“Inovação
e empreendedorismo
A Universidade de São
Paulo, por meio da Agência USP de Inovação, tem o grande desafio de aproximar o
conhecimento e as pesquisas desenvolvidas pelas universidades dos setores
produtivos da economia paulista (e brasileira), como a indústria e o comércio.
A árdua tarefa envolve a quebra de antigos paradigmas, tal a distância que
esses dois setores tomaram ao longo de muitos anos, com resultados negativos
para o desenvolvimento de inovação no país. Diante dos novos desafios globais,
a aproximação é irreversível e necessária para garantir um ambiente propício
para o crescimento dos setores produtivos da economia brasileira. O papel de
gerador de inovação já é comum nas universidades de outros países. Na década de
1980, durante estudos no Massachusetts Institute of Technology (MIT), convivemos
com os padrões norte-americanos de incentivo ao empreendedorismo. Desde o
início dos estudos, os alunos da instituição tinham a responsabilidade de gerar
emprego, muito mais do que procurar uma vaga de trabalho numa grande corporação.
Desde
muito cedo, aliás, os Estados Unidos priorizaram o incentivo às inovações
tecnológicas, com o Estado norte-americano atuando como motor da inovação por
meio de diversos programas. É o caso da Apple, que recebeu financiamento
inicial do Programa de Inovação e Pesquisa para Pequenas Empresas do governo
norte-americano. Isso ocorre porque esses empreendimentos envolvem custos e
riscos que o setor produtivo não tem condições de assumir. Agora, o governo
brasileiro começou a dar passos nessa direção. O Plano Inova Empresa, que
começa a deslanchar. Nos próximos anos, ele deve movimentar recursos da ordem
de R$ 32,9 bilhões para inovação. Na mesma linha de trabalho, foi criada a
Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que segue o
modelo da exitosa Embrapa. Ela deve atender fazer a ponte entre empresas e
instituições de pesquisa para garantir resultados de inovação de fato. As
instituições de ensino superior brasileiras precisam se preparar para essas
mudanças. O jovem deve ter opção, desde os primeiros anos de estudos
universitários, de ser treinado para ser empreendedor, a assumir projetos de
risco e a ter ousadia. Como vamos querer ser um país com desenvolvimento
tecnológico se não incentivamos o empreendedorismo desde a universidade?
Os
produtos e serviços inovadores têm muito para contribuir com todos os segmentos
sociais e podem ajudar na melhoria da qualidade de vida da população. Um dos
exemplos de como a inovação pode ajudar as pessoas vem das necessidades
específicas. O país conta hoje com mais de 5 milhões de cadeirantes e esse
número deve crescer ainda mais com o envelhecimento da população. Mas o que
estamos pensando para esse público? A China já tem produtos que atendem esse
segmento. O Brasil já importa tecidos especiais chineses para a produção de
roupas mais confortáveis destinadas às pessoas com mobilidade reduzida. Além do
vestuário do cotidiano, precisamos criar roupa de cama e equipamento que
melhorem o conforto desse público. Esse é apenas um dos muitos exemplos do que
os produtos inovadores podem contribuir para o bem-estar social.
Os
setores produtivos, como o comércio, a indústria e a agropecuária, também
precisam estar preparados para suas necessidades e procurar soluções na
produção das universidades brasileiras. A USP, por meio da Agência USP de
Inovação, e a Fiesp, estão formando a primeira turma do Curso de
Aperfeiçoamento em Gerenciamento de Projetos de Inovação Tecnológica em
Empresas (Gepit), realizado em parceria
com a Fiesp/Ciesp. O curso é focado no desenvolvimento da inovação nas
empresas e permite formar profissionais com visão holística sobre como fazer a
inovação se concretizar nas empresas. Queremos que esses profissionais apliquem
os conhecimentos do curso na criação de processos, produtos e serviços de valor
para o mercado nacional e internacional. Desenvolvemos ainda o programa Vocação
para inovação, de apoio à propriedade intelectual e inovação para o estado de
São Paulo. O programa oferece ao empreendedor orientação na proteção do patrimônio
industrial e intelectual, efetuando todos os procedimentos necessários para o
registro de patentes, marcas, direitos autorais e transferências das criações
desenvolvidas na USP. Os desafios são muitos e o tempo exige celeridade de
todos os envolvidos nesse processo. Mas para avançarmos a passos largos em
inovação, o esforço deve ser de todos.”
