quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A CIDADANIA, AS PESSOAS, OS SONHOS, A CULTURA E O DESAFIO DE SER PROFESSOR

“Pessoas, sonhos e cultura
        Antes de ser admitida em uma empresa, a pessoa deveria responder a três perguntas básicas: Qual o seu sonho? O que você pretende fazer para realizar o seu sonho? Como você vai integrar-se ao sonho de sua empresa? Pois as pessoas e as empresas  precisam perseguir suas utopias, os seus sonhos maiores, sonhando juntas?
        Fazer com simplicidade o que é simples é sabedoria. Transformar o que é complexo em simples é imensa sabedoria. Disse o barão de Itararé, em suas Máximas e mínimas, que “tudo seria fácil se não fossem as dificuldades”. E as dificuldades chegam sempre em maior escala de velocidade e em especiais níveis de complexidade. Muitas pessoas e empresas se deixam conduzir por caminhos que levam a parte alguma e transformam o simples em complexo e o complexo em algo absolutamente insolúvel, assustando-se com suas próprias sombras, tropeçando em grãos de areia e incorporando-se à sociedade do excesso: excesso de pessoas e de organizações, que pensam e agem de formas similares, ao sabor dos ventos e das chuvas. Fazer apenas o que todos fazem da forma como todos fazem é ser parte da sociedade do excesso, é viver assombrado sempre sob altos riscos de rejeição.
         Ter sempre objetivos que substituam as conquistas do passado é decisivo para novas conquistas. Afinal, após chegar ao alto da montanha mais alta, temos que voar. Permanecer é retroceder. Retroceder é o início do fim, rolando montanha abaixo. Tomar o poder não é o problemas, mantê-lo, sim, ensinou-nos Maquiavel.
         A gestão empresarial é filosofia, arte, atitude e técnica. Como posicionar a empresa à frente do universo de seus negócios, em tempos sob velocidade de mudanças, dominando as leis da natureza e do mercado? Nadar a favor da correnteza quase todos conseguem, alguns de afogam. Poucos são capazes de nadar contra a correnteza. Quem é capaz de subir a cachoeira nadando? Os que conseguem voar, depois de chegar ao alto da montanha mais alta.
         Então, é imprescindível transformar potência em poder, ousando e inovando sempre. O planejamento estratégico orientando a visão de mundo e de futuro e fortalecendo os diferenciais competitivos da empresa. Saber para ser, para transformar. Saber fazer. Ser senhor de seu destino e não escravo de suas circunstâncias. Ser outro a cada dia, fazendo sempre mais e muito melhor.
         Filosofia e cultura: temos que ser capazes de ser o que somos capazes de dizer. A filosofia é a ordem de dizer; a cultura, a ordem de ser. O exemplo não é a melhor maneira de se mostrarem as coisas: é a única. A cultura é tudo. Ela cria na empresa o ambiente virtuoso em que pessoas possam sonhar juntas, unindo suas visões de mundo e de futuro, habilidades e competências em sistema integrado de papéis de alta complexidade, todos olhando para a mesma direção, buscando consolidar-se em alma única, em corpo único.
         Diz Jim Collins, escritor e consultor de negócios, prefaciando o livro Sonho grande, que “é a cultura que permite a uma grande empresa a sua perpetuação, valoriza o desempenho, não o status; a realização, não a idade; a contribuição, não o cargo, o talento, não as credenciais”.
         Para o mago Raul Seixas, o sonho que se sonha sozinho é só um sonho que se sonha sozinho. Quem não sonha realizar não é capaz de mover o mundo porque é incapaz de se mover. E com Sócrates aprendemos que o ideal é um modelo que devemos buscar permanentemente, ainda que conscientes de que jamais o realizaremos em sua plenitude.
         Liderar é servir, é conduzir processos de mudanças harmonizando pessoas, sonhos e cultura, é formar times e consolidar lideranças, é levar pessoas a conquistas que não conseguiriam sozinhas. É levá-las ao lugar mais alto da montanha mais alta e vê-las voar cada vez mais alto. Para tanto, é imprescindível nunca esquecer: as pessoas não são o maior patrimônio das organizações, elas são as próprias organizações, que, a partir da soma de suas competências, conseguem realizar sua missão, visão e valores. Sua empresa administra a relação pessoas, sonhos e cultura perseguindo suas utopias. Você é líder?”.

(RUY CHAVES. Diretor da Estácio, membro do corpo de Conselheiros da Escola Superior de Guerra, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de outubro de 2014, caderno OPINIÃO, página 21).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 29 de outubro de 2014, mesmo caderno, página 7, de autoria de CHRISTIANO ROCCO, presidente do Instituto Ativa Brasil, e que merece igualmente integral transcrição:

“O desafio de ser professor
        Investir em educação não é uma tarefa simples, requer planejamento e, sobretudo, tempo e paciência para colher os frutos e começar a enxergar resultados. Discutir educação significa dimensionar inúmeras questões essenciais para o bom funcionamento do sistema de ensino de um país, como a infraestrutura física das instituições, ações de formação continuada e diminuição da evasão escolar e a grade curricular. Analisar esses pontos – e outros tantos que merecem a atenção dos governos – é o caminho para começar a se pensar em uma educação pública de qualidade, que, no caso do Brasil, é comprometido por uma questão que, talvez, seja a chave de todo o debate em torno dessa pauta: a valorização do professor.
         O Brasil é um dos países em que o profissional da educação recebe os menores salários do mundo. De acordo com dados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os salários daqui são muito baixos, se comparados aos que são pagos em países desenvolvidos, já que um professor brasileiro, em início de carreira, que dá aulas para o ensino fundamental em escolas públicas, recebe, em média, US$ 10.375 por ano. Por outro lado, Luxemburgo, país que representa o maior salário, paga US$ 66.085 dólares aos seus docentes, valor quase sete vezes maior que o do Brasil. As estatísticas fazem parte do estudo Education at a Glance 2014, que fez um mapeamento das 43 nações-membros da OCDE e de mais 10 parceiros, incluindo o Brasil.
         E quais as consequências da falta de atenção do poder público com os professores? Podemos listar várias, mas a principal delas é, sem dúvidas, a desmotivação do profissional, que, para ganhar razoavelmente bem, é obrigado a trabalhar três turnos e a assumir papéis de coordenação e até administrativos nas escolas. Mas essa é só a ponta do iceberg. Na sua rotina de trabalho, o professor da rede pública de ensino no Brasil, em sua maioria, ainda lida com condições precárias das salas de aula, falta de material, livros e, não raro, ainda é vítima do abuso e da violência promovidos por alunos.
         No entanto, crescemos nos últimos anos. Alguns programas desenvolvidos no Brasil demonstram que a educação tem conquistado um espaço cada vez maior na agenda de discussão do governo, em suas diversas instâncias, e tem aberto portas significativas para o ensino dentro e fora do país. Além disso, uma importante conquista dos últimos tempos foi a aprovação da Lei dos Royalties do Pré-Sal, que destinará 75% dos recursos da exploração da reserva petrolífera para a educação, garantindo que, até o fim do ano, diferentes setores recebam cerca de R$ 3 bilhões e que, em 35 anos, seja repassado R$ 1,3 trilhão. Temos, ainda, o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em junho, que eleva o investimento em educação para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2024. Atualmente, esse percentual é de 6%.
         Com a realização dos investimentos previstos e com o bom funcionamento (e a ampliação) dos programas do governo, é possível se pensar em melhores condições  da educação pública, tendo como um dos principais objetivos a valorização dos professores, do ensino básico à pós-graduação, pois uma nação que não olha para os seus mestres e não entende o seu papel de agente social dificilmente compreende que educar é um ato político, é preparar o indivíduo para enxergar o mundo que existe para além de si mesmo. No mês do professor, nada mais adequado e contemporâneo do que uma das lições deixadas pelo educador Paulo Freire: “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional – numa relação promíscua entre dinheiro público versus interesses privados –, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, vale repetir trecho de editorial do Jornal do Brasil, de 1º/8/1994: “A corrupção dilapida anualmente no Brasil algo próximo a 20% do Produto Interno Bruto, o equivalente a US$ 73 bilhões, que se perdem nas malhas das licitações viciadas, do superfaturamento de obras e bens contratados pelo Estado, das comissões embutidas nos projetos públicos e do tráfico de influência dos atravessadores”; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de US$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extrema e sempre crescente necessidade de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...



quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A CIDADANIA, A HARMONIA ENTRE MENTE E CORAÇÃO E AS AINDA ACIRRADAS DIFERENÇAS

“A harmonia por meio da integração entre mente e coração
        A partir dos níveis internos, elevadas energias espirituais trabalham incessantemente para favorecer o despertar da luz no interior dos seres humanos. Não visam à formação de devotos a seguir passivamente suas instruções. Trabalham pelo desenvolvimento da consciência, pela dinamização do intelecto superior, pelo crescimento de indivíduos que possam refletir as energias criadoras que guardam em seu íntimo.
         Sobretudo na época atual, os estímulos que essas elevadas energias vertem sobre o planeta facilitam a integração entre coração e mente. A compreensão dos fatos da vida, compreensão não confundida por aparências ou por elementos efêmeros, depende dessa integração. Quando a sensibilidade para perceber o estado real das criaturas e do universo e a capacidade organizadora da mente se fundem e se deixam guiar pela luz interna do coração, a melhor conduta a seguir, a mais adequada e evolutiva, se revela.
         Só existe uma maneira de a harmonia se estabelecer na face da Terra: a mente e o coração de cada indivíduo integrarem-se e elevarem-se. Nos níveis superiores da consciência encontra-se a verdade que considera o bem de todos. Entre os que atingiram esses níveis não há possibilidade de desentendimento, pois prevalece a unidade de propósito.
         Diante dos horizontes que essa integração descortina, é preciso estar disposto a renunciar ao que possa manter a consciência presa a antigas formas de ser e de compreender. É preciso também abrir mão do hábito de criticar e da tendência a cristalizar-se em condutas passadas. O processo de fusão da mente e do coração é libertador: permite constante renovação, constante ampliação do potencial de serviço aos semelhantes.
         Um número cada vez maior de seres humanos, movidos hoje pelos impulsos de energias elevadas, superiores, começa a desenvolver essa visão mais universal e integrada. A interdependência entre os reinos da natureza vai-se tornando para eles evidente, o que multiplica suas oportunidades de atuar de modo positivo no estabelecimento de padrões de vida superiores.
         À medida que se elevam, sentem-se insatisfeitos ao perceber a progressiva deterioração da existência ao redor. Saber que a paz só se estabelecerá sobre a Terra quando estiver viva na maioria dos homens faz com seus limites se alarguem e com que busquem compartilhar o que de melhor colhem do mundo interior.
         No presente período planetário tudo está sendo movido, purificado e renovado para que se eleve o nível vibratório da Terra. Desde as estruturas mais básicas da sociedade humana – familiares, econômicas, religiosas e geopolíticas – até as profundezas dos sentimentos e pensamentos estão sendo sacudidas sob a luz de um tempo que requer síntese, visão universal, consciência no uso dos recursos que a natureza oferece.
         Aqueles que no íntimo se percebem prontos para colaborar com a nova vida que se anuncia mantenham-se atentos sobretudo para não se iludir com a atual desarmonia, característica das fases de transição. Busquem a síntese dos fatos da vida, interpretando-os a partir de uma ótica que integra mente e coração, desapegados de padrões antigos. Busquem dentro de si mesmos o núcleo que conhece a Verdade além das aparências. E, então, bem alicerçados nele, semeiem pelos campos deste mundo sua Luz e seu Amor.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 19 de outubro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 24).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de setembro de 2014, caderno PENSAR, página 3, de autoria de Inez Lemos, psicanalista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Diferenças

