação a ferramenta para esculpir a vitória almejada. Em contrapartida, muitos estudantes que passam por privações financeiras e têm enorme garra para aprender. Eles não consideram as dificuldades como impedimentos, mas como obstáculos a serem vencidos na corrida rumo ao pódio. Para eles, a educação é o bem maior e é ela que vai conduzi-los a um estilo de vida melhor. Não existe cansaço ou falta de tempo que os impossibilite de cumprir as etapas do currículo escolar.
         Os pais devem ensinar aos filhos o valor da educação como capital intelectual. A família é a fonte de valores do indivíduo e deve, antes de tudo, semear o valor do conhecimento e a paixão pelos estudos. A educação (leia-se conhecimento) é um tesouro que ninguém pode nos tirar, um dos bens mais valiosos que os pais podem deixar aos filhos como herança.”

(CHRISTINA FABEL. Diretora pedagógica do Colégio ICJ, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 31 de dezembro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 5 de janeiro de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral transcrição:

“Família, aposta decisiva
        A família tradicional nos Estados Unidos está em crise. Menos da metade dos lares norte-americanos é chefiada por casais casados. No Brasil, embora em escala menor, a situação não é menos chamativa. O mapa da família brasileira mostra uma tendência comportamental na linha da informalidade matrimonial. O debate está aberto. O legislador e a sociedade devem buscar ativamente maneiras de apoiar o casamento? Ou, ao contrário, devem oferecer mais direitos e benefícios às fórmulas alternativas de uniões?
         Para a jurista Leah W. Sears, ex-presidente da Suprema Corte do estado norte-americano da Geórgia, “um direito de família que não incentiva o casamento ignora o fato de que ele é associado a um amplo leque de resultados positivos tanto para crianças como para adultos”. A seu ver, “os índices elevados de fragmentação da família estão prejudicando as crianças”. E conclui a juíza: “Claro, muitos pais solteiros fazem um excelente trabalho e precisam do nosso apoio. Mas acredito que construir uma cultura do casamento saudável é uma preocupação legítima para o direito da família”.
         Concordo com a opinião de Leah W. Sears. A balança do bom senso pende para o lado da família. E a experiência confirma a percepção. Estudos mostram que crianças criadas fora do casamento estão mais propensas a abandonar a escola, usar drogas e envolver-se em violência. O Child Trends, um instituto de pesquisa norte-americano, resumiu: “Filhos em famílias com um só dos pais, filhos nascidos de mães solteiras e filhos criados na nova família de um dos pais ou em relações de coabitação enfrentam riscos maiores de ficarem pobres”. Contra fatos não há argumentos.
         Não sou juiz de ninguém. Mas minha experiência profissional indica a presença de um elo que dá unidade às manifestações antissociais de inúmeros adolescentes: a fragilização das relações familiares. Há exceções, é claro. Desequilíbrios e patologias independem da boa vontade dos pais. A regra, no entanto, indica que a criminalidade infantojuvenil costuma ser o resultado de um silogismo que se fundamenta em premissas bem concretas. A desestruturação da família está, de fato, na raiz de inúmeros problemas.
         Falta de limites e tolerância mal-entendida produziram muitos estragos. Alguns educadores, pais e psicólogos gastaram a maior parte dos seus esforços no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que os adolescentes se sentissem bem consigo mesmos. O saldo é uma geração desorientada e vazia. A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores. A formação do caráter, compatível com o clima de autêntica liberdade, começa, aos poucos, a ganhar os contornos de solução válida. A pena é que tenhamos perdido tanto tempo para redescobrir o óbvio.
         O resgate da juventude passa pelas políticas públicas de recuperação da família (família sadia é, em todo o mundo, a melhor receita para a paz), pelo retorno ao bom senso e pela valorização do casamento. Os conflitos e as disfunções familiares devem ser levados em conta. Mas ao Estado, como é lógico, compete fortalecer, e não enfraquecer, o núcleo familiar. Trata-se de uma responsabilidade que deve ser exigida e cobrada pela sociedade e pelos eleitores. A crise ética que castiga amplos segmentos da vida pública brasileira, fenômeno impressionante e desanimador, tem seu nascedouro na crise da família. A ausência de valores e princípios éticos no âmbito da educação familiar deixa marcas profundas.
         Os homens públicos não são fruto do acaso, mas de sua história. Crianças que crescem num ambiente de busca obsessiva de dinheiro, conforto e poder, sem limites e balizas éticas, serão os delinquentes da vida pública de amanhã. A corrupção sem precedentes que fustigou o noticiário do ano passado e promete novas emoções no ano que começa tem raízes profundas. O trabalho da imprensa, do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal é importante, sem dúvida. Mas a virada ética, consistente e verdadeira, começa na família. A todos, sem ceder ao pessimismo, excelente 2015!”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a pedagogia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot: “... Corruptos e corruptores precisam conhecer o cárcere e precisam devolver os ganhos espúrios que engordaram suas contas, à custa da esqualidez do tesouro nacional e do bem-estar do povo. A corrupção também sangra e mata...”); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!  