(VANDERLEI
BAGNATO. Professor doutor e coordenador da Agência USP de Inovação, em
artigo publicado no jornal ESTADO DE
MINAS, edição de 22 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 5).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
23 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página
7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece
igualmente integral transcrição:
“Líder
empresarial
Hoje, na sede da
Fecomércio, em São Paulo, será apresentado o Projeto Nacional de
Responsabilidade Social Empresarial – Empresa com Valores. Trata-se de uma
importante iniciativa, envolvendo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), por meio das Comissões Episcopais Pastorais para o Laicato e para a
Educação e Cultura, bem como a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa
(ADCE). Essa associação é uma preciosidade do empenho cristão no mundo
empresarial, comprometida em levar para esse influente ambiente social e
político os valores cristãos. Emolduradas pelos ensinamentos do Evangelho de
Jesus Cristo, as instituições empresariais, na sua missão própria, reforçam o
compromisso com a responsabilidade social. Assim, conseguem superar a lógica
perversa do lucro sem limites e a fria dinâmica do mercado, que desconsidera,
por muitas razões, a dignidade de cada pessoa.
Esse
importante e inédito Programa Nacional põe como meta principal a formação de
empresários e dirigentes no horizonte da responsabilidade social empresarial,
pautada nos valores consistentes e relevantes do pensamento social cristão. O
grande foco é a liderança empresarial, pois não pode a lógica do lucro e a
dinâmica fria do mercado presidir o funcionamento de uma empresa. Em vez disso,
cada instituição deve ser conduzida por uma compreensão adequada de seu líder
empresarial. E a liderança não pode ser um “voo cego”, simplesmente segundo as
indicações próprias do mercado. O lucro e outras dinâmicas da economia precisam
ser monitorados e conduzidos por líderes empresarias competentes, não só
tecnicamente, mas especialmente do ponto de vista humanístico. Caso contrário,
se pagará sempre um alto preço com o crescimento injusto do abismo entre ricos
e pobres.
As
restrições ao modo de produzir e à participação cidadã são reflexos da carência
de líderes empresariais balizados por
denso sentido de responsabilidade social. Não menos grave é a geração de uma
ganância que alimenta a corrupção de todo tipo e uma corrida desarvorada em
vista do atendimento de interesses de pequenos grupos, que compromete o bem
comum. Essa ganância impede o atendimento às necessidades urgentes de
infraestrutura e provoca um vergonhosa segregação social, visível nas cidades e
regiões metropolitanas, muito marcadas pelos contrastes de moradias, escolas e
outros espaços ocupados por ricos e pobres.
Assim,
investir na formação de um sentido social pautado pelos valores cristãos, à luz
da rica doutrina social da Igreja Católica, é oportunidade para que os líderes
empresariais deem novo rumo aos seus empreendimentos e negócios. Desse modo,
esses líderes e suas instituições poderão contribuir com a edificação de uma
sociedade mais justa e solidária. O Projeto Nacional de Responsabilidade Social
Empresarial – Empresa com Valores, desenvolvido pela CNBB e ADCE, é uma
desafiadora tarefa que busca ampliar horizontes. Almeja também adesões
comprometidas de empresários e dirigentes de empresas, cada vez mais
esclarecidos quanto ao seu papel na construção de uma sociedade marcada pelo
sentido relevante de responsabilidade social.
A
apresentação desse projeto nacional vem iluminada por importante publicação do
Vaticano, de título A vocação do líder
empresarial: uma reflexão. O documento, também publicado em português, já
foi lançado aqui em Belo Horizonte, durante o Congresso Mundial de Universidades
Católicas (Cmuc), na PUC Minas, durante conferência do cardeal Peter Turkson,
presidente do Pontifício Conselho para a Justiça e Paz.
A
ADCE, com sua rica história, em parceria com a CNBB e no alcance da Uniapac,
instituição internacional que congrega dirigentes cristãos, trabalha a partir
da grande rede formada pela presença das comunidades de fé da Igreja Católica
na sociedade. Desse modo, busca mobilizar os empresários para a vivência da
responsabilidade social. É um desafio que precisa do empenho e colaboração de
todos. Os dirigentes que se guiam pelos princípios ético-sociais, iluminados
pelos valores cristãos, podem contribuir decisivamente para o bem comum. É hora
de um grande apelo e oferta de oportunidades para que sejam qualificadas as
lideranças empresariais.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões
que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é
de ética, de moral, de princípios, de
valores –, para a imperiosa e
urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
contexto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento – até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro
nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; esporte, cultura e lazer; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa
partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as pessoas
e com todos os brasileiros,
especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que
contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras
do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...