ACIRRADAS
        O preconceito em relação ao pobre, gordo, feio, idoso, negro, homossexual, deficiente físico e à mulher, entre tantas outras formas de discriminação, merece debate. A exclusão é um traço da estrutura histórica que permeia as sociedades que cresceram sob a égide da acumulação de capital. Em diferentes períodos do processo histórico, a moralidade e os códigos éticos funcionaram em nome de uma razão, de uma lógica construída em nome de interesses ocultos. A maioria dos discursos morais esconde aspectos extremamente imorais. Contudo, a nossa era revive ondas de preconceito e intolerância assustadoras.
         Muitos são os exemplos que apontam para o recrudescimento da violência, exemplos de intolerância que hoje se manifestam nas redes sociais. Interessa investigar a tendência em detonar as pessoas. Que ódio é esse? A intolerância que assusta é a do campo pessoal, é um ódio ao indivíduo. Qualquer atitude é uma justificativa para se jogar sobre o outro a insatisfação e a frustração. Em tempo de eleições, o debate é permeado por várias formas de preconceito. Partidos se digladiando nas redes sociais, onde o ódio é destilado numa demonstração de que, quando se trata de interesses políticos envolvidos, avançamos pouco.
         Os códigos morais são inventados pelos homens, embora fundamentalistas de várias religiões se esforcem em afirmar que o discurso da intolerância resulta em decretos divinos. Hoje, o cenário político no Brasil é disputado entre pastores – muitos são os candidatos da igrejas evangélicas . Nos anos 1960 a 1980, uma parte do debate político, na Igreja Católica, contava com a presença das Comunidades Eclesiais de Base, que, incentivadas pelo teologia da libertação, lutavam pela promoção da inclusão. Hoje, predomina uma guerra suja com a presença de pastores homofóbicos e retrógrados. O pensamento obscurantista, em nome da moral e da manutenção da família, tenta se estabelecer de forma truculenta. Trata-se de regras elaboradas em torno de interesses de um grupo que discursa em nome de Deus.
         Defender uma religião ou um partido. Como diferenciar o certo do errado? Valores, interesses, posturas, crenças. Importa desvendar o que subjaz ao discurso da intolerância, ao acirramento do preconceito. Quais são as pressões, ambições e motivações que levam à defesa de um partido ou de uma crença? Geralmente, o debate sem manipulações e jogos perversos é o melhor caminho. Contudo, num país comandado, quase sempre por um jornalismo comprometido, uma mídia tendenciosa e pouco transparente, torna-se impossível. O método da persuasão funciona quando a maioria dos cidadãos não cultiva o hábito da leitura, não pesquisa e não gosta de raciocinar a respeito de temas que envolvem a vida do cidadão. Toda eleição requer reflexão sobre propostas que atendam melhor aos interesses da maioria. Com a presença maciça da tecnologia, da internet e da televisão, as escolhas precisam ser elaboradas, debatidas, analisadas.

CERTO E ERRADO Qual a participação da mídia, das famílias e das escolas ao investigar o rancor que tem pautado as relações humanas? Como debater propostas, condutas e formas de convivência, respeitando o diferente? Historicamente, as circunstâncias econômicas são as que mais influenciaram o discurso político e social. Conceitos de certo e errado variam conforme os interesses de cada época, eles não são naturais ou intuitivos, mas implantados por meio de pressões – via mídia, partidos ou religiões. Destaco o rancor, a violência simbólica contra determinadas classes sociais. Agressão aos médicos cubanos, a moradores de rua, mendigos, jogadores de futebol negros. Comentários preconceituosos contra cidadãos de baixa renda, que, devido a uma pequena ascensão social, hoje frequentam ambientes antes exclusivos de uma elite bem nascida e bem-empregada. Vivenciamos uma crescente onda de violência social contra determinadas etnias e classes econômicas.
         Exemplos recentes de preconceito contra negros, nordestinos e homossexuais colocaram  em xeque o mito do brasileiro cordial elaborado pelo historiador Sergio Buarque de Holanda, como também a falácia de uma democracia racial. Para o antropólogo Roberto DaMatta, o preconceito sempre existiu. Agora ele apenas está mais acirrado pelo fato de as “classes subalternas” estarem se movimentando. Nunca fomos uma sociedade miscigenada e harmoniosa. Enquanto o morro estava sob controle, cumprindo a função de reserva de mão de obra barata, as diferenças não incomodavam. A desigualdade operava como sustentação da estrutura social que beneficiava as classes economicamente dominantes.
         A manifestação da violência na esfera pública desvela a face de um país ressentido e rancoroso diante das perdas, lugar de privilégios. Os programas de transferência de renda e de cotas para negros, indígenas e alunos de escolas públicas promoveram a redução da desigualdade social, causando desconforto às classes abastadas. Na verdade, o brasileiro sempre cultivou o gosto pela hierarquia social, o que coloca a igualdade de direitos na ordem do insuportável. A desigualdade, em nossa cultura, sempre foi vista como natural, e a forma injusta e violenta com que as classes dominantes  tratavam os pobres, um direito. Aos filhos das domésticas e ao porteiro restava um lugar social já definido, enquanto aos filhos de médicos, herdeiros de uma posição social privilegiada, eram reservados os melhores cargos no mercado de trabalho.
         Para os fragilizados pela estrutura social injusta, a esperança de mobilidade social era vista como uma loteria, poucos conquistavam reconhecimento e boas condições de trabalho. O ódio de deve, muitas vezes, às mudanças operadas por programas de distribuição de renda que rompem com o gueto social a que o país estava condenado. Havia uma situação confortável, a concorrência desleal garantia, em terra, o paraíso sonhado. Mais vagas nos vestibulares e nos empregos. Em casa, boas empregadas por baixos salários. Com o aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores de baixa renda, uma nova estruturação social surge, o que não é bem visto pelos conservadores – revoltados com a perda do lugar de distinção social. Com isso, a inclusão social como fator de luta é hoje uma realidade na agenda do brasileiro.
         Como não aplaudir os avanços sociais que nos aproximam do Primeiro Mundo? Contudo, o que temos é um movimento descabido, insano e inconsequente por parte de uma parcela da população. Muitos, numa postura obscurantista, destilam o ódio diante das mudanças que rompem a separação geográfica entre negros e brancos, ricos e pobres. Sem debates nas escolas ou outros fóruns de discussões, que possibilitam aprofundar as questões envolvidas, dificilmente iremos abandonar o reducionismo dicotômico – forma banal de analisar o momento histórico em que vivemos.
         Como reconhecer o outro que sempre esteve distante, o diferente, como igual? Como aceitá-lo como um concorrente em pé de igualdade? Enquanto o país vivia a segregação social, a ira estava contida. Na verdade, poucos reconhecem a importância de corrigir as injustiças sociais causadas pelas classes economicamente privilegiadas. Oliver Thomson, em A assustadora história da maldade, adverte: “A segunda maior área de ilusão cumulativa tem sido a justificativa da desigualdade econômica, resumida no dístico medieval ‘O rico em seu castelo/ O pobre no portão’. O que começa com uma ética que recompensa diferentes membros de uma sociedade em diferentes níveis, dependendo do valor de sua contribuição, em geral evolui para uma indefensável justificação de desigualdades permanentes”.

