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sexta-feira, 8 de março de 2013

A CIDADANIA, A SOCIEDADE RESPONSÁVEL E UMA NOVA POLÍTICA

“Crime e responsabilidade

Tantos crimes, tragédias e mortes levam-nos a refletir sobre a responsabilidade de nossos atos cotidianos. Há convicção clara de que uma irresponsabilidade na nossa conduta pode gerar sofrimentos. Graves violações de direitos, tragédias e mortes expõem diariamente atitudes de pessoas que parecem não fazer essa reflexão crítica sobre a responsabilidade dos seus atos. A causa seria a sensação de impunidade e a visão equivocada do livre-arbítrio? Pode-se tudo? A recente e terrível tragédia em Santa Maria (RS), que já matou 238 jovens numa boate, mostra essa faceta perversa da irresponsabilidade humana. Quais são os responsáveis por esse trágico episódio, com tantos sofrimentos e mortes? Autoridades do poder público, o músico que acendeu o sinalizador, os donos da boate ou todos eles juntos e ainda outras pessoas? O episódio aponta uma sucessão de omissões e irresponsabilidades diversas. Indignados, os brasileiros clamam por justiça e por mudanças para que nunca mais episódios terríveis como esse voltem a ocorrer.
Felizmente, no Brasil, cresce um forte movimento pela responsabilização dos atos dos cidadãos comuns e dos políticos. Na política destaca-se a importante Lei Ficha Limpa, aprovada pela mobilização de milhões de brasileiros contra a corrupção e a impunidade no país. Um marco importante da democracia e da valorização dos costumes na política. Com ela, muitos políticos corruptos já foram expurgados e a sociedade está mais vigilante no cumprimento dessa lei.
Muito importante também é a Lei de Responsabilidade Fiscal e a valorização do dinheiro público. Com ela os mandatários municipais, estaduais e federal são obrigados a manter uma relação proporcional entre o endividamento contraído e a receita líquida disponível. Isso diminui nepotismo e corrupção e, de certa forma, obriga buscar melhores soluções para o controle dos gastos públicos. Existe até a Sociedade pela Responsabilidade Pública, que nasceu por causa da tragédia ocorrida na Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011, com a morte de quase mil pessoas. Outra tragédia terrível que poderia ter sido evitada com maior compromisso e responsabilidade das autoridades.
No âmbito privado, a Lei Seca com o uso do bafômetro agora pune com mais rigor ainda os motoristas que dirigem alcoolizados e provocam acidentes e mortes. Beber e dirigir caracteriza risco assumido. No entanto, penso que essa lei precisa ser aprimorada com bom programa de prevenção. Pune-se o uso da bebida no trânsito, mas permite-se a veiculação apelativa de propagandas na TV? Limitar conteúdos e associar bebidas a acidentes, doenças e mortes como se fez com o cigarro é necessário. Outra importante política de responsabilização criminal é a Lei Maria da Penha, que pune homens agressores de mulheres desde 2006. A responsabilização criminal de pais por falta de pagamento de pensão alimentícia é também fato importante recente. Em 2012, decisão inédita do Tribunal de Justiça de SP condenou pai a pagar indenização de R$ 200 mil por abandono afetivo de filha. Paternidade e maternidade necessariamente envolvem também cuidados, afeto e amor. Essa decisão simboliza a humanização e o reconhecimento da importância da afetividade  na formação de personalidades saudáveis.
E nas relações conjugais, as violações de direitos podem gerar indenização? O menosprezo do cônjuge, o abandono afetivo; as humilhações e as traições configuram motivos para o pedido de indenizações? A reciprocidade de respeito e lisura nas relações sociais e conjugais é fundamental. Outra mudança recente extremamente positiva no Brasil é exigir responsabilidade no exercício da profissão. O julgamento e a penalização de erros médicos, de erros de enfermeiros e de outros profissionais são importantes fatos atuais no Brasil.
Se exigimos e lutamos por lisura na política, como conceber cidadãos fichas sujas? O exercício do cidadão ficha-limpa deve começar em casa e na escola. Cidadãos e profissionais precisam entender que qualquer dano, sofrimento ou morte por eles causados são passíveis de indenização e de punição penal. Valores, sentimentos e vida precisam ser mais considerados na sociedade, concretizando a importante formação de responsabilidade cidadã e de uma Justiça cada vez mais humanizada, atenta aos sofrimentos e às violações de direitos no Brasil.”
(VIVINA DO C. RIOS BALBINO. Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 2 de março de 2013, caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“A política já não é a mesma
        