         

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, A IGUALDADE NA MEDICINA E OS PROMOTORES DA PAZ (5/19)

(Janeiro 2015 = Mês 5; Faltam 19 meses para a Olimpíada de 2016)

“Uma medicina igual para todos
        Há três tipos de doenças. As primeiras são as de causa conhecida, mas que não requerem tratamento, porque quase todos os casos evoluem para a cura naturalmente. Os exemplos típicos são muitas viroses como a dengue e a gripe. A seguir, estão aquelas de patogenia parcialmente entendida, mas que há procedimentos clínicos ou cirúrgicos para curá-las, como a tuberculose e a apendicite. Finalmente, temos o maior grupo, representado pelas chamadas patologias crônicas degenerativas, as quais não sabemos nem a causa e nem a cura. Tão antigas quanto a humanidade e mesmo sabendo como explicá-las integralmente, são realizadas cirurgias ou usados medicamentos para minimizá-las. Podemos citar o diabete, a hipertensão arterial, o câncer, a aterosclerose e suas devastadoras consequências, como o infarto e o derrame.
         O maior desafio da medicina são essas moléstias crônicas incuráveis e sempre houve um grande esforço na busca da cura. Os médicos e hospitais particulares disputam a preferência da população e fazem publicidade prometendo tratamentos avançados. Num passado recente, a moda entre os mais endinheirados era procurar tratamento no exterior, especialmente nos Estados Unidos. Por ocasião da enfermidade de um presidente eleito, que faleceu antes de tomar posse, buscaram um especialista nos EUA e que voltou no mesmo avião, depois que diagnosticou que não havia nada mais a ser feito. Também o cantor sertanejo que morreu de câncer foi aconselhado nos EUA a se tratar aqui, pois o resultado seria idêntico. Alguns tipos de câncer podem ser curados apenas quando são extirpados no início da doença.
         Hoje, presenciamos o desfile de celebridades entrando e saindo dos mais equipados e caros hospitais privados. Enquanto isso, os pobres que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) formam filas reclamando ou, em casa, pela televisão, assistem a este vaivém de famosos se lamentando de não terem a mesma sorte. Mas eles não sabem que o resultado final do tratamento é o mesmo, quando falamos de patologias crônicas degenerativas. Quando temos um doente ilustre são arranjadas entrevistas mostrando que ele se recupera – pura publicidade. Em caso de moléstia crônica degenerativa, nunca existe melhora e relação a ela, embora possa parecer assim quando episódios de agudização são tratados. O paciente sempre recebe alta pior do que entrou.
         Muitos são seduzidos pela propaganda e se dão mal. Recentemente, um político internou-se num desses hospitais para fazer um checape, foi vítima de uma complicação num exame invasivo e faleceu. Pelo menos disso os pobres são poupados. O sentimento de impotência diante das enfermidades crônicas degenerativas, que assombra o sono dos médicos, não é uma exclusividade daqueles que atuam no SUS. As taxas de mortalidade no SUS são maiores porque os critérios de internação são mais rígidos e os doentes sempre chegam num estado mais adiantado da doença.
         Qualquer médico tem acesso rápido às mais modernas técnicas do mundo. Em medicina, ninguém faz milagre, o que pode ser realizado no luxuoso hospital particular também pode ser feito no SUS. O que não se consegue tratar num também não tem cura no outro. Os hospitais particulares não são instituições de caridade, são empresas que vivem do lucro. Os hospitais privados podem incluir exames sofisticados na propedêutica, mas isso não acrescenta nada no tocante à cura. Com a informática, a medicina evoluiu muito no diagnóstico, mas em relação ao tratamento dos velhos e mortais males degenerativos crônicos anda a passos de tartaruga. Os médicos ainda têm muito que aprender.”