LÓGICA Muitas famílias, escolas e faculdades abandonaram o discurso da ética e da cidadania. Preferiram, de forma obsessiva, ocupar-se com a preparação para o mercado de trabalho. Trocaram a lógica dialética pela lógica formal, operacional. O debate de ideias não ocupa mais as agendas universitárias. Aderiram às pressões do mundo técnico. Com isso, a educação está abrindo mão do espaço de formadora de cidadãos, aquela que prepara para uma convivência saudável entre valores contraditórios e discordantes. A polêmica e o conflito são formas de expansão do pensamento. O caráter negativo de focarmos apenas as matérias técnicas é o distanciamento dos jovens em relação à essência humana.
         A maldade não brota do nada. O rancor expõe insegurança, infantilismo, inveja. Ele é lançado sobre o outro que nos incomoda, provoca. A fúria tenta impedir que desfrute da posição que conquistou. Mais que ódio, rancor é sentimento que se guarda e, ao ressurgir, volta a atacar. Educar implica ensinar a ganhar e a perder. O fracasso é parte da condição humana. No deserto, longe dos bons sentimentos, a moçada solta os leões exigindo privilégios historicamente petrificados.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional – na perversa lógica do “dinheiro público versus interesses privados”), gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional;assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO, A ÉTICA, A FAMÍLIA E A POLÍTICA

“Educação e ética
        A preocupação com a ética tem se tornado cada vez mais urgente na atualidade, despontando como uma das necessidades mais prementes do homem moderno.
         A tão almejada transformação social passa necessariamente por uma mudança no processo educacional, que deve formar seres capazes de construir um mundo novo, mediante o desenvolvimento de seus níveis intelectual, afetivo, emocional e espiritual, e de seu compromisso com a ética e a responsabilidade social numa visão integradora e formadora de caráter. É um compromisso institucional e individual profundo, que se manifesta no servir, nas percepção da unidade, na diversidade e na busca de orientação para agir de forma a tornar a convivência na sociedade mais harmoniosa.
         Atualmente, a educação vem sendo apontada como a mola propulsora no desenvolvimento de um trabalho sistematizado de análise de valores, aprendizagem de conceitos e desenvolvimento de atitudes, no qual o ato de educar jamais esteve à parte das várias expressões culturais e existenciais da pessoa. Sendo um tipo de vivência social, a escola não deixa de ser atingida pelos novos rumos demandados pela sociedade, embora esteja em descompasso com as inovações tecnológico-científicas.
         Nesse contexto, é importante que o professor tenha uma postura diferenciada na ação educativa, sendo um missionário no desenvolvimento da consciência de seus alunos, e estamos comprometido com o conhecimento na evolução do ser humano. O profissional precisa atuar como educador que pratica o ato de ensinar envolvendo o ser humano na dimensão holística, em todos os aspectos físicos, cognitivos e morais, enxergando seu aluno como um ser dotado de qualidades, potencialidades e saberes.
         Tal comportamento ético por parte dos professores é esperado e exigido pela sociedade. Contudo, sempre nos deparamos com esse questionamento: o que envolve tomar uma atitude ética dentro da instituição de trabalho? Antes de tentar encontrar uma resposta, devemos levar em conta que tomar uma decisão ética se assemelha à forma com que os sujeitos agem na família ou na vida pessoal. No entanto, isso se torna complexo e angustiante ao constatarmos que, no contexto educacional, a maioria dos profissionais sofre pressão da instituição na hora de decidir sobre o que é melhor fazer. É nesse momento que percebe claramente a postura do professor e do educador.
         Pensar criticamente e refletir sobre as consequências das escolhas individuais ou coletivas cria espaço para uma ética enraizada no tempo que seja capaz de acolher os desafios. É assim que as instituições pairam em todas as áreas do fazer e do saber humanos.
         Acredito que, para compreender esse processo, cumpre levar em conta a significação social de valores pelos professores, bem como detectar seus interesses, sentimentos e o sentido de ser educador e ser ético.”