          O ano de 2014 começou em fevereiro de 2013. O lançamento de candidaturas à Presidência da República pelas principais legendas do país, PT e PSDB, respectivamente Dilma Rousseff e Aécio Neves, e a divulgação de um novo partido, a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, que carrega a representatividade dos votos da última eleição, são sinais que merecem atenção. Não se trata da mera antecipação do calendário eleitoral, de resto uma operação tão antiga quanto a serra. A cada quatro anos, a eleição presidencial começa dois anos antes.
         O que há de distinto é o sentido dos dois fenômenos. Por um lado, apontam para a continuidade histórica das disputas partidárias brasileiras; por outro, pela sempre esperada renovação da gramática política, com novo estilo de organização ideológica e de relação o poder. A definição mais estreita de democracia, no âmbito eleitoral, aponta para a disputa de diferentes projetos congregados em partidos com vocação para o poder, que se dispõem ao julgamento do cidadão em eleições livres. Ganha quem tiver mais votos (de acordo com a legislação de cada país em patamares distintos) e, para governar, criam-se alianças táticas e estratégicas que viabilizem transformar a maioria em consenso.
         Nesse sentido, o primeiro sinal preocupante é dado pela forma como a polarização PT e PSDB se apresenta para a sociedade. Em diversos países, e mesmo no próprio Brasil em outros momentos da história, a tendência ao bipartidarismo não paralisava a política, antes servia de acicate. Nos EUA há um estilo republicano e um democrata; nosso país já foi meio liberal, por exemplo; o par esquerda e direita é operacional em vários contextos. No entanto, PT e PSDB, em vez de escancarar suas visões de mundo, parecem ver mais proveito em criticar os adversários. É esse equívoco que explica as picuinhas recentemente lançadas de lado a lado.
         A comemoração dos 10 anos de governo do PT, com o discurso de palanque de Lula, e a resposta dada pela PSDB, via Aécio Neves na tribuna do Senado, foram muito mais centrados nos defeitos do outro que nos méritos próprios. Não se trata de estratégia, mas fuga à política. O que os dois lados queriam mostrar é que tinham os melhores candidatos. Lula lançou Dilma em meio a bravatas; o PSDB parece ter aceitado Aécio, mas cobrou dele um comportamento agressivo que não combina com sua trajetória e o torna antipático. Ficaram assim, os dois candidatos, vendidos pelo marketing eleitoral extemporâneo.
         O momento é bom para começar o jogo político que vai levar à eleição. O cidadão precisa é de mais verdade e consequência. Num país efetivamente democrático, o que interessa é a explicitação dos próprios projetos, não o desdouro dos adversários. O eleitor precisa saber que PT e PSDB têm concepções distintas de política, economia, administração pública, saúde, educação, habitação, segurança pública etc. Cada partido defende uma maneira distinta de comandar os destinos do país, dentro dos mesmos marcos institucionais. Cabe ao eleitor escolher a mais eficiente e justa e cobrar para que a máquina opere naquele sentido.
         No Brasil centrado nos dois partidos, há projetos que se contrapõem. O PSDB é um partido liberal e, por isso, defende a propriedade acima de tudo, desconfia do Estado, aposta na desregulamentação das relações de trabalho, defende as privatizações, não acredita na prioridade das políticas de distribuição de renda nem nos institutos de democracia direta, como conselhos e orçamento participativo, por exemplo. Em matéria de ações populares, defende sobretudo a liberdade de imprensa e alguns programas compensatórios mais urgentes e pontuais. A fórmula é apostar na força da economia e em seu potencial de crescimento, que, consequentemente, derramaria seus portentos, com o tempo, para a maioria das pessoas. Acho que os tucanos aceitariam, em tese, essa linha de atuação, mas parecem ter pejo em defender abertamente algumas dessas teses.
         Por outro lado, o PT é um partido desenvolvimentista, que não vê o Estado como problema, mas como parte da solução. Cabe ao Estado, frente a um cenário de desigualdade, atuar para a inclusão do maior número de pessoas nos benefícios da civilização, o que tem como estratégia a distribuição de renda, de propriedade e de poder. A distribuição de renda incrementaria o mercado interno e frearia a tendência a concentração, criando a tão falada nova classe média, que passa a consumir e fazer girar a roda virtuosa do consumo interno. Ao lado da distribuição de renda, o partido defende instâncias diretas de participação e ações no âmbito dos direitos humanos como instrumentos de democracia popular. Os petistas, acredito, se reconheceriam nessas linhas, ainda que também prefiram se esconder em alguns momentos de suas opções, sobretudo no que diz respeito às reformas patrimoniais.
         Depois de um par de governos tucanos e petistas, já era para ficar patente essa distinção de projetos. No entanto, os dois lados parecem mais aferrados na crítica que na afirmação. O que cabe agora ao cidadão é exatamente julgar os dois projetos, dentro da atual conjuntura da economia brasileira e do cenário internacional, e dizer que rumo pretendem dar para os problemas que os dois partidos ainda não resolveram. Os tucanos não fizeram do Brasil um país mais rico; os petistas não conseguiram acabar com a injustiça social. Cabe ao próximo presidente ou presidenta, desde a campanha, ser honesto sobre a utilização dos instrumentos do Estado que terá em mãos, a partir da escolha livre dos eleitores. O Estado brasileiro não dá conta dos problemas atuais, em termos de infraestrutura e justiça social. Precisa ser reformado. É isto que o cidadão precisa saber: o que o PT desenvolvimentista vai fazer, o que o PSDB neoliberal vai fazer.
         O jogo de só cantar vantagem e acusar o oponente já cansou. O que não pode é o PSDB negar a política de privatizações e o PT esconder a questão da inflação. É preciso ser sincero sobre o que será feito com a saúde pública, com a educação, com a cultura. E para quem serão destinados os recursos do povo administrados pelo Estado. Os partidos pensam diferente e precisam assumir sua singularidade.

