(Janeiro
2015 = Mês 5; Faltam 19 meses para a Olimpíada de 2016)
“Uma
medicina igual para todos
Há três tipos de
doenças. As primeiras são as de causa conhecida, mas que não requerem tratamento,
porque quase todos os casos evoluem para a cura naturalmente. Os exemplos
típicos são muitas viroses como a dengue e a gripe. A seguir, estão aquelas de
patogenia parcialmente entendida, mas que há procedimentos clínicos ou
cirúrgicos para curá-las, como a tuberculose e a apendicite. Finalmente, temos
o maior grupo, representado pelas chamadas patologias crônicas degenerativas,
as quais não sabemos nem a causa e nem a cura. Tão antigas quanto a humanidade
e mesmo sabendo como explicá-las integralmente, são realizadas cirurgias ou
usados medicamentos para minimizá-las. Podemos citar o diabete, a hipertensão
arterial, o câncer, a aterosclerose e suas devastadoras consequências, como o
infarto e o derrame.
O
maior desafio da medicina são essas moléstias crônicas incuráveis e sempre
houve um grande esforço na busca da cura. Os médicos e hospitais particulares
disputam a preferência da população e fazem publicidade prometendo tratamentos
avançados. Num passado recente, a moda entre os mais endinheirados era procurar
tratamento no exterior, especialmente nos Estados Unidos. Por ocasião da
enfermidade de um presidente eleito, que faleceu antes de tomar posse, buscaram
um especialista nos EUA e que voltou no mesmo avião, depois que diagnosticou
que não havia nada mais a ser feito. Também o cantor sertanejo que morreu de
câncer foi aconselhado nos EUA a se tratar aqui, pois o resultado seria
idêntico. Alguns tipos de câncer podem ser curados apenas quando são extirpados
no início da doença.
Hoje,
presenciamos o desfile de celebridades entrando e saindo dos mais equipados e
caros hospitais privados. Enquanto isso, os pobres que dependem do Sistema
Único de Saúde (SUS) formam filas reclamando ou, em casa, pela televisão,
assistem a este vaivém de famosos se lamentando de não terem a mesma sorte. Mas
eles não sabem que o resultado final do tratamento é o mesmo, quando falamos de
patologias crônicas degenerativas. Quando temos um doente ilustre são
arranjadas entrevistas mostrando que ele se recupera – pura publicidade. Em
caso de moléstia crônica degenerativa, nunca existe melhora e relação a ela,
embora possa parecer assim quando episódios de agudização são tratados. O
paciente sempre recebe alta pior do que entrou.
Muitos
são seduzidos pela propaganda e se dão mal. Recentemente, um político
internou-se num desses hospitais para fazer um checape, foi vítima de uma
complicação num exame invasivo e faleceu. Pelo menos disso os pobres são
poupados. O sentimento de impotência diante das enfermidades crônicas degenerativas,
que assombra o sono dos médicos, não é uma exclusividade daqueles que atuam no
SUS. As taxas de mortalidade no SUS são maiores porque os critérios de
internação são mais rígidos e os doentes sempre chegam num estado mais
adiantado da doença.
Qualquer
médico tem acesso rápido às mais modernas técnicas do mundo. Em medicina,
ninguém faz milagre, o que pode ser realizado no luxuoso hospital particular também
pode ser feito no SUS. O que não se consegue tratar num também não tem cura no
outro. Os hospitais particulares não são instituições de caridade, são empresas
que vivem do lucro. Os hospitais privados podem incluir exames sofisticados na
propedêutica, mas isso não acrescenta nada no tocante à cura. Com a
informática, a medicina evoluiu muito no diagnóstico, mas em relação ao
tratamento dos velhos e mortais males degenerativos crônicos anda a passos de
tartaruga. Os médicos ainda têm muito que aprender.”