(Elma Bernardes Santiago. Professora de ética e responsabilidade social (FGV/Faculdade IBS), em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de outubro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 23).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de outubro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Família e políticas
        A partir de temas importantes da atualidade e da consideração de diferentes campos – político, acadêmico, econômico e religioso –, a Igreja Católica, por convocação do papa Francisco, debate e estuda a situação da família humana. A 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma, sobre esse tema, congrega representantes de todo o mundo. Contribui para o avanço e compreensão de aspectos cruciais de tudo o que se refere à família na contemporaneidade. O Sínodo indica a preocupação central da Igreja sobre a vida familiar. Sua organização há muito tempo e, certamente, esse significativo processo de escuta e reflexão deve continuar até a sessão ordinária do Sínodo dos Bispos, a ser realizada em outubro de 2015.
         Família humana é tema central, emoldurado por grande complexidade, principalmente quando se consideram aspectos do presente e do futuro da sociedade. A atenção às famílias, sua compreensão e a definição de política emancipatórias em seu favor não podem se reduzir a aportes financeiros mínimos, de caráter compensatório. É preciso avançar na direção da justiça, além de compreender melhor o significado humanístico e o sentido ético-moral de família, uma insubstituível escola de humanidade. Trata-se de ambiente onde cada pessoa vive as experiências mais determinantes em sua trajetória. O sucesso de outras escolas tem íntima relação com as significativas experiências familiares. E as lacunas nessas experiências provocam  prejuízos, atrasam processos e inviabilizam avanços culturais.
         A família tem uma evangelho próprio, que é sua maior riqueza. Compreendê-la inclui, pois, não apenas as definições sobre sua dimensão funcional e de sua sustentabilidade. Assim, quando se pensa a família, explicita-se a exigência importante de não apenas tratá-la como adjetivação de programas sociais. Evidentemente, ao reconhecer o seu amplo papel, deve-se empenhar na criação de condições mínimas para sua sobrevivência. Mas, além disso, governantes e gestores são desafiados a construir, de modo criativo, estratégias capazes de configurar garantias mais amplas aos grupos familiares. Passou aquele tempo em que grande era o bombardeio contra a família, praticado por setores importantes da sociedade. Contudo, apesar de ter amainado a “guerra” contra essa instituição, continua desafiador o seu tratamento no atual contexto sociocultural, caracterizado por muitas nuances.
         Exigente pois, é a escuta e reflexão do evangelho da família, tesouro que guarda valores determinantes para a educação afetiva e humanística de cada pessoa, fonte de insubstituível  sentido moral que a consciência cidadã não pode dispensar. Abdicar-se dessa tarefa é contribuir para processos degradantes como a desumanização, que pode ser até irreversível. Sem dúvida, o ideal de família é um horizonte inspirador.
         A compreensão de família cristã, por exemplo, inclui o balizamento de um desígnio de Deus. Constitui um complexo de relações interpessoais, em referência à vida conjugal, paternidade, maternidade, fraternidade, filiação, configurando a “pertença” à família humana e à família de Deus. Essa compreensão tem o seu nascimento no sacramento do matrimônio. O contexto sociocultural, no entanto, desafia entendimentos e distinções que apontam no sentido de se considerarem muitas exigências e necessidades humanitárias. O certo é que a importância global da família não dispensa, visando seu bem maior e a fecundidade de sua insubstituível tarefa na vida da sociedade, a abordagem das dimensões espiritual, humanística, educativa e social. Nesse sentido, as igrejas têm, no seu serviço à família humana, uma tarefa própria. Também possuem atribuições nesse âmbito as diferentes instituições e instâncias da sociedade pluralista.
         É pertinente, por exemplo, que empresas, ao definirem suas políticas de responsabilidade social, considerem investir nas famílias que sofrem com a miséria, falta de moradia, educação e saúde. No campo político, por que não instituir uma legislação semelhante à que já existe, para incentivar projetos culturais, que estimulem as empresas a investirem no amparo às famílias mais pobres? Talvez fosse o caminho para superar a dependência de alguns grupos familiares das ajudas esporádicas, com alcance muito limitado. No calor dos debates e programas eleitorais, entre outros anseios, espera-se dos candidatos a apresentação de propostas mais ousadas, com força de comprometimento social e político, para as famílias, especialmente as que necessitam de moradia, educação, saúde, lazer e tudo que represente um direito de todos. Não basta apenas  dizer “que vai continuar” ou “dar uma melhorada” no que já é feito.
         O momento eleitoral decisivo de agora não requer propagandas e debates caracterizados pelos ataques pessoais e promessas sem a indicação dos caminhos para sua concretização. É hora de escolher quem, de fato, é propositivo, capaz de mostrar o caminho real das mudanças. Exige-se um perfil com a competência para articular, em rede, a educação, a saúde, a segurança, o respeito aos direitos fundamentais, indo além de questões meramente partidárias. Especialmente, almeja-se que inovadoras políticas voltadas para a família sejam construídas, reconhecendo sempre a centralidade da instituição familiar para a vida em sociedade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,  fecundas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos a se espalhar por todas as esferas da vida nacional – pública e privada,  naturalmente promíscua – gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem (a propósito, noticia a Folha de São Paulo de 14/12/1994: “... É preciso que se crie uma política anticorrupção no país, pois o esquema empregado atualmente é sofisticadíssimo”, – disse o presidente da CEI  (Comissão Especial de Investigação), o ministro Romildo Canhim...”; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público; mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...   