NOVA CONFIGURAÇÃO A novidade do partido lançado por Marina Silva ainda está para ser compreendida, mas de certa forma dialoga com o impasse apresentado acima. É exatamente pelo fato de não termos partidos ideológicos assumidos que as siglas se tornaram de fancaria. Ao propor a Rede Sustentabilidade, Marina disse que seu partido não é de direita nem de esquerda. Mais que fuga da ideologia, trata-se de um jeito diferente de angular a questão política. Pode ser que exista algo novo por aí.
         A etiqueta de esquerda e de direita, que de certa forma pode ser colada aos grandes partidos em disputa, responde por uma lógica do tudo ou nada. O partido que ganha leva tudo, o perdedor passa a organizar a oposição. Esse modelo tem se mostrado, muitas vezes, distante da realidade complexa de nossos tempos, em que muitos temas atravessam várias dimensões, da economia ao comportamento. Questões como gênero, políticas afirmativas e preservação do meio ambiente são de esquerda ou de direita? Neoliberais ou socialistas?
         É a impossibilidade de responder a perguntas assim que tem levado a novas formas de exercício da política. Em vez de disputar cargos na estrutura convencional, muitas pessoas preferem se reunir em torno de temas específicos, que, depois de enfrentados, levam à autodissolução das organizações criadas apenas para aquele fim. É o caso de jovens que protestam contra o desemprego na Europa, contra a caretice em BH, contra o preconceito em todo o mundo. Essas pessoas querem fazer política, mas não querem saber de partidos.
         O momento é rico. Os grandes partidos são chamados à honestidade intelectual sob pena de se tornarem obsoletos. As pessoas se motivam a fazer política por outras vias e inauguram outras formas de sociabilidade. A política já não é mais a mesma. Como sempre, os políticos convencionais talvez sejam os últimos a perceber que o mundo mudou. O ano que vem, que começou este ano, promete.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, com um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação; saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada, esgotos tratados, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; turismo; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; minas e energia; esporte, cultura e lazer; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional – , eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 1 de março de 2013

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO E OS DESAFIOS DA ENERGIA ELÉTRICA (45/15)


(Março = Mês 45; Faltam 15 meses para a Copa do Mundo de 2014)

“Obsessão nacional
        
         ‘O Brasil tem o desafio de elevar a qualidade da sua educação correndo contra o tempo. O conhecimento é fator decisivo para o desenvolvimento social e econômico e a afirmação soberana das nações. Quantos excelentes profissionais o Brasil deixa de ter porque não lhes dá acesso ao ensino?’ O lamento do então presidente Lula na posse do Conselho Nacional de Educação, em 2004, continua atual e impõe políticas e estratégias inovadoras e ousadas que rompam as amarras que impedem a evolução e a qualificação de níveis gerais de escolaridade no Brasil.
         São perversos os indicadores e muito baixos os nossos níveis de competitividade. Se temos 12,5% dos trabalhadores com formação superior completa, na Coreia do Sul e no Japão os percentuais vão a 40% e a 45%, respectivamente. Em cada grupo de 100 mil habitantes, temos seis engenheiros; os Estados Unidos têm 24; o Japão, 25. Com imensos desafios em saneamento básico, temos 1,9 médico por mil habitantes; a Alemanha, referência em prevenção de saúde, tem 3,6. Impossível que evoluam os indicadores do ensino superior no Brasil sem a mudança do foco do Estado, responsabilidade intransferível com a educação de nível médio. Temos apenas 47% de nossos trabalhadores com ensino médio completo; os EUA, 90%; o Japão, 96%. Se menos de 50% dos brasileiros de 15 a 17 anos estão cursando o ensino médio é porque não saíram do ensino fundamental ou abandonaram seus estudos, envolveram se com a criminalidade, as meninas com a gravidez precoce.
         Mais de 60% dos jovens que terminam o ensino médio não ingressam na faculdade. O analfabetismo funcional é assustador: um terço dos brasileiros de 15 a 64 anos apenas consegue entender mensagens simples ou realizar operações matemáticas elementares. Amplia-se a sociedade dos “nem nem”: 19% dos jovens de 18 a 25 anos não estudam, nem trabalham, nem procuram emprego. A escola não é atraente, não prepara para a vida nem para o trabalho qualificado. Está desconectada da vida real, limitada às salas de aulas, professores mal remunerados, com autoestima baixa, sem apoio tecnológico. A escola “tranca o século21 do lado de fora”.
         O ensino médio tem de ser uma obsessão nacional, obsessão das famílias e das políticas públicas. Se o Estado não realizar avanços extraordinários na oferta e na qualificação do ensino médio, como avançar no ensino superior? O Plano Nacional de Educação fracassou ao prever que em 2007 o Brasil teria 30% de seus jovens de 18 a 24 anos em cursos superiores de graduação. Em 2012, o país tinha cerca de 7 milhões de matrículas no ensino superior, o que equivale a apenas cerca de 3,5% da população estimada. Não podemos continuar a jogar o futuro para o futuro. No passado, o Brasil sempre foi o país do futuro. Em 10 anos, o percentual de sul-coreanos com diploma universitário subiu de 24% para 40%. Por que, no Brasil, continuamos incapazes de ser o que temos que ser? O que nos impede de ter 10 milhões de matrículas em ensino superior de excelência em 2015?”
(RUY CHAVES. Diretor de Integração do Grupo Estácio de ensino superior, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de janeiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 23 de fevereiro de 2013, Caderno PENSAR & AGIR, páginas 14 a 17, de autoria de LUIZ VICENTE GENTIL, que é professor da Universidade de Brasília (UnB) e engenheiro com pós-doutorado em marco regulatório elétrico, e que merece igualmente integral transcrição:

“O grande paradoxo
        
         Trabalho de janeiro, realizado na Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade de Brasília (UnB) mostra a relação dos problemas e opções de soluções para tornar competente o sistema elétrico brasileiro. Eles estão ligados à infraestrutura, à governabilidade e ao marco regulatório. Todos eles, problemas fáceis de resolver no curto, médio e longo prazos, diante do potencial energético do país, ainda não explorado de forma profissional. O Brasil tem a maior reserva mundial de energia elétrica em forma de água, urânio, biomassa, combustíveis fósseis (carvão, óleo e gás) e vento. São tecnologias maduras e economicamente viáveis. No entanto, ainda consegue produzir uma das mais caras eletricidades do mundo, com racionamentos e apagões.
         O baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, de apenas 1,1%, está em parte relacionado ao alto preço da tarifa de energia. A China, país emergente com menos recursos  energéticos que o nosso e com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, cresceu 7,7% em 2012. A tarifa é uma das variáveis do sucesso, quando menor, o que não ocorre aqui. O nosso consumidor paga US$ 141 por megawatt; nos Estados Unidos, o valor é de US$ 74 por megawatt e, no México, o valor é de US$ 45 por megawatt. Mesmo com a redução média de 11% na tarifa, anunciada pelo governo e a vigorar a partir deste mês, a energia continua sendo ruim e cara. Ajuda, mas não resolve, pois o quadro não mudará pela Medida Provisória 579 diante da profunda intervenção e insegurança institucional que causou.
         Em 10 de novembro de 2009, milhões de brasileiros ficaram sem eletricidade; em 25 de outubro de 2012, foram 53 milhões. O apagão de 2001 durou 14 meses, obrigou o racionamento de energia. Foi causado pela falta de planejamento, baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, tarifa cara e ausência de investimentos na infraestrutura de energia. Para resolver esta crise institucional, a Lei 10.848, de 15 de março de 2004, com o arcabouço jurídico paralelo, tentou criar um novo marco regulatório. O Ministério das Minas e Energia (MME, 1960), a Operadora Nacional do Sistema (NOS, 1998), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel, 1996) e o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE, 1997) já existiam em forma embrionária. Foram criados em 2004 a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Isto criou estabilidade institucional. Porém, nestes últimos nove anos, a situação voltou a se deteriorar, com a falta de investimentos, má gestão, apagões, racionamento, eletricidade cara – uma das mais custosas do mundo –, apesar dos esforços do governo federal em dar uma redução nas tarifas e mensagens à população.
         No Brasil, em 36 anos, o crescimento da população foi de 81% e o aumento da demanda por energia elétrica, de 646%. Ou seja, oito vezes mais. Isso causou uma torção em toda a infraestrutura do Sistema Elétrico Brasileiro (SEB), deixando para trás variáveis importantes, como transmissão, geração e distribuição de energia boa e barata, como a das hidrelétricas, novos investimentos, marco regulatório adaptado às atuais realidades, travamento administrativo, não só pela burocracia, e cipoal de leis, decretos, portarias e resoluções difíceis de decifrar. O aumento do consumo total de energia no Brasil foi de 240%; já o consumo de eletricidade aumentou 645%, ou seja, a demanda elétrica foi 2,7 vezes maior que a demanda global por energia. Nesse mesmo período de 36 nos, a população mundial cresceu 70%; já a demanda por eletricidade aumentou bem mais: 327%.
         Nos últimos 12 anos, a migração de 40 milhões de brasileiros das classes D e E para a consumidora classe média C gerou uma demanda adicional média anual de 4,5%. Isso sobrecarregou o sistema sem a correspondente expansão nas linhas de transmissão. Para uma população que cresce 0,8% ao ano, há uma grande pressão por energia per capita. Nestes últimos anos, a sociedade e a demanda cresceram, mas a infraestrutura e os serviços ficaram obsoletos. Isso significa que os sintomas que existiam em 2000 estão de volta, rondando a sociedade com um provável novo apagão. E com o agravamento de a ameaça aparecer no delicado momento de renovação das concessões das hidrelétricas e da rede básica, que somam 82% de toda a geração elétrica que tem hoje o país. Embora isso seja pouco divulgado na mídia, existe o risco de os investidores internacionais abandonarem ou venderem os ativos de geração, distribuição e transmissão pelo simples fato de o negócio elétrico não ser mais compensador. Como prova disso, basta lembrar que o complexo Eletrobras perdeu 58% de seu valor na Bovespa desde a emissão da intempestiva MP 579; isso é considerado um perigo em termos econômicos. Seria prudente se houvesse melhor estratégia política de longo prazo em relação a uma tema de tamanha envergadura e risco, como esse da segurança nacional do abastecimento elétrico.
         Não só países emergentes, mas também os desenvolvidos têm lições a dar. O terremoto e o tsunami de março de 2011 no Japão reduziram a presença da geração nuclear na matriz energética daquele país, encarecendo a tarifa de energia elétrica pela entrada, na geração, de termelétricas a gás, e reduzindo a competitividade industrial, a exportação e o PIB do Japão em 2012. As termelétricas brasileiras junto com as hidrelétricas a fio d’água são uma mistura explosiva para o Brasil; de um lado, pela pequena geração obtida em relação à total capacidade das hidros; de outro, pela tarifa elevada da energia produzida pelas térmicas.