(PAULO
TIMÓTEO FONSECA. Médico, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 5).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM WALMOR
OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que
merece igualmente integral transcrição:
“Promotores
da paz
O ano de 2015 chegou e,
como disse Carlos Drummond de Andrade, “quem teve a ideia de cortar o tempo em
fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial”. Todos têm a
oportunidade singular de rever o caminho percorrido nos últimos 365 dias e
planejar um recomeço urgente e necessário. Não se convencer da necessidade de
reiniciar, em parâmetros novos e com dinâmicas não tão equivocadas, é escolha
que compromete a paz almejada. É não assumir a maravilhosa responsabilidade,
confiada por Deus a cada pessoa, de se promover a paz, celebrada mundialmente
no dia 1º de janeiro. Com o início do ano-novo, um pacto precisa ser assumido
para além de superstições, remanescendo mais do que o gosto da champanhe,
reluzindo mais os fogos de artifício que já se apagaram: pela perpetuação do
abraço fraterno, que ajusta as diferenças e as transforma em riquezas, é
preciso promover a paz.
O papa
Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz desde ano-novo, sublinha
que é urgente recuperar a consciência de que “nossa vocação comum é colaborar
com Deus e com todas as pessoas de voa vontade para a promoção da concórdia e
da paz no mundo”. É hora de reconhecer e assumir o comportamentos que sejam
dignos de nossa condição humana e cidadã. O ano de 2014, já passado, registrado
nas páginas da história pode ser, embora com as lamentações inevitáveis do que
nele ocorreu, uma oportunidade de ouro para que a sociedade brasileira renasça
das cinzas, como uma fênix. Muitas cinzas foram produzidas e deixaram
desolações abomináveis. Cenários de corrupção se multiplicaram, em razão da
perda do sentido autêntico do dom da vida e do segredo da simplicidade como
remédio para a ganância.
Como
conseqüência, cresceu a globalização da indiferença e aumentou o medo que
empurra, na sua força paralisante, para o cuidado egoísta de si, dos seus e das
suas coisas. Permanecem esquecidos os pobres, uma vergonha nacional, que nem um
tratamento compensatório pode encobrir e deixar de incomodar governantes,
religiosos, cidadãos e construtores da sociedade pluralista. A busca pela paz
requer, no Brasil e no mundo, a sensibilidade e o empenho de cada cidadão para
que prevaleçam novas posturas. Sem essa novidade, entre outras ameaças,
corre-se o risco de uma irreversível deterioração do nosso tecido cultural, que
tem tudo para ser construtivo e igualitário. Uma cultura edificada com a
colaboração de personagens históricos, tempos e etapas, privilegiada em sua
natureza, que sempre oferece indicações sobre o caminho certo a ser seguido e a
conduta cidadã a ser adotada.
É
urgente o despertar de uma consciência nacional que faz cada pessoa assumir a
tarefa e a missão de ser promotor da paz. Não basta um grupo, um segmento, uma
confissão religiosa, alguns projetos – trata-se de um dever de todos. Esse
despertar não é um simples hino, nem uma manifestação passageira. Não basta um
protesto, nem mesmo as investigações indispensáveis e as inadiáveis punições. É
preciso reconhecer com simplicidade de aprendiz os muitos sinais de morte que
transformam, aceleradamente, o tecido de nossa cultura em violência,
dependência química e em outros males. Gradativamente, são perdidos os sentidos
da fraternidade e da concórdia.
Lançar
o olhar sobre a realidade e tratá-la adequadamente deve ser prioridade para
evitar o comprometimento dos projetos que impulsionam na direção do bem. O papa
Francisco, na sua mensagem pela paz, adverte que “há alguns de nós que, por
indiferença, porque distraídos com as preocupações diárias, ou por razões
econômicas, fecham os olhos”. Pois é hora de abri-los bem. Caso contrário, a
mediocridade vai empurrar a sociedade para um estado gravíssimo de escravidão,
amenizado pelos luxos sem sentido, pelas esnobações de todo tipo e pelo atraso
que faz crescer o abismo entre ricos e pobres. A alegria, o bem e a beleza
podem ajudar na reconstrução da sociedade.
O ano
começou com a posse de governantes e parlamentares. Se esta virada pela
promoção da paz começar por eles – devedores da confiança da representatividade
que os obriga a servir o povo – e incluir os mais diversos segmentos, todos
ancorados na convicção de que bom é ser honesto, será dado o salto esperado na
sociedade brasileira. Todos têm o dever de se reconhecer e de agir como
promotores da paz.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas;
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, e mais uma vez, o petróleo em
si não mancha as mãos dos trabalhadores; mas as mãos dos corruptos mancham até
o petróleo...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia
federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo
nesta grande cruzada nacional pela cidadania
e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e
os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O BRASIL TEM JEITO!