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A CIDADANIA, AS PRÁTICAS EDUCACIONAIS MEXÍVEIS E IMEXÍVEIS E A MISSÃO DO PROFESSOR


“Mexíveis e imexíveis
        ‘A escola é tão boa quanto seus professores.’
Raras afirmativas encontram tanto consenso entre leigos, pesquisadores, ideólogos e agnósticos. Infelizmente, eles concordam por ser excessivamente vaga, cada um pondo suas próprias interpretações. Sendo eu um incurável pesquisador, vejamos o que dizem os estudos.
         Primeiro, há que traduzir: professor bom é aquele cujos alunos aprendem mais. Portanto, o caminho das luzes consiste em perguntar que características dos professores estão associadas ao maior aprendizado dos alunos.
         Seja no Brasil, seja alhures, sabemos o que não explica quanto os alunos aprendem: a experiência do professor, sua idade e nível de escolaridade – mesmo mestrado. Nada disso se correlaciona com a qualidade do ensino. Não posso deixar de tocar em um vespeiro zangado: o salário dos professores. As pesquisas tendem a mostrar a ausência de associação com qualidade. Uma correlação simples, entre estados brasileiros, mostra que salários mais altos ou mais baixos não se associam ao Ideb de cada um. Mas essa assombração não é nosso tema.
         O essencial em tais características é serem imexíveis. Não se pode mudar a idade do corpo de professores, sua formação prévia ou sua carreira acadêmica. Só com décadas isso se faz. No mundo da fantasia, o salário pode até dobrar. Mas quebram o Fisco os aumentos que melhorariam a qualidade.
         Maurício M. Fernandes e Claudio Ferraz (da USP e PUC-RJ) realizaram uma pesquisa econométrica muito cuidadosa, usando funções de produção para testar o impacto de várias características dos professores (http:www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/td620.pdf). Com dados do Estado de São Paulo, buscaram testar o impacto de duas variáveis críticas sobre o ensino na 8ª série: 1) o domínio da matéria ensinada (usando as provas da Secretaria de Educação, aplicadas aos professores) e 2) as práticas adotadas em sala de aula. Ambas são “mexíveis”, pois é possível aperfeiçoar o conhecimento dos mestres e, ainda mais factível, melhorar suas técnicas de ensino.
         Alvíssaras! Os resultados são memoráveis. Como em outros países, os professores que melhor dominam o assunto ensinado têm alunos que aprendem mais. Do ponto de vista estatístico, esse resultado é robusto.
         Contudo, a análise demonstra que as práticas de sala de aula têm impacto bem maior do que o conhecimento da matéria. Ou seja, qualquer professor que adotar práticas hoje recomendadas terá alunos que vão aprender muito mais. São técnicas simples, que não requerem equipamentos ou malabarismos metodológicos. No caso, obtêm melhores resultados os professores que passam e corrigem o dever de casa, explicam a matéria até os alunos entenderem, mostram para que serve o aprendido e indicam livros de literatura.
         Em pesquisas desse tipo, apenas se consegue medir dimensões relativamente simples do que acontece na sala de aula. Muita coisa importante fica de fora. Mas já é um grande avanço quando se logra desenhar uma pesquisa que associe resultados a medidas confiáveis dessas variáveis. E foi isso que fizeram os autores. Além disso, foram capazes de controlar estatísticamente – ou seja, manter constantes – variáveis que poderiam explicar diferenças de aprendizado. No caso, demonstrar que os resultados não se devem a amostras viciadas, a características do diretor ou ao que os alunos já sabiam, de séries anteriores.
         O miolo das análises estatísticas é demasiado complicado para explicar em poucas palavras. Mas os resultados são perfeitamente compreensíveis. Mostram que, no caldeirão econométrico, as técnicas de sala de aula passaram à frente de todas as outras variáveis lá despejadas. E são práticas fáceis de aprender e adotar.
         Portanto, a notícia não poderia ser mais bem-vinda. Trata-se de uma pesquisa brasileira, conduzida por autores de bom pedigree e cujos resultados são difíceis de ser contestados. Os procedimentos são de fácil incorporação em sala de aula e seu impacto é maior do que tudo o mais que conhecemos. Pode ser difícil convencer alguns professores a mudar suas práticas. Mas, pelo menos, isso está no campo do possível, em contraste com as alternativas imexíveis.”

(Claudio de Moura Castro. Economista, em artigo publicado na revista VEJA, edição 2375 – ano 47 – n° 22, de 28 de maio de 2014, página 24).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de outubro de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DALVA SOARES GOMES DE SOUZA, mestre em língua portuguesa, formada em letras e pedagogia, e que merece igualmente integral transcrição:

“Missão do professor
        Com o avanço da tecnologia, a sala de aula é quase a mesmo dos longíquos tempos: do quadro de giz ao de pincel, do CD e toca-fitas ao pen-drive e ao DVD, além de carteiras, mesa e alguns cartazes alusivos a datas comemorativas ou trabalhos discentes selecionados.
         O professor, até os mais antigos, ao longo dos anos, vem percorrendo essas etapas tecnológicas nada difíceis de serem vencidas, principalmente para maioria que convive bem com a informática, mesmo sem muito aprofundamento.
         Como toda profissão em suas especificidades, a de professor não é diferente. Além da formação acadêmica tão significativa para o domínio do conhecimento, ele precisa ter a qualificação pedagógica, que são as técnicas utilizadas no dia a dia para que possa trabalhar o conteúdo de maneira adequada à realidade da turma, num clima agradável e prazeroso. Nesse domínio, incluem-se os instrumentos tecnológicos da Era do Conhecimento, para que o trabalho docente seja diversificado e atraente. A condução da disciplina trabalhada deve culminar em aprendizagem, objetivo supremo da escola.
         Nos anos iniciais de ensino, constata-se a valorização do domínio pedagógico ostentado pelo professor e, à medida que o aluno vai avançando em seus estudos, o domínio acadêmico do docente vai-se elevando até que, no ensino superior, sobrepuja o pedagógico, embora o equilíbrio seja a melhor postura a ser adotada.
         O pai da psicanálise, Sigmund Freud, reconhecia essa profissão como a do grupo das impossíveis, afirmando: “O fim último da educação é ensinar à criança a dominar os seus impulsos e, por isso, o professor tem que inibir, proibir e reprimir”. Reconhecemos que isso não é fácil. Repressão e permissão exigem pulso forte, naturalmente sem exagero, e muita sabedoria.
         A sociedade não é estática e transforma-se com a rapidez proporcionada pela tecnologia. O tripé do núcleo familiar – pai, mãe e filhos – ficou prejudicado em função das separações conjugais e da necessidade de a mãe trabalhar para ajudar a garantir a sobrevivência da família.
         Com o tempo, a figura do professor ficou excessivamente desgastada. A família, antes partícipe da vida escolar e das posturas naturais que iam sendo adotadas pelos professores, na tentativa de formar o caráter de cada aluno para enfrentar a vida, assume posição contrária, indo de encontro a toda e qualquer atitude que possa desagradar ao filho, muitas vezes, até agredindo o docente. O respeito já não existe como em outros tempos.
         Como se vê, a tarefa do professor transcende qualquer linha limítrofe do nosso sistema terrestre. Ele é formador de opiniões e considerado por seus alunos como modelo, exemplo e referência indiscutível de ser humano. Por isso, nem todos podem exercer essa profissão, mesmo que o pretendente tenha bem os domínios acadêmico e pedagógico.
         Assim, com tanto estímulo e um salário inferior ao de qualquer profissional, uma grave indiferença assolou o interesse dos vestibulandos para a realização de uma licenciatura, muitas já esvaziadas e eliminadas das faculdades.
         Já ouvi professores dizendo que não dão aulas porque os alunos não querem saber de estudar, embora exijam ser aprovados a qualquer preço, a exemplo da infeliz promoção automática que fez parte da vida escolar e não deu certo. Até quando essa realidade permanecerá?
         As mudanças ocorrem naturalmente porque a sociedade evolui e a escola tem que acompanhar. No entanto, a irresponsabilidade não pode sustentar a educação a ponto de comprometer a formação de nossos profissionais que, tão desinformados, geram insegurança em todas as áreas. No dia do professor, parabenizamos aqueles que, mesmo diante de tantas distorções, preocupam-se em qualificar-se e buscam recursos para tornar suas aulas mais consistentes e sua tarefa mais aprazível.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade), em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:  I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional – pública e privada – normalmente no cenário perverso do “dinheiro público versus interesses privados”, e gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito, trecho de Carta de Vauban, melhor engenheiro militar que a França conheceu, endereçada a Lauvois, Superintendente das Construções da França, no reinado de Luís XIV, em 17 de julho de 1683: “Existem algumas pontas de obras dos últimos anos que não estão terminadas e que nunca irão sê-lo. E tudo isso, Senhor, devido à confusão causada pelos freqüentes rebaixamentos de preços que se fazem nas obras de Vossa Mercê,como Empreiteiros, todos os miseráveis que não sabem onde dar com a cabeça, os trapaceiros e os ignorantes. E afastar de Vossa Mercê todos aqueles que têm o que perder e que são capazes de conduzir uma Empresa...”;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro pública, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A CIDADANIA, A REINVENÇÃO DO BRASIL E OS RECADOS DAS URNAS

“Dilma dá continuidade a invenção do novo Brasil
        É notório que a direita brasileira, especialmente aquela de forças elitistas que sempre ocuparam o poder de Estado e o trataram como propriedade privada, apoiadas pela mídia privada e familiar, está se aproveitando da crise – que é mundial, e não, apenas, nacional (e temos a vantagem de manter um mínimo de crescimento e o emprego dos trabalhadores, coisa que não acontece na Europa nem nos Estados Unidos) –  para fazer sangrar a presidente Dilma Rousseff e desmoralizar o Partido dos Trabalhadores, e assim criar uma atmosfera que lhe permita voltar ao lugar que por via democrática perdeu.
         Celso Furtado, em “A Construção Interrompida” (1993), escreveu com acerto: “O tempo história se acelera, e a contagem desse tempo se faz contra nós. Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta na construção do devenir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação” (Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1993, pág. 35).
         Aqui reside a verdadeira questão: queremos prolongar a dependência àquelas forças nacionais e mundiais que sempre nos mantiveram alinhados e sócios menores de seu projeto, ou queremos completar a invenção do Brasil como nação soberana que tem muito que contribuir para a solução da atual crise ecológico-social do mundo?
         Se, por um lado, não podemos nos privar de algumas críticas ao governo do PT, por outro, seria faltar à verdade se não reconhecêssemos os avanços significativos sob os governos desse partido. A inclusão social realizada e as políticas sociais para aqueles milhões que sempre estiveram à margem possuem uma magnitude histórica cujo significado ainda não acabamos de avaliar.
         Surgiu um estranho ódio contra o PT em muitos âmbitos da sociedade. Suspeito que esse ódio seja porque as políticas públicas permitiram aos pobres usar o avião e visitar seus parentes no Nordeste; também conseguiram adquirir seu carro e comprar em shopping centers. O lugar deles não seria no avião, mas na periferia, pois esse é seu lugar. Mas eles foram integrados à sociedade e a seus benefícios.
         Devemos aproveitar as oportunidades que os países centrais, em profunda crise, nos propiciam: reafirmar nossa independência, garantindo nosso futuro autônomo, ou desperdiçá-la, vivendo atrelados ao destino que é sempre decidido por eles, que nos querem condenar a ser apenas os fornecedores dos produtos “in natura” que lhes faltam, voltando assim a nos colonizar.
         Não podemos aceitar essa estranha divisão internacional do trabalho. Temos que retomar o sonho de alguns de nossos melhores analistas, do quilate de Darcy Ribeiro e Celso Furtado, entre outros, que propuseram uma reinvenção ou refundação do Brasil sobre bases nossas, gestadas pelo nosso ensaio civilizatório tão enaltecido mundialmente.
         Esse é o desafio lançado aos candidatos à mais alta instância de poder no país. Não vejo figura melhor para seguir nessa reconstrução, a partir de baixo, com uma democracia participativa, com seus conselhos e movimentos populares opinando e ajudando a formular caminhos que nos levem para a frente e para o alto, do que a atual presidente, Dilma Rousseff.
         A situação é urgente, pois, como advertia Celso Furtado: “Tudo aponta para a inviabilização do país como projeto nacional” (op. cit. 35). Nós não queremos aceitar como fatal essa severa advertência. Não devemos reconhecer as derrotas sem antes participar das batalhas, como nos ensinava dom Quixote, em sua gaia sabedoria.
         Que os bons espíritos guiem os rumos de nosso país.”