         Para criar a base de um novo sistema elétrico brasileiro, este trabalho da Unicamp e da UnB apresenta caminhos, fruto de um avançado estudo de dois anos nos segmentos de marco regulatório, governança e políticas que o nosso país pode e deve seguir para obter o desejado: eletricidade barata, farta, constante e que beneficie de forma justa os players, que representam 18% da energia demanda no Brasil.
         A primeira ação mostra que países maduros operam no mercado livre e que os emergentes, ou subdesenvolvidos, preferem o controle estatal, sem transparência, com racionamento, uso da máquina pública para interesses político-partidários e produção de energia cara, como no Brasil. Nos países maduros, as agências reguladoras não são do Estado; elas são independentes para beneficiar o coletivo e não grupos, seja do governo ou de corporações privadas. Alguns países praticam o marco regulatório em forma de pêndulo, optando, de tempos em tempos, pelo liberal ou pelo regulado, conforme o partido político naquele momento no poder. O Brasil, pela sua economia e evolução social, já deveria estar no mercado livre de eletricidade.
         A segunda ação trata da necessidade de as hidrelétricas gerarem energia com reservatório e não a fio d’água, modelo de produção no qual existe um grande investimento para gerar apenas um pouco de energia, em função do rio original, que, por sua vez, é produtivo apenas na época das águas. A produção a fio d’água é uma aberração de política pública para um país como o Brasil, de grandes dimensões territoriais e carente de energia barata, farta e ambientalmente correta, como a gerada pela água. Tal situação obrigou o país a ter termelétricas para compensar  a falta de eletricidade das hidros. É o momento de refazer a lei que tanto prejudica a população: a da geração a fio d’água.
         A terceira linha de ação é o Net Metering (NEM) associado ao conceito de Geração Distribuída (GD). Ou seja, geração mais próxima à demanda – não só para fontes renováveis, como também para os outros combustíveis – e com menos de dez megawatts de potência instalada por unidade. Os Estados Unidos, desde 2005, e o Brasil, via Aneel, já têm algo nesse sentido, porém ainda tímido.
         Na conta de energia, temos 45% de impostos, taxas, encargos e subsídios. O governo desonerou alguns deles, entre os mais de 30 existentes, com redução média de 30% a partir deste mês. Poderia ter eliminado 50% deles em um horizonte de 10 anos. O mais pesado é o ICMS, que varia de 18% até 33%, pois nas regras do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) cabe aos estados decidir isso. Esse estudo defende também a redução, em 50%, em 10 anos, do ICMS cobrado da conta de energia. Faz isso por dois motivos: primeiro, porque a redução desse imposto é proporcional ao crescimento socioeconômico do país. Segundo, porque na matriz da receita estadual o ICMS da conta de luz não tem impacto significativo.Mas esbarra nas alianças político-partidárias entre União e estados, em detrimento dos consumidores industriais e residenciais. Em função disso, indústrias eletrointensivas, principalmente multinacionais, estão as portas no Brasil e se mudando para outros países  de energia mais barata. Em algumas delas, esse insumo chega a corresponder a até 40% dos custos, superior até ao da folha de pagamento.
         As 105 pessoas físicas e as 65 pessoas jurídicas entrevistadas nesse trabalho da Unicamp/UnB apontam as licenças ambientais como um dos entraves à geração. São documentos que podem ser caros, demorados e até abusivos, expedidos pelas secretarias estaduais de meio ambiente e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Esse trabalho sugere que a lei seja corrigida e as licenças não demorem mais de 30 dias corridos para a sua liberação ou reprovação; algumas demoram até um ano e sete meses. Os entrevistados registram que até rota de pássaros e alguns peixes podem embargar obras gigantes, de muitos milhões de reais, já aprovadas e em construção.
         A última ação para ajudar o Brasil a entrar nos trilhos é da governabilidade. O quadro político não tem agilidade proporcional à rapidez das mudanças sociais, tecnológicas e econômicas exigidas. Entre elas está o fato  de que a expansão do consumo de energia é maior que a da infraestrutura. Como o Estado tem pouco caixa, procura se unir à iniciativa privada. Entre outros efeitos desse quadro, surge um vácuo legislativo, uma desaprovação popular e um desempenho político nem sempre transparente. O governo às vezes precisa emitir medidas provisórias casadas com o Legislativo. Os entrevistados nessa pesquisa da Unicamp/UnB mostram um certo cansaço com relação a fatos do mercado de eletricidade como a burocracia, o corporativismo, o uso da máquina para fins duvidosos, o alto risco com baixo lucro, assim como uma desconfiança em um horizonte mais largo. A maioria dos segmentos sociais percebe a existência deste quadro, mas se diz sem condição de mudar a situação. Talvez um novo apagão, como o de 2001, traga um pouco de bom senso, vontade política e consciência acerca do bem comum e da necessidade de cooperação suprapartidária entre os que decidem os destinos da cara eletricidade paga pelos 193 milhões de brasileiros.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, graves e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
    