(PAULO TIMÓTEO FONSECA. Médico, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 5).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Promotores da paz
        O ano de 2015 chegou e, como disse Carlos Drummond de Andrade, “quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial”. Todos têm a oportunidade singular de rever o caminho percorrido nos últimos 365 dias e planejar um recomeço urgente e necessário. Não se convencer da necessidade de reiniciar, em parâmetros novos e com dinâmicas não tão equivocadas, é escolha que compromete a paz almejada. É não assumir a maravilhosa responsabilidade, confiada por Deus a cada pessoa, de se promover a paz, celebrada mundialmente no dia 1º de janeiro. Com o início do ano-novo, um pacto precisa ser assumido para além de superstições, remanescendo mais do que o gosto da champanhe, reluzindo mais os fogos de artifício que já se apagaram: pela perpetuação do abraço fraterno, que ajusta as diferenças e as transforma em riquezas, é preciso promover a paz.
         O papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz desde ano-novo, sublinha que é urgente recuperar a consciência de que “nossa vocação comum é colaborar com Deus e com todas as pessoas de voa vontade para a promoção da concórdia e da paz no mundo”. É hora de reconhecer e assumir o comportamentos que sejam dignos de nossa condição humana e cidadã. O ano de 2014, já passado, registrado nas páginas da história pode ser, embora com as lamentações inevitáveis do que nele ocorreu, uma oportunidade de ouro para que a sociedade brasileira renasça das cinzas, como uma fênix. Muitas cinzas foram produzidas e deixaram desolações abomináveis. Cenários de corrupção se multiplicaram, em razão da perda do sentido autêntico do dom da vida e do segredo da simplicidade como remédio para a ganância.
         Como conseqüência, cresceu a globalização da indiferença e aumentou o medo que empurra, na sua força paralisante, para o cuidado egoísta de si, dos seus e das suas coisas. Permanecem esquecidos os pobres, uma vergonha nacional, que nem um tratamento compensatório pode encobrir e deixar de incomodar governantes, religiosos, cidadãos e construtores da sociedade pluralista. A busca pela paz requer, no Brasil e no mundo, a sensibilidade e o empenho de cada cidadão para que prevaleçam novas posturas. Sem essa novidade, entre outras ameaças, corre-se o risco de uma irreversível deterioração do nosso tecido cultural, que tem tudo para ser construtivo e igualitário. Uma cultura edificada com a colaboração de personagens históricos, tempos e etapas, privilegiada em sua natureza, que sempre oferece indicações sobre o caminho certo a ser seguido e a conduta cidadã a ser adotada.
         É urgente o despertar de uma consciência nacional que faz cada pessoa assumir a tarefa e a missão de ser promotor da paz. Não basta um grupo, um segmento, uma confissão religiosa, alguns projetos – trata-se de um dever de todos. Esse despertar não é um simples hino, nem uma manifestação passageira. Não basta um protesto, nem mesmo as investigações indispensáveis e as inadiáveis punições. É preciso reconhecer com simplicidade de aprendiz os muitos sinais de morte que transformam, aceleradamente, o tecido de nossa cultura em violência, dependência química e em outros males. Gradativamente, são perdidos os sentidos da fraternidade e da concórdia.
         Lançar o olhar sobre a realidade e tratá-la adequadamente deve ser prioridade para evitar o comprometimento dos projetos que impulsionam na direção do bem. O papa Francisco, na sua mensagem pela paz, adverte que “há alguns de nós que, por indiferença, porque distraídos com as preocupações diárias, ou por razões econômicas, fecham os olhos”. Pois é hora de abri-los bem. Caso contrário, a mediocridade vai empurrar a sociedade para um estado gravíssimo de escravidão, amenizado pelos luxos sem sentido, pelas esnobações de todo tipo e pelo atraso que faz crescer o abismo entre ricos e pobres. A alegria, o bem e a beleza podem ajudar na reconstrução da sociedade.
         O ano começou com a posse de governantes e parlamentares. Se esta virada pela promoção da paz começar por eles – devedores da confiança da representatividade que os obriga a servir o povo – e incluir os mais diversos segmentos, todos ancorados na convicção de que bom é ser honesto, será dado o salto esperado na sociedade brasileira. Todos têm o dever de se reconhecer e de agir como promotores da paz.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, e mais uma vez, o petróleo em si não mancha as mãos dos trabalhadores; mas as mãos dos corruptos mancham até o petróleo...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!


O BRASIL TEM JEITO!