(LEONARDO BOFF. Teólogo e filósofo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 10 de outubro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página  9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Recados das urnas
        Os recados das urnas são difusos e desenham uma diversidade que tem de tudo. Incluem aspectos contraditórios que merecem análises e debates, e não apenas cientistas políticos com suas inestimáveis reflexões. Outros, também, partindo de seus lugares próprios e do direito à livre manifestação, contribuem muito. Não é simples produzir uma síntese dessas mensagens. Até parece ser impossível tal empreitada. As razões que se entrelaçam, as irracionalidades, o desejo desarvorado de poder, contradições, motivações importantes, sonhos de melhorias, até mesmo o espírito de torcida próprio no âmbito dos esportes, desenham aprendizados. É possível constatar, pelo menos, a lição de que para ser vitorioso é preciso se qualificar melhor, não andar de “salto alto” e respeitar o adversário.
         Na política, não é fácil fazer distinções, nem ter garantias de que o dito é sincero, fundamentado na verdade e com a única meta de melhorar a vida de todos, particularmente dos mais sofridos. Especificamente no que diz respeito à política partidária, salvaguardado o sentido de sua importância e o reconhecimento de sua necessidade, é preciso maior enraizamento da ética e de um mínimo de moralidade, para que sua tarefa seja cumprida. Sem esses fundamentos, torna-se difícil alcançar o que é sério e respeitoso para com o bem comum, reverente com a dignidade de cada pessoa. Continuam particularmente prejudicados aqueles que sofrem com tratamentos indignos e injustos, cidadãos ignorados por quem esbanja e usufrui, doentiamente, de benesses, privilégios justificados pela lógica da diferença.
         Seguir essa lógica é contribuir para aumentar sempre mais a brecha entre as pontas do cenário social e cultural, uma configuração perversa e inaceitável. Ora, a grandeza própria da política e seu estatuto maior são o bem comum. Isso significa agir sempre a partir da opção preferencial pelo pobres, em vez de simplesmente se orientar pela superficialidade e comprometimentos de ideologias partidárias. Estas, não raramente, são medíocres no que se refere à compreensão da dignidade humana, da cidadania, dos direitos, da justiça e deveres. Geram a insatisfação que pode ser constatada na resposta dada pelo eleitor. As urnas mandam recados diversos.
         É curioso perceber que, de um lado, há um movimento que pode ser interpretado como clamor por mudanças, que não devem ser adiadas e nem descansar no “berço esplêndido” das promessas. No entanto, apesar desse desejo, foram reconduzidos ao poder grupos familiares que não representam inovação política e indicam apenas o caminho da repetição do que tem sido pouco proveitoso para o bem comum. Assim, embora importante, principalmente quando se considera a governabilidade, não é suficiente apenas analisar o número maior de cadeiras conquistadas pelas siglas partidárias. Os resultados das urnas revelam o recado de que é ainda muito forte o poder do dinheiro, capaz de eleger quem não tem força própria para ser representante do povo.
         Na listagem das mensagens vindas das eleições, é preciso atentar-se para a alta percentagem de abstenções e votos anulados, evidências de um grande número de pessoas em protesto ou ancoradas na indiferença. Trata-se de algo grave em momento tão decisivo para o futuro da nação. Um fenômeno que merece esforço de todos para ser compreendido. Certas surpresas indicam a candidatos que não se pode pensar no eleitorado como massa de manobra, que forma “currais eleitorais”. Outras revelam fenômenos de votação que, lamentavelmente, foram escolhidos não por sua competência e condição de representar, mas pela simpatia ou mesmo pelo uso estratégico de deboches. As urnas sinalizam que é preciso operar mudanças urgentes e radicais.
         A cidadania exige um tratamento mais adequado diante das necessidades do povo, com repúdio à deselegância de ataques pessoais e desconstrução pouco civilizada de adversários. É preciso reconhecer que o eleitorado pode fazer sua escolha considerando o nome que, para além da sigla partidária, tem credibilidade e competência. As análises das variadas mensagens das eleições são interessantes para o amadurecimento do cidadão, na indicação de rumos e metas para os candidatos. Trata-se de exercício indispensável na corrida eleitoral de novo em curso, como investimento na escolha de caminhos capazes de conduzir a sociedade em novas direções. Embora o terreno contraditório e movediço, vive-se a oportunidade de aprender importantes lições com os recados das urnas.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem (a propósito, em editorial do Jornal do Brasil, de 1º/8/1994, lê-se: “... A diferença que separa a corrupção nas democracias antigas e consolidadas da praticada nos países do Terceiro Mundo situa-se no grau de impunidade...”; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis  (seria o caso, por exemplo, de contabilizarmos todas as perdas e danos em apenas um dia no trânsito das regiões metropolitanas do país; e, afinal, de quem a responsabilidade? – haja consciência séria e crítica...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), também a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...