a)   a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
 b)  o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito, como quantificar as nefastas consequências de um apagão de 14 meses, como o de 2001?);
c)  a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; assistência social; previdência social; habitação; emprego, trabalho e renda; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; logística; minas e energia; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; turismo; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro nacional; comunicações; qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...    

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, A HORA DA BARBÁRIE E A FÉ NA JUVENTUDE


“A barbárie que nos cerca
         
        Basta olhar em volta para perceber que estamos perdendo o senso de humanidade. A cobrança, cada vez mais reiterada, de atenção aos direitos humanos parece ter se tornado um brado obsessivo, uma espécie de neurose que habita a alma das pessoas inconformadas. Defender os valores universais de dignidade tem se tornado quase uma forma de assumir certa “ingenuidade” frente à complexidade do mundo. Só os puros, tolos e alienados perdem tempo com “direitos humanos”.
         Essa situação tem criado um território propício para o cinismo. Em nome de um pretenso realismo, passamos a assistir a lutas violentas como se fossem esporte sadio; a acompanhar a privação da liberdade de usuários de drogas, como se fizesse parte de uma ação protetora; assistir a filmes  verdade histórica em nome de uma ética das conveniências ideológicas, como Argo, que transforma a ação política nacionalista iraniana em puro exercício de terrorismo.
         Em cada um desses eventos a ideia de homem é jogada para fora da luz da razão em nome de uma valor exterior ao homem, quase sempre de natureza econômica. A própria economia, que já foi um refúgio da racionalidade, se perde hoje na inversão absoluta de prioridades: volatiza os empregos (e com isso as oportunidades humanas reais de uma vida digna) enquanto materializa as estratégias de rendimento em torno do mundo especulativo e rentista.
         O que mais espanta nesse cenário é a sensação de concerto, de ordenamento, de um certo cumprimento de expectativas. As pessoas, por um mecanismo decorrente do esvaziamento da política, parecem ter mergulhado numa crise de segurança que vem se firmando nos frágeis esteios que ainda restam. Assim, como a derrocada parece próxima (seu filho pode ser o próximo desempregado ou, pior ainda, o drogado da esquina), o melhor é se aferrar em certezas que partem da autoridade.
         Há uma passagem no clássico Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol, que parece ter sido pensado para nosso. Alice é convidada a participar do julgamento e ouve, aos brados, a rainha mandar cortar a cabeça do acusado. Ao cobrar o julgamento, recebe como resposta: “Primeiro a sentença, depois o julgamento”. Esta é a justiça que nos acompanha hoje em dia: primeiro sentenciamos de morte, depois derramamos nossa piedade na forma de um julgamento vicário. Para o bem e para o mal. Há sentenças que condenam e que libertam.
         É assim que chamamos os usuários de drogas de bandidos ou vagabundos; tachamos os iranianos de Argo de terroristas; consideramos, na via inversa, os torturadores americanos como soldados; nomeamos os caçadores de lucro a qualquer custo (sobretudo do emprego e do pagamento de impostos) de empresários; damos aos latifundiários que envenenam a terra e a economia o título nobre de agroempresários; entronizamos os especuladores urbanos que empalidecem o horizonte como empreiteiros; elogiamos os jornalistas que mentem promovendo-os a formadores de opinião. Primeiro cortamos a cabeça, depois explicamos: é tudo para o bem da sociedade.
         O princípio de Alice é operacional em várias áreas. Ele reforça o julgamento social ao mesmo tempo que ameniza a consciência individual. No caso de usuários de crack, em vez de combater uma economia que gera excedentes descartáveis, acusamos o indivíduo de desvios morais e psicológicos. Para acolhê-los, oferecemos a internação compulsória, que nada mais é que prisão ilegal (primeiro a sentença, depois o julgamento) e que tem se mostrado ineficiente ao longos dos anos.

BELO E JUSTO A mesma lógica está presente na forma como as artes e entretenimento vêm se firmando como terreno de sedimentação da ideologia. Em Argo e A hora mais escura não é preciso muita atenção para ver como a humanidade é dividida em dois times, com nítida primazia moral de um dos lados. Tudo que é construção histórica, como mostrou Edward Said em Orientalismo,  ganha foros de naturalização no cinema americano. Os árabes são potencialmente perigosos, o islamismo é terrorista, os fins (a defesa dos interesses econômicos na região) justificam os meios (entre eles a tortura).
         Que essa lógica sirva aos interesses políticos e militares se entende, tem sido assim durante os séculos. O que chama a atenção é o fato de setores que sempre estiveram na ponta da defesa do humanismo, como a arte e o conhecimento, se tornarem hoje meros apêndices daqueles interesses. Quem imaginaria que, em 2013, fosse necessário gritar contra a tortura? Denunciar a naturalização de seu uso? Assistir impassivelmente ao seu exercício como se fosse apenas mais um dos instrumentos aptos para situações de risco?
         O que mais impressiona é o fato de ambos os filmes, Argo e A hora mais escura, se prestarem a esse papel, mesmo se tratando de produções extremamente benfeitas do ponto de vista artístico e técnico, o que explica os prêmios que vêm ganhando mundo afora. O divórcio entre ética e estética está se tornando uma clivagem. Um mundo, como queria Platão, habitado pela beleza, justiça e bondade está cada vez mais distante.”
(JOÃO PAULO. Editor de Cultura, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de fevereiro de 2013, caderno PENSAR, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 15 de fevereiro de 2013, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Fé na juventude

A Igreja Católica, rumo à Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no Rio de Janeiro em julho de 2013, promove a 50ª edição da Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e Juventude”. Nesse caminho, a Igreja consolida sua opção preferencial também pelos jovens, consciente dos desafios que tem de enfrentar para renovar sua linguagem, articular seu diálogo, inserir-se nas redes sociais e garantir espaço privilegiado aos jovens na experiência do seguimento de Jesus Cristo, sua mais importante tarefa evangelizadora.
Para a Igreja Católica, particularmente no Brasil, este é um ano da juventude. As grandes metas incluem a oferta de caminhos para que os jovens experimentem o encontro pessoal com Jesus Cristo, na condição de discípulos missionários, com uma presença mais ativa nas comunidades de fé. Assim, é possível fazer crescer os dons e talentos da juventude, ampliando sua participação na busca de uma sociedade mais solidária, lugar de convivência respeitosa e comprometida com o bem comum.
Essa aposta tão importante no caminho deste tempo de quaresma está iluminada pelo horizonte comovedor e evangelicamente rico anúncio feito pelo papa Bento XVI, de que deixará o ministério petrino dia 28. Um acontecimento que remete a Igreja, de modo muito forte, pela envergadura espiritual e moral do papa, ao mais genuíno da simplicidade evangélica. As inteligências são desafiadas na busca de razões que, elaboradas, ancoram a decisão de tal porte e tão impactante. As mentes também ganham uma luminosidade incomum que exige assentamento na mais qualificada significação da condição de simples “servos da vinha do Senhor”, como o papa Bento XVI dizia no dia de sua eleição como sucessor de Pedro, em 2005.
Ainda muito importante é considerar o desafio posto a todos os que servem na Igreja, impulsionados a uma corajosa revisão na ocupação de cargos e lugares, no desempenho de responsabilidades e na coragem saudável de não gabar-se de nada e nem se considerar, absolutamente, mais importante ou privilegiado. Na apresentação de sua renúncia, o papa Bento XVI diz que, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância na vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o evangelho é necessário vigor, do corpo e do espírito.
Não há inteligência que substitua, estratégias que se equiparem ou ações políticas e diplomáticas que alcancem a estatura e força transformadora que virá sempre de que cultiva esse acenado vigor espiritual. Neste momento oportuno, a Igreja percorre o caminho rico e interpelador do tempo da quaresma, iluminada pelo brilhante testemunho de fé e de profunda intimidade com Deus, na vida e ministério do papa Bento XVI. É chamada a avaliar, compreender e dar uma resposta adequada ao tesouro inesgotável de sua fé. Entre muitos capítulos que estão sendo repassados, em busca de posturas e respostas novas, está o compromisso emanado da opção preferencial pelos jovens. A efetivação dessa aposta, indispensável, inadiável e sempre atual no caminho evangelizador da Igreja, é um enorme desafio. Supõe muitas e profundas mudanças.
O intocável tesouro da fé, buscado cada vez mais na sua riqueza inesgotável, para ser aprendido e vivido, desafia o caminho pedagógico e formativo da Igreja, exigindo mudanças iluminadas por uma compreensão capaz de produzir nova lucidez e intuir novas respostas. Não se trata apenas de multiplicar alguns eventos, retomar práticas ou simplesmente dar algumas indicações. Os desafios são amplos. A cultura midiática, por exemplo, requer um conhecimento mais apurado, com resultados na abordagem das muitas e novas linguagens, para garantir aos jovens a vivência de experiências interativas, diálogos e, particularmente, testemunhos.
Importante, sobretudo neste tempo de quaresma e na vivência da Campanha da Fraternidade, é cultivar, pela simplicidade evangélica, uma espiritualidade capaz de fortalecer sempre a opção preferencial pelos jovens.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas  e oportunas  abordagens e reflexões que acenam, em meio a maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente no mês de seus nascimento –, ate a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

         

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, OS TABLETs, A ESCOLA PÚBLICA E A LUTA DE UM VENCEDOR


“TABLET invade ESCOLA PÚBLICA
     
A modernização chega às salas de aula da rede estadual de ensino. Tablets e lousas digitais farão parte este ano da realidade dos 62.541 professores do nível médio e das 3.753 escolas, que receberão ainda 3.752 lousas interativas. Os aplicativos dos equipamentos vão mudar desde a apuração da frequência dos estudantes até o conteúdo trabalhado em sala de aula. A tradicional chamada passará a ser toda informatizada e feita pelos aparelhos. Em disciplinas como física, química, matemática e português, recursos audiovisuais e didáticos sairão das telas dos eletrônicos para tornar  o aprendizado muito mais interessante.
     “O professor de determinado conteúdo poderá, por meio da capacitação ou do próprio interesse dele, descobrir e encontrar funcionalidades do aplicativo, que traz exemplos pedagógicos práticos de como ensinar”, afirma a subsecretária de Informações Educacionais da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Sônia Andere Cruz. A novidade virá acompanhada de treinamento diferenciado para os educadores familiarizados com as novas tecnologias e para aqueles que não a dominam.
     A capacitação será feita de forma regionalizada, respeitando os diferenciais de cada realidade. “A ideia é dar condições ao professor de usar tanto o laboratório de informática quanto os tablets no processo de ensino”, acrescenta Sônia. Ajudará também nesse processo de domínio do novo instrumento de trabalho um aplicativo que é uma espécie de manual de instrução para que os professores possam trabalhar.
     Por meio do tablet os educadores terão acesso também ao conteúdo do Centro de Referência Virtual do Professor (CRV), um portal educacional da SEE que compartilha e oferece novos espaços de aprendizagem. Filmes, exercícios audiovisuais, leitura, obras de referência e até análises e experiências dos professores são alguns dos exemplos do que poderá ser acessado da palma da mão. A biblioteca do CRV já alcançou a marca de 93 mil acessos diários.
     E se a ordem é entrar de vez no mundo da tecnologia, outra possibilidade é o banco de itens, com 78 mil pontos relativos a conteúdos informatizados do ensino médio e fundamental. Para este início de ano, há uma demanda de 10 mil novos itens, segundo a subsecretária. A partir disso, o professor pode gerar uma prova em poucos minutos, de acordo com sua necessidade.
     Outra novidade são as avaliações on-line. O projeto piloto foi feito no ano passado em 289 escolas de todo o estado, que deixaram para trás a rotina de rodar provas no papel. Este ano, outras 58 viverão a experiência de ter os alunos sentados em frente às máquinas para mostrar o que sabem.

CUIDADOS Apesar de a rede particular estar um pouco à frente na questão da tecnologia, a preocupação com o uso dessas ferramentas, assim como na rede estadual, também é frequente. No Colégio Magnum, no Bairro Nova Floresta, na Região Nordeste de BH, há até mesmo aplicativos que podem ser usados em celular, como o APP-prova. Trata-se de um jogo que reúne diversas questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e à media que o estudante acerta as respostas, ganha pontos.
     Para o coordenador pedagógico das turmas  de 6º ano ao ensino médio da escola, Willer Mello, assim como as tecnologias digitais mudaram bruscamente, a realidade do meio educacional ao poderia ser diferente. “Elas revolucionaram nossa sociedade, quebras de paradigmas ocorreram e a educação não pode ficar fora disso. Mas a ferramenta como ela é usada fará com que seja um diferencial”, diz.
     Opinião parecida tem o professor de física do ensino médio do Colégio Loyola, Gielton de Barros Lima. Nas aulas dele, softwares trabalham a matéria de maneira dinâmica e sistemas de avaliação permitem que com apenas um clique se tenha comentários de questões e a nota. “É importante todos os professores estarem ligados nessas novidades. Mas o fato de usá-las não é garanti de nada. Uma coisa é os alunos usarem na vida deles, outra é planejar e aplicá-las de maneira pedagógica. Isso ainda é um desfio”, pondera. (Colaborou Sara Lira)”.
(JUNIA OLIVEIRA, em reportagem  publicada no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de fevereiro de 2013, caderno GERAIS, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de outra reportagem de JUNIA OLIVEIRA, na mesma página, e que merece igualmente integral transcrição:

CAMPEÃO DO ENEM

A luta de um vencedor
     
A história de um menino pobre, morador da Região Metropolitana de BH, que enfrentou todas as barreiras para estudar e agora está de viagem marcada para uma das universidades mais reconhecidas da Europa, é a prova de como, com esforço e vontade, oportunidade é a pessoa quem faz. O jovem William Teixeira Miranda, de 19 anos, teve a maior nota da última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entre os estudantes da Região Sudeste. Pelo feito, ganhou uma bolsa para estudar na Universidade de Salamanca, na Espanha. Aluno do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), ele agora só pensa em concluir projetos de pesquisa, antes de dar o grande salto em sua vida.
     William faz o curso superior de engenharia de materiais no Cefet, mas se submeteu ao Enem em novembro para tentar uma vaga de seus sonhos: engenharia química na UFMG. Até segunda-feira, quando recebeu a notícia do Ministério da Educação (MEC) sobre a premiação, o plano era desistir do curso atual e fazer matrícula na UFMG. Na engenharia química, ele foi o primeiro colocado entre os cotistas que se declararam negros ou pardos e com renda familiar per capita inferior a um salário mínimo e meio – eram apenas três vagas nessa modalidade.
     Não fosse a persistência, William teria desistido em 2011, quando se formou no Cefet no curso técnico de química e, por azar, não pôde fazer o Enem. Morador de Ibirité, ele saiu de casa com três horas de antecedência, mas a forte chuva no primeiro dia do exame e um acidente na Avenida Amazonas o fizeram chegar atrasado ao Centro de BH. A prova era numa escola na Avenida Olegário Maciel e o ponto de ônibus, na Rua Guarani, bem próximo. O motorista se recusou a abrir a porta quando passou pela avenida e o tempo gasto para dar a volta fez William chegar três minutos depois de fechados os portões.
     No segundo dia, ele não desistiu, mesmo sabendo que já estava desclassificado. O jovem tirou 890 pontos na redação (num total de l mil) e errou apenas uma questão em matemática. Como passou no vestibular no Cefet, preferiu continuar. No ano passado, nova tentativa. Dessa vez, fechou a prova de redação e garantiu notas altas em todas as outras áreas.
     No ensino técnico e no superior, William se dedicou a projetos de iniciação científica e tecnológica. Parte deles foram premiações da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Fora as conquistas nas olimpíadas de outras disciplinas. Até para a Argentina ele viajou para disputar campeonatos acadêmicos.

PERSISTÊNCIA As conquistas de William são marcadas pela luta. Criado pela avó, de 64 anos, costureira e vendedora de salgados, se tornou orgulho ainda maior ao ser o primeiro da família a fazer um curso superior. Entrar no Cefet foi um desafio ao menino que estudava na Escola Estadual Imperatriz Pimenta, em Ibirité. “Os professores me diziam que eu tentaria o Cefet, mas eu nem sabia o que era isso”, lembra.
     A saga começou no 9º ano do ensino fundamental, quando não pôde se inscrever por não ter carteira de identidade. O menino começou o nível médio na Imperatriz Pimenta, e no ano seguinte, uma professora tratou de fazer a inscrição e o orientou na escolha do curso. A preparação se deu refazendo provas e pedindo aos antigos mestres que o ajudassem nas questões que não conseguia resolver.
     Vieram a primeira e a segunda chamadas e nada. A solução foi se inscrever em um edital para ocupar vagas remanescentes do 2º ano, com base apenas no histórico escolar. Mas, no dia de se matricular em uma das duas vagas de eletrotécnica, William recebeu um telefonema, o convocando em terceira chamada para estudar química. Ele até pensou ser trote. “Depois de entrar para o Cefet, vi que não podia estar em outro curso, pois esse é o curso da minha vida”, diz.
     Foi preciso apoio da assistência estudantil, uma ajuda de custo para passagens, refeições e livros. “Logo que passei minha avó ficou feliz, mas preocupada porque não sabíamos como fazer. Pode parecer bobagem, mas não teria conseguido, porque não teria dinheiro nem para comprar os livros”, conta.
     Agora é a vez de cruzar o mundo. Ele viaja em março e terá aulas de espanhol até julho, quando fará o teste de proficiência em língua espanhola. Terá uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e, depois da matrícula, será custeado pelo Santander e a Universidade de Salamanca. “Nunca esperava receber essa notícia. Vou aproveitar cada oportunidade que tiver.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas,  soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas; 
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma  manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos (por exemplo, os intermináveis congestionamentos nos grandes centros urbanos e nas principais rodovias), inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso da ordem de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (somente com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...